— Peeta sumiu, Katniss. – Finnick veio com a notícia três dias depois da festa de aniversário de Annie. – Não o encontramos em lugar algum.

Não sabia bem como reagir com os acontecimentos, por isso não fiz menção de erguer a cabeça. Permaneci em silêncio, lendo o sexto relatório do dia.

Pude ouvi-lo suspirar cansado, e em seguida a cadeira a minha frente se movimentou, o que era um sinal de que meu tenente ia sentar-se para me encher sobre o assunto.

Mantive-me na mesma posição, mesmo que já não desse mais atenção alguma ao papel a minha frente.

Eu não sabia se devia estar preocupada com Peeta.

Não era a primeira vez que ele sumia da minha vida. Muito menos que eu o mandava embora.

— Katniss. – Finn chamou.

— Não quero saber do Peeta, Finnick. – respondi grosseiramente, erguendo a cabeça para encara-lo. – Na verdade, eu não quero ser obrigada a ouvir ou falar o nome dele.

O Odair soltou o ar devagar, e fechou os olhos.

— Eu falei com o tenente do Brooklyn. – ele os abriu pra me encarar. – Cato disse que Peeta não esteve lá. – prosseguiu ignorando meu estresse.

— Cato era o antigo tenente dele? – perguntei.

— Sim. Você o conhece?

— Peeta chamou o cara que esteve em sua casa de Cato. – lembrei-me do homem alto de cabelos cor de mel.

— Estranho. – Finnick franziu o cenho. – Foi com Cato que Peeta teve a conversa que você ouviu?

Afirmei levemente com a cabeça, tentando não pensar no que eu tinha ouvido naquela noite, mas assim que a mulher loira invadiu minha sala, sendo seguida por uma Madge que quase voou nela, para segura-la pelo braço, tudo voltou de uma só vez, fazendo-me ficar em pé de supetão, sentindo o ódio me corroer por dentro.

— Que merda é essa?! – exclamei sentindo meus olhos queimarem.

— Preciso falar com você.

Delly estava com os cabelos fora do lugar, e embaixo de seus olhos haviam marcas roxas, como se não dormisse fazia algum tempo.

— Eu quero que você vá embora. – dei a volta na mesa, indo até ela, pronta para acerta-la com minhas próprias mãos.

— Katniss. Me escuta. Eu nunca tive nada com Peeta, e eu posso provar isso. – seus olhos estavam agitados. – Apenas me dê alguns minutos. Por favor.

Ela não parecia nada bem. E por mais que algo dentro de mim gritasse para que eu chutasse seu traseiro, até que Delly caísse de cara na calçada, decidi respirar fundo algumas vezes, antes de pedir para Madge solta-la.

— Se possível, quero que Finnick fique aqui. – pedi, encarando Delly.

— Tudo bem. – ela tentou arrumar seus cabelos completamente desajeitada.

Fechei a porta da sala assim que Madge saiu, e voltei para minha cadeira.

— Pode sentar. – indiquei para que Delly sentasse ao lado de Finnick e foi o que ela fez. – Comece.

A mulher respirou fundo antes de começar a falar.

P.O.V Delly

— Eu realmente gostaria muito que você usasse aquela lingerie vermelha. – Peeta falou ao celular, fazendo-me revirar os olhos enojada com o assunto.

Katniss o respondeu do outro lado, e eu agradecia aos céus por não estar no viva voz.

Um barulho ensurdecedor foi feito dentro do prédio em que vigiávamos. Peeta me olhou rapidamente. Eu estava com meu rifle de longo alcance, tentando visualizar alguma coisa, aproveitando-me da altura do prédio em que estávamos, que era vizinho do que invadiríamos a qualquer momento.

— Eu preciso desligar, meu bem. Estou em operação. – Peeta explicou. – Nos falamos quando eu chegar em casa, está bem? – ela pareceu responder do outro lado. – Eu sempre vou voltar pra você, amor. Sim. Eu amo você. Até a última batida do meu coração. Até mais tarde. – Peeta desligou, guardando o celular no bolso.

