Orgânico escrita por Humberto Cotrim


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar, umas ressalvas:

Gems não respiram, mas tomei uma licença poética em determinados momentos.
Talvez as Gems que aparecem em determinadas funções não sejam de fato encarregadas de fazê-las, mas como muita coisa ainda é obscura para nós XD assim ficou.

Enfim, boa leitura ^^



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A chuva excessiva era uma característica fascinante daquele planeta. Rose via tudo com curiosidade, mas a água que tocava o chão era mais que um fenômeno bonito, ela trazia em sua forma dançante a capacidade de esvaziar mentes, de fazer seu observador se perder ao fitar o presente. Aliás, esse era um exercício cada vez mais necessário. As ordens da White Diamond jorravam a cada dia. Criar a estrutura necessária para uma nova colônia acarretava um trabalho complicado e oneroso. Não era algo físico, afinal esse era um problema inexistente para Gems, havia algo mais íntimo e mental ligado à sensação de Rose ao criar uma colônia em locais tão belos.

Um jardim selvagem brotava perto da primeira base estabelecida pela Quartz. Frutas vermelhas gigantescas se espalhavam sobre onde antes havia um campo gramado pouco atrativo aos olhos. Algumas construções levantadas serviam de abrigo a toda equipe. Transportadores também haviam sido feitos e serviam de locomoção simples e ágil. Havia pouco para que demais construções importantes fossem requisitadas, isso era amedrontador para Rose, agoniante, na verdade.

 — Em poucas horas estarei na nova colônia, Quartz, junto a você — disse a Diamond, com tom autoritário, porém sereno. Sua voz chegava sem problemas, mas sua imagem era distorcida, obra de um transmissor rudimentar, que mantinha o rosto da soberana flutuando no ar.  

 — Espero que faça boa viagem, my Diamond — falou Rose.

 — Você acha que consegue me receber com o Jardim de Infância em funcionamento?

 A menção ao lugar transpassou a Gem com uma sensação gélida.

— Farei o possível — disse, após uma pausa breve demais para ser recebida com estranheza.

 — E o impossível também, suponho.

 — Claro — assentiu.

Pearl observava o diálogo entre sua soberana e a general sem grande expressividade. Sua atenção era necessária, caso alguma ordem fosse solicitada, mas nada de interessante era captado em sua mente. Aquela missão era simplista, afinal. Um mundo desabitado de criaturas inteligentes e suficientemente fortes para se rebelarem contra a colonização. A Quartz não teria trabalho algum em submeter o planeta ao domínio das Gems.

— Pearl, convoque uma Sapphire, devo saber sobre nossa viagem.

— Certamente, my Diamond — disse. — Com sua licença.

A Gem saiu em direção à porta, atravessou alguns corredores e encontrou por quem procurava.

— Sua presença é solicitada, Shapphire.

— Eu sei — disse em voz tranquila e já se retirando.

— Claro, a sua habilidade... — respondeu com um pequeno sorriso, sentindo-se boba.

— Ah, Pearl — indagou.

— Sim?

— Diga-me uma coisa. Você é fiel a sua senhora?

— Como disse? — A pergunta inesperada abateu a Gem. — Fui criada para servir a Diamond. Sou sua subordinada de maior confiança. Claro que sou fiel a ela. Que pergunta sem argumentos — bufou, por fim.

Sapphire lançou um meio sorriso e seguiu seu caminho. A atitude havia sido estranha; Gems aristocratas não eram conhecidas por frases desprovidas de sutileza e atitudes irônicas.

— Aqui estou, my Diamond — disse, fazendo uma reverência.

— Preciso de suas previsões. O que me espera na viagem até a nova colônia?

— Não consigo ver o que acontecerá nela, minha senhora — disse Sapphire, trazendo confusão à mente de White Diamond. — Isso é sinal de que ela está longe demais; minha clarividência não capta nada concreto em um futuro tão longínquo.

