Os póneis bonzinhos vão para o Inferno escrita por Maurus adam


Capítulo 8
Livro 1 Capitulo 8 - Mudança no estado das coisas




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A casa de Efémero tinha sido toda virada do avesso. Todas as portas se encontravam abertas, bem como os armários e algumas gavetas. Muita da mobília tinha sido arrastada ou derrubada e até chegaram a fazer um buraco sobre o telhado. Basicamente qualquer sítio que pudesse ocultar um pónei adulto tinha sido vandalizado. A sua oficina não tinha recebido um tratamento melhor. Felizmente os invasores só se preocuparam em tentar encontrar Efémero e não em pilhar a loja, mas mesmo assim alguns dos relógios tinham sido destruídos na confusão. Para seu grande pesar, um dos seus carrilhões favorito encontrava-se irremediavelmente estragado. Era uma bonita torre sineira em cerâmica, rodeada por pégasos suspensos em arame. Quando lhe davam corda os sinos tocavam uma magnífica melodia e os pégasos voavam à volta da torre. Os pormenores eram imensos, até ao ponto dos pégasos baterem as asas e abanarem a cabeça enquanto voavam. Será inútil dizer o quanto o Efémero ficou destroçado.
Naquela noite acabaram os três por ficar em casa da Cerejinha. Depois do que aconteceu, Violeta não se sentia segura na sua própria casa. De resto também não queria voltar a encontrar-se sozinha tão rapidamente. Felizmente, depois de arrumarem alguns dos cavaletes, havia espaço de sobra para montar um par de camas improvisadas com cobertores e almofadas.
Novamente acabou por ser o Efémero o primeiro a despertar. Ainda sem sequer tomar o pequeno-almoço, a primeira coisa que fez foi estudar os papeis que tinha 'trazido emprestado' quando fugiu do Alicórnio Voador. Enquanto os lia atentamente, Cerejinha levantou-se e encontrou o amigo sentado no chão e debruçado sobre eles. Tão absorvido estava Efémero na sua tarefa que só reparou na alegre e vivaça égua quando esta se encontrava ao seu lado.
—Bons dias, Efémero. O que é que estás a ver? - perguntou-lhe a Cerejinha.
—É um feitiço que aqueles póneis malucos estavam a criar. Era suposto servir para localizar a origem daquele alicórnio. Era por isso que roubaram o pergaminho no Império de Cristal. Se estivesse terminado...
—Deixa-me adivinhar. Estás a pensar em atravessar as Montanhas de Cristal e ir à procura daquele alicórnio.
—Ainda não sei, se bem que me apetece fazê-lo. Acho que é impossível negar que possuo uma relação qualquer com ele.
—Bem, de qualquer das formas, não contes nada à Violeta, pelo menos por agora. - disse-lhe Cerejinha enquanto olhava para a amiga adormecida. Violeta ressonava suavemente por debaixo do lençol. Tão cansada se encontrava que a conversa dos seus amigos em nada tinha contribuído para lhe perturbar o sono. - Os nervos da pobre coitada ainda não recuperaram das emoções dos últimos tempos.
Efémero sentia uma necessidade de prosseguir a sua busca. Naquele momento, a única coisa de que tinha a certeza sobre si mesmo é que possuía uma relação com o demónio-alicórnio. Não acreditava que procurá-lo fosse uma muito boa ideia, mas no fundo sabia que nunca se sentiria verdadeiramente feliz enquanto não se sentisse ele próprio. Infelizmente, aquele alicórnio era a única ligação conhecida com o seu passado e provavelmente o único ser que pudesse dizer-lhe qualquer coisa que o ajudasse a encontrar sentido nele próprio. Mas antes que ele pudesse empenhar-se numa tal viagem, teria primeiro que completar o feitiço que o guiaria ao seu objectivo.

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Na realidade a tarefa acabou por ser mais fácil do que a princípio prometia. A biblioteca pública que a princesa Twilight tinha aberto no seu palácio depois da destruição da Biblioteca do Carvalho Dourado possuía uma colecção de manuais de magia bastante completa para uma cidade pequena como Poneivile. Ele já possuía alguns conhecimentos básicos de magia, e depois de um pouco de estudo sobre desenvolvimento de feitiços estava pronto para completá-lo. Afinal de contas, estava quase pronto, só necessitava de conjugar todas as suas partes numa grande equação mágica.
Efémero tomou o trabalho com bastante empenho. Desde sempre que ele tinha tomado um gosto especial por mecanismos. Pequenas engrenagens, eixos e roldanas interagindo uns com os outros até formar um grande e complexo aparelho. Tudo, desde o pensamento abstracto com algoritmos e proporções do planeamento, até o trabalho físico e delicado de manufacturar as peças e montá-las apaixonava-o imensamente. A engenharia mágica era bastante semelhante, mas muito mais complexa e abrangente. Muitas mais variáveis e muitas mais reacções a ter em conta do que simples interacções directas. Com afinco, Efémero foi criando uma corrente de pensamentos que manifestava todas as equações que já tinham sido feitas numa única e concisa evocação.
