Perdidos escrita por Sohma


Capítulo 9
Iara


Notas iniciais do capítulo

E chegamos na reta final! \(*^▽^*)/

Agora teremos apenas o epílogo e chegaremos ao fim dessa história.

Aproveitem!

Boa leitura!



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— Você é a Iara! — o grito de Henrique ecoou por toda a mata.

Mariara, ou agora, Iara, estava perplexa. Sua boca estava aberta, os olhos castanhos pareciam confusos, ela os fechou rapidamente, sentindo um dor extrema afetar sua cabeça.

— Iara...? — Amanda indagou alto, reconhecendo aquele nome de algum lugar mas não tendo certeza de onde.

— Iara é a sereia do rio, a mãe d'agua... — Nathália explicou calmamente, lembrando-se das aulas que tinha no fundamental, Iara sempre fora sua lenda favorita. — Ela é tão bonita que faz todos os homens se apaixonarem por ela... Incluindo o Curupira. — virou o rosto vagarosamente, vendo que a entidade da mata continuava parado no mesmo local.

Então isso explica esses garotos fazendo papel de bobo. — pensou Amanda.

— Eu não tive escolha... — Curupira chamou a atenção de todos, ele respirava um pouco forte demais, talvez ira, talvez decepção. Não havia como definir o que se passava na mente da criatura. — Você é tão... Bela. Fiquei louco por você desde a primeira vez em que a vi. — ele olhava para Iara, que permanecia agarrada a jangada, tentando compreender os fatos que aconteciam ao seu redor. — Mas sempre que eu chegava perto... Você se afastava. Você nunca quis saber de mim, preferia os humanos. Jamais olharia para uma criatura como eu. — tocou o próprio rosto, como se não conhecesse os contornos do mesmo, mas concluindo que possuía uma aparência horrenda. — Mas... Eu sabia que a única maneira de você ser minha... Seria recorrendo aos meus poderes! — Iara arregalou os olhos. — Peguei seu espelho escondido, o enfeiticei para que quando você o tocasse sua memória fosse apagada, para que você tenha a aparência de uma humana...

— Eu... — Iara o interrompeu, baixo demais, ainda confusa. — Estou me lembrando.

— Transformei os animais em monstros guardiões! Cuidei para que ninguém se aproximasse de nós. — Curupira se aproximou de Iara, que ainda flutuava no rio, quando chegou perto o bastante para conseguir tocá-la, a mesma se afastou. — Fiz isso para ficarmos juntos. Fiz isso por você...

— Por mim? — a agora mãe d'água cuspiu essas palavras, jogando nesse pequeno questionamento sua indignação.

O rio começou a se movimentar com força, tal como as ondas do mar, uma força brutal. Os adolescentes foram jogados para as margens, completamente encharcados e assustados com a situação.

— Você fez isso por você mesmo! — Iara gritava, pequenos redemoinhos começaram a ser criados pelas águas. — Você me enfeitiçou de maneira traiçoeira! — logo, as águas ao redor da garota começaram a se apossar de seu corpo. — Mas agora eu me lembro, e eu nunca vou esquecer de novo! — a água ao redor de Iara começou a brilhar, cegando os estudantes que observavam tudo, e agora, Iara estava em sua verdadeira forma. Não trajava mais as roupas emprestadas de Nathália, os cabelos eram maiores do que como Mariara, tampando os seios nus, as pernas não existiam mais, agora era uma enorme barbatana dourada, que reluzia com as mechas do Sol. — Eu sou Iara! Eu sou a mãe d'água!

Os olhos castanhos encaravam Curupira ferozmente, apontando um dedo acusador ao mesmo tempo em que as palavras deixaram os belos lábios:

— Aceite, Curupira. Você não tem mais poder sobre mim!

— Isso é tudo culpa sua! — Curupira apontou para Henrique, que ainda permanecia preso aos dentes de Minhocoçu. — Devore esse moleque! — ordenou prontamente, mas um estralo de dedos fez com a minhoca gigantesca cuspir o adolescente no rio, e as ondas o levaram para a margem.

— Nada disso, Curupira! Eu sou a Rainha das Águas, tudo nas águas me obedece! — Iara berrou.

— Henri, você está bem? — Deise indagou calmamente, vendo o colega tossir descontroladamente, retirando a água de seus pulmões.

— Uma coisa eu te garanto... — balbuciou, quando finalmente conseguiu respirar. — Eu estou muito melhor do que o Curupira vai ficar. — voltou sua visão para a cena que se formava na sua frente.

Minhocoçu ficou atrás de Iara, descendo a cabeça calmamente para que a bela sereia pudesse acariciá-lo. Mas logo seu olhar voltou para Curupira, que parecia acuado na margem.

— Você me enfeitiçou! Transformou os animais em monstros! Atacou as pessoas que tentaram me ajudar! — Iara levantou o braço com força, e ao mesmo tempo Minhocoçu acompanhou esse movimento. — Nunca vou perdoar você por isso!

