Perdidos escrita por Sohma


Capítulo 7
Perigos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/703410/chapter/7

Deise deu um passo para trás, quebrando um galho que estava no chão, fazendo com que o barulho baixo parecesse um grito, dando a impressão de ecoar por toda a mata. O rosnado foi ouvido outra vez, desta vez mais alto e pareceu ecoar, como diversos animais fazendo o mesmo som.

Amanda nem respira direito, sentindo todo o corpo tremer violentamente. Wesley estava na frente do quarteto, ele já hiperventilava, não conseguindo controlar sua respiração.

Guilherme estava com o cenho franzido, estava cansado, com fome e essa combinação o estava estressando. Num surto repentino de coragem, ele pegou uma pedaço mediano de madeira no chão, balançando-o no ar.

— Apareçam seus... suas coisas! Vamos! — ele gritava desesperado, girando o pedaço de madeira.

— Gui, você enlouqueceu? — Wesley tentava se aproximar do amigo, tomando muito cuidado para que a madeira não lhe acertasse o rosto. — Não provoque o animal! Podemos estar sendo cercados por onças!

Amanda e Deise não falaram nada, limitando-se a se afastarem ainda mais.

— Você não estuda, Wesley? — Guilherme indagou um tanto ríspido, mantendo uma posição auto defensiva, mas em nenhum momento ele virou o rosto para encarar o amigo. — Onças não atacam em bando. O rosnado que ouvimos foi em uníssono. Atrás desses arbustos só deve haver algum herbívoro. — explicou.

Wesley se manteve quieto na mesma posição. Guilherme segurava com força o pedaço de madeira, ignorando alguns fiapos que espetavam as palmas de sua mão. Logo os arbustos se mexeram, e outra vez o rosnado foi ouvido.

As criaturas começaram a sair deles, e o quarteto percebeu que eles não eram animais comuns. A primeira vista, o animal poderia ser comparada com uma capivara, mas este parecia ter o dobro do tamanho, e os dentes eram longos e afiados, sendo expostos para fora da mandíbula, mesmo esta estando fechada.

— Mas... que animal é esse? — Deise falou dando um passo para trás a cada avanço do estranho bicho.

— Eu... Eu não faço ideia... Não existe nenhum bicho assim... — Wesley respondeu, mesmo sabendo que aquela pergunta era retórica.

— Não existe? — Amanda repetiu. — Ele parecem bem real pra mim...

— X-xô, bichinhos! A g-gente não quer machucar vocês... — Guilherme, perdendo toda a pose de corajoso começou a gaguejar, tremendo mais que vara-verde.

Uma das criaturas gritou, emanando um som assustador.

— AAAAAAAAAAAARGH!! — o grito feminino ecoou da garganta de Guilherme, que jogou o pedaço de madeira no chão, saltando para cima de Amanda, desviando da criatura que parecia querer atingir-lhe.

O animal logo tentou atacar novamente o rapaz de óculos, mas Wesley pensou rápido, pegando o pedaço de madeira antes pertencente a Guilherme, acertando um golpe violento no foucinho do bicho, deixando-o mais irritado. Jogou o pedaço de madeira no meio do mato, como se fosse um assassino tentando se livrar da arma de um crime. Começou a andar desesperadamente para trás, levando o resto da turma consigo.

Um dos animais saltou, indo direção a Deise, ela tentou gritar, mas nada conseguia sair da sua garganta, ela cobriu o corpo e fechou os olhos, aguardando o ataque que nunca veio. Quando abriu os olhos viu Henrique acertando aquela criatura com um pedaço de madeira.

— Pra trás, pra trás. — Henrique começou a gritar enquanto girava aquela estaca. — Eu não quero machucar mais ninguém.

— Cuidado, Henri! — Nathália gritou, puxando o amigo para trás. Thiago também apareceu, segurando um outro pedaço de madeira. — De onde veio esses bichos? — ela indagou para si mesma.

O quarteto não conseguia formular nenhuma palavra, estavam surpresos. Tanto pelos animais que os atacavam quanto pelo aparecimento repentino dos amigos.

