No dia seguinte de manhã eu não fazia ideia de como tinha conseguido chegar na escola, estava simplesmente morrendo de sono e praticamente tudo que fiz foi em um modo automático até aquele momento. Antes mesmo do sinal tocar eu fui diretamente pra a sala de aula que se encontrava vazia, me sentei na minha carteira e desabei sobre a mesa sendo acordada por Alya que perguntou se eu estava me sentindo bem. Eu suspirei resmungando um sim em resposta e tentando voltar a deitar, mas assim que o fiz ela me perguntou sobre o paradeiro de Adrien e eu me levantei como se tivesse levado um balde de água fria na cara, eu só “acordei mesmo” naquela hora.

— Espera aí o que foi? – Eu disse esfregando os olhos e conferindo, ele não estava sentado na carteira da frente e nem em nenhum outro lugar da nossa sala parcialmente vazia. – Onde ele está?

— Eu é que vou saber? É pra isso que eu te perguntei, eu não vi ele em lugar nenhum e de acordo com Nino ele não responde mensagens desde ontem. – A avermelhada me explicou.

— Ele não respondeu as minhas também... – Eu falei.

— Marinette o que foi que aconteceu? Você deve saber alguma coisa então me explique tudo, por favor. – Nino disse se sentando no nosso lado na carteira, o que fez o espaço ficar meio apertado, mas a preocupação em seu tom de voz era demais pra repararmos nesses detalhes bobos.

Eu respirei fundo novamente esfregando os olhos e comecei a relatar tudo desde a festa até os acontecimentos finais que terminaram com Adrien e Félix não respondendo nada que eu ou Bridgitte enviássemos.

— E-eu nem consegui dormir pensando no que pode ter acontecido com ele, e claro que isso é culpa minha! Eu tenho certeza que a prima dele tem alguma coisa a ver com ele não me responder, deve ter acontecido alguma coisa séria! Se eu não tivesse seguido ela estaria tudo bem e- e-

— Marinette calma. – Alya disse tocando o meu ombro. – Respira. – Eu respirei devagar, notando eu precisaria fazer isso por estar sem fôlego de tanto falar.  Ok, você está melhor? – Eu balancei a cabeça concordando. – Olha eu tenho certeza que isso deve ser só um mal-entendido, Adrien e Félix certamente estão bem, mas pelo que você me contou eu imagino que Adrien esteja de castigo ou algo assim.

— Como assim? – Perguntei.

— Eu imagino que ele esteja extremamente furioso pelo que a prima dele fez com você, e acredite eu também estou. – Alya falou e eu finalmente notei o quanto ela estava contendo os seus sentimentos para que eu ficasse bem. – Ele provavelmente não deve ter aguentando durante o almoço ontem e brigou com ela, foi repreendido por fazer isso e os pais o deixaram de castigo sem mexer no celular. Talvez Félix tenha se envolvido nisso e também foi castigado.

— Você tem um bom senso de dedução Alya. – Nino elogiou dando um sorriso fraco.

— É coisa de repórter. – Ela falou ajeitando os óculos no lugar. – Então, por favor, vocês dois se controlem e pensem bem antes de se desesperarem, isso pode não ser nada demais. – Ela concluiu.

— De qualquer forma eu acho que não vou conseguir me acalmar até ver ele com os meus dois olhos. – Eu falei com o coração apertado, estava sentindo uma coisa ruim no peito, como se algo muito ruim fosse acontecer a qualquer instante.

— Você tem razão, eu acho melhor a gente ir ver ele depois da aula. – Nino sugeriu. – Que tal?

— Tudo bem, se vocês dois vão se sentir melhor assim nós vamos. – Alya falou.

Finalmente a aula começou, Nino voltou para o seu lugar e nós conhecemos a professora substitua da Alice, uma senhora de meia idade que era muito séria e brava, gritava e implicava conosco por qualquer motivo e dava aulas de uma forma tão entediante que eu tinha vontade de morrer. Ela era o total oposto da Senhorita Olivier.

— Marinette Dupain Cheng! Está prestando atenção? Sala de aula não é lugar de dormir! Se for pra fazer isso ficasse em casa! Eu não levanto todos os dias ás cinco em ponto para chegar aqui e dar aula para um bando de adolescentes sonolentos! Aposto que ficaram mexendo nesses telefones celulares a noite toda! No meu tempo isso não acontecia! – Ela começou a discursar sem parar, por algum motivo tinha pegado uma implicância terrível comigo e não tínhamos nem dez minutos de aula direito.

— Me desculpe professora. – Foi a única coisa que respondi.

