Le Sobriété de Pouvoir escrita por Megara


Capítulo 19
S02C09 - Uma aula inoportuna


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Tudo bem com vcs?

Espero que gostem desse capítulo, tem muuuitas novidades no próximo ;)

[CAPÍTULO BETADO 28/07/2020, @PatBlack, [u/26945/]



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Depois da chegada inesperada do Trio de Ouro, Dahlia havia se levantando do chão, enquanto Ron e Hermione se sentaram ao lado de Ginny. A ruiva e seu irmão se entreolharam preocupados, enquanto Hermione fixou os olhos esbugalhados em Harry, parecendo muitíssimo assustada.

— Nós estávamos no Três Vassouras quando acabamos ouvindo a conversa do Fudge, o Ministro da Magia, e de Madame Rosmerta, a dona do bar, junto com o Hagrid e a Profa. McGonagall — Harry começou a história, enquanto iniciava um trote nervoso na frente dos amigos. — Black era o braço direito de Voldemort e ele... Black era amigo dos meus pais, Dahlia! Foi padrinho de casamento deles! Quando meus pais se esconderam, eles usaram um Feitiço Fidelius para escapar... seja lá o que for isso...

Dizer que o garoto parecia transtornado era eufemismo. Ele estava... enfurecido. Tentando fornecer algum conforto, a sonserina o puxou até um dos sofás e começou a esfregar uma das mãos nas costas do primo, enquanto ele continuava a falar:

— Parece que com o Feitiço Fidelius, somente o fiel do segredo podia encontrar a casa deles... a nossa casa em Godric's Hollow. Eles... eles fizeram de Black o fiel e ele os traiu, entregou os dois a Voldemort.

O garoto deu uma pausa em sua história, suspirando trêmulo de raiva. Ele continuava ofegante, como se não houvesse parado de correr, e toda aquela história estava amedrontando Dahlia mais do que ela achou que fosse possível.

— Havia outro amigo deles, chamado Peter Pettigrew — continuou Harry, tornando a se levantar de onde a prima havia se sentado com ele. O trote para lá e para cá no salão comunal recomeçou. — Depois de trair meus pais, Black o matou, junto com um punhado de trouxas que estavam lá também. Explodiu Pettigrew inteirinho e só sobrou um dedo dele na rua.

Quando Harry se calou, o conhecimento que Dahlia tinha do primo — determinado, corajoso e, nos assuntos que o emocionavam demais, burro — fê-la temer pela segurança do garoto. Por isso, ela disse:

— Mas ele pagou pelo que fez, Harry. Ficou em Askaban todo esse tempo, perdeu a vida inteira junto com dementadores...

— Mas não foi suficiente, foi? — respondeu Harry, agressivamente, com os olhos brilhando com lágrimas não derramadas. Aquela reação preocupou a sonserina ainda mais, porque, quando ela tentou abraçá-lo, ele a repeliu e voltou a andar pelo salão.

— O que você quer dizer? — perguntou Dahlia, temerosa.

— Você sabe o que eu vejo e ouço cada vez que um dementador se aproxima de mim? — Dahlia sacudiu a cabeça apreensivamente, vendo, com o canto dos olhos, que os dois Weasleys e Hermione observavam o garoto com os olhos esbugalhados. — Ouço minha mãe gritar e suplicar a Voldemort. E se alguém ouve a mãe gritar daquele jeito, pouco antes de morrer, não dá para esquecer depressa. E se descobre que alguém que ela acreditava ser seu amigo foi o traidor que a entregou para Voldemort...

— E o que você vai fazer, hein? Persegui-lo? Sair caçando o homem junto com os dementadores? — questionou Dahlia, com mais medo pelo primo do que raiva pela insanidade deste.

— Não sei, não sei! — respondeu Harry, exasperado. Depois de esfregar uma das mãos na testa, ele se virou de repente para seus dois amigos e disse: — Malfoy sabe o que Black fez! Vocês se lembram? Ele disse que "se fosse eu, eu ia querer me vingar. Ia atrás dele pessoalmente".

— Que é que tem que o bobalhão do Malfoy sabe disso? — perguntou Ron, irritado. — Dahlia está certa! Escuta aqui... você sabe o que a mãe do Pettigrew recebeu depois que Black acabou com o filho dela? Papai me contou... A Ordem de Merlin, Primeira Classe, e o dedo de Pettigrew em uma caixa. Foi o maior pedaço dele que conseguiram encontrar. Black é um louco, Harry, e é perigoso...

— O pai de Malfoy deve ter contado a ele — disse Harry, não dando atenção a Ron. — Fazia parte do círculo íntimo de Voldemort...