— Que absurdo! — esbravejou. — Minha vontade é de sair amanhã desse lugar.

— Porém não é o que vai acontecer — disse, com uma tranquilidade oposta a sua ouvinte. — Sua missão vai ser interrompida por falhas no transportador da nova colônia. Só um pequeno grupo poderá viajar até o planeta destino.

— Pearl, verifique essa situação — falou a Diamond, ainda incrédula. — Não é possível que tal coisa aconteça às vésperas de minha ida.

A Gem requisitada fez o que foi ordenado. Sapphire estava correta, um problema de origem não identificada havia sido reportado sobre os transportadores da nova colônia. Sem isso, a corte de White Diamond não poderia chegar à nova colônia de forma rápida, contudo  era viável lançar mão de outro recurso.

— As Peridots do setor de tecnologia afirmam que uma pequena equipe pode ser capaz de cruzar transportadores através uma prática pouco usual, mas de eficácia quase comprovada — explicou Pearl a sua dona.

— Quase? — questinou a soberana, em parte para Peral, em parte a Sapphire, que continuava no recinto.

— Sim, minha senhora. Quase foi a palavra utilizada. Tal manobra nunca foi posta em prática, por não ser requisitada, mas consiste em ir até a colônia mais próxima e depois seguir até o destino que se deseja para consertar o eventual problema.

— Isso irá funcionar — falou Sapphire.

— Qualquer criatura entregaria uma solução simplista dessa — bufou Diamond. — Mas que seja; que se resolva logo o que há para se resolver. Forme uma equipe pequena e ágil. Uma Peridot para comandar, ao menos três Rubys e você, Pearl.

— E-eu, senhora? — questionou, surpresa.

— Não acho que esse problema seja algo eventual, como foi apontado. Preciso de alguém de alta confiança que me diga o que está havendo.

A notícia de sair em missão sem sua senhora deixou Pearl atordoada. Sua função não era essa, mas sim permanecer ao lado da Diamond, porém contradizê-la seria uma péssima ideia. Além disso, Sapphire afirmou que aquela era a solução viável, então não existia razão para se opor.

Os preparativos não tomaram tempo, tão logo uma Jasper indicou as Gems que acompanhariam Pearl, elas se locomoveram com o auxílio do transportador. A nave espacial que seria usada a partir dali era pequena mas veloz e serviria bem para uma viagem curta. Peridot recebeu ordens para estabelecer contato com Rose Quartz somente a uma hora da chegada da equipe na nova colônia; Pearl estranhou a atitude de White Diamond, porém não se pronunciou. Assim foi feito e, ao contrário do que era esperado, Rose agiu com normalidade, dizendo que esperaria pelas Gems e que o problema nos transportadores era algo que carecia de uma análise do setor de tecnologia.

A visão do espaço dava suporte para as divagações de Pearl, que encarava a janela da nave com veemência, enquanto uma Peridot se ocupava com os controles e as Rubys irritavam umas as outras. As ordens de White Diamond lhe soavam atípicas e mandá-la em missão não condizia com a prática de sua dona em manter sua corte unida.

Os pensamentos distantes da Gem foram deixados de lado quando uma Peridot anunciou que a nova colônia podia ser vista na dianteira da nave. As Rubys se atropelaram para apreciar um pouco da vista, ao passo que Pearl encarava a visão com um misto de receio e excitação crescente. O lugar era bonito, era inegável, com seu azul intenso e manchas brancas que pareciam se movimentar.

A aterrissagem foi tranquila e ocorreu onde as coordenadas dadas indicaram. A general Quartz as recepcionou com cortesia, perguntou sobre a viagem e indicou os aposentos improvisados que a equipe recém-chegada iria receber.

No mesmo dia, Pearl foi encarregada de visitar as construções funcionais e as em processo de edificação, enquanto uma Peridot e as Rubys trataram por verificar a situação dos transportadores.

