Vizinhos Novos! escrita por Juu Seikou


Capítulo 1
Novos Vizinhos!


Notas iniciais do capítulo

Espero que tenha ficado bom.



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É uma típica tarde de Julho. Quente, mas não muito abafada. Bram está deitado na minha cama, mexendo no celular, enquanto estou distraído ouvindo música e olhando pela janela. Fiquei pensando… fazia um pouco mais de um ano que descobri que Bram era Blue e que tudo estava na minha cara o tempo todo e não percebi. O jeito dele, os gostos, algumas atitudes até. Dou uma risadinha divertida.

De repente, meu celular vibra, tirando-me do estado de transe. É Nick, falando que faz tempo que não apareço por lá. O que não é bem mentira, desde que comecei a namorar Bram, troquei o tempo que ficava de bobeira com eles para momentos com ele. Solto um pequeno suspiro. Ambos estávamos entediados mesmo, não ia fazer mal ficarmos entediados por lá.

Toco o ombro de Bram e ele se senta preguiçosamente para eu poder sentar também.

— O Nick mandou uma mensagem e falou para darmos uma passada lá.

Ele dá uma espreguiçada.

— Tudo bem. Já estava enjoado de ficar jogado na cama, andar um pouco vai ser legal.

Ele pega suas coisas, descemos as escadas, ponho a coleira no Bieber e vamos caminhando. Assim que saímos, avistamos um caminhão no final da rua, três pessoas descarregando alguns móveis.

— Será que tenho vizinhos novos? — pergunto, sem me decidir se isso é bom ou ruim.

— Com certeza. E, pelo o que parece, não são nada pobres.

— Ah, isso, com certeza. Essa casa está para vender há bem pouco tempo. Meu pai chegou a perguntar o preço que estavam pedindo e era realmente caro.

— Pelo menos é bem espaçosa. Quer dar uma passada lá para cumprimentar?

Eu assinto e continuamos em frente. Há um garoto mais ou menos da nossa idade esperando no gramado em frente à casa e chegamos mais perto.

— Com licença — digo, polidamente. — Olá, é você quem está se mudando para cá?

— Sim, eu e meu pai — responde-me o garoto, com um sorriso. Ele estica a mão para um cumprimento e, assim que a apertamos e dizemos nossos nomes, fala: — sou Derek, prazer. Estamos vindo da Califórnia para cá e devo dizer que a viagem é realmente cansativa.

— Vieram com o caminhão, junto com toda a mudança? — pergunta Bram, casual.

— É, foi o jeito mais barato de vir. Depois de comprarmos a casa, fazermos a reforma e comprarmos todo o resto de que precisávamos, o orçamento para a mudança acabou ficando um pouco apertado. — Dá uma risada meio sem graça.

— Normal — respondo. — A propósito, eu e minha família moramos ali, naquela casa entre as duas maiores. Assim que acabarem com toda a bagunça, se quiserem passar por lá, fiquem à vontade.

— Ah, sim, obrigado, vou falar para o meu pai. Aliás, ele deve estar precisando de mim lá nos fundos. Já vou indo. — E sai meio correndo.

Despedimo-nos e continuamos a andar até Nick e Leah. Aproveitamos o ótimo vento que bate em nossas costas. A tarde está tão gostosa que começo a não ver sentido em ficarmos enfurnados jogando videogame. Mas já venho enrolando meu amigo há um tempo e não há nada que eu possa fazer. A não ser abraçar Bram e forçar-nos a andarmos o mais lento possível, o que faço imediatamente. Bram me dá um ótimo sorriso. E um beijo, claro.

E, no entanto, ainda chegamos rápido, por que a casa de Nick fica bem perto.

Entramos e solto Bieber para que ele possa correr para os braços de Leah, que lhe dá o monte de beijos e carinho que ele tanto quer o tempo todo.

Nick está absorto em Assassin’s Creed e apenas faz um gesto com a cabeça quando Bram senta numa das poltronas e eu fico no chão na frente dele. Assim que Nick morre no jogo, ele e Bram começam a discutir sobre como o personagem principal é poderoso antes de passarem para a jogatina.