Ao princípio, de tão concentrado que estava, Efémero nem ouviu algum pónei a bater à porta. Só depois de baterem mais algumas vezes é que ele finalmente largou a pena que usava para escrever e levantou-se em direcção à entrada.
—Bons dias. - disse-lhe a cara sorridente da Cerejinha mal ele abriu a porta.
—Bom dia Efémero. - disse-lhe por sua vez a Violeta, mesmo ao lado da companheira.
—Ó... Olá. Sejam bem-vindas.
As suas amigas entraram na casa e olharam em volta. Se bem que os móveis tivessem sido colocados no lugar, tudo o resto tinha um aspecto bastante desarrumado e sujo. Era óbvio que Efémero não se tinha preocupado em voltar a pôr a sua casa em ordem.
—Ó minha Celéstia, que confusão! - exclamou Violeta. - Já passaram quatro dias e ainda tens a casa num caos.
—Tenho andado ocupado. - disse o Efémero.
—Ocupado com o quê? -perguntou-lhe ela.
Efémero e Cerejinha olharam um para o outro com cara de preocupados. Chegara a altura de dizer à amiga o que Efémero tinha andado a fazer. Seria injusto para ela ser mantida na ignorância durante mais tempo, mas eles sabiam que ela reagiria bastante mal à possibilidade de Efémero estar interessado em ir numa demanda por território desconhecido à procura de uma criatura alienígena por razões que ele próprio não conhecia muito bem. Efémero engoliu em seco e com uma pata empurrou o pergaminho que se encontrava sobre a mesa na direcção de Violeta.
—O que é isto? - perguntou ela.
—Isto é o documento que a Pena Escarlate roubou. - disse-lhe Efémero. Só várias semanas mais tarde, ao ler um artigo de um jornal sobre um julgamento relacionado com o gangue dela, é que ele descobriu o verdadeiro nome de Estelar. - Contém dados sobre as características mágicas de um lugar que parece ser a origem do tal Primordial, ou lá como ela o chamava. O culto dela estava a desenvolver um feitiço para o localizar que eu tenho estado a terminar.
—Espera... o quê? - gritou Violeta incrédula. - Valha-nos a princesa Celéstia, depois de tudo o que passamos não me digas que pretendes ir à procura daquilo?
—Ainda não me decidi.
—Como ainda não te decidiste? Tu não terias tanto trabalho a fazer um feitiço localizador se não tivesses intenção de o usar.
—Mas eu nem sei se vai funcionar. E mesmo que funcione pode muito bem apontar para um lugar inacessível. Vou ver no que dá antes de tomar uma decisão. - mentiu Efémero. Na realidade sabia muito bem que só não iria atrás de respostas se não pudesse. - De qualquer das formas, agora que a guarda real tem os olhos postos naquele culto, não há perigo nenhum.
—Mas estás a brincar, não estás? Aquele sítio é quase tão grande como toda a Equéstria. E lá está sempre Inverno. É só gelo e neve.
—Abateste uma fortaleza voadora com bombas de fumo e estás preocupada com um pouco de frio? - comentou Cerejinha.
—Isto não tem graça. - gritou Violeta. - Ele esteve desaparecido por duas vezes. Só se salvou por milagre. Tudo por causa dessas maluquices. E tu só andas a incentivá-lo a fazer estes disparates.
—É apenas uma viagenzinha de nada. O Norte Gelado está praticamente deserto. - disse-lhe a amiga. - Não haverá grandes riscos de se encontrar perigos sérios por lá.
—Minha querida Celéstia, mas que grande disparate. Se o Norte Gelado está deserto então porque é que ele quererá ir lá?
—Violeta, tem calma. - continuou Cerejinha. - Estás a fazer uma tempestade num copo de água.
—Ai estou? Pelo menos não estou a ir na direcção de uma no outro lado do mundo.
Cansada daquela discussão, Violeta sentou-se no sofá e baixou a cabeça. Sentia-se completamente abatida. Os seus companheiros observavam-na preocupadamente. Sabiam que de uma forma ou de outra ela teria ficado a saber dos projectos de Efémero. Também não era preciso ser-se um génio para adivinhar como iria ela reagir. Foi muito melhor para Violeta ter tomado conhecimento naquela altura e pela boca dos seus amigos do que por qualquer outra maneira. Mas de qualquer das formas não deixou de ser um choque para ela, e eles estavam preocupados se a Violeta não conseguisse lidar bem com tudo aquilo.