— Suponho que White Diamond esteja frustada com a viagem — disse Rose, enquanto atravessava os portões da Lunar Sea Spire.

— Certamente. Minha senhora pretendia tornar esse planeta em colônia o mais rápido possível. O Conselho Diamante anda… — Pearl se conteve, ao perceber que falaria mais do que era permitido.

Terra — pronunciou, parecendo ignorar a frase interrompida da outra Gem.

— Perdão? — disse, confusa.

— O habitantes desse lugar chamam-no de Terra.

— Não sabia que havia vida inteligente neste mundo.

— Existe, mas não é só isso, a vida inteira aqui, mesmo a que muitos não tratariam por inteligente, é digna de atenção. Espero te mostrar mais tarde — disse Rose, sorrindo. — Por hora, vamos focar nessa visita.

Ao alcançarem o topo da torre, Pearl inspirou fundo, deixou que o salgado daquele mar a inundasse por dentro, jogou fora, sem perceber, as preocupações que acumulou sobre a decisão de Diamond.

— Aprovado? — perguntou Rose, tomando a atenção da Gem distraida.

— Suponho que minha opinião não seja assim tão válida.

— Que absurdo — disse, franzindo o cenho. — A missão foi dada a você.

— Provavelmente o conhecimento adquirido por uma Pearl não é, de todo, aceito por sua dona.

— Dona?

— Sim, a minha Diamond.

— É uma forma de pensar, embora eu não ache que uma Gem possa ter posse sobre outra.

— Não é uma Gem — frisou. — É White Diamond.

— Sim, eu sei. Minha opinião não se modifica por isso. Veja — interrompeu Rose, apontando para o pássaro que acabara de pousar no chão da torre. — É sinal de que há terra por aqui.

Rose olhou para os lados, fechou os olhos, sentiu uma leve energia emanando.

— Pra lá — disse, apontando para o norte. — Vamos? Acho que chegou a hora de te mostrar outra coisa importante.

— Eu não acho que seja uma boa ideia, só existe água até onde eu consigo ver.

— Não tenha medo — riu. — Você já viu uma pétala de rosa afundar na água?

— O que é uma pétala? — questionou Pearl, extremamente confusa.

— Só confie em mim. — Rose segurou firme o pulso da Gem. — Pule forte no três, tá bem?

— No três? — perguntou com o nervosismo transparecendo em sua voz.

— É.

— Tá bem.

— Três! — gritou e pulou o mais alto que pôde.

Pearl fechou os olhos, sentiu o vento tocar seu rosto, conseguia até ouvir os risos altos de Rose, mas o chão havia sumido, seus pés bamboleavam no ar e o toque forte em seu pulso fazia sua pele arder, de um jeito que ela não processava de forma boa ou ruim, apenas diferente.

A gravidade daquele planeta era colocada em xeque enquanto as Gems permaneciam no ar e se movimentado lentamente em direção ao mar.

— O que está havendo? — disse alto para que o vento não a abafasse.

— É minha habilidade, Pearl, posso controlar a velocidade dos meus saltos; mas vamos, abra os olhos! Está perdendo uma excelente oportunidade.

— E quando chegar à água? Eu não sei se sei nadar! — disse, ignorando a última parte da fala da Gem.

— Quando chegarmos lá, só é pular de novo. Quer ver? — Rose finalizou a frase e tão logo aumentou a velocidade da queda, Pearl se encolheu no ar tentando ganhar, de qualquer forma desconhecida, alguma segurança.

Elas chegaram à superfície da água, Rose a tocou e tomou impulso como se fosse feita da mais dura rocha, o salto tornou a deixar as Gems flutuando no ar.

— Viu só? Está tudo certo! Agora abra os olhos, Pearl.

A Gem, ainda com receio, cedeu. O azul tomou conta de sua visão, deixou o cheiro de sal mais forte e o riso de Rose se mostrou justificável. Era uma bela paisagem.

