— Sabe tem uma coisa que eu andei evitando de contar porque achei que era besteira, mas eu estou começando a ficar pensando muito nisso e acho que se não desabafar eu vou explodir... – Eu falei de uma vez sem parar e no fim acabei ofegando.

— Wow, calma minha princesa. Respira. – Adrien disse se levantando da cadeira onde estava sentado. – Ok, agora explica o que foi?

Eram três da tarde e depois da aula Adrien veio na minha casa me ajudar com um dever. Depois de terminarmos com o tal do dever ele preferiu ficar mais um pouco comigo. No momento eu estava fazendo um brigadeiro e ele estava na mesa olhando os DVDs que tínhamos em casa e tentando escolher um filme. Estávamos em silencio até eu me pronunciar finalmente sobre uma paranoia que eu estava evitando:

— Sabe a Lila? – Eu comecei.

— Lila da nossa sala?

— É. Ela. – Eu confirmei. – Eu estou com a impressão de que ela planeja me matar ou alguma coisa assim.

Durante cinco segundos Adrien me encarou sério, depois disso ele não aguentou e começou a rir.

— Meu Deus do céu de onde você tira essas coisas? – Ele disse rindo.

— É estranho, eu sei lá... Ela fica me encarando que nem uma psicopata. – Eu continuei tentando ignorar a risada dele. – Toda hora que ela tá por perto eu sinto um calafrio! Ela me encara o tempo todo! Na Educação Física, na sala de aula, no recreio, e é sempre com um olhar bizarro que eu não sei dizer o que é!

— Ok, se acalma senão o doce vai azedar. – Adrien falou como se fosse uma mãe. Ele pareceu perceber que eu estava preocupada DE VERDADE e começou a falar mansinho para tentar me acalmar. – Ah princesa eu tenho certeza que de morte você não está sendo ameaçada, eu conheço a Lila e por mais que ela te odeie ela não seria capaz de fazer mais do que te olhar feio. E o que ela vai fazer com você se eu estou sempre do seu lado LITERALMENTE? Olha não precisa pensar nisso tá? Se acontecer qualquer coisa me avisa. – Ele passou a mão no meu cabelo e isso bastou para eu me sentir melhor.

— Eu vou avisar... Mas não vai se arrepender depois que eu começar a te cutucar na aula toda vez que eu notar que aquela maluca está me encarando! – Avisei conseguindo sorrir por saber que ele estava comigo até mesmo nos meus momentos de paranoia.

— Está bem minha joaninha, como quiser. –Ele falou sorridente. – Mas que irônico não é mesmo?

— Irônico? O que? – Eu perguntei sem entender o que ali naquela situação poderia ser irônico. 

— Logo você com essa sua mania de ficar observando os outros não quer ser observada agora senhora Stalker.- Ele brincou mexendo em uma das minhas marias-chiquinhas.

— Ai, deixa de besteira! – Eu dei um peteleco no nariz dele. – Eu não gosto de ficar observando os outros eu gosto é de ficar observando cada passo que você dá.

— Uau, isso soou bem obsessivo e psicopata. – Adrien riu.

— Eu sei e obrigada. – Eu disse colocando as mãos na cintura e estufando o peito, uma pose de quem se acha que eu copiei dele.

— É, você é mesmo uma stalker total. – Ele me abraçou. – A minha amada stalker.

Eu corei, mas não pude deixar de sorrir. Adrien tem esse poder de me fazer esquecer todos os meus problemas com os seus simples gestos, eu me sentia bem em sua presença e melhor ainda em seus braços. Coloquei minha mão no rosto dele ainda sorrindo e o puxei para um beijo calmo e sereno.

Você é a imagem perfeita

Banho de sol sob a lua

Estrelas brilham enquanto seus ossos se iluminam

O primeiro beijo foi como uma droga

Sob a sua influência

Você me pegou, é a mágica em minhas veias

Isto deve ser amor

Bata, palmas

O som no meu coração

A batida continua e continua e continua e continua

Bata, palmas

Você me faz sentir bem

Venha para mim

Venha para mim agora

— MARINETTE QUE CHEIRO DE QUEIMADO É ESSE? – Eu escutei a minha mãe gritar lá da sala.