— Me faz o favor de dizer Você-Sabe-Quem? — pediu Ron com raiva. — Então, obviamente, os Malfoy sabiam que Black estava trabalhando para Voldemort, mas Malfoy adoraria ver você explodir em um milhão de pedaços, como Pettigrew! Caí na real, Harry! A esperança de Malfoy é que você seja morto antes de ele precisar jogar quadribol contra você.

— Harry, por favor — pediu Hermione, os olhos agora brilhantes de lágrimas —, por favor, tenha juízo. Black fez uma coisa horrível demais, mas não corra riscos, é isso que Black quer... Você vai fazer o jogo do Black se for atrás dele. Seus pais não iam querer que você se machucasse. Certo, Dahlia? Jamais iam querer que você saísse procurando o Black!

— Eu nunca vou saber o que eles iam querer, porque, graças ao Black, nunca conversei com eles — disse Harry com rispidez.

— Não seja bruto com Hermione, Harry! — exclamou Dahlia, dando um peteleco na cabeça do primo. — Ela está certa! Não é possível que você seja tão burro!

Houve um silêncio, momento em que Bichento apareceu descendo pelas escadas do dormitório feminino, acompanhado da gata de Dahlia, Nahla, que também estava com o pelo laranja-malhado. Os dois gatos chegaram e se arrastaram pelas pernas das donas com desenvoltura.

— Escute a gente, Harry! — suplicou Dahlia, nervosa. — Eu sabia que essa história de Sirius Black não cheirava bem e eu estava certa. Você não pode fazer nada contra o homem, tem é que se manter bem longe dele!

Harry desviou os olhos da prima ao responder:

— Vou tentar.

[...]

Na manhã de Natal, Dahlia novamente acordou no dormitório da Grifinória junto com Ginny. Como as duas eram as únicas no dormitório das meninas do segundo ano, a sonserina não tivera que dividir novamente a cama com a amiga e havia se apossado da cama de uma das colegas grifinórias da Weasley.

As duas meninas haviam se despedido com abraços calorosos de Luna e Gwendolyn no início da semana, quando as garotas haviam retornado para casa para passar o feriado junto com os pais. As quatro haviam prometido que enviariam os presentes umas às outras na noite anterior ao Natal, para que ninguém ficasse tentado a abri-los antes da hora.

Elas acabaram buscando as caixas depois do jantar do dia anterior, com Ginny impedindo a amiga veementemente de chegar perto deles, pois a sonserina quase não se aguentava de curiosidade.

— Ginny, Ginny, Ginny! — chamou Dahlia, levantando da cama com tanta pressa que mal havia tirado a remela dos olhos ainda. — Oi! Acorde! Eu vou abrir os presentes sem você, juro!

A Weasley, que só odiava acordar cedo menos que Gwendolyn, praticamente rosnou para a amiga ao abrir os olhos e começar a se levantar.

— Você que se cuide, porque eu vou fazer picadinho de você — resmungou Ginny, irritada. — Não acredito nisso, é praticamente madrugada!

— São oito horas da manhã! — respondeu Dahlia rindo enquanto também se levantava.

— Madrugada!

Aos pés da cama das duas meninas se encontrava o montinho de presentes que ambas haviam ganhado. Mesmo Dahlia, que não estava em seu dormitório, encontrou todas as caixas que lhe pertenciam próximas à cama de Parvati.

— Eu ganhei um suéter da sua mãe de novo! — exclamou Dahlia ao abrir seu primeiro presente. O suéter era vermelho-morango e tinha uma letra "D" bordada bem no meio. A sonserina se virou para a amiga, sorrindo, vendo que ela também desembrulhava o mesmo modelo de suéter de um de seus pacotes.

— Mamãe adora você, é óbvio que iria ganhar um — respondeu Ginny, piscando para a amiga e medindo seu próprio suéter cor-de-rosa na frente do corpo. — Ela acha que você e Hermione são ótimas influências e que vocês podem fazer com que Ron e eu nos comportemos muito bem.

— Caramba, como ela está enganada... — Dahlia se lembrou, distintamente, de diversas ocasiões em que Ginny, além de não lhe dar ouvidos, ainda lhe arrastara para fazer algo claramente contra as regras.

— Deixa ela sonhar... — respondeu Ginny, risonha. — Eu acho que ela gosta muito de Gwen também. Luna, por outro lado, faz mamãe franzir o nariz. E ela só faz isso quando tem alguma coisa irritante para falar, mas acha que seria uma má ideia, então fica calada.

Dahlia ainda havia ganhado um livro enorme sobre criaturas mágicas de Gwen, um colar de conchas brancas de Luna, um cachecol verde lindo de Hermione, uma luneta de Ginny, que a deixava ver as estrelas mesmo com o céu claro, e um tabuleiro de xadrez bruxo de Harry.