—Então... Achas mesmo que consegues terminar esse feitiço? - perguntou a Cerejinha ao Efémero. - Não é que duvide das tuas capacidades, mas acho improvável que algum pónei sem qualquer tipo de formação em magia possa criar um feitiço, mesmo se já esteja meio feito.
—Tecnicamente já está quase acabado. Se vai funcionar da maneira que é suposto, isso já é outra coisa.
—Bom, acho que era melhor pedires a ajuda de um... Er, Violeta, o que tens?
Os dois amigos olharam espantados para a Violeta. Esta encontrava-se atónica, com o olhar esgazeado, a mirar o Efémero. Este perguntou-lhe "O que foi?" mas quando ela abriu a boca para lhe responder não conseguiu emitir nenhum som. Limitou-se a levantar uma pata e a apontá-la para o traseiro do amigo. Ele e Cerejinha olharam para o seu flanco, mas a princípio não notaram nada de anormal. A metade traseira de Efémero encontrava-se como sempre se tinha encontrado, sem ter-lhe nascido um tentáculo ou uma asa ou algo que parecesse justificar a atitude de Violeta. Ainda possuía duas patas traseiras, pêlo cinzento, cauda castanha e a mesma marca de sempre. Continua com a mesma marca. Ainda a mesma marca...
Demorou um pouco até eles notarem o que tinha espantado a Violeta. A marca de Efémero continuava lá, sem piscar nem nada parecido. Durante alguns minutos os três companheiros ficaram a observá-la, incrédulos com o que se passava. Efémero virou a cabeça para verificar se do outro lado era a mesma coisa. Ambas a suas marcas encontravam-se estáveis, como as de qualquer outro pónei.
Violeta finalmente saiu do seu estado de assombro e saltando do sofá abraçou impulsivamente Efémero. A sua expressão não deixava margens para duvidas, encontrava-se felicíssima, com um sorriso de orelha a orelha. Quase nem parecia a mesma égua abatida que à alguns minutos atrás tinha alterado de uma crise histérica para uma depressão aguda.
—Efémero, estou tão contente por ti. - disse-lhe ela animadamente.
—Contente porquê? - perguntou-lhe a Cerejinha. - Não sabemos o que se está a passar. Raios e coriscos, nós nem sabemos o que se passava com ele antes.
—Não interessa. Isto só pode ser um bom presságio.
No íntimo, Violeta encontrava-se aliviada. Não conseguia deixar de atribuir parte da culpa das desventuras dos últimos dias à marca de Efémero. Agora que estava num estado mais normal, esperava que o companheiro moderasse mais as suas acções e se mantivesse afastado de sarilhos, ou pelo menos desistisse daquela viagem ao Norte Gelado. Efémero, esse permanecia mudo. Para ele aquilo não fazia o menor sentido.
Durante um bocado os três companheiros deixaram-se ficar por ali, a vegetar na sala de estar de Efémero. Não falaram muito. Na verdade estavam ainda a tentar processar o que tinha acontecido. Passado um bocado as éguas foram-se embora, mais por não saber o que fazer ou dizer do que por outra coisa. Elas não se despediram com um adeus ou até logo, limitaram-se a olhar de novo para a marca do amigo antes de se afastarem pela porta fora.
Ao ver-se sozinho, Efémero reviu mentalmente tudo o que lhe tinha acontecido ultimamente. O gangue de cultistas, as conversas que teve com a Estelar, aquele estranho alicórnio, ter sido raptado duas vezes seguidas, ter sido salvo duas vezes pelas suas amigas éguas (A sua masculinidade estava ferida.), nada daquilo parecia indicar o que tinha acontecido à sua marca. O trabalho em feitiçaria que ele tinha estado a fazer, por outro lado, parecia coincidir com aquela inesperada mudança. Teria o conhecimento mágico alterado a sua marca? Seria a sua marca criada por magia? Poderia ele, um pónei terrestre, ser um feiticeiro?
Exceptuando que a marca de um pónei é uma espécie de manifestação da sua magia natural e que surge quando se toma conhecimento de algo único e pessoal, não havia mais nada que se tivesse descoberto sobre elas. Não que não houvesse póneis que tivessem tentado. Desde sempre tinha havido mágicos e cientistas que gastaram muitos anos de estudo a tentar descobrir tudo o que pudessem sobre as marcas dos póneis. Mas até aquela altura, absolutamente nada de relevante tinha surgido, muito menos algo que pudesse explicar uma marca adquirida desde nascença ou uma marca instável.