Eu meio que fico de lado um pouco, mas Bram se divide entre mim e o jogo, meio tenso por focar sua atenção na tela quando estou bem — literalmente — a seus pés. E me divirto com isso, chamando sua atenção a cada pouco e olhando seu rosto quase concentrado.



Umas duas semanas mais tarde, parei um pouco para conversar com Derek. Direito. Porque o dia em que ele foi à minha casa se apresentar a todo mundo foi a bagunça de sempre. Minha mãe querendo servir montes de comida. Minhas irmãs sendo o mais educadas possível e eu sem ter muita vez para falar, enquanto meu pai entretinha a todos com suas piadas típicas.

Estamos falando sobre como era ótimo o cereal da Froot Loops quando vejo Bram virando a esquina. Aceno a ele, que apressa um pouco o passo. Derek já sabe que somos namorados, então não há muito problema em parar a conversa um pouco.

— E aí, veio à pé dessa vez? — pergunto-lhe.

— Ah, na verdade, a minha mãe teve que usar o carro hoje, então, vim de ônibus mesmo. Olá, Derek.

— Olá.

— Que estão fazendo de bom aqui fora, os dois?

— Estamos só jogando conversa fora — respondo. — Minha irmã queimou uns cookies na cozinha e ficou fedendo a casa inteira. E, quando saí, encontrei o Derek por aqui.

— E, antes que eu me esqueça, foi bom você aparecer. — Derek declara. — Meu pai pediu para que eu convidasse sua família para um jantar lá em casa na semana que vem, então, por favor, chame sua família. Se você quiser ir também, Bram, sinta-se à vontade.

— Ah, na verdade, não sei seria muito bom… — admito. — Meus pais são terríveis recebendo visitas, mas como visitas na casa de outra pessoa, são ainda piores. Talvez Bram se assuste com os próprios sogros.

— Pior do que quando contamos que estávamos realmente namorando não pode ser. — diz ele, divertido.

Eu paro por um segundo.

— Tem razão, aquilo foi um completo desastre.

— De minha parte — pronuncia-se Derek. — achei, na verdade, que seus pais são ótimos anfitriões. Acredite, já vi gente pagando muito mais mico e de um jeito bem menos divertido que na sua casa.

Há um silêncio por um momento, Bram aproveita para dizer:

— Vamos entrar?

Eu olho um pouco para o seu rosto, absorvendo a informação e logo respondo:

— Claro, vamos indo. Quem sabe agora conseguimos algum cookie com o cheiro que devia ter.

Percebo Derek meio sem graça.

— Então nos vemos na semana que vem! Espero poder contar com você por lá! — fala, num tom de animação não muito condizente.

Mas relevamos, e eu digo que vou dar o recado. Entramos na minha casa, o cheiro já está um pouco mais suportável. Infelizmente, a nova fornada ainda está assando.

Bram fala que quer dar uma olhada nas revistas velhas que tenho lá no porão. Que, na verdade, são as comics antigas do meu pai e de Alice, antes de mudarem o jeito de desenhar os personagens. Claro que ele adora aquela imensa caixa de edições raras.

Descemos e, enquanto ele separa algumas das edições, eu socorro Bieber, que caiu no finzinho da escada. Eu e Bieber deitamos no chão, perto da parede. Bram se senta do lado. Resolvo apoiar minha cabeça em sua perna, enquanto faço carinho na barriga do cachorro.

Mas eu há algo no ar que não está muito certa. Estamos calados, mas não um “calados” normal, tem alguma coisa pairando a cabeça de Bram. Ele está estranhado com alguma coisa, mas recusa-se a falar.

— Simon, o que você está achando dos novos vizinhos.

Por minha sorte, ele não aguenta a pressão dos próprios pensamentos. O que não é muito usual, geralmente tenho que arrancar isso dele. Claro que já tenho ideia do que ele tem em mente.

— Ah, ele é legal. Gosto do jeito dele de sair contando as coisas com uma facilidade imensa. Mas só isso, nem o conheço direito, não posso dizer muita coisa, né?

— Sim — diz baixinho.

— Porém... — incentivo-o, sabendo que tem algo mais.