— Muito bem, não preciso de desculpas, seus pais é quem vão precisar quando chegar o seu boletim! – Ela me respondeu curta e grossa. – Agora se me permitem iniciar a aula, hoje vamos fazer a leitura de um dos livros mais importantes da literatura francesa...

A professora pediu ajuda de Kim e Ivan para distribuir vários exemplares de um livro extremamente grosso. Quando a leitura foi iniciada eu viajei para longe da escola, a história do livro até que me parecia interessante, mas a forma como a leitura era feita pela professora a deixava muito maçante e além disso eu só conseguia pensar em Adrien Agreste. Eu estava preocupada, por mais que Alya insistisse em dizer que as coisas iam ficar bem o meu coração estava apertado e eu não conseguia ter certeza de nada. O forte som de uma régua batendo na mesa na minha frente interrompeu meus pensamentos.

— Senhorita Cheng, já que está tão interessada na aula poderia nos explicar um pouco sobre o que eu estava dizendo? – A professora me pediu com um ar sarcástico, eu fiquei muito envergonhada, já que meu livro sequer estava aberto.

— Ah, bem-

— “Ah, bem”! – Ela resmungou. – Se estivesse prestando atenção saberia que eu estava explicando para os seus colegas sobre como o autor captou de uma forma extremamente realista a vida do povo francês do período entre 1815 e 1832 com a sua obra. – Ela começou novamente um falatório que só terminou com um “E espero que preste mais atenção caso não ir queira fazer uma visitinha para o Senhor Damocles na direção!”.

— Sim senhora.

— Continuando... – Ela voltou para a leitura.

Francamente nem podemos chamar aquilo de aula! A professora substituta de Literatura era pior do que madame Mendeleiev em quesito de rigidez, e ela tinha pegado uma marcação dos infernos comigo, mas claro que também falara muito com os outros, reclamou sobre Nino estar usando boné na sala de aula, Chloé e Sabrina estarem supostamente conversando demais, Nathaniel estar desenhando ao invés de prestar atenção nas coisas monótonas que ela dizia, ela jurava ter visto Alix pegar o celular, e claro a cada respiração que eu dava era uma bronca diferente. Felizmente essa seção de tortura insuportável serviu para nos distrair, nós passamos as horas seguintes reclamando sobre a professora:

— Eu não fiz nada de errado e ela brigou comigo! Isso foi um absurdo!

— Eu fiquei morrendo de vergonha daquela bronca que ela me deu na frente de todo mundo, queria ser invisível para não passar tanta vergonha daquele jeito!

— Mas essa mulher é louca, eu só estava olhando as horas porque não via a hora de sair daquela aula insuportável!

— Cara, mas que implicância que os adultos têm com boné! Que saco, às vezes queria mandar eles para o espaço pra ficar em paz...

Dentre outras mil coisas que todos estavam falando. De repente eu parei, olhei para o teto e pensei: Como será que Adrien está agora? Será que ele está mal? Será que a prima maligna encapetada doida das trevas dele o trancou em um armarinho de limpeza sem sinal de internet? Será que ele já tomou café da manhã?

— MA-RI-NE-TTE! – Alguém soletrou gritando no meu ouvido.

— O que? – Me virei para o lado assustada, era Alya.

— A aula já acabou garota. – Ela falou me puxando, percebi que ela tinha até guardado meu material e Nino estava carregando a minha mochila. – Vamos, vamos! Vocês não queriam ver o príncipe? Vamos para o castelo!

Então nós seguimos apressados para o castelo do príncipe, sem falar quase nada durante o caminho, uma tensão estranha se instalava no meu peito. Chegando, eu dei um passo à frente e toquei a campainha, sem resposta. Toquei de novo, mas estava tudo muito silencioso, eu não via nenhum empregado e as portas estavam fechadas.  

— Ué, não tem ninguém em casa? – Nino questionou. – Que estranho. Tipo, muito silencia para uma casa com visitas.

— Hum, verdade hein- Ei! Marinette o que caralhos você tá fazendo louca? – Alya me questionou se virando pra mim agitada.

— Uh, dã! Não querem me atender? Nem ligo, dou meu jeito! – Eu resmunguei.

O que eu estava fazendo? Tentando subir em uma árvore que tinha na lateral da casa, próxima ao muro de onde daria para enxergar as janelas do quarto do Adrien. Sim, eu sei que isso é um ato desesperado de stalker louca psicótica, mas é loucura de amor, entendam que eu estava extremamente preocupada com o meu namorado, eu não era a única porque a minha irmã não parava de falar do Félix por um segundo sequer no dia anterior, ela tentara vir visita-lo e não conseguiu porque a Nathalie atendeu dizendo que não tinha ninguém em casa e desligou o interfone sem explicar nada para a minha irmã. Nós estávamos confusas e queríamos ter noticias dos nossos amores, era pedir demais?