E depois dos últimos desenvolvimentos, Efémero simplesmente não conseguia tirar sentido algum daquilo. Olhando atentamente sobre os seus apontamentos, com o feitiço quase completo, ele sabia que a sua marca tinha reagido a todo aquele trabalho. Como um bom mago, ele sempre teve curiosidade pelos vários ramos da ciência, sempre foi bom a matemática e sempre se sentiu fascinado pela magia. E quando estava a desenvolver aquele feitiço, o primeiro em que alguma vez tinha trabalhado, tinha-se divertido e tinha-se sentido desafiado. Efémero olhou uma vez mais para o seu flanco. Finalmente sabia que a sua qualidade especial era ser um pónei terrestre feiticeiro, o único de que tinha ouvido falar. Mas então porque continuava ele a sentir-se perdido e vazio? Sem querer perder tempo, Efémero voltou de novo a atenção para o seu trabalho. O feitiço encontrava-se quase pronto.

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No dia seguinte Efémero levantou-se mais tarde do que o habitual. Tinha passado uma boa parte da noite a terminar o feitiço e agora só precisava de o experimentar. Infelizmente o único unicórnio que ele conhecia suficientemente bem para o ajudar discretamente com essa tarefa era a Violeta. E pelo que ele conhecia dela, sabia que ela nunca iria incentivá-lo a fazer uma viagem tão perigosa, muito menos depois dos últimos acontecimentos.
Efémero saiu de casa ao principio da tarde, depois de um pequeno-almoço tardio. A sua primeira paragem foi nos correios de Poneivile. De lá, enviou um pacote com o pergaminho roubado de volta para o Império de Cristal. Claro que para evitar problemas, fê-lo anonimamente e com uma morada falsa de Manehatan como remetente. De seguida dirigiu-se a casa de Violeta e pelo caminho foi tentando pensar numa maneira de a convencer. Não lhe adiantou de nada, pois quando se encontrou diante da porta dela não fazia a mínima ideia do que lhe iria dizer.
Depois de bater à porta, não teve de esperar muito tempo que a amiga a viesse abrir. Violeta recebeu-o com uma expressão radiante. Desde que toda aquela confusão tinha começado que Efémero não via a amiga tão alegre e bem-disposta.
—Ó... Efémero, olá. - comprimentou-lhe ela, com um sorriso de orelha a orelha. - Sê bem-vindo. Entra.
Efémero entrou e olhou em volta. A última vez que ele tinha estado em casa da Violeta tinha sido atacado e raptado. Pensou que lá voltar iria fazê-lo recordar do sucedido mas a casa fazia-o sentir tão acolhido e confortável como sempre. Somente as dobradiças novas na porta da rua provavam que o incidente alguma vez tinha acontecido.
—Queres alguma coisa, Efémero? Bolachas? Um chá? - perguntou-lhe Violeta.
—Não é preciso. Estou bem assim. - respondeu-lhe Efémero enquanto se sentava.
—E então, como te estás a sair com a tua nova marca? - perguntou-lhe a amiga, enquanto mirava o traseiro dele. - Ainda está na mesma? Não voltou a piscar?
—Não. Pelos vistos tornou-se permanentemente numa marca normal.
—Graças a Celéstia, ainda bem.
—Queria saber como estás. As coisas ficaram bastante complicadas ultimamente e parece que tu tens sofrido bastante com isso. Porém, desde ontem pareceu-me que saiu-te um enorme peso de cima.
—Estás a brincar? Parece que decidiste tornar-te um íman de sarilhos. Andaste a saltar de loucura em loucura desde que a Cerejinha roubou aqueles documentos em Canterlot. Espero que agora com a tua nova marca não tenhas mais desculpas para te meteres em mais problemas.
—Eu sei, eu sei...
Por um momento Efémero paralisou. Tinha chegado à altura de pedir ajuda à amiga. No entanto ainda não tinha encontrado as palavras para lhe explicar o que pretendia fazer. A Violeta sempre tinha sido tão sensível e emotiva que ele temia a reacção que a amiga teria. Abriu a boca a tentar falar, mas ao invés de lhe dizer logo qual era o objectivo da sua visita, começou a divagar.
—Por falar nisso, tenho estado a pensar. Acho que a minha marca é um símbolo de magia.
—Deveras?
—Sempre me interessei por magia. E pela primeira vez na minha vida criei um feitiço. Bom, na realidade não o criei, só o acabei. Mas trabalhei nele, e pareceu-me tudo tão fácil, como se tivesse estudado magia toda a minha vida.
—Bem... Pelo menos estas tolices todas serviram para alguma coisa. - disse a Violeta. Ela encontrava-se bastante contente por o amigo ter como talento algo tão sedentário e pacifico como investigação mística e não algo perigoso e sem sentido como ser um ninja. - Sempre foste bom a ciências, de certeza que serás bom em magia. Só é pena que não a possas utilizar tu próprio.
—Na realidade é por isso que estou aqui. - disse Efémero hesitantemente. Já não conseguia adiantar mais aquele assunto. - Já terminei o feitiço e precisava de algum pónei para o lançar.
