Unnecessary feelings escrita por Phaerlax
Notas iniciais do capítulo
aaaaaa
31/12/2016, 11:41 PM. Escritório de advocacia Wright & afiliados.
— É incrível! Enorme, toda cheia de luzes e tão… redonda! — A voz de Maya saía exultante do celular — Por que só desce uma vez por ano?!
Phoenix riu do seu lado da linha, conferindo a televisão. A bola da Times Square não parecia particularmente impressionante esse ano, mas, de alguma forma, era a primeira vez que Maya via as festas de ano-novo pela TV. Aparentemente, o vilarejo Kurain existia em algum tipo de realidade paralela que ainda estava na década de 70.
— As pessoas não ligam pra algo que acontece o tempo todo — O advogado comentou, enquanto enchia a boca com garfadas de macarrão instantâneo sabor peru. Tratava-se de sua ceia de ano-novo — Mas até algo simples como uma bola caindo pode ser especial, se for raro o suficiente-
— Você chama a rainha de todas as bolas de algo simples?! — A médium parecia extremamente chocada — O que tem de errado com o seu coração, Nick? Tem certeza de que ainda tem um?
Você nem imagina.
Batidas na porta interromperam sua ceia e seu debate filosófico sobre o mérito da bola da Times Square. Phoenix gelou.
Por favor, não seja um parente de alguém que foi acusado injustamente de assassinato na véspera de ano-novo. Por favor.
O advogado pousou a tigela de macarrão sobre a mesa de centro e cambaleou à porta, esticando pernas que haviam ficado muito tempo na mesma posição, estiradas no sofá.
— Isso foi um toc toc? É um cliente da meia-noite, Nick? Oh! — Por favor, Maya, sem energias negativas. Destrancou a porta e girou a maçaneta — É? É?
Não.
— Tenho que desligar — Phoenix balbuciou e desligou, enquanto segurava a porta aberta com um aperto frouxo — Desculpa.
Edgeworth estava de pé sobre seu capacho, ainda vestindo o paletó de antes. Phoenix estava de pijamas.
— Eu busquei o endereço na internet. — Edgeworth curvou-se em uma mesura anacrônica — Supus que morasse no escritório e pareço estar correto.
O que.
— Isso é uma garrafa de champanhe — Phoenix constatou, ainda atônito. De fato, o promotor trazia uma garrafa de champanhe nos braços.
— Sim. Trata-se de uma tradição de ano-novo, se não me engano? — A expressão dele era indecifrável, um grande avanço em relação à habitual carranca. — É suposto que se abra a garrafa durante a transição.
Phoenix assentiu lentamente, agarrando-se àquele fato objetivo em meio ao cenário implausível. Edgeworth pigarreou.
— Se for um mau momento, eu...
— Não, não, é um bom momento. Um momento boníssimo, eu só... — O cérebro de Phoenix ainda não reconhecera a legitimidade da situação e se recusava a fornecer palavras. — Eu pensei que “passe bem” significasse “vou desaparecer por mais alguns anos”.
A expressão de Edgeworth tornou-se um tanto mais decifrável com as linhas de expressão que surgiram. A angústia e o conflito ainda estavam ali. Phoenix imediatamente abriu espaço para que ele entrasse.
Sentado no sofá com a coluna ereta e os dedos entrelaçados sobre o próprio colo, Edgeworth parecia uma criança visitando a casa de um coleguinha pela primeira vez. O relógio se aproximava da meia-noite e sons de fogos de artifício se intensificavam lá fora.
— Se estiver com fome, eu tenho... macarrão instantâneo. E ovos cozidos. — O promotor meneou a cabeça brevemente em recusa. Phoenix soltou uma risada nervosa ao se sentar também. Aquela situação estava desconfortável.
— Tenho o costume de dormir durante a virada do ano. O barulho dos fogos me perturba — Miles comentou. Puxando assunto? — Me lembravam tiros, veja. Eu acabava voltando ao DL-6 e... alimentando hipóteses desconfortáveis. Agora o som ainda me entristece, mas a certeza da minha inocência é confortável. O agradeço por isso.
O olhar dele vagava pelo aposento, um tanto distante.
— Você já agradeceu o suficiente, Edgeworth. Agora... — Phoenix fez uma pausa, testando as águas. Não houve resistência — Quer falar sobre o que está acontecendo?
Edgeworth curvou-se para a frente, como se subitamente esmagado por um grande peso.
— É como você deduziu. Aquelas duas derrotas estilhaçaram a redoma que construí ao meu redor. Comecei a questionar o que venho fazendo com a minha carreira. Essa semente de dúvida criou raízes com a traição de von Karma. — Levou as mãos à cabeça — Eu sabia que era inocente, mas seria condenado de qualquer maneira. Porque o réu é sempre culpado. Eu me vi em von Karma, e...
— ...começou a imaginar que pode ter condenado pessoas inocentes. — Phoenix completou e ele assentiu — Então pretende rever toda a sua carreira com isso em mente.
Novamente, Miles assentiu.
— Mas eu mal consigo olhar para meus arquivos. — As olheiras pareceram se aprofundar — Se encontrasse algo e fosse tarde demais, o que...