— Ai caramba! – Eu me desvencilhei dos braços do loiro e me virei para a panela que estava no fogo. – Eita preula o brigadeiro tá queimando!

— Tá pegando fogo bicho!

Eu desliguei o fogão e quase chorei ao ver a triste cena de chocolate sendo desperdiçado daquele jeito. Eu não tenho culpa se quando estou perto do meu namorado o resto do mundo se torna insignificante pra mim.

— Ahh eu não acredito que vamos ficar sem brigadeiro. – Choraminguei depois de limparmos a minha pequena bagunça. – Bom, acho que só nos resta uma pipoca de micro-ondas. – Eu disse começando a procurar algum pacote nas gavetas do armário.

— Tem um aqui. – Adrien apontou para uma portinha alta no armário. – Mas eu não consigo pegar.

— Pode subir em uma cadeira, não tem problema. – Eu disse apontando para uma.

— Nah, na verdade eu consigo pegar sim, só falei isso pra ver se você não me deixava te pegar no colo pra você alcançar a portinha. – Ele deu uns dois pulinhos e conseguiu pegar a pipoca, logo em seguida fechou a portinha.

— Mas como o senhor é aproveitador de situações. – Eu dei um peteleco nele. – Sabia que não podia confiar nesse seu tipinho conquistador de corações barato. – Eu brinquei.

— Sim, certamente as pessoas como eu são as mais perigosas. – Ele disse seriamente. – Você não pode se distrair por um segundo que- EI, MAS O QUE É AQUILO? – Ele apontou para o teto e por impulso eu dirigi meu olhar para lá. Nesse momentinho ele se aproximou muito rápido e estalou um beijo nos meus lábios. – Que já se aproveitam do momento. – Ele concluiu sua explicação me dando uma piscadinha.

— Mas eu não acredito que eu caí no truque mais velho do mundo! – Eu ri empurrando o ombro dele. – ok, o senhor é muito bom no que faz Adrien Agreste.

— Eu sei, obrigado, você também é incrível. – Ele me fez uma reverência.

— Oh, pois muito obrigada. – Eu o imitei no gesto. – Agora se o senhor me permitir eu tenho que estourar essa pipoca. – Peguei o pacote das mãos dele. – Já escolheu algum filme? – Perguntei mexendo no micro-ondas.

— Ah, não sei... Suas opções são bem poucas aqui. Quer dizer, quem é que quer ver “Lagoa Azul” se esse filme passa quase que toda semana em um certo canal que eu não vou citar aqui. – Ele falou apontando para o DVD. (N/A. R. dos Fantasmas: Nem que essa seja a minha opinião, nada disso cof cof... Tiro isso na edição. Mentira, tenho preguiça de editar então vai ficar assim mesmo.)

— Deixa de preguiça e só escolhe alguma coisa logo. – Eu ri.

Logo a pipoca ficou pronta e um filme foi aleatoriamente escolhido. Nós nos encaminhamos para a sala onde eu coloquei o filme no empoeirado DVD e me sentei ao lado do loiro no sofá assim que a história se iniciou na tela. Alguns minutos se passaram e minha cabeça se apoiou no ombro de Adrien de um jeito confortável. Eu sorria com o passar das cenas, mas pelo caminho que a história ia trilhando eu, com toda a minha experiência em filmes de amorzinho clichês, já imaginava que esse sorriso não duraria muito tempo. No fim do filme, como eu já imaginava, a mocinha morria e o rapaz ficava sozinho. Eu não me aguentei e deixei algumas lágrimas descerem pelos meus olhos, me virei para ver se poderia se reconfortada por Adrien, mas seu estado estava pior do que o meu. Resultado: nós dois ficamos chorando um abraçado com o outro no sofá por meia hora e só paramos quando o celular do loiro começou a tocar.