— Não os machuque. Esses pobres animais são vítimas! Estão sob feitiçaria. — Mariara falou, andando a passos leves, tomando a dianteira de todos. — O verdadeiro mostro é outro!

— Quem... Quem é essa... Essa garota? — Amanda indagou para si mesma, encarando-a.

Guilherme e Wesley esqueceram completamente do perigo em que estavam, ficando hipnotizados pela beleza daquela mulher. Ambos estavam com a boca aberta num "o" perfeito.

Deise apenas se manteve parada na mesma posição, não formulando os acontecimentos.

— O que acham que estão fazendo? Recuem! — Mariara empurrava as criaturas para trás, que pararam de rosnar, obedecendo as ordens da bela mulher.

— Estão... Estão se... afastando? — Henrique balbuciou assustado, seu cenho foi franzido, não compreendendo aquela situação.

— Voltem para seu mestre! Mas não esqueçam de avisá-lo... Que não estou mais sozinha. — Mariara falou ameaçadora.

As criaturas soltaram um último rosnado, virando o corpo, voltando para a mata. Voltando a realidade, Amanda e Deise se aproximaram de Nathália abraçando a amiga.

— Ainda bem que vocês estão bem! — Nathália foi a primeira a comentar qualquer coisa.

— Como vocês nos acharam? — Amanda perguntou, finalmente soltando-se do abraço.

— Foi graças a uma de vocês. — Henrique se pronunciou, chegando perto de todos. — Ouvimos seu grito e viemos nessa direção.

— Grito? Nós duas? — Deise indignou-se.

— Não, mas quem gritou foi o...

— Quem é você? — Wesley trombou no quarteto que conversava, chegando até Mariara, olhando diretamente nos olhos amêndoas dela.

— Como você conseguiu controlar aqueles monstros? Por acaso você é uma rainha da selva? — Guilherme também se aproximou de Mariara.

— Eu não os controlei... — a morena deu uns passos para trás, afastando-se dos garotos. — Mas sabia que eles não ousariam me ferir. — explicou. — O... Curupira... Não os perdoaria por isso.

— Curupira...? — Deise indagou alto, revezando seu olhar de Nathália para Henrique, de Henrique para Thiago e depois voltando para Nathália.

Henrique pigarreou antes de começar a contar em detalhes todos os acontecimentos, desde o jacaré gigante de três cabeças, até o encontro com Mariara e tudo o que ela contou sobre o Curupira.

— Espera, espera, espera! — Amanda balançava as mãos numa negativa. — Deixa eu ver se entendi... Você está dizendo que o responsável por tudo o que está rolando é entidade lendária da mata? — essa última frase demonstrou toda a indignação da loura.

Henrique deu um sorriso amarelo e levantou os braços num gesto mudo, como se dissesse "exatamente".

— Você tem que acreditar! — agora foi Thiago que se pronunciou. — Mariara viu o Caipora com os próprios olhos!

— Isso não quer dizer nada! — Amanda levantou a mão, como se pedisse que o moreno se calasse. — Você não pode acreditar em alguém só porque ela acha que viu alguma coisa. — o tom arrogante demonstrava o desafeto de Amanda com Mariara. — Ela pode ter batido a cabeça, estar doente, ter alucinações... — a loura começou a listar com os dedos as possibilidades. — E, pelo que entendi, ela nem mesmo se lembra de quem ela é! — colocou a mão na cintura. — Eu não vou começar a acreditar em folclore só por causa de uma garota desmemoriada...

— Pois deveria! — Mariara disse alto, se aproximando de Amanda com passos delicados. — Este mundo tem mistérios que a ciência não explica! Eu sei o estou que estou dizendo! Eu o vi! Ele tentou me manter cativa. — Amanda perdeu sua postura, ficando assustada com a maneira que a misteriosa garota falava com ela. — Vocês tem que acreditar em mim!

— É claro que acreditamos! — Thiago, Wesley e Guilherme falaram em uníssono. Nathália cruzou os braços outra vez.