— Eu acho que isso é tudo... — disse Dahlia, levantando-se para abraçar a amiga bem apertado. — Você gostou do meu presente?

A sonserina havia presenteado Ginny com um livro sobre a história das Hollyhead Harpies, que eram o time de quadribol preferido da menina. A ruiva sorriu e a agarrou novamente em um abraço, dizendo:

— Eu amei! No final do livro tem umas indicações de como entrar para o time!

— Ah, eu vi isso quando encomendei o livro! — exclamou Dahlia, soltando-se do abraço e segurando Ginny pelos braços. — Você vive dizendo que quer jogar profissionalmente, talvez ano que vem você possa começar esse sonho e entrar no time da Grifinória. O time da minha casa teria problemas, mas eu prefiro torcer pra você do que para eles...

— Mas as artilheiras do time não saem da escola por mais dois anos... — disse Ginny, risonha.

— Você pode tentar entrar como reserva, Gin — a loira respondeu, com um sorriso encorajador. — No time da Sonserina tem algumas reservas e eu tenho certeza que o time da Grifinória também pode ter!

Ginny percorreu os olhos pelo rosto da amiga por alguns segundos e respondeu apenas:

— Ok, vou tentar...

— As meninas e eu vamos estar torcendo por você da arquibancada — afirmou a sonserina.

— Eu sei que vão — ela respondeu, sorrindo calorosamente e, mesmo com os cabelos ruivos muito desgrenhados cobrindo parte do rosto de Ginny, Dahlia pôde ver que a grifinória havia corado um pouco por baixo de suas muitas sardas. — Nós podíamos ir ver o que os meninos e Hermione ganharam, o que acha?

— Ótima ideia!

As duas meninas saíram do dormitório feminino e desceram pelas escadas e, diferentemente do dormitório que apenas as duas estavam compartilhando, o espírito de Natal estava em baixa no salão comunal da Grifinória naquela manhã. Hermione, que parecia decididamente furiosa, estava encolhida na poltrona mais próxima das escadas, enquanto Ron, que também não parecia feliz, estava postado ao lado de um Harry de olhar confuso.

— Uau! — exclamou Ginny ao olhar para as orelhas vermelhas do irmão. — Quem mordeu vocês?

O comentário apenas fez com que Ron ficasse mais vermelho, parecendo mordido de raiva.

— O gato-matador da Hermione tentou matar Perebas — ele respondeu, quase cuspindo de fúria. — De novo!

— Ele não é um "matador"! — gritou Hermione, fazendo aspas com os dedos ao dizer a última palavra. — Francamente, Ronald...

Dahlia e Ginny se entreolharam com os olhos arregalados e, por fim, Ginny apenas soltou um assovio baixo e disse:

— Supera isso, Ronizinho. O seu rato já 'tá é mais velho que eu, ele vai viver por muito tempo ainda...

— Não se depender do gato de Hermione! — ele exclamou, revirando os olhos e dando de ombros.

— Enfim... — disse Dahlia, tentando mudar o assunto. — Vocês ganharam alguma coisa interessante?

Ao mesmo tempo que a pergunta fez os dois meninos se iluminarem de alegria, a carranca de Hermione aumentou ainda mais, mas a garota não abriu a boca, deixando Harry e Ron contarem sobre o misterioso benfeitor, que havia dado a vassoura mais rápida do mundo à Harry.

— Isso deve ter custado uma fortuna! — exclamou Dahlia, encrespando os olhos ao ver seu primo tirar de um embrulho uma vassoura escura, novinha em folha. Ginny soltou um som alto e agudo ao ver o artefato, correndo até ficar ao lado de Potter.

— É claro que é uma fortuna, é uma Firebolt! — a ruiva exclamou excitadamente, olhando a vassoura como se ela fosse de ouro.

— Harry, você não faz nem ideia de quem te deu essa vassoura? — Dahlia perguntou, olhando preocupada para o presente do garoto. Hermione, que havia perdido o olhar carrancudo e se aprumado na poltrona, prendeu o olhar da sonserina mais nova.

— Nem ideia, imagine... — Hermione respondeu. Dahlia, que normalmente conseguia entender Hermione, por mais diferentes que ambas pudessem ser, logo entendeu porque a grifinória mais velha parecia tão carrancuda, além do problema com Bichento.

— Harry, você não devia ficar com essa vassoura — Dahlia afirmou, estreitando os olhos para o presente nas mãos do primo. Ela viu, com o canto dos olhos, o chacoalhar aprovador de Hermione, mas a sonserina apenas focou toda a intensidade de seu olhar no primo.