A enorme minhoca abocanhou Curupira, que tentou fugir, mas não obteve sucesso. Os dentes da criatura atacaram os braços da entidade da mata, ferindo-os superficialmente. Curupira estava preso (igual a Henrique) nas presas, e leves lágrimas desciam do rosto.

— Mas... Mas eu... Eu só queria que ficássemos juntos. — as palavras deixaram a boca dele de maneira triste, desiludida.

— Mas nós vamos ficar. — Iara chegou perto dele, segurando com agressividade o queixo de Curupira. Soltou e se afastou, fazendo um gesto com o braço, e Minhocoçu começou a afundar nas águas. — Você vem comigo para meu reino sob as águas. Para toda a eternidade.

Minhocoçu sumiu dentro do rio, levando Curupira consigo.

Os estudantes estavam acuados na margem do rio, não sabiam o que falar, não havia o que falar.

Um barulho alto chamou a atenção das garotas e de Henrique. Wesley, Thiago e Guilherme pularam no rio, nadando com certo desespero para perto de Iara.

— Peguem eles! Estão caindo no encanto da Iara! — Henrique estava prestes a saltar para buscar os amigos, mas um gesto de mão de Iara o impediu.

— Meninos, voltem para a margem. — Iara ordenou, e os rapazes prontamente obedeceram, sem em nenhum momento retrucarem nada. — Essa é minha bênção e minha maldição. — murmurou, olhando para cada um dos adolescentes. — Meu poder é enorme, mas incontrolável. Nenhum homem está a salvo perto de mim... — explicou, revezando seu olhar para cada um deles. — Mas você... — ela falou diretamente com Henrique, nadando até ele. — Você não se rendeu aos meus poderes, você não se encantou por minha beleza. Você tem uma alma boa, Henrique. Você é diferente dos outros homens. — ela estendeu a mão. — Venha comigo... Você pode ser meu rei.

Henrique ficou confuso, piscou os olhos diversas vezes, como se tentasse compreender a situação.

— Me desculpa Mari... Iara. — sorriu. — Eu não tenho nenhum dom, eu só sou... Diferente. — usou a palavra que muitas vezes martelou em sua cabeça. — Eu agradeço por você ter me reconhecido como uma boa pessoa, mas eu tenho outras coisas para fazer. — terminou, vendo que Iara retornava sua mão para debaixo do rio.

Iara virou seu corpo, as águas começaram a trazer a jangada para as proximidades dos jovens.

— Vou comandar o rio para que os leve de volta para às terras dos homens. É o mínimo que posso fazer por me ajudarem a lembrar quem eu sou.

E logo após proferir essas palavras, Iara submergiu nas águas, desaparecendo.

Todos adentraram a jangada, ou pelo menos o que sobrou dela, e o rio sozinho começou a guiá-la. Navegaram.

— O que aconteceu? Cadê o minhocão? E a Mariara? — Wesley falou de repente, chamando a atenção de todos.

— Eu... Eu tive um estranho sonho com uma sereia. — Guilherme também comentou, passando a mão pela cabeça, sentindo uma dor desconfortável.

Nathália virou o rosto, encontrando Thiago, que também segurava a cabeça com força, como tivesse acabado de acordar de um longo sonho.

— Parece que eles voltaram ao normal. — Deise pronunciou de repente, ganhando uma expressão confusa dos três garotos.

— Eu apostou que ninguém vai acreditar em uma palavra nossa sobre esse assunto. — Amanda comentou de repente, olhando para qualquer paisagem do Pantanal.