— Não gostei muito dele. Por causa desse jeito atirado dele. Parece muito aberto para alguém que acabamos de conhecer. Além disso, ele te olha de um jeito bastante curioso.

Dou um sorrisinho a ele.

— Sabia. Mas não precisa ficar com ciúmes, não, não tenho a menor intenção de te deixar. E jura? Ele fica olhando assim para mim? Sempre achei que fosse capaz de perceber quando alguém olha desse jeito à minha pessoa.

— É, sim, ele fica encarando. Não percebi isso na primeira vez, mas sempre quando o cumprimentamos na frente da casa dele, sempre tem esse peso diferente no olhar para você. Hoje então, só faltava seus olhos brilharem de verdade — Bram fala com tanta espontaneidade que me fez rir um pouco.

Bieber levanta e corre para cima.

— Juro que não notei. Mas deve ser coisa da sua cabeça. A gente ainda nem sabe se ele é homossexual, afinal de contas.

— É verdade — fala, pensativo. — Se bem que ele não é de se jogar fora. — Dá uma pequena pausa. — Mas vou parar de ficar encucado.

— Tudo bem. Afinal — digo, com voz baixa e meio provocativa — porque eu iria querer um garoto como ele, se eu tenho um como você?

Ele fica um pouquinho vermelho, o que o deixa realmente fofo. Para não continuar um silêncio que deve ser constrangedor para ele, continuo falando:

— Falando em gente bonita… E aquela gracinha do seu irmãozinho? Como vai?

— Ele está bem e muito espertinho na verdade. Outro dia, ele vomitou na minha madrasta. Foi nojentinho, mas foi adorável, porque depois que limparam tudo, ficou rindo aquela risadinha que ele tem.

— Ah, aquela risadinha adorável! Já estou ficando com saudades dele. Seu pai não deixa você trazê-lo para cá um dia desses?

Ele me olha com uma cara bem séria e me fita por alguns segundos.

— Sim, é claro que deixa. — Abre um sorriso. — Mas temos que ser responsáveis.

— Ah, acabo de lembrar! A Leah falou que está combinando de sairmos, todos, no próximo do próximo sábado. Que você acha?

— Na próxima semana? — Ele para para pensar um pouquinho. — Puxa, é o dia em que minha mãe vai passar a noite na casa de uma amiga, e estava pensando em te chamar para vermos um filme no cinema. Ela até já disse que deixa o carro pra gente.

— Pode ser. Mas porquê a gente não pode chamar o povo pra ir junto com a gente?

Ele faz um muxoxo.

— Simon, você anda precisando de aulas de interpretação — declara ele, o que me faz parar e pensar por um momento.

— Oooh...! Ah, entendo, entendo. Nesse caso, só nós dois é o suficiente, com certeza. — dou uma risadinha sarcástica.

Ele suspira. Me faz um cafuné rápido. Larga a revista que manteve aberta esse tempo todo.

— Sabe, não estou realmente nem um pouco a fim de ler esses quadrinhos agora. Quero ficar aqui com você e conversar mais um tempo, antes que tenha de ir pra casa.

— Ótimo! Porque conversar nunca é demais! — brinco. — Mas acho que estou sentindo um cheiro bom vindo lá de cima. Vamos dar uma olhada?

— Vamos.




Na quarta-feira, a noite está um pouco fria para Julho. E é dia de irmos todos comer na casa do Sr. Wilson e de seu filho, Derek. Estamos todos arrumados, Bram já chegou. Atravessamos a frente de algumas casas e logo entramos por uma grande porta de madeira.

Se a casa é grande por fora, por dentro parece ainda maior. O pé direito é extremamente alto. O andar de cima pega só metade da casa. O lustre é muito lindo e a mesa de jantar fica bem à mostra para quem entra. Tudo já estava posto, apenas esperando por nós.

Sentamo-nos e começamos a comer. E começaram as cenas típicas. Minhas irmãs, com sorrisos de cera, concordando com tudo o que faria elas ficarem loucas se estivessem em casa, e minha mãe ajudando meu pai a fazer as piadas. Não sabia se era pior meus pais contando piadas e casos engraçados ou o Sr. Wilson parecer que realmente se diverte muito com elas. Quase pergunto a Bram se o homem está rindo com eles ou deles, mas não tenho coragem.