— Que é que você está dizendo, Dahlia? — perguntou Ginny, ainda observando a vassoura com muita admiração. Harry e Ron desviaram sua atenção para a menina, observando-a como se não houvessem entendido muito bem o que ela dizia.

— Eu acho que é perigoso que Harry saia usando presentes que nem sabe de onde vieram. Ainda mais presentes que vão subi-lo vários metros acima do chão...

— Eu concordo com Dahlia — Hermione exclamou, levantando-se da poltrona e chegando perto de seus melhores amigos. — Harry, você não percebe? Sabe quem poderia ter mandado essa vassoura?

Depois de alguns segundos de silêncio, em que a grifinória não recebeu nenhuma resposta, ela mesma se respondeu:

— Sirius Black! Ele pode ter enviado isso!

Os irmãos Weasley, que estavam bem mais animados com a vassoura de Harry que as duas outras garotas, reviraram os olhos em zombaria.

— Hermione, olhe só o que está dizendo! — Ron disse, pegando a vassoura das mãos de Harry e levantando-a como se fosse um filho. — Black é um criminoso condenado que está em fuga! Como acha que ele entraria no Beco Diagonal e compraria uma vassoura dessas, hein? Acha que ninguém ia notar?

— Eu concordo com Hermione! — afirmou Dahlia firmemente, olhando dentro dos olhos de Ron. — Você acha que não vendem essas vassouras por encomenda, Ron? Eu vi Malfoy alguns dias atrás com um catálogo impresso, pelo amor de Deus! Você consegue comprar de qualquer lugar do mundo, basta uma carta e dinheiro!

Ginny, depois de ouvir a afirmativa das duas meninas, parecia mais dividida ao olhar para a vassoura, sem todo o entusiasmo que demonstrara antes. Harry e Ron, porém, continuavam olhando para Dahlia e Hermione como se as duas fossem insanas.

— Você devia pedir aos professores que dessem uma olhada nela, Harry — afirmou Hermione, sendo veementemente apoiada por Dahlia.

— Hum... Vou ver sobre isso... mais tarde — Harry disse, não parecendo nem um pouco convincente. — Vamos almoçar, sim? Estou morto de fome...

Quando os cinco desceram até o Salão Principal, descobriram que as quatro grandes mesas das casas haviam sido arrastadas para as extremidades do salão e uma única mesa fora posta para a pequena quantidade de pessoas que ficara no castelo. Os professores Dumbledore, McGonagall, Snape, Sprout, e Flitwick estavam sentados à mesa, assim como Filch e Elleonore Wolfgang.

— Feliz Natal! — desejou Dumbledore quando os recém-chegados se aproximaram da mesa. — Como éramos tão poucos, me pareceu uma tolice usar as mesas das casas... Sentem- se, sentem-se!

Harry, Rony e Hermione se sentaram lado a lado na ponta da mesa, enquanto Dahlia se sentou na frente do professor Snape e Elleonore, seguida de uma ressabiada Ginny. Os dois adultos pareciam extremamente desconfortáveis lado a lado, o que fez com que a sonserina engatasse em uma conversa junto com Ginny e Elleonore sobre uma série de livros que Dahlia sabia que as três estavam lendo juntas.

— Podem avançar! — convidou Dumbledore, sorrindo para todos.

Quando Dahlia estava batendo sua colher com a de Harry por cima das batatas assadas, as portas do salão se abriram para a visão da professora Sibila Trelawney, de Adivinhação, que vestia um vestido verde de paetês, incomum, que, junto com seus óculos, que deixavam seus olhos enormes, a fazia parecer um inseto gigante.

— Sibila, mas que surpresa agradável! — saudou-a Dumbledore, levantando-se para cumprimentá-la.

— Estive consultando a minha bola de cristal, diretor — disse a professora com a voz etérea e distante—, e para meu espanto, me vi abandonando o meu almoço solitário para vir me reunir a vocês. Quem sou eu para recusar uma inspiração do destino? Na mesma hora me apressei a deixar minha torre e peço que me perdoem o atraso...

— É claro — disse Dumbledore com os olhos cintilantes. — Deixe-me apanhar uma cadeira para você...

E, dizendo isso, usou a varinha para trazer, pelo ar, uma cadeira, que girou alguns segundos e pousou com um baque entre os professores Snape e Minerva. A Profa. Sibila, porém, não se sentou; seus enormes olhos começaram a passear pela mesa e ela subitamente deixou escapar um gritinho.

— Não me atrevo, diretor! Se eu me sentar, seremos treze! Nada poderia ser mais azarado!

— O que aconteceria, professora? —perguntou Dahlia, muito curiosa. Pelo canto dos olhos, ela viu Hermione revirar os olhos com muita força e a profa. McGonagall suspirar contrita. Ignorando as duas, Dahlia manteve os olhos presos no inseto gigante.