—O quê? Depois de tudo ainda queres fazer uma loucura dessas? - Sem margens para dúvidas, Violeta ficou chocada. A sua expressão denunciava-a. - Será que enlouqueceste de vez? Que pergunta, claro que sim. Só um pónei completamente chanfrado quereria morrer congelado enquanto procura um monstro milenar.
—Violeta, lamento que tenhas passado por toda a loucura que tem acontecido nos últimos tempos. Eu não te pediria isto se não precisasse mesmo da tua ajuda.
—E porque é que precisarias da minha ajuda? - perguntou ela, mesmo antes de se aperceber do óbvio. - Minha querida Celéstia, não me digas que estás à espera que lance o feitiço para ti.
A única resposta que recebeu de Efémero foi um silencioso e cabisbaixo olhar, que era indubitavelmente o equivalente a uma resposta afirmativa.
Violeta lembrou-se do que Cerejinha lhe tinha dito antes de partirem para o Império de Cristal. Tinha-lhe dito que Efémero necessitava de fazer aquilo e que elas só se poderiam limitar a apoiá-lo. Se ela não o ajudasse ele procuraria outro unicórnio para lançar aquele feitiço. Daquela maneira pelo menos poderia manter-se ao lado dele e tentar moderar o seu comportamento. Não que isso tivesse resultado até aquele momento.
—Muito bem. - disse ela, depois de meditar um pouco no assunto. - Se é isso que desejas, eu faço-o.
—Tens a certeza?
—Não é o que querias? Porque se preferires desistir deste disparate, por mim tudo bem.
—Não... não... Só não te quero obrigar a nada.
Efémero entregou à amiga a folha com a fórmula do feitiço. Levitando-a à frente do seu focinho, Violeta leu-a e releu-a até ter achado que tinha compreendido todos os passos. Infelizmente, conhecer um feitiço e controlá-lo estão longe de ser a mesma coisa. Violeta não era uma feiticeira, nem sequer chegava a ser ligeiramente treinada em magia como a maior parte dos unicórnios. Aquele feitiço era obviamente demasiado poderoso para as suas capacidades e ela sabia-o. Porém, se ela queria ajudar o Efémero deveria pelo menos tentar lançá-lo.
Violeta permaneceu uns instantes a concentrar a sua magia inerente no seu corno. Uma tarefa simples que qualquer unicórnio treinado podia facilmente fazer como primeiro passo para lançar um feitiço minimamente poderoso. Mas para Violeta, cujas únicas magias em que possuía alguma proficiência eram o básico de levitação e iluminação, pareceu-lhe que participava numa extenuante maratona mental. Quando lhe pareceu ter reunido magia suficiente, Violeta começou a moldá-la com a fórmula do feitiço. Entre a enorme quantidade de energia que precisava de ser mantida sobre controlo e a complexidade das equações mágicas a serem usadas, o cérebro de Violeta atingiu o seu limite e a sua cabeça doía-lhe terrivelmente. O seu corno brilhava com uma forte luz laranja enquanto ela lutava para manter a concentração. Finalmente, ao terminar o conjuramento, Violeta libertou o feitiço. Uma onda esférica de energia, invisvel mas poderosa, emergiu dela à medida que o seu raio aumentava a uma velocidade alucinante. Uma onda com uma assinatura miística muito especifica, que quando coexistiu com forças com exactamente a assinatura oposta a ela entrou em colapso. Toda a onda se desfez, excepto a parte que tinha reagido com o alvo pretendido. Essa reflectiu de volta à sua origem, como o eco de uma baleia ou um elástico que rompeu por ser demasiado esticado. A coitada da Violeta que já se encontrava nos limites da sua força, recebeu-a como se lhe tivesse sido dado um coice.
—Violeta, estás bem? - perguntou-lhe Efémero, enquanto amparava a amiga para evitar que ela caísse redonda no chão. - O que se passou?
A única resposta que recebeu foi um 'Ugh' de Violeta. Esta encontrava-se extremamente cansada, quase ao ponto de ter desmaiado. Efémero levou-a para o sofá e sentou-a.
—Estás bem? Que se passou? - voltou Efémero a perguntar.
—Sim, sim... Estou bem. - respondeu-lhe a Violeta. - Só não estou habituada a lançar feitiços deste calibre. Pareceu-me que apontava naquela direcção. - disse ela enquanto apontava com a pata na direcção que lhe pareceu que recebera a onda de retorno, até que se apercebeu de que não estava na mesma posição em que se encontrava quando tinha lançado o feitiço. - Não, foi naquela. Acho... - corrigiu ela.
—Desculpa, Violeta. Não te devia ter pedido isto.
—Não há problema. Só preciso de tentar outra vez.
—Nem penses nisso. Estiveste quase a desmaiar.