— Finalmente.

— Está se sentindo uma sniper, não é? – Peeta zombou, alcançando sua espingarda que estava presa as suas costas.

— Eu sou uma sniper, meu querido. Aceite isso. – rebati, voltando a olhar pela mira. – Não tem ninguém lá. Onde está nossa equipe? – questionei.

Passos atrás de nós dois nos despertou. Peeta virou rapidamente carregando sua espingarda, e colocando o dedo no gatilho, enquanto eu deixava meu rifle de lado para alcançar a antiga Beretta do meu avô, que estava presa a minha cintura.

— Não é assim que as coisas funcionam aqui. – o homem careca e forte disse com um sorriso perverso. – Vocês não podem chegar e tentar nos prender dessa maneira. – atrás dele apareceu alguns homens, que portavam armas de fogo.

— Você devia saber que não estamos sozinhos. – argumentei. – E mesmo que estivéssemos. Damos conta de vocês.

Os homens riram, mas isso não era o suficiente para me assustar. Eu não tinha nada a perder. Porém eu podia notar a tensão de Peeta, que acabara de falar com sua tão amada esposa, e aquilo pesou em meu peito.

Fazia poucos meses que eu havia sido transferida de Connecticut para Nova Iorque. Peeta se tornou meu parceiro quase em todas as operações, o que nos fez desenvolver uma boa amizade. E por mais que eu ainda não conhecesse Katniss, eu sabia que eles eram um casal feliz, e que se amavam de verdade.

— Tudo bem. Nós nos rendemos. – abaixei para colocar minha arma no chão, e quando voltei lentamente, aproveitei a oportunidade para alcançar a granada de gás que eu mantinha presa na lateral do meu corpo.

Assim que a puxei, o lacre ficou pra trás, obrigando-me a jogar com pressa em direção aos homens, e empurrar Peeta em direção ao chão, jogando-me junto. Rolamos cada um para um lado, saindo da posição anterior. Apesar de não enxergarem mais nada, eles atiravam contra nós.

— Peeta. Eu preciso que você foque em nos proteger. – foi o que eu disse, pegando a Beretta que estava a poucos centímetros de mim, e puxando minha Glock da cintura.

Pude vê-lo afirmar com a cabeça e alcançar sua espingarda. Ainda deitados no chão, atiramos de volta. Assim que a fumaça começou a sumir, os tiros contra nós dois foi amenizando.

Quando finalmente pudemos enxergar, nos colocamos em pé, podendo notar que alguns homens estavam caídos.

Porém aquilo não tinha sido tudo. O homem careca saiu de trás das grandes saídas de ar condicionado, e atirou contra mim, fazendo-me cair.

Peeta não pensou duas vezes para disparar contra o homem, acertando exatamente a mão que segurava a arma. O homem urrou de dor, e se jogou no chão, talvez como forma de rendimento.

— Quem é o sniper agora? – ele zombou de mim ao ver que eu estava bem.

Fiz uma careta, colocando a mão sobre a bala presa ao meu colete, sentindo meu peito doer pela pressão do tiro. Coloquei-me de pé com dificuldade pela falta de ar, e caminhei até o homem, chutando sua arma para longe. Peeta o levantou, algemando-o em seguida.

— Isso não acaba aqui. – o homem cuspiu saliva em mim. – Vamos acabar com vocês dois, e com tudo que vocês mais amam. – ele riu, enquanto Peeta o carregava, e eu verificava os outros homens atentamente para ver se um deles estava vivo.

— Ninguém vai acabar com nada. – rebati. – Você vai em cana, meu amor.

~||~

— O cara era conhecido como Brutus. – Peeta disse lendo a ficha do homem que havíamos prendido há uma semana. – Ele era um dos maiores representantes do Narcotráfico dos Estados Unidos. – ele ergueu o olhar em minha direção. – Você tem noção de como o cara é perigoso? – questionou.