— Quando treze se sentam juntos à mesa, o primeiro a se levantar é o primeiro a morrer!—explicou Trewlaney, ajeitando os óculos para observar melhor a sonserina loira. O gesto somente pronunciou mais seus olhos por traz das lentes, fazendo-os parecerem ainda maiores. — Eu acredito que não lhe conheça, menina. Não escolheu Adivinhação como uma de suas eletivas?

— Eu sou do segundo ano, professora — respondeu Dahlia, sorrindo. — Quem sabe no próximo ano...

—Vamos correr o risco, Sibila — interrompeu a Profa. Minerva, impaciente. — Por favor, sente, o peru está esfriando.

Sibila hesitou, depois se acomodou na cadeira vazia, os olhos fechados e a boca contraída, como se estivesse à espera de um raio atingir a mesa. Minerva enfiou uma grande colher na terrina mais próxima, perguntando:

— Tripas, Sibila? — A professora de Adivinhação fingiu não ouvir e reabriu os olhos, correu-os ao redor da mesa, mais uma vez, perguntando:

— Onde é que está o nosso caro Prof. Lupin?

Dahlia respirou fundo ao tomar um gole de seu suco de abóbora, associando a época lunar ao sumiço do professor de DCAT, mas cuidadosamente evitando o olhar do professor Snape. A garota, sim, sabia que o professor Lupin era um lobisomem. Porém, o fato não mudava em nada sua opinião ou cuidado ao redor do homem, como sabia muito bem que acontecia com grande parte da comunidade bruxa.

— Receio que ele esteja doente outra vez — disse Dumbledore, fazendo um gesto para que todos começassem a se servir. — Pouca sorte que isso fosse acontecer no dia de Natal.

— Mas com certeza você já sabia disso, não, Sibila? — perguntou a Profa. Minerva com as sobrancelhas erguidas. Sibila lançou a Minerva um olhar gelado.

— Oh, eu li que as pessoas que tem o dom da visão não conseguem ver tudo-tudo... — exclamou Dahlia, virando-se inteiramente para a profa. McGonagall. — Dizem que é um dom que somente aparece de vez em quando para coisas muito importantes e quem alardeia que sabe de tudo é apenas charlatão...

O professor Snape, que estava à frente de Dahlia, começou a se engasgar com seu suco, agarrando um guardanapo com pressa para cobrir a boca. Encrespando os olhos para o homem, Dahlia achou que o som que ele fazia era parecidíssimo com uma risada mal controlada. Mas, antes que pudesse dizer algo ácido especificamente ao diretor de sua casa, ela percebeu que sua reação não era contrária à dos demais professores da mesa. A profa. McGonagall mastigava suas batatas fazendo um barulhinho muito suspeito, enquanto Flitwick, ao seu lado, tossia de uma forma estranha também.

— Eu sempre me surpreendo com suas leituras, Srta. Dursley — disse o prof. Dumbledore, sorrindo enigmático. — Mais batatas?

Isso colocou um ponto final na interação com a professora Trelawney, que parecia ter engolido um limão muito azedo e encarava Dahlia com um olhar irritado. A loira, que nunca havia tido nenhum contato anterior com a professora de Adivinhação, lançou um olhar questionador ao primo e Ron, que estavam sentados lado a lado. Ambos apenas sorriram e deram de ombros, gesticulando um rápido "depois" com as mãos.

A Profa. Sibila se comportou quase normalmente até o finzinho do almoço, que durou até duas horas depois. Tão cheias de comida, que pareciam mais redondas que o normal, Dahlia e Ginny gesticularam para a saída em direção ao Trio de Ouro. Harry e Ron se levantaram primeiro da mesa, recebendo um grito agudo da professora Trelawney que arrepiou visivelmente os cabelos do braço de Ginny, que olhou irritada para a mulher.

— Meus queridos! Qual dos dois se levantou da cadeira primeiro? Qual?

— Não sei — respondeu Ron, olhando preocupado para Harry.

— Duvido que vá fazer muita diferença — disse a Profa. Minerva com frieza.— A não ser que o louco da machadinha esteja esperando aí fora para matar o primeiro que sair para o saguão.

Até mesmo Elleonore, que permanecera impassível por todo o almoço e era extremamente educada, acabou rindo. Sibila, entretanto, pareceu muitíssimo ofendida, mas, antes que ela pudesse abrir a boca, Dahlia agarrou a mão de Ginny e arrastou a garota quando se levantou.

Percebendo, porém, que Hermione permanecera sentada, Ron se virou para a amiga e perguntou:

— Mione, você não vem?