—A sério, não há problema.
—Isto não deve fazer nada bem à tua saúde. Por hoje já acabamos.
—Efémero, queres que eu faça isto ou não?
Olhando para a amiga, Efémero teve a noção de que já tinha metido a amiga nos seus problemas muito para além do que julgava sensato. Ali estava ela, mesmo depois das aventuras dos últimos tempos, a dar cabo da sua sanidade e bem-estar ao praticar feitiçaria experimental perigosa muito acima das suas capacidades.
Violeta, cansadíssima e com o principio de uma enxaqueca a lanpejar dentro da sua cabeça, lutava por recuperar a sua concentração. Com um esforço e uma lenta inspiração, conseguiu por fim abster-se das consequências nefastas da sua última tentativa. Voltou uma vez mais a rever os passos daquele feitiço e novamente voltou a lançá-lo.
Alguns póneis dizem que com a prática tudo se torna mais fácil. Parecia a Violeta que esses póneis não têm mais nada que fazer do que andar a inventar disparates, pois aquele feitiço não parecia ficar mais fácil à medida que o lançava uma e outra vez. Pelo menos ela já sabia o que esperar e conseguia focar-se melhor na direcção que lhe era devolvida. Apesar de tudo, foram necessárias várias tentativas até conseguirem uma direcção minimamente precisa. Como era esperado, apontava para o norte, em direcção ao Norte Gelado. Com cuidado, Efémero traçou a direcção sobre o mapa. Infelizmente, sem uma distância ele não conseguiria obter um local exacto.
Olhando o mapa com apreensão, Violeta tentava imaginar em que sarilhos se iriam meter. Não percebia nada de geografia, mas sabia que independentemente do caminho que tomassem teriam que escalar as Montanhas de Cristal. O lado positivo, pareceu-lhe a ela, é que caírem por uma montanha abaixo seria mais rápido e muito melhor do que morrerem por hipotermia.
A vantagem deles é que teriam a Cerejinha com deles. Aquela égua era bem capaz de levá-los às costas enquanto trepava as montanhas, e ainda por cima era capaz de se queixar que tinha sido demasiado fácil. Mas quereria mesmo a Violeta arrastar a amiga por aquela viagem perigosa? Ela sabia que as capacidades da Cerejinha eram muito superiores ao de um pónei comum, mas ela ainda assim era só uma pónei. Por muito boa ninja que ela fosse nunca se encontraria pronta para enfrentar uma viagem ao meio de nenhures por entre uma tempestade de frio glaciar. Assim como o Efémero e a própria Violeta se arriscariam naquela busca, também a Cerejinha correria perigo de vida. Silenciosamente, Violeta decidira que evitaria levar a amiga com eles, se tal fosse possível.
Um dilema semelhante assombrava a mente de Efémero. Ambas as suas queridas companheiras já se tinham colocado em perigo por causa dele. Sentia que seria muito irresponsável da sua parte arrastá-las pelo Norte Gelado em direcção a um destino desconhecido. Consequentemente, naquele momento já estava a planear partir secretamente. Elas adoravam-no e seriam capazes de segui-lo para o próprio Tártaros se lhes fosse permitido. Infelizmente, umas amigas tão próximas, capazes de tudo para o ajudar, seriam precisamente os últimos póneis que algum pónei quereria levar consigo para uma empreitada tão arriscada.

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Na manhã seguinte o dia estava esplendorosamente belo. Demasiado esplendorosamente belo, pensou Violeta quando abriu a janela do seu quarto. Já fazia algum tempo que Poneivile não recebia uma chuvada e nem tão pouco alguma neblina. O Sol brilhava por todo o céu à já uma semana e Violeta sentia umas saudades terríveis da obscuração que as sombras das nuvens provocavam pelas ruas da sua cidade.
Sentindo-se um tanto ou quanto deprimida, tanto por causa do clima como por causa do dia anterior, Violeta decidiu ir visitar o Efémero ainda a manhã nem tinha terminado. Pelo caminho foi pensando se o seu amigo iria mesmo levar por adiante aquela jornada ridícula que estava a pensar fazer. A única conclusão a que chegou foi de que Efémero, por razões que ela não conseguia compreender, iria mesmo continuar com os seus planos. Com tudo o que ele já tinha passado, de certeza absoluta que Efémero já teria desistido à muito se não pretendesse prosseguir com aquele assunto até ao seu fim. Se é que pudesse haver algum fim.
