Perdidos escrita por Sohma


Capítulo 1
Os Preparativos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/703410/chapter/1

O som de vozes ecoavam por todo o pátio principal da Faculdade de Agronomia, ou UFRGS, como era mais conhecida. Os alunos do primeiro ano da faculdade estavam super animados com a notícia que receberam. A fazenda "Bastos de Mello", localizada no Pantanal Mato-Grossense, era uma das mais conhecidas na criação de jacarés da sua região, e um dos muitos trabalhos de um engenheiro agrônomo é cuidar de animais em diversas especialidades, tanto na criação de fazendas convencionais como porco, galinha, gado, até os mais exóticos como peixes e os répteis, incluindo o jacaré.

Em especial, um grupo de amigos estavam sentados numa das muitas mesas do pátio, conversando animadamente. E não repararam quando uma outra pessoa se aproximou, batendo ambas as mãos na mesa. Assustando ao grupo.

— Do que vocês estão conversando tão animadamente? — a voz brincalhona de Henrique chegou aos ouvidos de todos, que lhe lançaram um olhar irritado.

— Vai dizer que você não sabe da última? — Amanda passou a mão pelos cabelos louros, arrumando-os num coque desajeitado.

— Do jeito que nosso Henri é desligado, não sabe nem da penúltima. — Deise comentou irônica, mexendo em seu celular alheia ao garoto que acabará de chegar.

— Qual é, vão me negar a informação mesmo? — brincou, cruzando os braços sobre o peito, franzindo o cenho diante aos amigos.

— Uma fazenda de criação de jacarés está recrutando estudantes de agronomia do primeiro ano para conhecê-la. — Guilherme arrumou os óculos de lentes grossas, olhando diretamente para o amigo que estava em pé. — E vai ser no Pantanal. — terminou por fim a explicação.

Henrique passou a mão pelos cabelos negros, coçando a cabeça. A palavra "jacaré" lhe trouxe uma sensação de medo, não gostava de jacarés, as enormes presas, a pele que mais parece um casco. Em sua mente, jacarés se assimilavam à monstros.

— Eu honestamente to super animado pra essa viagem! — Thiago comentou animado, levantando as mãos num gesto de alegria.

— Claro né. Você é bicho do mato, vai se sentir em casa num local onde só tem mato. — Amanda falou esnobe, lançando um olhar amedrontador para o colega de sala, que ficou quieto após receber aquela mirada.

— Não fala com ele assim, Amanda! — Nathália se intrometeu, jogando uma bolinha de papel na garota loura, que não teve tempo de se esquivar, e aquilo acertou o nariz da jovem.

— Olha aqui...!

— Ta bom, chega, as duas! — a voz de Deise soou alta, fazendo com que as duas ficassem em posição de sentido, se calando.

Um outro rapaz se aproximava da mesa, levando consigo vários papéis nos braços. Quando chegou até a mesa redonda de mármore, todos os olhares estavam focados nele. Os olhos castanhos de Guilherme brilhavam de animação, enquanto os outros se mantinham com a mesma serenidade.

— Aqui estão os formulários que precisam sem preenchidos para podermos ir para a fazenda "Bastos de Mello". — Wesley dizia animado, entregando para cada um de seus amigos o formulário que continha quatro folhas. — Depois de assinados é só entregar pro professor Octávio, ele será o responsável pela "expedição". — ele fez um gesto com os dedos ao dizer a última palavra.

Todos passaram os olhos pelos papéis, e após alguns minutos, Thiago, Guilherme, Deise e o próprio Wesley assinaram prontamente. Já Henrique, Amanda e Nathália estavam receosos sobre o assunto.

— Estão em dúvida? — Wesley perguntou, olhando para o trio que mexiam nervosamente nos papéis.

— Ah... É que... É jacaré, sabe... — Henrique falava nervoso. Não conseguindo assimilar bem suas palavras.

— Não sei se você sabe... — Guilherme arrumou novamente os óculos, dirigindo o rosto para o colega. — Mas o jacaré-do-pantanal quase foi extinto por caçadores ilegais! Agora com a criação em cativeiro, não existe mais esse perigo. — Henrique fez uma expressão confusa, não entendia o que aquela explicação podia lhe ajudar a decidir se iria ou não.