— Não, não — ela respondeu. — Quero conversar com a professora McGonagall.

As meninas e os meninos se separaram bem na porta do Salão Principal, quando os dois se direcionaram para o Salão da Grifinória e as duas seguiram para as masmorras, para o salão da Sonserina.

Abraçando a prima, pela primeira vez no dia, Harry a desejou "Feliz Natal".

[...]

Pouco tempo depois do Ano-Novo, a escola se encheu novamente de pessoas. Dahlia, que preferia os ruídos das pessoas ao barulho do silêncio, ficou feliz com a mudança. Luna e Gwen, que voltaram com abraços apertados e doces para as duas amigas que ficaram no castelo, conversavam sobre tudo que aconteceu em suas respectivas casas.

Aparentemente, Luna e o pai haviam conseguido, com sucesso, não somente queimar todo o almoço de Natal, como também haviam feito isso com tanta proeza que quase todas as panelas da casa foram destruídas, exceto uma frigideira minúscula que os dois usaram para fazer omeletes por todo o restante do recesso da loira. Segundo Luna, o Sr. Lovegood havia prometido que não continuaria a comer somente ovos e que iria comprar um novo conjunto de panelas para a casa.

Gwen, que fora com os pais para sua casa de campo, não tivera o mesmo problema. A garota não gostava muito de falar sobre isso, mas todas sabiam que a família dela tinha muito dinheiro. Muito. Por isso, nenhuma delas ficou surpresa ao ouvir que o mordomo da casa, Lawrence, havia instruído que os elfos domésticos fizessem um banquete estritamente francês, para agradar a sra. Pardoux, que adorava voltar às suas raízes quando possível. Para o choque de Ginny, entretanto, Gwen havia contado também que seu pai havia libertado todos os elfos domésticos da casa e agora os pagava em dinheiro bruxo vivo todas as semanas.

— Quer dizer, eu sei que meu pai tem toda essa coisa política que ele tira dos livros — começou Gwendolyn enquanto enrolava um de seus cachos nos dedos. — Mas os pobres coitados choraram tanto! Juraram que tinham feito algo de errado. Mamãe ficou irritada durante uns dois dias, mas os dois são uns idiotas apaixonados. É tão irritante de ver, vocês não têm ideia...

Dahlia, que não entendia muito bem como toda a situação dos elfos funcionava, demorou alguns segundos para formular o que seria uma série longa de perguntas, mas Luna foi mais rápida que ela, perguntando à Ginny como havia sido o Natal das duas garotas no castelo.

[...]

Com a proximidade do início das aulas e o inevitável retorno da temporada de quadribol, Dahlia pretendia fugir de Oliver o máximo que conseguisse e passar algumas horas por dia na biblioteca. Ela já havia terminado as lições extras que os professores de História da Magia, Feitiços e Transfiguração haviam lhe passado, mas a quietude do professor Snape estava deixando a garota ressabiada, por isso ela queria estudar com mais afinco ainda Poções.

Na biblioteca, porém, ela havia encontrado mais do que livros e uma Madame Pince com a mesma cara carrancuda de sempre. Hermione estava acampada em uma das mesas mais distantes da entrada, escondendo-se por trás de uma pilha enorme de livros.

— Hey, Mione — cumprimentou Dahlia sorridente e, por mais que não acreditasse muito naquela história de áureas que Luna vivia falando, ainda assim, a sonserina achou que a Granger não parecia muito bem.

— Bem, bem... — ela respondeu, parecendo cansada.

— Você não parece bem — disse Dahlia, sentando-se na cadeira ao lado da grifinória. — O que aconteceu?

Hermione olhou a sonserina por baixo de pestanas trêmulas, parecendo cansada e chorosa.

— Eu contei para a Profa. McGonagall sobre a vassoura de Harry... — falou Hermione, com os olhos cheios de água. — Os meninos não conversam mais comigo agora.

— Ah, Mione — suspirou Dahlia, puxando a garota para um abraço. — Você não podia ter feito isso. Eles ficaram irritados porque você contou pelas costas deles.

— Mas eles não me ouviam! — exclamou a grifinória, se soltando do abraço da amiga. — Harry iria usar a vassoura e ela podia estar enfeitiçada ou, pior ainda, amaldiçoada!

— Eu sei, eu sei! Concordo com você que ele não devia nem chegar perto do negócio — Dahlia respondeu, com uma voz conciliadora. — Mas tem alguns garotos que não pensam muito bem. Infelizmente, meu primo e Ronald são dois desses cabeças-ocas que estão soltos por aí.

A risada chorosa de Hermione foi inesperada, mas bem-vinda. — Eles são mesmo idiotas, se é isso que quer dizer.