— Fala sério, Amanda! Você viu esses monstros! Você tem alguma explicação não-folclórica para isso? — Guilherme perguntou olhando diretamente para a garota, que surpreendeu com a atitude que o amigo falava com si. — Admita, você está com inveja da beleza dela! — Amanda arregalou os olhos com tamanha blasfêmia, não que achasse Mariara feia, pelo contrário, mas não queria isso, ser julgada como invejosa.

— Quê? Eu...

— AH, TANTO FAZ! — Todos se surpreenderam, viraram o rosto, vendo Deise com ambas as mãos na cintura, em seu rosto tinha um olhar de estresse. — Sempre ouvi dizer que o Pantanal é perigoso, histórias de horror e tudo mais! E depois dessas capivaras selvagens estou vendo que tem um fundo de verdade nisso tudo! — confessou. — Se é conto folclórico ou ciência desconhecida, to pouco me lixando! Se é o Curupira, Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa. Eu quero é sair daqui! — berrou em plenos pulmões.

— Eu concordo com você, Dê! Precisamos sair daqui! — Henrique finalmente se pronunciou.

— Esperem! — Nathália chamou a atenção de todos. — Nas lendas o Curupira é master em fazer as pessoas se perderem! Se não fossem os gritos a gente não teria nem se encontrado!

— É isso! — Henrique falou animado, fazendo com que todos olhassem para si. — Precisamos achar uma rota, um guia, como os gritos.

— Rota? Mas aqui não tem ruas... — Amanda falou confusa.

— Mas é claro que tem! O tipo de rua mais antigo do mundo. Os rios! — o louro parecia animado, e isso começou a contagiar aos poucos a galera. — Vamos fazer uma jangada. Lembram que a fazenda ficava perto de um curso d'água? Seguindo o rio iremos achá-los, caso não, podemos achar alguma civilização e pedir que nos levem até a fazenda!

— Vem cá... — Deise se pronunciou. — Aqui é o lugar mais encharcado do país. Não se anda dois passos sem ver um rio! Como vamos saber qual deles leva pra...?

— Eu sei onde tem um bom rio! — Mariara interrompeu a garota, segurando a mão de Henrique, o puxando para uma direção qualquer. — Um rio vasto, navegável e não muito longe. Posso levar vocês até lá.

— Mas... Mariara.... Você não se lembra nem como veio parar aqui. Como sabe onde fica esse rio? — Henrique indagou atordoado, enquanto era puxado pela bela garota.

— Não sei... De repente, eu percebi que sempre soube disso. — ela parou de andar, encarando os pés sob a terra. — Mas talvez... — sorriu, virando o rosto para encarar Henrique nos olhos. — Minha memória esteja voltando. — os lábios formaram um sorriso radiante, deixando-a mais bonita.

Guilherme, Thiago e Wesley estavam de braços cruzados, sentindo um desconforto estranho por verem Mariara tão próxima de Henrique. Já Deise, Nathália e Amanda observavam a cena, a loura soltou uma risada.

— Parece que tá rolando um clima.

Logo Mariara voltou a puxar Henrique, e todos começaram a seguir a morena. Uma criatura estava observando tudo no alto de uma árvore, o cenho estava franzido e cada palavra dita começou a carregar um ódio profundo demais.

— Não! Não! Não! Eu não planejei isso! Está tudo errado! — os punhos batiam no tronco da árvore com uma força descomunal, deixando as marcas dos dedos. — Ela deveria ser só minha! E não se unir a esses intrometidos! Como posso destruí-los se ela arrisca a própria segurança para defendê-los? — a raiva era descomunal. — Principalmente aquele jovem, o líder do bando. — ele saltou, pisando sobre uma poça, retirando de lá uma pequena minhoca. — Dessa maneira ela vai recuperar a memória, meu Minhocoçu, e isso não pode acontecer! — ele seguiu os rastros que os humanos deixaram na mata, tomando cuidado para não ser visto. — Não vou permitir. — proferiu antes de desaparecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perdidos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.