A loja de Efémero encontrava-se fechada, nenhum pónei respondeu quando Violeta bateu à porta. Ela espreitou pela montra com o focinho encostado ao vidro a ver se via algum movimento, mas estava tudo na mais completa escuridão, sem nenhum indício de que o seu proprietário se encontrava lá dentro. Um pouco preocupada por o amigo não se incomodar a voltar ao seu ofício, apesar de já ter passado alguns dias desde que Poneivile tinha sido atacada por aqueles póneis malucos, Violeta rumou em direcção à morada do companheiro. No entanto nem mesmo o conseguiu encontrar na sua casa. Ela tinha batido à porta durante algum de tempo, mas nenhum pónei a atendeu. Imaginando que o seu amigo teria ido fazer compras, ou algo parecido, e que não haveria de demorar muito a voltar, Violeta pôs-se a andar de um lado para o outro, enquanto esperava por ele.
Passaram-se vários minutos. De Efémero nem sinal. Violeta tinha começado a ficar impaciente com aquela espera infrutífera e interrogava-se não seria melhor ir procurar o companheiro noutro lado. Tinha começado a ir-se embora quando um chamamento fê-la voltar-se e olhar para trás.
—Psss... senhora.
Violeta olhou em redor, mas não avistou nenhum pónei que a pudesse ter chamado.
—Oi, senhora. Aqui em cima.
Levantando a cabeça, Violeta encontrou uma pequena e muito querida carinha adornada com uma crina roxa encaracolada espreitando pela janela do sótão de uma das casas próximas. Era Vinha Radiante, a filha mais nova de uns dos vizinhos de Efémero.
—Ó... olá. - Violeta cumprimentou a pequena potra com um sorriso.
—A senhora está à procura do senhor Óptico?
—Sim, estou. Sabes se ele vai demorar muito a voltar?
—Senhora, acho que o senhor Óptico não vai voltar para casa.
—Não vai voltar? Então porque é que ele não havia de voltar?
—Porque alguns dias atrás uns póneis muito maus entraram na casa dele. E depois entraram na minha casa e berraram muito com os meus pais. Pensavam que o senhor Óptico estava aqui. E depois foram embora e foram procurar o senhor Óptico para outras casas. E depois até foram procurar na casa da minha amiga Nuvem Rosa. Ela vive no outro lado da cidade. Ela disse-me. A minha amiga não mente.
—Esses póneis andaram a criar problemas em todo o lado, mas não vão voltar. O Efémero não precisa de se preocupar mais com eles. - Na verdade Violeta não se sentia muito segura. A tenacidade que o culto de Estelar demonstrou deixava-a assustada e temia que ainda pudesse trazer consequências, mas ela ocultou os seus temores para evitar traumatizar ainda mais a potrinha.
—Mas eu vi-o a fugir. Eu estava aqui na janela e eu vi o senhor Óptico a sair muito cedo de manhã. Ele saiu com muitas malas às costas. Quase que nem podia com tantas malas. Por isso é que acho que o senhor Óptico não vai voltar.
—O quê? - Violeta gritou tão alto que assustou a pobre da Vinha Radiante. O relato da pequena potra tinha-lhe atingido o cérebro mais rapidamente do que o tinha ouvido. Não havia dúvidas, Efémero tinha ido à procura do alicórnio. Pior do que isso, tinha ido de novo sozinho. Nervosa, Violeta foi-se embora, deixando Vinha Radiante observando-a temerosamente.
Assustada pela perspectiva do seu companheiro se encontrar fora do alcance da sua ajuda, Violeta galopou em direcção ao único pónei de que se lembrou. Apesar de querer evitá-lo, não tinha remédio a não ser meter a Cerejinha naquela confusão. No seu caminho até à casa da amiga, Violeta começou a desenvolver um sentimento de que tinha tido pouco contacto ao longo da sua vida, raiva. Começou a pensar no quanto Efémero se encontraria desprotegido, apesar de todos os esforços dela para o acompanhar na sua viagem. Começou a pensar nos problemas para o qual teria que arrastar a Cerejinha, apesar de querer evitar colocar a amiga em perigo. Começou a lembrar-se de todos os perigos que Efémero tinha corrido e de a ter levado a ela e à Cerejinha na sua loucura. E enquanto ruminava em tudo aquilo, começou a sentir verdadeiramente raiva e fúria pelo companheiro por todos os problemas que ele causou e que ainda estava a causar.
Foi uma Violeta bastante alterada que bateu à porta da Cerejinha. Esta quase não conseguiu reconhecer a amiga quando lhe abriu a porta. Encontrava-se bastante corada, em parte pelo esforço da corrida mas também por ter todas aquelas emoções à flor da pele. Quanto à sua expressão facial, estava tão colérica que é melhor nem falar nela.
—Minha nossa. Violeta, o que te aconteceu? - perguntou-lhe Cerejinha, mal reparou na sua fronha carrancuda.
—Aquele tolo fê-lo de novo.
—Quem é que fez o quantas?