Sorrindo para a menina, Dahlia acrescentou:

— Bota idiotas nisso. — Rindo, as duas se encolheram ao ouvir um chiado agudo vindo de Madame Pince, que as olhava irritada de sua bancada. — Eu vou tentar conversar com Harry, quem sabe ele não me ouve? E, mesmo se ele não ouvir, você pode andar comigo e as meninas! Seremos um grupo arrasador.

Harry não dera muita atenção ao que a prima tinha a dizer, então, nos próximos dias, o grupo de amigas de Dahlia tinha uma grifinória a mais. Infelizmente, por mais que Hermione fosse muito querida por Dahlia e Ginny, a menina não acordava muita afeição em Gwendolyn e Luna, o que acabava tornando a situação em algo um pouco desconfortável.

Luna, que raramente desgostava de alguém, até poderia aceitar o ceticismo de Hermione, se a grifinória não debochasse abertamente de algumas coisas que a loira dizia. E Gwendolyn, que não gostava muito quando alguém fazia joça da excentricidade de Luna, tinha as narinas infladas de irritação sempre que algumas farpas eram trocadas entre as duas meninas.

Por causa dessa situação, Dahlia e Ginny estavam, constantemente, tendo que separar o trio de meninas, com Dahlia arrastando Hermione para a biblioteca e Ginny levando as outras duas para passear nos jardins do castelo.

Era uma quinta-feira quando Harry puxou Dahlia pelo braço direito, antes da garota adentrar no Salão Principal para o café da manhã. Ele lhe havia contado, de forma bem corrida, que naquele dia seria o início das aulas antidementadores que teria com o professor Lupin e que o professor de DCAT havia concordado em ensiná-la também.

Então, às oito horas da noite, daquele mesmo dia, Harry e Dahlia se encontraram na sala de História da Magia. Quando os dois entraram no lugar, a sala estava escura e vazia, mas Harry acendeu as luzes com sua varinha. Os dois esperaram por alguns minutos, quando o prof. Lupin apareceu, trazendo consigo uma grande caixa, que depositou em cima da escrivaninha do professor Binns.

— Que é isso? — perguntou Harry, observando com cuidado a caixa.

— Um bicho-papão — Lupin respondeu, tirando sua capa e acenando para Dahlia. — Andei passando um pente-fino no castelo desde terça-feira e por sorte encontrei este aqui escondido no arquivo do Sr. Filch. É o mais próximo que chegaremos de um dementador de verdade. O bicho-papão se transformará em um dementador quando o vir, então poderemos praticar. Posso guardá-lo na minha sala quando não estiver em uso; tem um armário embaixo da minha escrivaninha de que ele vai gostar. Como vai, srta. Dursley?

— Muito bem, professor — respondeu a menina, com cuidado.

— O feitiço que vou tentar ensinar a vocês dois é uma magia muito avançada e vocês não têm que se culpar se não conseguirem realizá-lo. É chamado: Feitiço do Patrono — disse Lupin, apanhando sua varinha e acenando para que os dois alunos pegassem suas varinhas.

— Eu li sobre ele em um dos livros de DCAT — exclamou Dahlia, sorrindo. — Parece que ele conjura algo também chamado "patrono", que é como se fosse um guardião entre a pessoa e os dementadores.

— Srta. Dursley — começou o professor, sorrindo. — Eu já lhe disse como você tem traços que se parecem muito com a mãe de Harry?

— Oh, bem... — ela respondeu, sorrindo. — Sim, já, sim. Mas você havia comentado somente sobre a aparência dela.

— Vocês duas são muito parecidas em outros aspectos também. — Lupin acrescentou, logo continuando sua explicação: —O Patrono é um tipo de energia positiva, uma projeção da própria coisa de que o dementador se alimenta: esperança, felicidade, desejo de sobrevivência; mas ele não consegue sentir desesperança como um ser humano real, por isso o dementador não pode afetá-lo. Mas preciso preveni-los, garotos: como eu havia dito antes, esse é um feitiço muito difícil e talvez seja demasiado avançado para vocês. Muitos bruxos habilitados têm dificuldade em executá-lo.

— Como se parece um patrono? — Harry perguntou curioso.

— É diferente para cada pessoa — respondeu Lupin. — É sempre um animal, às vezes mágico, mas isso não interfere em nada. O que vocês têm que fazer é se concentrar, com todas as suas forças, em sua memória mais feliz.

Dahlia procurou em sua mente uma memória que tivesse que fosse muito feliz e acabou por escolher o momento que havia saído do internato e encontrado Harry pela primeira vez.

— Certo, a fórmula é a seguinte... — Antes de falar, Lupin pigarreou para limpar a garganta: — Expecto Patronum!