— Sim, eu tenho. – respondi, batendo as unhas na mesa de madeira da sala de Peeta.

Ele estava tenso, mas eu sabia que não era apenas em relação a essa prisão que era tão significativa para nossas carreiras.

Um oficial bateu na porta, mesmo com ela aberta. Peeta o mandou entrar, recebendo um envelope branco de suas mãos.

O rapaz se retirou, enquanto Peeta já arrancava uma folha de dentro da embalagem.

Ele passou seus olhos rapidamente, ficando pálido em seguida.

— O que foi? – questionei curvando meu corpo para frente.

Peeta me estendeu o papel, que eu peguei com pressa.

Comecei a ler devagar, sentindo meu corpo ficar tenso.

Era um exame em nome de Katniss Mellark. Nele estava escrito que a esposa de Peeta tinha apenas 10% de chance de engravidar, e mais algumas palavras difíceis que eu não conseguia entender.

No final, estava escrito a caneta os seguintes dizeres:

“10% de engravidar. 10% de probabilidade de permanecer viva. Delly Cartwright não tem nada a perder. E você, Peeta Mellark? Ama sua esposa?”

~||~

— Peeta soube sobre sua quase infertilidade antes mesmo de você fazer ideia do resultado, pois encontraram a coisa mais preciosa da vida dele, coisa que eu não tenho, e usou isso para ameaça-lo. – continuei a explicar, estendendo o papel que eu mesma havia guardado. Katniss o pegou para lê-lo. – Depois disso começamos a pensar em alguma forma de te proteger. – abri minha bolsa, pegando um envelope amarelo. – Peeta sabia que a única forma de acreditarem que ele não te amava era traindo você. – o coloquei sobre a mesa. – Mas ele jamais faria isso de verdade, por isso fizemos os caras acreditarem que estávamos juntos por suas costas. – Katniss pegou o envelope e o abriu, pegando as fotos que estavam dentro. – E montamos essas imagens para que você acreditasse em tudo, e o mandasse embora. Assim ficaria mais verídico. – respirei fundo. Ao perceber que ela não diria nada, prossegui com minha fala. – Peeta deve ter contado sobre Brutus.

— Sim. Contou. – Katniss finalmente abriu a boca desde que eu comecei a falar. – Foi a prisão mais tensa que ele passou. – ela ainda mantinha os olhos nas fotos. – Por que ele não me contaria isso? – questionou erguendo os olhos e jogando as fotos de volta à mesa, parecendo não acreditar muito no que eu dizia.

— Porque Peeta amava você, e sabia que tudo ficaria mais difícil se você soubesse a verdade naquela época. – respondi. – Ele quase desistiu do plano, quando viu sua reação, mas Peeta sabia com quem estava se metendo, e que você poderia realmente morrer por culpa dele.

Finnick ainda estava calado ao meu lado, parecendo tentar absorver tantas informações.

— Nosso tenente soube de tudo, desde o começo. Por isso, quando Peeta começou a enlouquecer com as investigações, tentando pegar o chefe de Brutus, Cato o mandou pra cá. Assim estaria perto de você de alguma forma. Mas as coisas ficaram complicadas novamente, e eu precisei intervir. Por isso acabei aparecendo por aqui. – Katniss permaneceu calada. Suas feições eram indecifráveis no momento, mas decidi continuar a falar. – E então estive mais presente no dia a dia de Peeta, de preferência fora daqui, já que você parecia sempre querer me matar. – ela ergueu a sobrancelha direita. – Quando você atirou em Peeta, eu tentava avisa-lo de quem eram as drogas encontradas no parque, porém não fazia ideia de que um dos homens que vigiava Peeta estaria por lá. – respirei devagar. – E a conversa que você ouviu de Cato e Peeta, foi Cato se certificando de que vocês não tinham voltado.

— E por que ele questionou sobre vocês dois, se sabia de tudo desde o início? – ela franziu o cenho e cruzou os braços.