— Você não pularia de um prédio, nem entregaria seu distintivo. — Edgeworth ergueu o rosto bruscamente para encará-lo como a um louco — Você seguiria em frente, tentando se redimir ao fazer alguma diferença.
— Isso é uma maneira incrivelmente infantil de-
— O Miles Edgeworth que eu conheci e admirei na infância me disse que a verdade é mais importante que tudo! — Phoenix segurou um dos ombros dele com força — Você pode ter esquecido disso por algum um tempo, mas essa chama voltou. E não é tarde demais. A Justiça precisa de promotores comprometidos com a verdade, Edgeworth! Graças ao que você passou, tem uma perspectiva única que pode salvar vidas.
A face de Miles mostrava conflito, com sobrancelhas franzidas como jamais antes.
— Propõe que eu simplesmente ignore o estrago que posso ter causado...? Eu não conseguiria-
— Não. Rever os históricos é importante. Talvez ainda haja reparações a serem feitas. Você deve aprender com seus erros. — Phoenix intensificou seu aperto — Mas não permita que isso te engula. Bem, eu não vou permitir! Deixe que eu te ajude com isso. A opinião de um advogado de defesa pode ser importante.
Edgeworth estava literalmente boquiaberto, como poucas vezes já vira alguém ficar. Seu semblante era de assombro e incredulidade.
— Você trata isso como se fosse simples. Não é, Wright! — Edgeworth não fez qualquer movimento para desalojar a mão de seu ombro, porém. — Não posso simplesmente seguir em frente sabendo que posso ter causado a morte de alguém!
— Primeiro, você não sabe se isso aconteceu. Vamos descobrir. — Sacudiu-o — E mesmo que seja o caso, você não pode jogar tudo para o alto e passar o resto da sua vida chorando! Pense no impacto positivo que você pode ter no Ministério!
O único momento em que um advogado pode chorar é quando tudo acabou.
Edgeworth abriu a boca para refutá-lo, mas tornou a fechá-la. Longos segundos se passaram.
Aquilo tinha realmente funcionado?
— Wright... — Cobriu o rosto com as mãos. — No meu lugar, não teria sequer passado um dia em conflito, não é? Como...?
— Um amigo de infância certa vez me disse que, enquanto o que você busca for a verdade, estará a serviço da justiça. — Phoenix segurou o outro ombro de Miles — Esse amigo me inspirou a ser quem eu sou. Mas ele se foi. Hoje, eu vejo que retornou.
Surpreendeu-se com a umidade em seus próprios olhos. O mais surpreendente, porém, foi o som peculiar que ouviu. Vinha detrás das mãos de Edgeworth.
Riso...
Phoenix afastou as mãos que cobriam o rosto dele e viu um sorriso. Os olhos ainda pareciam aflitos, mas Edgeworth sorria – não de escárnio ou desdém, mas de alegria?
até algo simples como uma bola caindo pode ser especial, se for raro o suficiente
Wright não conseguiu se conter. Os batimentos de seu coração subitamente atingiram um allegro e ele avançou, envolvendo Edgeworth com os braços e buscando seus lábios com os seus. Por um instante excruciante, achou que não seria correspondido, mas logo sentiu as mãos do outro em suas próprias costas e a língua dele contra a sua.
Perdeu a noção de tempo. Não sabia quantos minutos se passaram, mas logo ouviu barulhos. Fogos de artifício a mil e a televisão apitando atrás deles. Desgarrou-se de Miles e relanceou por cima do ombro. Era o último minuto do ano, a bola da Times Square estava descendo. 18 segundos.
Phoenix levantou-se de supetão e agarrou a garrafa de champanhe que estava sobre a mesa, rompendo o lacre e tentando futilmente arrancar a rolha.
— Edgeworth, como se... — Quando virou de volta para o promotor, porém, seu corpo estava totalmente desfalecido. Ressonava levemente. — ...Oh
Bem, aquelas olheiras eram bombas-relógio, supunha.
Sentou-se ao lado dele, após pousar a garrafa ainda fechada sobre a mesa. Nem tudo funcionava como em uma novela.
Ao se ajeitar no sofá e repousar a cabeça sobre o peito de Miles, porém, teve dificuldades para imaginar um cenário mais ideal.
01/01/2017, 10:31 AM. Escritório de advocacia Wright & afiliados.
Phoenix despertou sozinho e seu coração rolou para o chão quando se sentou. Edgeworth não estava mais ali.
Culpa começou a se amontoar em sua garganta. Tirara proveito de um momento de instabilidade emocional do outro...?
Havia um pedaço de papel sobre a mesa, preso abaixo do seu celular. Com as mãos trêmulas, o pegou.
Em caligrafia impecável, lia-se:
“Wright,
Se falou sério sobre me auxiliar com o escrutínio dos arquivos, o aguardo em meu escritório às 13h. Peço perdão pelo ocorrido; todavia, não dormia há cerca de 38 horas. Não há de se repetir.
P.s: trouxe a garrafa comigo e creio que não há restrições ao consumo de champanhe fora de feriados.
Grato,
M. Edgeworth”
Com o coração em seu devido lugar, Phoenix riu alto de tamanha pomposidade. Pegou seu celular, tencionando entrar em contato com Edgeworth o quanto antes.
Havia dezessete chamadas perdidas de Maya, porém.
Tinha muito a explicar.
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ME DESCULPA