Os dois garotos começaram a repetir o feitiço, tentando conseguir algo. Harry, depois de algumas tentativas, conseguiu que alguma coisa se projetasse na ponta de sua varinha; parecia um fiapo de gás prateado e brilhante. Dahlia, por outro lado, por mais que tentasse, nada conseguiu.

— O senhor viu isso? — perguntou Harry, excitado. Dahlia corou de vergonha quando percebeu que nada acontecera com suas tentativas. — Aconteceu uma coisa!

— Muito bem — aprovou Lupin sorrindo para o garoto, mas observando a apreensão da aluna sonserina. — É como havíamos dito, Dahlia. É um feitiço muito difícil, certo?

A garota concordou, mas aquilo não havia feito o sentimento de falha menos ruim em seu estômago.

—Certo, Harry. Então, está pronto para experimentar com um dementador?

— Estou — ele respondeu, agarrando a varinha com firmeza e se deslocando para o meio da sala de aula. O professor guiou Dahlia até um dos cantos opostos da sala e depois foi em direção à caixa, levantando a tampa. Um dementador se ergueu lentamente com o rosto encapuzado virado para Harry, uma mão pestilenta e coberta de cascas de feridas segurada sua capa preta. Dahlia sentiu um frio na espinha.

O dementador saiu da caixa e começou a se deslocar silenciosamente em direção a Harry, respirando profundamente, uma respiração vibrante. Dahlia sentiu suas mãos ficarem geladas à medida que o bicho chegava perto de Harry, até que os gritos do menino fizeram todos os pelos de seus braços se levantarem de susto.

Expecto Patronum! —ele berrou. — Expecto Patronum! Expecto...

Potter não conseguira executar o feitiço e seu rosto, pálido como giz, lentamente indicou a perda de sua consciência e ele foi escorregando até o chão. A respiração de Dahlia se prendeu na garganta ao observar o primo, mas ela não se atreveu a mexer um músculo, sabendo que Lupin estava na sala.

Lentamente, o dementador se virou para a garota e... a observou.

— Riddikulus! — Lupin exclamou, fazendo Dahlia, assustada, pular vários centímetros no lugar.

O bicho-papão disfarçado de dementador foi lançado de volta à caixa.

[...]

Dahlia não sabia por que, mas, depois que vira Harry abrir os olhos para encontrar Lupin lhe oferecendo um chocolate, ela não pôde mais permanecer naquele lugar, com a memória daquele bicho atormentando seus pensamentos. Por não querer preocupar o primo e o professor, ela se despediu rapidamente de ambos, alegando uma dor de cabeça gritante, e saiu apressadamente da sala.

Sem rumo, ela começou a andar pelos corredores escuros do castelo, mal notando aonde ia. A sonserina sabia que não devia estar perambulando naquele horário e que logo seria pega por algum professor ou monitor, mas também não conseguia se forçar a voltar para seu dormitório. Ela permanecia a se lembrar do aspecto do falso dementador encarando-lhe e parecia haver um nó que ela não conseguia desamarrar no peito.

Sentindo galhos finos quebrando sob os pés, ela notou onde sua distração havia lhe arrastado. Os jardins do castelo se estendiam ao seu redor e a Floresta Proibida começava a alguns metros, com uma neblina característica do frio de final de inverno.

Dahlia estava bem próxima do Salgueiro Lutador e havia um enorme cão deitado próximo à árvore.

— Oh, Noir — suspirou a garota, somente naquele momento notando que sua garganta estava fechada, pois sua voz saíra embargada. Passando uma das mãos no rosto, ela notou que suas bochechas estavam molhadas de lágrimas. Respirando fundo, a garota se sentou no chão, bem onde estava.

Ao ver que o cachorro começara a se levantar para chegar perto dela, como ele fazia quando ela lhe trazia comida, a garota sorriu e disse:

— Eu não tenho nada para você hoje, desculpe.

O cachorro continuou andando até estar próximo à menina e somente parou quando estava bem perto dela, deitando-se em sua frente e abaixando o focinho até que sua cabeça estivesse aconchegada em cima das pernas dela.

— O professor Lupin estava tentando ensinar o Feitiço do Patrono para Harry e eu, Noir. — As orelhas do cachorro se levantaram, como se ele estivesse prestando atenção ao que ela dizia. Distraidamente, a garota começou a fazer um carinho na cabeça do animal e continuou a falar: — Eu acho que não sou muito boa com esse feitiço, o que é inoportuno...

Noir levantou a cabeça e pareceu olhá-la nos olhos. Sorrindo, ela disse:

— Eu detesto dementadores.


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Notas finais do capítulo

Spoiler: o encontro dos dois continua no próximo capítulo ;)

Abraços e até ♥



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