— Acho que o Gui quis dizer... — Thiago riu, desta vez todos olharam diretamente para ele. — Está é uma chance de ouro, nunca mais teremos uma oportunidade como essa! — o tom animado na voz do rapaz moreno era contagiante.

Nathália sorriu diante essas palavras, indo até a última folha e assinando o formulário.

— Mas lá tem muito mato, bichos estranhos, e eu não estou gostando da ideia de ter que ver jacarés pessoalmente! — Amanda falou com um ar de nojo. Soltando um "irgh" alto.

— Se tem tanto nojo de coisas assim porque está fazendo uma faculdade de agronomia, fofa? Afinal, nosso trabalho também envolve mexer com estrume. — alfinetou Deise, exibindo seus olhos para a garota loura. Que franziu o cenho diante o comentário.

— Tenho minhas razões! — foi o único comentário da loura.

— Mas realmente, Henri, é uma oportunidade de ouro. O aprendizado vai ser muito mais gratificante, e afinal, não acredito que tocaremos nos jacarés, o máximo que poderíamos fazer é alimentá-los, sempre com um instrutor do nosso lado, e claro, com aquelas lanças pra se distanciar. — Wesley dizia com um tom mais ameno, tentando convencer o amigo.

Henrique curvou os lábios pensando no assunto. Soltou um suspiro de derrota e assinou o formulário, a assinatura saiu um tanto tremida. Amanda ficou irritada. Se até o medroso do Henri vai, eu não vou ficar para trás, pensou consigo mesma. Assinando por fim os papéis, entregando para Wesley e se retirando do pátio. O grupo ficou com uma incógnita no rosto, mas optaram por rir da reação da loura.

~

As semanas se passaram correndo, e havia chegado o tão esperado dia da viagem. Quase todos os calouros da UFRGS estavam animados, ansiosos para primeira viagem daquele ano da faculdade. A animação era contagiante. Os alunos conversavam animadamente no pátio da faculdade, enquanto os ônibus que os levariam até o aeroporto.

— Eu não aguento de ansiedade! — Thiago comentava animado, arrumando a mochila que estava em suas costas.

— Nem me fale! Logo estaremos vendo ao vivo os jacarés-do-pantanal! — Guilherme também estava amimado.

— Falem por vocês... — Amanda comentou alto, enquanto ofegava. Carregando diversas malas.

— Pra que tanta mala, fofa? Nós vamos para uma fazenda no Pantanal, não uma viagem para Paris. — Deise franziu o cenho, observando o excesso de malas que a loura levava.

— Eu tenho quase certeza de que eu vou precisar de muitas roupas, prevejo que ficarei muito suada. — ela respondeu limpando uma falsa trilha de suor que estaria na sua testa.

Deise apenas balançou a cabeça em negativa, virando o rosto e vendo que Wesley e Nathália se aproximavam do quarteto.

— Estão prontos? — Wesley disse arrumando a alça da bolsa que carregava.

— Espera! Falta o Henrique! — Thiago ressaltou. Todos olhavam ao redor, procurando o garoto. Nathália soltou um grito estridente, apontando para um ponto, onde era possível ver Henrique se aproximando. — E aí, está pronto? — perguntou, dando leves tapas no ombro do garoto. Que tinha um ar nervoso perceptível.

— Acho que sim... — falou baixo, desviando o olhar para o nada.

Logo, um som alto foi ouvido. Todos os alunos viraram o rosto, encontrando a figura grisalha do professor Octávio.

— Estão todos prontos? — um coro alto foi ouvido. — Os ônibus acabaram de chegar! Então borá entrar neles, e partiu aventura! — todos riram diante ao falatório do professor. Chegava a ser engraçado o quanto ele tentava aparentar jovem, apesar da idade avançada ser perceptível no rosto dele.

Os calouros se dirigiram aos ônibus. Cada um tomando seu lugar.

Henrique sentou-se no fundo, próximo ao seu grupo de amigos. Mas seu rosto não tinha uma boa expressão. Na realidade, Henrique sentia que algo de muito, muito ruim iria acontecer nessa viagem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!