Passei por ele sem falar nada na tentativa de me refugiar em casa, mas ele agarrou-me pelo braço.

- fica. Nós precisamos conversar.

- não temos nada pra conversar, Brian. Você passou dos limites.

- eu? Me diz o que eu fiz pra você. Você foi uma mulher muito má indo embora. Pensei que fosse me abandonar. Logo eu que te amo tanto. – disse com um sorriso cínico.

- não seja cínico, Brian.

- cínico por que? Eu te amo de verdade. Se não te amasse não estaria casado com você até hoje.

- não finja que esqueceu o que você me fez ou me faz todos os dias. Está vendo isso aqui? – e amostrei meu braço com um hematoma. – foi de dois dias atrás quando me deu um soco.

- me desculpa, meu amor. – disse tentando me abraçar, mas eu me esquivei.

- é sempre a mesma coisa, Brian. Sempre faz o que faz e depois pensa que é só pedir perdão e que tudo volta ao normal. Eu cansei. Só estou aqui pelo Josh, pois eu estava decidida a não voltar mais.

- se pensar em ir embora, eu ponho o garoto contra você.

- você não é maluco de fazer isso.

- é isso que você acha? Então vai. Vai embora pra você ver.

- você não presta. Pena que demorei tanto pra ver isso. – entrei em casa e fui direto pro quarto.

Tranquei a porta e me deitei na cama. Logo depois, Brian bateu na porta algumas vezes, mas desistiu vendo que eu não abriria. Eu poderia ter voltado pra casa, mas ele não ia mais dormir ao meu lado. Não mesmo.

Quando acordei, me arrumei e fui ao quarto do Josh, mas ele não estava mais na cama e sim o Brian dormindo. Fui pra cozinha e lá estava Josh tomando café.

- bom dia filho. – e ele não respondeu. – o que houve?

- por que está tratando o pai desse jeito, mãe? O que está havendo?

- é por isso? Bom...Nós brigamos e eu não me senti a vontade dormindo ao lado dele. Mas pode deixar que hoje eu deixo ele voltar pro quarto.

- que bom mãe. Ele ficou muito triste com essa sua atitude.

- bom...Vamos?

- pra onde? Eu vou pra faculdade.

- então, eu vou te levar hoje.

- por que? Você não costuma fazer isso.

- é que eu preciso ir ao mercado lá perto.

- então ta. Vou pegar minha mochila.

Peguei a chave e depois fui pro carro e o liguei enquanto esperava Josh. Foi então que Brian apareceu na janela do carro batendo. Eu abaixei o vidro e ele me olhou com um sorriso cínico.

- pensou que ia se livrar de mim tão fácil? Josh me falou que conversou com você.

- mas isso não vai durar muito tempo.

- por que? Está pensando em fazer o que?

- estou só esperando eu tomar coragem de contar ao Josh que ele não é seu filho.

- e daí? O pai não é aquele que faz e sim o que cria. Não pense que com isso vai ganhar a confiança dele e vai me largar facilmente.

- um dia eu consigo me livrar de você, Brian. – e ele riu todo cínico.

- pronto. – disse Josh entrando no carro e cessando a quase discussão entre Brian e eu. – vamos?

- vamos filho. – e subi o vidro do carro encarando o Brian.

- tchau pai. – disse ele quando eu saia com o carro.

Chegamos na faculdade e fiquei observando ele entrar. No caminho encontrou uma menina que falava com um pessoal e os dois deram as mãos e entraram juntos. Deveria ser aquela a namorada dele. Fiquei lembrando de quando ainda era uma adolescente. Nessa idade eu já cuidava de uma criança e mal tinha tempo pra fazer minha faculdade. Foi então que alguém bateu no vidro me assustando. Olhei pro lado e era Gerard. Abaixei o vidro pra que eu pudesse ouvi-lo.

- oi Senhora Rose.

- não me chame de Senhora.

- ok, e como você está? Ele te fez alguma coisa?

- estou bem Gerard. Me desculpa, mas é só isso que eu posso dizer. Não quero mais te meter nos meus problemas. – disse séria.

- não estará me metendo em problema nenhum. Você pode contar comigo.

- Desculpa Gerard. Eu estou muito agradecida pela sua ajuda, mas disso eu tenho que cuidar sozinha. – e liguei o carro. – tchau. – e saí enquanto ele me olhava desapontado.

Parei em frente a uma casa que ficava algumas ruas depois da faculdade do meu filho. Desci do carro e toquei a campainha da casa. Pouco depois a porta se abriu e uma mulher apareceu por detrás dela e abriu um largo sorriso ao me ver.

- Rose! – e me abraçou. – quanto tempo não te vejo amiga.

- Sarah. Que saudades!

- faz tanto tempo que não vem aqui. Está sempre ocupada com um monte de trabalho.

- é, mas hoje estou disponível e resolvi vir conversar.

- entre. – e entramos na casa e nos sentamos no sofá confortável da sala. – e então? Como você está?

- na verdade... – e suspendi a manga da minha camisa deixando à mostra os hematomas.

- o que foi isso? Você caiu? – disse passando a mãos nas partes roxas.

- não.

- então o que?

- Sarah...Não sei nem como contar isso. Eu não tinha coragem, mas eu preciso contar pra alguém o que está acontecendo comigo.

- então conta.

- estou sofrendo...Estou...Esse hematoma foi uma das várias recordações...

- fala logo Rose!

- eu apanhei do Brian. É isso! Na verdade eu apanho todos os dias. – e comecei a chorar.

- o que?

- ele tem me maltratado muito ultimamente de todas as formas.

- como você deixou isso acontecer? Como permitiu que ele lhe fizesse tal coisa?

- faz uns dois meses sabe...Ele começou a sumir de casa faz alguns anos e fica a madrugada inteira na rua e volta bêbado, mas uns dois meses atrás além de voltar bêbado, ele tem me batido e me humilhado...Ele me diz tantas coisas horríveis. Ele tentou me matar ontem.

- meu Deus! Por que não larga esse homem?

- não dá.

- como não dá?

- o Josh. Ele pensa que eu quero terminar com o Brian sem motivos. O Brian colocou ele contra mim. Ontem...

E contei toda a historia pra ela que ficou chocada. Nunca ninguém imaginaria que um homem como aquele que eu estava casada, era tão ruim. Como diz o ditado, nunca julgue o livro pela capa. Nós vivíamos de aparência.