— Porque Cato e Peeta sabiam que você estava ouvindo. E Cato só acreditaria que você e Peeta não estavam juntos, se Peeta afirmasse que eu e ele mantínhamos um relacionamento, na sua frente. – me ajeitei desconfortável na cadeira.

— Por que ele insistiria em me manter separada de Peeta? – questionou.

— Porque se algo acontecesse a você, Peeta enlouqueceria, e Cato sabia disso, por isso ordenou que continuássemos com nossas investigações, e mantivéssemos você segura. – soltei o ar devagar. – Cato reparou na sua gravidez, mas não faz ideia que é de Peeta, e Peeta não o informou sobre isso.

Meus ombros estavam doloridos, como se eu houvesse ficado naquela cadeira o dia todo, e somava com a falta de descanso que meu corpo sofria há algumas noites.

Ficamos alguns minutos em silêncio, enquanto Katniss parecia pensar em tudo o que eu havia dito.

— Por que você decidiu ajudar dessa forma? – finalmente questionou.

— Porque eu já estava ferrada. Eles pegariam você, e depois eu e Peeta. Então apenas reduzimos para eu e ele, deixando você de fora. – respondi rapidamente. – E eu preciso muito que você acredite em mim, porque o homem que você ama está decidido a acabar com o chefe de Brutus, pra te ter de volta e para que você volte a acreditar nele. Eu não acho isso errado. Torço para que vocês se acertem, ainda mais com o bebê a caminho, mas é imprudente. Peeta vai acabar morrendo nessa missão suicida. Eu teria ido com Peeta, mas ele me fez jurar que ficaria aqui para te contar tudo, caso ele não desse notícias em 48 horas.

Algo mudou nas feições de Katniss, o que a fez ficar de pé, acompanhada por Finnick.

— Eu realmente estou confusa, e não sei se devo acreditar em toda essa história. – falou parecendo estar entorpecida. Talvez fosse tantas informações. – Mas eu sei que Peeta está com problemas, e que é bem capaz dele estar mesmo em uma missão suicida. Por mais que eu tenha passado os últimos anos com raiva dele, não o deixaria morrer assim. Você sabe onde ele está? – perguntou pra mim.

— Tenho algumas ideias. Fizemos as investigações juntos, então tenho todas as informações que ele tem. – respondi ficando em pé. – Cato não faz ideia do que está acontecendo agora, por isso não terei minha equipe disponível. – expliquei. – Vou precisar de ajuda.

— Eu vou escolher uma boa equipe de suporte e vocês irão atrás de Peeta. – Finnick disse afastando-se da cadeira e indo em direção a porta.

— Eu vou também. – Katniss se manifestou, fazendo nós dois olharmos em sua direção. – Ou me deixam ir junto, ou darei um jeito e irei sozinha. – suas mãos abriam e fechavam ao lado do corpo.

— Deixe-a vir. – respondi, recebendo um olhar desaprovador de Finnick. – Você a conhece melhor do que eu, já que sei apenas o que Peeta me contou sobre ela. Sabe que Katniss não está mentindo quanto a ir sozinha.

— Viu? Até Delly me leva mais a sério que você.

Finnick fez uma cara de desgosto, e saiu da sala, talvez em busca de seus melhores soldados.

Virei em direção a Katniss, que estava parada da mesma forma olhando em direção a porta.

E só então pude reparar em sua barriga, que Peeta havia me contado todo orgulhoso que estava redondinha. Katniss a acariciava completamente perdida em seus próprios pensamentos.

— Nós vamos encontra-lo Katniss. – falei, fazendo-a focar os olhos em mim. – E ai finalmente vocês vão poder acertar as coisas.

Ela apenas afirmou levemente com a cabeça, continuando com seu silêncio.

Katniss realmente era alguém difícil de lidar, mas o pouco que eu havia visto, pude saber que ela amava Peeta, mesmo com toda essa confusão. E eu estava ali para finalmente tentar ajuda-los da forma correta.

Apenas torcia para que não fosse tarde demais.