— Alô? – Adrien atendeu o celular tentando se recompor da voz chorosa. – Uh? Mesmo? – Ele prosseguiu a conversa por um pouco mais de tempo e então desligou ao dizer que já ia para lá.

— Quem era?

— Minha mãe. Ela disse que alguns parentes estão na minha casa. – Ele falou guardando o telefone no bolso. – E que eu tenho que ir lá cumprimentar as visitas.

— Ah, que saco. – Resmunguei de forma egoísta, por querer ele só pra mim.

— É mesmo. – Ele suspirou. –Você não quer vir comigo? Vai ser bom já te apresentar para as pessoas da minha família!

— Bom, eu ate queria ir, mas acho que não vou conseguir causar uma boa impressão com essa cara de choro, olhos inchados, cabelo bagunçado... – Eu disse gesticulando para mostrar meu rosto terrivelmente despreparado para tal situação.

— Você tem certeza mesmo? – Ele insistiu. – Sabe que eu te acho miauravilhosa de todas as formas. – Ele tentou me convencer com um sorriso galanteador.

— Eu estou falando sério, sei que sua mãe e seu pai já gostam de mim, mas quero mesmo que o resto da sua família também goste e pra isso eu preciso parecer pelo menos razoavelmente decente! – Eu expliquei.

— Mas eu faço questão de que você vá conhecer eles alguma hora tá? Assim como eu quero conhecer os seus parentes...  – O modelo falou. – Acha que eles gostarão de mim?

— Eu tenho certeza que eles vão te adorar! São muito legais e você é incrível! Vão se dar bem mesmo. Eu tenho uns tios com umas piadas bem no seu estilo mesmo. – Eu ri já imaginando Adrien trocando piadas de tiozão com os meus parentes.

— Olha só que interessante, eu quero muito conhecer esse pessoal. – Ele deu um sorriso de canto.

— Assim que tiver uma oportunidade eu te apresento pra eles, sabe como vai ser bom poder finalmente responder as minhas tias quando elas perguntarem “E os namoradinhos hein Mari?”? – Eu perguntei já imaginando a cara delas de “ERROR404” quando eu dissesse “Meu namorado tá bem tias, obrigada por perguntar, ele é um modelo super famoso e incrível!”. – Então assim que eu tiver uma oportunidade melhor de conhecer os seus parentes eu vou também, ok?

— De acordo, madame. – Ele fez uma reverencia. – Foi muito bom poder passar um tempinho com você minha joaninha. Eu queria poder ficar assim todos os dias, o tempo todo.

— Eu também meu gatinho carente. – Eu passei a mão nos cabelos dele. – Até amanhã. – Me despedi quando chegamos na porta de casa, depois de Adrien se despedir também do meu pai e da minha mãe que ficaram um tempinho insistindo para ele ficar mais.

— Até amanhã. – Ele se inclinou e me beijou novamente. Ele sorriu de um jeito doce e logo entrou no carro que os pais dele já tinham mandado e estava esperando faz algum tempo na frente da minha casa, o motorista dele já devia ter ficado sem nenhuma gota de paciência por termos enrolado tanto na conversa.

Eu fiquei na calçada, observando o carro dele até o momento que ficou fora do meu campo de visão. Entrei em casa, subi até o meu quarto e então eu desabei sobre a minha cama. Eu olhei para o teto e comecei a pensar sobre o que estávamos falando há poucos minutos atrás: os parentes. Eu tenho os mais variados tipos de pessoas na minha família, dos tiozões das piadas do pavê até as tias dos namoradinhos, e conheço a maioria deles, tanto por parte de pai quanto por parte de mãe. Pensando mais um pouco sobre o assunto eu me perguntei como os que eu já não via há algum tempo estariam agora, se um priminho que nasceu no ano passado já estava falando, se a minha tia tinha melhorado o estado de saúde, se o meu tio ia viajar da China para nos ver de novo esse ano, e entre muitas outras coisas quando eu os veria de novo, muito provavelmente no Natal. Então eu parei para pensar em como seria a família de Adrien. Será que eles gostariam mesmo de mim quando me conhecessem?