— Sua demente, saí daí! Você vai cair! – Alya resmungou.

— Mari, cuidado! – Nino advertiu. – Adrien não está aqui, vamos embora! Isso é perigoso! E se passar alguém ligar para a polícia avisando que você tá aí que nem doida?

— Ah nem vem gente! Eu posso ser presa ou o que for, mas eu vou invadir esse lugar se não me deixarem entrar! – Eu os encarei determinada, o que foi um tremendo vacilo porque ao desviar meus olhos do caminho eu acabei pisando em um galho fraco que se partiu e me fez cair diretamente no chão, eu tentei evitar o pior da queda mas acabei pisando de mal jeito na calçada. Resmunguei por causa da dor que sentia no meu tornozelo, isso porque estava tentando muito não gritar.  

— Aí meu Deus Mari você está bem? – Alya perguntou rapidamente se agachando perto de mim.

— Não! Está doendo muito, será que eu quebrei? – Perguntei apontando para o tornozelo.

— Espero que não, mas talvez você tenha só torcido. – Nino falou. – Bom, nós avisamos que isso daí era uma ideia de jerico, tô certo ou não tô?

— Nino isso não é hora de brincar, vem vamos levar a Mari pra casa dela! – Alya me ajudou a levantar me apoiando, mas eu me recusei a sair dali.

— Eu só saio quando eu vir o Adrien! – Protestei como uma criança birrenta.

— Mas como é que você consegue ser tão teimosa assim hein? – Ala resmungou. – Nino segura ela, eu vou subir na porcaria da árvore se isso te fizer me obedecer senhorita Dupain Cheng! Mas já vou avisando que se eu cair dali vou dar uma na sua cara!

— Ah, Alya muito obrigada amiga! Você é demais!

Ela sorriu e seguiu para a árvore, Alya conseguiu subir bem mais rápido que eu, de acordo com ela brincava muito com as irmãs de subir em árvores quando elas iam a parques. Em pouquíssimo tempo ela já estava apoiada em um galho alto o bastante para ver o quarto de Adrien, estava respirando com dificuldade e arfando, eu supus que fosse devido ao esforço físico e a rapidez. Ela desceu devagar e cautelosa, talvez por medo de cair já que estava sem fôlego.

— E aí, Alya? Deu pra ver? Olhou no quarto? – Perguntei aflita, até tinha esquecido da dor no meu tornozelo.

— Olhei. Não tem ninguém lá. – Ela falou. – Vem, vamos embora. – Me apoiou no seu ombro e com a ajuda dela e do Nino eu voltei para a minha casa.

Nós seguimos andando com dificuldade, tão calados quanto na ida. Minha mãe me deu uma enorme bronca por tentar subir em uma árvore assim que nem doida quando tive que contar pra ela o porquê de eu ter me machucado, mas no geral ela estava mais preocupada que brava. Fui com ela para o meu quarto para ela avaliar aquele machucado e me ajudar de alguma forma. Enquanto isso Alya ficou me esperando na sala, Nino teve que ir para a casa ajudar a mãe com alguma coisa.

— É importante, eu te conto depois! Beijo. – Alya gravava um áudio que enviou para sei lá quem quando veio para o meu quarto depois da minha mãe terminar o serviço.

— O que foi? – Perguntei.

— Nada, eu só estava falando de uma série para o Nino. – Ela sorriu. – Como você está?

— Vou ficar bem, mamãe me disse que só torci o tornozelo e que nem foi tão grave assim. Ela me trouxe gelo e um analgésico. Eu vou ficar bem, em uns três dias eu já vou estar 100%. – Expliquei.

— Claro, enquanto isso eu posso te ajudar com o dever de Literatura!

— Aí nem me fale disso...

Então nós duas iniciamos uma sessão de estudos enquanto ambas reclamávamos da nova professora. Alya me ajudou a fazer um resumo do primeiro capitulo do livro, já que eu não prestei atenção em nada que a professora disse durante a aula e esse exercício ia valer nota. Mais tarde ela teve que ir para a casa e assim que saiu minha irmã chegou me questionando sobre o machucado, expliquei o que tinha acontecido desde o começo pela segunda vez naquele dia e a cara de Bridg foi mais ou menos a de um touro raivoso que queria muito acabar com a raça do seu toureiro.