A terra firme foi alcançada rapidamente, uma praia de areia fina e branca foi o lugar que primeiro tocaram. O relevo daquele pedaço do planeta era interessante. Havia dois montes, o mais próximo da praia era uma falésia que perdeu o contato com o mar por conta da areia; no meio havia um vale, uma vegetação crescia e enchia os olhos.

— Você percebe, Pearl?

A Gem respondeu com uma cara confusa.

— Que o que estamos fazendo é errado. Que a vida desse lugar é tão importante quanto a nossa.

— Rose, isso é… de onde você…?

— Observe ao redor. A vida aqui pulsa e é linda. Depois que a colonização for concluída nada vai sobrar.

— A nossa sociedade também é viva — retrucou. — Precisamos desse planeta.

— Não, não precisamos — disse em tom elevado, o que fez Pearl arregalar os olhos.

— Eu... não entendo.

Rose suspirou, deu as costas e permaneceu em silêncio.

— Venha. Eu vou te mostrar — falou, estendendo a mão em um convite, e sorriu singelamente.

Pearl corou.  Receber convites era tão infrequente, uma Gem como ela era uma criada decorativa, sem real valor para sua dona; e aquele era o segundo que recebia em um único dia.

— Ah, não, espera — disse Rose. — Pedi que construíssem um transportador nesse lugar, não que houvesse real necessidade, mas é que eventuais visitas me fazem bem. Enfim, vamos usá-lo.

— Então não era necessário atravessar toda aquela massa de água para chegar até aqui? — questionou Pearl.

— Bem, não — retrucou Rose —, mas assim você não poderia apreciar o oceano.

As Gems usaram o meio de transporte mais rápido e logo estavam em um vale, com algumas máquinas de um lado e uma vegetação de outro.

O Jardim de Infância era o local de nascimento de muitas Gems, Pearl sabia disso, mas nunca visitara um local como aquele. Havia alguns buracos nas rochas que limitavam o vale, poderia contar algumas dezenas. Era gritante a diferença entre a paisagem gerada pela criação de novas Gems com a parte indene.

O acampamento estava movimentado, todas procuravam por Rose e Pearl e o aviso de que White Diamond exigia uma audiência não demorou a ser dado. Ao que parecia, os transportadores haviam sido consertados, mas Peridot afirmava que eles foram quebrados de propósito; restava saber por quem. Pearl encarou Rose, que estava com uma respiração desregular, com as mãos cruzadas sob o colo e com um olhar preocupado. O transmissor foi acionado e a soberana Gem apareceu.

— Já recebi o relatório de Peridot, agora é sua vez, Pearl — falou White Diamond.

— Visitamos as instalações do Jardim de Infância, minha senhora. Eles apresentam condições aparentes de funcionar bem. Quanto às outras edificações, igual situação: em perfeito estado.

— Ótimo.

— Embora… — falou mais para si do que para as outras, contida por seu receio.

— Explique-me tudo, General Quartz — vociferou a Diamond, ignorando o sussurro de Pearl. — Deve-me explicações plausíveis sobre os transportadores.

— Perdão? — disse Rose.

— Tenho indicações claras de que alguém incapacitou o uso dos transportadores.

— Não tinha esse conhecimento, minha senhora. — A voz era suave e firme, não transparecia culpa.

— Disso eu tenho minhas dúvidas — continuou. — Minha viagem fora interrompida por um problema técnico e agora descubro que ele foi proposital; sou levada a crer que sabotagem é um nome adequado para o que está acontecendo, sendo feita por quem quer seja. Por isso, retiro-te o comando dessa missão, Rose Quartz. A ordem que recebe a partir desso momento é retornar para Homeworld e aguardar uma nova tarefa.

— Minha senhora, peço que reconsidere sua decisão — pediu Rose.

— Não vejo motivo para modificar minha decisão. Sua liderança se mostrou falha. Não importa quem quebrou os transportadores, você é a responsável, Quartz. Se quiser se redimir, tenha pelo menos a decência de capturar a traidora.

