— Isso é praticamente um sequestro sabia? – Reclamei, mantendo a postura de nervosa. Austin riu, me fazendo revirar os olhos. – Alias, onde conseguiu esse carro?

— Conheço um cara. – Deu de ombros.

No banco de trás, estava nossas malas. Temi, me perguntando se as roupas que peguei seriam suficientes. A verdade é que não sei onde iriamos, Austin não me contou. Apenas disse que eu tinha quinze minutos para preparar uma mala de viagem para três dias. Coloquei roupas para os mais variados climas, desde short e regata, até moletom, e mesmo assim eu não estava me sentindo segura.

Trish e Dez não iriam com a gente, o que me deixava mais ansiosa.

— É muito longe? – Perguntei, tentando esconder a curiosidade que sentia.

— Não muito.

Por mais que eu tentasse, ou perguntasse, Austin não diria para onde estamos indo. Numa tentativa de me fazer calar a boca e acabar com as perguntas que eu estava fazendo, o loiro ligou o rádio.

***

Austin deu check-in no hotel, e subimos de elevador até o segundo andar. Assim que abri a porta do nosso quarto, me deparei com uma cama de casal, e uma de solteira. Olhei para ele, antes de gritar:

— A de casal é minha! – Me joguei de braços abertos na cama. Ela era tão macia.

— Coloque uma roupa confortável. Vamos sair. – Austin colocou as malas em cima de uma cadeira, ao lado da televisão.

— Se você não me contar onde vamos, não vou me trocar. – Com muita dificuldade, sentei na cama. Minha vontade era de hibernar ali mesmo. Ele me olhou como se eu fosse uma criança de cinco anos, e de fato agi como uma.

— É melhor você ir depressa. – Ele olhou para o relógio, ao lado da cama. Eram oito e vinte da manhã.  

Revirei minha mala, procurando algo confortável para vestir. Minhas roupas estavam literalmente socadas, pela falta de tempo que tive ao arrumar tudo hoje cedo. Peguei a camiseta menos amaçada e um jeans e fui para o banheiro me trocar.

 Fomos às pressas ao carro, segundo Austin, tínhamos que chegar cedo. Comecei a ler as placas na estrada, tentando saber para onde estávamos indo. Olhei para o loiro, eu não estava acreditando. Todas as placas apontavam para o parque da Universal Studios.

***

— Isso é sério mesmo? – Perguntei assim que fomos revistados. Já tínhamos passado as esteiras e chegamos na ponte, bem perto da entrada do parque.

— Surpresa! – Austin levantou os braços, mostrando o globo enorme, escrito Universal. – Vem, vamos. – Ele puxou minha mão, me fazendo correr junto com ele. Tiramos várias fotos, em diferentes posições.

Passamos pela catraca e entramos no parque, de fato. Olhei em volta, todas aquelas lojas, aquela decoração. Eu não conseguia parar de sorrir.

— Você já veio aqui antes? – Perguntou. Balancei a cabeça, negando.

— Nunca tive a oportunidade. É estranho né? Pessoas do mundo inteiro vem até aqui, e eu, que sempre morei em Miami, nunca vim. – Ri comigo mesma. – Mesmo o ingresso sendo mais barato para nós, que moramos perto, eu nunca... – Parei de andar, e encarei Austin.

— Algum problema?

— Austin! Isso é tão caro. O ingresso do parque, o hotel, tudo. Eu não posso deixar que você pague tudo isso, porque...

— Não se preocupe com o dinheiro, ta legal? Só quero que se divirta. – Ele segurou minha mão e sorriu. Não pude deixar de sorrir junto.

 Sei que ele estava fazendo tudo isso por eu estar nervosa com tudo que aconteceu entre nós dois, e que isso seria um pedido de desculpa. Me senti culpada por faze-lo gastar tanto, ainda mais por ele ser Austin Moon, o cara que não compra um misero chiclete sem reclamar do preço.

— Se tivermos sorte, podemos tirar foto com os Minions. Ou com o Shrek. – Austin me guiou dentro daquele parque gigante, procurando pelos personagens.

Conseguimos tirar foto com os dois, e eu nunca ri tanto com o homem fantasiado de Shrek me elogiando de Fiona. Eu não sei bem se foi um elogio, mas aceitei como se fosse um.

Eu parecia uma criança, implorando para ir em todos os brinquedos, e parando cada segundo para tirar uma foto.

A maioria dos brinquedos eram simuladores, com óculos 3D e tudo. Se aparecia fogo, o seu lugar esquentava, se aparecia agua, você saia com respingos no rosto. Tudo era muito perfeito. Sai de alguns brinquedos enjoada, de tanto que balançava, e com Austin não era diferente.

— Vamos entrar aqui, acho que você vai gostar. – O loiro puxou minha mão, indo em direção a uma parede. Fiquei um pouco confusa, quando entramos numa abertura de uma parede qualquer.

— Isso está parecendo... – Parei de falar, quando minhas suspeitas foram confirmadas. Era o Beco Diagonal, de Harry Potter. A cada passo que eu dava, me sentia dentro do filme. – Olha como isso é real!

Entramos em todas as lojas possíveis e imagináveis. Tirei foto de cada centímetro daquele lugar, e Austin me fez escolher uma varinha. Pegamos o trem para ir ao outro parque da Universal, sem sair do universo Harry Potter.

— Ally. – Ele chamou minha atenção. Eu não tirava os olhos da janela do trem, lembrando do filme. – Lembra na sétima série, que você lia bastante Harry Potter? – Confirmei com a cabeça, desde pequena eu adorava os livros. – E que a gente virou amigo por conversar sobre a saga?

Respondi que sim. Começamos a nos falar por causa disso. Ele veio até mim, falar sobre Voldemort, eu lembro de ter colocado o dedo em sua boca dizendo: Nunca diga o nome do Senhor das Trevas. E por incrível que pareça, foi assim que nossa amizade começou.

— Confesso que só li todos os livros dele, pra poder conversar com você. Eu não sabia como puxar assunto, então li a saga inteira para ter poder falar com você. – Austin sorriu tímido. Beijei sua bochecha, que estava rosada com a timidez.

***

— Acho que vou desistir. – Falei quando chegou a nossa vez na fila. Era uma montanha russa, onde éramos presos por cima, e os nossos pés iam soltos sem apoio. Minha mão estava suando.

— Não precisa ter medo, Ally. Pensa que se você morrer eu vou morrer junto. – Ele riu tentando me acalmar. Não deu certo.

— Agora estou bem tranquila, obrigada.

Uma criança de aproximadamente nove anos que já estava sentada no brinquedo, pronta para ir, olhou para mim, colocou a mão na testa, em forma de L, e sussurrou Loser. Arregalei os olhos, não acreditando no que tinha acabado de ver, e sentei no banco de trás. Depois disso, eu iria nesse brinquedo.

Austin sentou ao meu lado, e o funcionário veio apertar os nossos cintos. Antes mesmo da montanha russa começar a ir, segurei forte na mão do loiro. Ele entrelaçou os nossos dedos, me passando confiança, e de certa forma, fiquei mais tranquila.

Suspirei de alivio quando o percurso acabou. Nunca gritei tanto em uma montanha russa (sim, gritei de desespero). Quando vi a criança indo embora, passei por ela, levei a mão à testa e Falei:

— Loser.

Austin fez o mesmo, e a criança foi embora, mostrando a língua.