— AH, MAS O QUE É QUE VOCÊ ESTAVA PENSANDO QUANDO NÃO ME CONTOU? EU IA LÁ E ACABAVA COM AQUELA GAROTA!  - Ela começou a fazer um discurso sobre meios de tortura que só me fizeram pensar em como uma criatura doida de pedra dessas ia ser mãe.

— Caramba você e o Adrien são iguaizinhos: dois loucos sanguinários e vingativos.

— Vai me dizer que você não fica fervilhando de raiva só de pensar nessa garota? Já imaginou que seja lá o que for que está acontecendo que os nossos namorados não falam mais com a gente pode muito bem ser culpa dela? – Ela cerrou os punhos.

— Já Bridg, eu estou pensando sobre isso o dia todo! Não aguento mais essa ansiedade! – Eu resmunguei desabando sobre o meu travesseiro. – Eu tentei, tentei me convencer de que está tudo bem, mas eu sei que não está! Tem alguma coisa muito ruim aí Bridg e eu não consigo parar de pensar que a culpa é minha dessas coisas ficarem acontecendo e eu nem sei por quê!

— Ah Mari, eu queria tanto te reconfortar, mas não dá pra mim! E-eu estou tão estressada com isso tudo! As coisas pareciam tão bem há alguns dias atrás e agora tudo já está assim, do avesso! – Ela sussurrou. – Eu fiquei pensando... Será que ele descobriu?

— Hein?

— Fé-lix... – A voz dela tremia. – Será que ele descobriu sobre eu estar grávida? Ele tinha feito aquele comentário do nada sobre como eu seria uma boa mãe e agora ele desapareceu do mapa também... Por um segundo eu me perguntei se ele tinha descoberto, ficado assustado e talvez esteja me evitando.

— Bridg eu acho isso pouco provável. – Eu coloque a mão no ombro dela. – Como ele ia descobrir? Nunca notou os detalhes e nenhum de nós iria contar.

—Eu sei que isso é uma loucura minha! – Ela balançou a cabeça. – Eu estou ficando paranoica! É muita pressão e agora ele nem me atende mais! Nenhuma das cento e dezessete vezes!

— Cento e dezessete?- Eu repeti de boca aberta.

— Eu só acho que talvez seja melhor eu contar tudo de uma vez por todas!   

— O que? – Perguntei abismada. – Você tá falando sério mesmo?

— Eu não sei... Eu só quero acabar com essa tensão de uma vez. É tão absurdo assim? – Ela questionou coçando a nuca, nervosa.

— Não, de jeito nenhum! Eu só fiquei chocada porque você estava tentando tanto esconder isso de verdade mesmo pra querer contar tudo logo agora já no meio dessa chuva de emoções, sabe? – Eu falei.

— Então é melhor eu não falar nada? – Ela perguntou voltando os olhos para a própria barriga.

 - Não foi isso que eu falei! Eu acho incrível você ter finalmente tomado uma decisão em relação a isso! Mas imagino que vamos ter um pouco de dificuldade em contar logo agora, já que sequer podemos falar com eles. – Eu resmunguei.

— Certo, isso é verdade. – Ela concordou. – Mas não quer dizer que eu vou ficar aqui parada de braços cruzados! Eu coloco uma barraquinha na frente do portão da casa deles e fico a noite toda esperando alguém aparecer, mas eu falo com ele!

— Eu vou junto! – Ameacei levantar, mas fui empurrada novamente para a cama.

— Vai junto o caralho, deita e dorme que eu não quero tu atrapalhando a minha missão com esse seu jeito atrapalhado! – Ela falou e eu a encarei brava. – Quem mandou cair de árvore? Agora vai ter que ficar em casa! Não vou deixar você sair assim, muito menos deixar a mãe saber que eu te meti nisso! Ela ia ficar uma fera comigo se te acontecer mais alguma coisa!

— Mas Bridg eu não quero ficar aqui sem fazer nada e sem saber de nada! Eu quero ajudar! Eu quero saber do Adrien!

— Não, não e não! Vai ficar aqui sim e ponto final! Se você se machucar de novo essa semana eu morro do coração!

— Eu tomo cuidado, juro!

— Marinette, só não!

— Isso não é justo!

— O mundo não é justo, morre que passa. Agora eu vou ir ficar na tocaia no meu estilo ninja das trevas e volto pra casa mais tarde pra te manter informada. – Ela estalou um beijo na minha testa. - Toma cuidado e não faz merda tá?   

— Eu que deveria te dizer isso!

Ela só sorriu e saiu acenando.

Eu logo saquei que o resto do meu dia ia ser uma melancolia entediante até dizer chega.