Violeta passou uns instantes emudada, a tentar acalmar-se. Diga-se de passagem que não lhe adiantou muito. Depois entrou pela casa de Cerejinha dentro enquanto esta tentava tirar sentido dos seus balbucios incompreensíveis.
—O idiota fugiu outra vez. Ainda ontem estava-mos a falar daquela estúpida viagem e já se pirou às escondidas.
—Eu... presumo que estejas a falar do Efémero.
—Ele terminou aquele maldito feitiço. Agora vai atrás daquela coisa. Nem acredito que o ajudei. Sinto-me tão estúpida.
—Violeta, acalma-te. Não estás a fazer sentido nenhum.
Foi necessário à Cerejinha segurar nos ombros da amiga com as patas para a fazer parar.
—Minha querida Violeta, - continuou ela. - ele encontra-se atormentado exactamente pelos mesmos dilemas que nós. Por um lado sabe que precisa da nossa ajuda, pelo outro lado não nos quer colocar em perigo.
—Mas porque é que ele não a aceita? Porque é que ele há de estar sempre a fugir de quem o quer ajudar?
—Porque como nós, dividido entre ver os amigos magoarem-se e magoar-se a si próprio, escolheu a opção de proteger os seus amigos. - respondeu-lhe a Cerejinha. - Não o culpes por tomar a mesma decisão que nós.
—Mas ele está completamente desamparado. Vai meter-se em perigos. É completamente estúpido.
—É o que os póneis fazem. Fazem coisas estúpidas para proteger os outros póneis.
—E o que é que fazemos? Simplesmente deixamo-lo ir à sua sorte?
—Não. Escolhemos a mesma opção que ele, por isso tomamos a acção contrária. Vamos atrás dele, quer ele queira, quer não.
Violeta sabia que a Cerejinha estava certa. Ela tinha ido ter com ela precisamente para que ambas seguissem o Efémero. Porém, ao ver a amiga lidar tão levianamente com aquele assunto recordou-lhe a vontade com que os seus amigos tinham em seguir por caminhos insensatos. Com todas aquelas emoções a acumularem-se, o seu stresse estava a escapar à sua capacidade de lidar com ele. Apetecia-lhe gritar ou desatar a correr, mas isso exigiria algum raciocínio, algo que naquele momento a Violeta não conseguia fazer. Limitou-se a recuar alguns passos e a deambular erraticamente de um lado para o outro, tentando digerir tudo o que naquele momento passava pela sua mente.
Cerejinha manifestou um discreto sorriso. Ela olhava a amiga com ternura, recordando-se de tudo pelo que passaram desde que se conheceram, quando eram potrinhas. A Violeta sempre tinha sido a mais sensível do trio. Na realidade ela era a pónei mais sensível que a Cerejinha conhecia. Sempre o tinha considerado como uma qualidade inestimável da companheira, mas às vezes levava-a a perder o controlo sobre ela própria, e ela não parecia aperceber-se disso. À já algum tempo que Cerejinha tinha uma conversa que desejava ter com Violeta. O momento não era muito oportuno, mas a amiga precisava de ouvi-la, que não fosse pelo menos para deixar de continuar a atormentar-se.
—Violeta, minha muito querida Violeta, nunca te passou pela cabeça que a tua marca se refere a ti e não aos teus romances?
—Eu, er... O que é que disseste? - Naquele momento Violeta parou e a sua atenção voltou a focar-se na companheira.
—Nunca pensaste que essa flor poderia ser o reflexo da tua emotividade e não dos teus livros?
—Eu... eu...
Epifanias. Todos os póneis pensam que as epifanias são algo que surge num instante, num golpe inesperado de sabedoria. Nada poderia estar mais errado. Todo o conhecimento desacreditado que foi acumulando com o tempo. Todas as memórias esquecidas que ficaram guardadas algures no subconsciente. Todas as capacidades cognitivas que se foram desenvolvendo em lugares adormecidos do cérebro. Tudo o que fica esperando pacientemente na mente por aquela pequena chave que dará um sentido a tudo, que ligará todas as peças, que transformará o ruído em musica.
Violeta ficou especada, com o olhar fitando o vazio, enquanto admirava as maravilhas do seu universo interior. Ela nunca tinha compreendido verdadeiramente os seus amigos. Nunca tinha percebido porque gastavam tanto tempo e esforço em tarefas aparentemente inúteis, porque se arriscavam tanto por nada. Ela nunca tinha conhecido verdadeiramente os dilemas deles porque nunca tinha se apercebido dos seus próprios dilemas. Naquele momento, quando a questão da Cerejinha a forçou a rever-se a si própria, Violeta apercebeu-se de que não se conhecia completamente a si própria. Dali em diante ela jamais poderia contar com o conforto das suas próprias certezas para lhe dar segurança, mas jamais voltaria a ter as suas ilusões a enevoarem-lhe a percepção.


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