Comemos mais ou menos nessa toada, os adultos ditando a conversa. Alice não trouxe o namorado e, sinceramente, sorte a dele. Acabamos rápido de comer e sobra apenas a conversa para prestar atenção.

Em algum momento estranho da conversa, Derek pergunta se eu e Bram não queremos ir ao quarto dele jogar videogame ou fazer alguma outra coisa. Como era melhor que ver todo aquele mico, aceitamos na hora. Senti o olhar de minhas irmãs me fulminando.

— Ufa, você tinha razão! — exclama Derek. — Ou você pôs isso na minha cabeça ou não sei o quê, mas seus pais parecem especialmente envergonhantes hoje.

— Eu disse. — Solto um suspiro, aliviado por estar longe disso tudo.

— Bom, faz parte da vida em família — diz Bram, meio aéreo, olhando para o móvel em que a televisão ficava no quarto. — O quê? Isso é um PS4, de verdade?

—Sim, é, sim. Novinho em folha, na verdade. Quer jogar?

— Se quero — responde.

Eu solto mais um suspiro. Jogar videogames não é realmente minha praia. Bram jogando videogame tampouco, porque, querendo ou não, se desviar os olhos do jogo, ele perde. Olhando já é um perigo… Mas relevo. Afinal, melhor que ficar lá em baixo com minha família.

Derek se senta na cama e deixa as duas poltronas livres para nós. Eles começam a jogar e, como não se conhecem, mal conversam, só jogam. Eu fico olhando o quarto por um tempo, depois só viajando na minha própria mente.

Depois de muito tempo, minha mãe chama a gente para pegar as sobremesas lá em baixo. Como sou o único fazendo nada, desço sozinho.

Vou devagar e enrolo um pouquinho, pois estou com preguiça. Pergunto ironicamente à Alice se o papo está bom e ela apenas me olha furiosamente, mas com um sorriso carimbado na cara. Sentindo-me um pouquinho mais disposto, subo a grande escada de novo e finalmente chego ao quarto.

Quando entro, o sangue me ferve imediatamente. Derek está jogado em cima de Bram, dando o maior beijaço, como se nada além disso estivesse acontecendo. Deixei os pratos no chão e corri para tirar aquele moleque abusado de cima de Bram.

— Seu descarado, nojento — falo, “quase” gritando. —  Como assim você simplesmente se taca em cima do meu namorado assim que eu viro as costas?!

Bram está tão pálido quanto eu estou vermelho. No entanto, Derek continua com cara de paisagem, como se moral, para ele, fosse uma palavra inexistente. Bram está abrindo e fechado a boca, como se não soubesse o que dizer, o corpo rígido e tenso. Eu estou imaginando algumas mortes possíveis para Derek, mas respiro fundo, controlando-me.

Pego Bram pelo braço e ajudo-o a levantar-se.

— Sua criatura imunda —  falo no arco da porta. As palavras fluem de mim com um ódio que sou incapaz de expressar só com a voz. — Nunca mais apareço aqui! E faça o favor de nem olhar para o Bram, ou isso vai virar uma briga de verdade.

Viro as costas e saio, arrastando meu namorado, extremamente decepcionado com aquele jantar. Não importa a balbúrdia que minha família faça, não quero nem saber, nem quero ter que saber. Pego o carro e saio com Bram até a casa dele, indo o mais longe possível da cena toda. Derek que se explique aos que ficaram.

Bram não abre a boca até chegarmos na casa dele e, quando abre, foi só para dizer “Obrigado”. Não que houvesse desconfiança, mas meu coração ficou bem mais leve depois disso. Respondo um sincero "de nada", dando um abraço nele.

Passamos o resto da noite comendo salgadinhos e assistindo filmes, eu com a cabeça deitada em seu ombro. Enquanto ele me mantém em um abraço firme, com sua atenção volta toda a mim e um silêncio compreensivo, eu durmo.


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Notas finais do capítulo

Agradeço por "indiretamente" me indicar o livro! Foi uma ótima leitura!

Que achou da fic? ^^'



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