— Não me referi a isso — disse Rose com firmeza, continuando, porém, com uma súplica — Peço… digo, imploro, minha senhora. Poupe a vida existente na Terra.

Terra?

— Sim, senhora. A vida desse planeta não é melhor que a nossa. Temos que preservá-la.

My Diamond, o que Rose diz é verdade — interrompeu Pearl, inesperadamente. —  A teia que une esse planeta é formidável, a matéria inorgânica é primordial para sustentação dos seres daqui, não podemos sugá-la e empobrecer a terra até que não haja mais nada. Esse mundo é belo, ele é constituído de tantas coisas que vão além daquilo a ser explorado. Entenda, minha senhora… isso, isso é vida.

De imediato, a soberana ficou estupefata, mas logo a raiva passou a comprimir cada músculo de sua face. Uma serva enfrentou sua dona e para isso não havia perdão.

— Quebrem-nas! — ordenou, mesmo sem saber a quem. — Traidoras não serão toleradas.

Pearl sentia cada pedaço de si vibrar freneticamente, sem saber ao certo por qual razão: fosse o horror de sua destruição ou a fúria crescente e vontade de lutar pelo que passou a acreditar.

Rubys partiram para cima das traidoras; Rose fez emergir sua espada e escudo, se aproximou de Pearl e manteve-se na posição de defesa. Pearl não possuía habilidades de luta, não era suposto que aprendesse, deveria ser útil em tarefas diferentes do combate físico. Os golpes das Rubys se concentravam na Quartz, que usava o seu escudo para se defender.

            — Corra para o campo — pediu Rose, se protegendo dos socos — Vá!

Pearl, embora quisesse, permanecia estática. Fitava Peridot chamando mais Gems e encarava Rose evitando golpes, mas seus pés não se moviam. Os gritos do lugar passaram a ser eco, um som que chegava tão afetado e distante que não podia ser distinguido. Um baque forte despertou-a. Uma Ruby havia acertado-a na barriga, seu ar se esvaiu, não pôde sentir nada mais; sua visão se foi e, logo depois, sua consciência.

                                                 ***

Rose estava aflita, depois da fuga do campo de batalha, passou os dias percorrendo por locais que considerava de difícil acesso. Ela havia feito diversas visitas às proximidades de todas as construções gems, tinha ideia de como se mantinha a paisagem da Terra e a utilizaria isso a seu favor. O pensamento de não ser capturada não era egoísta, porém; Rose precisava manter Pearl a salvo, que havia perdido sua forma física na luta contra as Rubys e necessitaria de um tempo para retornar ao seu estado normal.

Naquele momento, Quartz estava em uma caverna pouco iluminada pelos raios de sol, observava as ondulações formadas pelo gotejar da água que vinha do teto e atingia as poças do chão. Sua mente estava enevoada, se focava na gem oval e cintilante, que permanecia imóvel.

Pearl, me desculpe, eu não sabia a que rumo da minha decisão iria me levar, esperava ainda menos que isso pudesse afetar a você.

Assim permaneceram por três dias. Rose jogava sua frustração em não conseguir proteger a única Gem que ficou a seu lado nas estalactites e estalagmites da caverna, as golpeava com a espada, as destruía com as próprias mãos. Àquela altura, muitas haviam sido destruídas por Quartz. Enquanto desferia golpes certeiros na base de seus oponentes inertes, Rose teve sua atenção tomada por um brilho forte; a Gem tomou forma em sua frente, passou de um simples mineral a uma figura delicada.

— Finalmente, Pearl — gritou a Gem, correndo em direção a sua mais recente companheira.

Pearl não esperava aquela atitude de Rose. Estava surpresa; e feliz, de certo modo. Era bom receber um gesto de afeto e mesmo sentindo-se estranha, ria. Suas pernas não tocavam o chão e sentia os seus braços comprimidos pelos da Quartz, sua respiração era ofegante, mesmo que não estivesse fazendo esforço físico, e seu peito formigava. Era uma mistura de sensações novas, que a deixavam boba e com um sorriso largo.