— Ah, com certeza, vão achar que a gente bateu a cabeça, ou que tivemos alucinação por causa do clima ou do sol. — respondeu Henrique, um tanto sarcástico, recebendo um grunhido da loira.

~~~

Professor Octávio estava nervoso, todos os alunos de agronomia estavam sentados no refeitório. Raquel abriu a porta do local, chamando a atenção de todos, levando entre os dedos o décimo copo de água com açúcar.

— Senhor Octávio, você precisa se acalmar. — repetiu as mesmas palavras das últimas horas. — Todos estão procurando os rapazes, iremos encontrá-lo. Você só precisa...

— Ter paciência...? — exaltou-se, não aguentou mais as mesmas falas. — Eu sou o responsável por esses alunos, se eles desaparecem eu vou ser o total culpado por tudo! Eles eram tão jovens... Tinham um futuro brilhante pela frente...

A porta de madeira foi aberta num estrondo, interrompendo as lamúrias do senhor, chamando a atenção de todos os presentes.

— Vocês precisam vim comigo! — um dos funcionários falou animadamente, dando meia volta, intrigando o professor, Raquel e todos os alunos.

Levantaram num pulo, correndo para fora e os olhos do professor arregalaram, e novas lágrimas desceram, agora a preocupação fora embora, e o alívio tomou conta de seu corpo.

Ele correu para os cinco estudantes, abraçando-os como quem abraça os próprios filhos. Tremendo levemente.

— Como...? O quê...? — Octávio confundia as palavras, não sabendo ao certo o que deveria perguntar primeiro.

— Nós nos perdemos no meio da mata. — Amanda foi a primeira a começar a contar.

— Nossos grupos estavam divididos, estávamos eu, Nathália e Henrique perdidos num canto, Amanda, Deise, Wesley e Guilherme num outro. — Thiago continuou.

— Nós tentamos fazer uma fogueira, mas percebi que perdi os fósforos. — Nathália completou a frase.

— Eu me assustei com alguns sapos e meus gritos nos ajudaram a gente se encontrar. — Guilherme confessou um pouco constrangido.

— Ficamos um tempo procurando um caminho de volta. — Deise falou calmamente.

— Mas aí Henri nos lembrou que o rio passava pela fazenda! — Wesley apontou para o amigo, soltando um leve sorriso.

— Montamos uma jangada e assim chegamos até aqui. — Henrique terminou a história que fôra ensaiada diversas vezes quando os estudantes estavam nas proximidades da fazenda.

— O importante é que estão todos bem, não é mesmo? — Raquel apareceu no meio de todos, lançando um sorriso caloroso e confortante.

Um ronco chegou aos ouvidos da morena e do maestro, que olharam para todos os estudantes, focando o olhar em Guilherme, que ruborizou.

— Devem estar com fome. Vamos servir alguma coisa para vocês, mas por favor... Se limpem antes. — riu Octávio. Os cinco amigos se entreolharam, rindo levemente, obedecendo as ordens.

~~~

Agora, de banho tomado, roupas limpas e saciados, o grupo de amigos conversavam tranquilamente ao redor de uma lanterna, na parte externa do alojamento. Já era madrugada e o céu estava coberto por imensas estrelas, coisas que eles raramente observavam quando estavam na cidade.

— Isso me lembra um pouco de casa. — comentou Thiago, deitando todo o corpo na grama rala daquele local.

— Sua casa deve ser um local lindo para se viver. — Nathália comentou baixinho. A morena sentiu um cutucão no ombro, virou o rosto prontamente, encontrando Deise e Amanda que lhe olharam maliciosas, fazendo com que a colega corasse.

— Gui, Wesley e Henri. — Amanda chamou os três garotos, que viraram os rostos prontamente. — Vamos para o alojamento, acho que depois desse dia a gente merece descansar, não acham? — inventou uma desculpa esfarrapada. Henrique sorriu, sabia o real motivo desse "convite", então este simplesmente se levantou, sussurrando um boa noite para as garotas, puxando Wesley e Guilherme pelas golas, que muito a contra gosto seguiram o loiro.

Deise e Amanda se despediram do casal, seguindo para o alojamento feminino.

Thiago ficou completamente confuso, coçou a nuca sem entender nada daquela cena.

— Acho que seria melhor eu ir também...

— Não! — Nathália exaltou-se, gritando mais alto do que pretendia, tampando a boca envergonhada. — Thiago... Eu... Eu preciso... — a pouca coragem que ganhou ao longo do dia começou a desvanecer, havia pensado num discurso durante o caminho da jangada. Mas agora, ele parecia idiota em sua cabeça.

— Sabe, Nath... Eu achava que gostava da Mariara, mas era um tudo um feitiço. E eu quero me desculpar... — evitou o contato visual com a amiga, que fechou a cara ao lembrar-se das cenas em que vira Thiago dando total atenção para a sereia. — Eu fui rude com você, quando você sempre foi gentil comigo. Sabe, você é muito legal. — sorriu.

Nathália não sabe como e nem de que maneira a coragem apossou-se de seu corpo, mas ela saltou sobre Thiago, agarrando o rosto do moreno, dando um beijo calmo em seus lábios. E aos poucos, o amigo começou a corresponder aquele beijo, as bocas se abriram e as línguas exploraram cada canto, e as mãos da garota passeavam pelo rosto, conhecendo os contornos que ela tanto admirou.

— Eu gosto muito de você, Thi. — apartou um pouco do beijo, olhando dentro das íris negras.

— Eu também gosto de você, Nath. — deu um leve selinho nos lábios da morena, que sorriu diante aquele ato. E os dois ficaram abraçados, admirando as estrelas.

~~~

Henrique estava sentado nas proximidades do rio, observando a calmaria noturna que era aquele local. Lembrou-se de todas as aventuras que viveu nesse único dia. Conheceu duas lendas pela quais ele sempre fora apaixonado, descobriu que tudo o que ele tanto acreditava — e fora muito zoado por isso — era real.

Um contorno na água chamou sua atenção, uma movimentação estranha. Ele se aproximou, e a única coisa que conseguiu ver foi uma barbatana dourada, refletida pela luz da lua.

E ele sorriu.

— Obrigado, Iara.


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