— Oh, Pearl — disse Rose, ao soltar a Gem. — Eu sinto muito, eu não queria te causar nenhum mal. Não queria que você enfrentasse White Diamond, muito menos que fosse condenada por isso.

— Rose, você não me fez nada; aliás até me fez. Eu estava ao lado da Diamond e isso me bastava. Era algo imposto, minha função, para isso que fui criada e assim eu fazia. Só que agora eu quero fazer algo importante. — Ela falava tudo entre pequenos sorrisos, gesticulava com as mãos e olhava envergonhada para o chão úmido. — Quero fazer algo que valha e que eu sinta.

Rose a abraçou novamente.

— Isso é maravilhoso, algo belo pôde nascer desse caos.

— Mas eu preciso te pedir uma coisa — disse Pearl, encerrando o abraço. Seu olhar havia ficado sério. — Preciso que me ensine a lutar.

— Lutar? — exclamou a Quartz.

— Sim, usar espadas, defender a mim mesma e quem mais puder, a você também.

— Justo — falou, com um sorriso largo. — Quer começar quando?

— Agora. Por quê, não?

— Oh. Sim. Por quê, não? Ah, já te apresentei o nosso novo lar? — disse a última frase com ironia. — Aquele é  seu quarto, pode arrumá-lo como quiser.

— Certo, certo — falou Pearl, ignorando a piada. — Diga-me como posso conseguir um escudo e uma espada.

— Bem, não acho que precise de um escudo — disse Rose, avaliando a Gem dos pés a cabeça. — Você é pequena, provavelmente veloz. Podemos utilizar isso a seu favor, seriam melhor duas espadas. Dobrar a força de ataque pode te dar uma bela vantagem. Certo, você pode criar suas espadas.

— Desculpe-me, mas não sei fazer isso — disse Pearl, envergonhada.

— Oh, claro. Sem problemas. Irá aprender como fazer, mas por hora use estas. — Rose fez surgir duas espadas, compridas e finas, e entregou a Pearl. — Servirão para você, imagino. Então, o primeiro de tudo é a postura. Ombros eretos, incline o quadril e ponha um pé um pouco à frente do outro.

Pearl fazia tudo que Rose indicava.

— Recolha levemente um braço e posicione a espada em frente ao seu peito. Já outro braço você estende e mantém a lâmina em direção a seu oponente, essa aqui será a sua espada de ataque. Agora eu vou fingir uns golpes e você vai defender e então atacar. Tudo bem?

Pearl assentiu.

                                                  ***

O dia foi de treino intensivo. A Gem havia feito um incrível progresso, segundo sua mentora. Pearl já conseguia manipular as espadas com ambas as mãos, era firme na defesa, mas ainda restava treinar seu ataque. Àquela altura do dia, Rose havia decidido tomar um ar fresco, prometeu que não demoraria e que não se afastaria muito.

Pearl aproveitou para tirar o pó acumulado em sua pele. Existia uma pequena piscina natural próxima da caverna que as abrigava, então decidiu ir até lá. A água era límpida, porém a luz escassa das estrelas não era suficiente para torná-la clara. Mergulhou mesmo assim. Sentiu o toque frio e voltou à superfície. Então deixou seu corpo flutuar, apreciou o céu e fechou seus olhos. Lembrou das situações que lhe levaram até ali, até Rose e como ser uma desertora não fazia diferença, porque enfim sentia-se viva, preenchida de um sentimento confuso, mas pulsante. Ela estava feliz e batalharia por isso, lutaria pela Terra, porque isso era fazer algo, era fazer por ela.

             


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Notas finais do capítulo

Desculpa por ter sido corrido, talvez... mas espero que tenham gostado. Você principalmente, amigs do AS *----------*



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