Os póneis bonzinhos vão para o Inferno escrita por Maurus adam


Capítulo 7
Livro 1 Capitulo 7 - Algumas flores possuem espinhos




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Ela encontrava-se completamente sozinha. Longe de qualquer ajuda e a várias dezenas de metros do chão, Violeta encontrava-se fechada num dirigível cheio de póneis completamente malucos. O pior é que naquela altura ela nem tinha a certeza se o Efémero estaria lá preso ou não. Levitando à frente do seu focinho o saco que Cerejinha lhe atirara, interrogava-se no que a amiga estaria a pensar para lhe ter entregado aquilo.
—Provavelmente não sabia o que fazer. - pensou ela. - Não sabia como me ajudar, por isso limitou-se a atirar-me isto.
Não lhe adiantaria muito ficar ali parada. Pata ante pata, Violeta avançou ao longo do corredor. Ao chegar a um cruzamento parou sem saber o que fazer. À frente dela o corredor continuava até chegar a outra porta igual à pela qual ela tinha entrado. De ambos os seus lados atravessava um corredor, com simples portas de madeira ao longo dele. Temendo que algum pónei pudesse encontrar-se no corredor, Violeta manteve-se reticente em avançar. Espreitou prudentemente e verificou que do lado esquerdo não se avistava nenhum pónei, mas do lado direito, a vários metros de distância, estavam dois póneis a conversar.
Ela definitivamente não poderia ir por ali. Também não poderia ir na direcção contrária, pois seria vista muito rapidamente. Por outro lado, se continuasse ali algum pónei poderia encontrá-la. Entre toda aquela indecisão, Violeta decidiu que seria menos arriscado ir pela esquerda. Os outros póneis poderiam não reparar nela, e se reparassem, estaria muito afastado deles e talvez não notassem que era uma intrusa.
Tentando andar o mais normal possível, Violeta seguiu pela esquerda. O duo parecia não tê-la visto e continuavam conversando mas ela estava com toda a sua atenção no murmurar que ouvia deles. "Vão saltar-me em cima... Vão saltar-me em cima... Vão saltar-me em cima..." repetia ela mentalmente para si mesma. Mas parecia estar com sorte, visto que nenhum dos dois póneis sequer pensou que uma qualquer unicórnio que se encontrasse dentro do Alicórnio Voador não pudesse pertencer ao seu grupo.
À medida que avançava, aproximou-se de uma das portas à sua direita que se encontrava aberta. Temerosa que pudesse dar de caras com algum pónei, Violeta espreitou discretamente. A porta dava para um quarto que parecia desocupado, bastante estreito e comprido. Encontrava-se bem equipado para um dirigível, com cama, sofá e um par de armários na parede do lado esquerdo. Ao fundo uma janela mostrava a bonita noite estrelada que começava a cair lá fora. Violeta fazia questão de prosseguir adiante, mas o medo sobrepôs-se e ela entrou no quarto. Ao fechar a porta esta começou a chiar. Se bem que fosse só um ruído insignificante, para Violeta parecia um barulho ensurdecedor. Temendo que algum pónei o ouvisse, ela tentou fechá-la mais devagar. Na verdade não adiantou muito, pois se o ruído era quase inaudível, parecia a Violeta que era suficiente para alertar todo o dirigível da sua presença. Depois de trancar a porta, ela sentou-se a tentar perceber qual deveria ser o seu próximo passo.
Violeta sentia-se terrivelmente perdida e impotente. Tinha começado a lembrar-se de todas as palermices que a Cerejinha costumava aprontar. Assaltar o castelo de Canterlot só por diversão era só um dos seus disparates. Atravessar Poneivile dum lado ao outro escondida nas suas camuflagens ou deslocar-se pela Floresta da Liberdade saltando de ramo em ramo eram para ela um passatempo ocasional. A Cerejinha era tão hábil e confiante. Ela fazia parecer tudo aquilo tão fácil, como se fosse um simples esforço casual, que Violeta, encurralada e amedrontada, só se sentia pior por pensar nisso.
Tentando sobrepor-se às suas emoções, Violeta levantou-se e espreitou pela porta. Para seu contentamento os outros póneis tinham sumido do corredor. Então, um pouco mais aliviada, pôs-se novamente a caminho. Porém, ainda se sentia apreensiva. Temia que a qualquer momento uma das portas poderia abrir-se e saltar de lá de dentro um malfeitor pronto a atacá-la. Por outro lado pensava que talvez o Efémero estivesse preso num dos compartimentos. Por outro lado ainda, não poderia andar a abrir portas aleatoriamente e esperar não encontrar sarilhos. Entre todos estes pensamentos, Violeta continuava pelo corredor fora.
Este terminava numa grande porta redonda com uma janela de vidro no meio dela. Quando lá chegou, Violeta espreitou pela janela e viu a cabine de controlo do dirigível. Era um grande espaço, com as paredes frontais e laterais totalmente ocupadas por janelas. Encontrava-se cheia de aparelhos, alavancas e póneis. Para Violeta era um sítio inútil e perigoso e por isso ela virou-se e preparava-se para se afastar antes que algum pónei a visse. De repente, fez-se ouvir uma gargalhada numa voz que lhe era bastante familiar.
—Ha ha ha ha... Sim senhor, isto é que foi uma operação bem planeada. De nível profissional, mesmo. Ha ha ha...- ria-se compulsivamente Efémero. Apesar da situação delicada em que ele se encontrava, o caos total que tinha sido o seu rapto deixara-o com uma vontade imunda de rir.
Ao ouvir a voz do seu amigo, o coração de Violeta encheu-se de alento e ela esqueceu momentaneamente a prudência. Abriu um pouco a porta da cabine e pôs-se a espreitar. A voz do Efémero vinha de cima, mais propriamente de umas escadas que conduziam ao andar seguinte.
—Cala-te imbecil. - fez-se ouvir a voz da Estelar. - O que é que aqueles idiotas andam a fazer?
—Aparentemente eles não souberam que este pónei tinha sido encontrado. - respondeu-lhe Raio Azul. - Ainda devem andar à procura dele.
—Grrr... Vamos voltar para Poneivile. Não podemos atracar na prefeitura outra vez, por isso manda alguns pégasos avisar os outros para se reunirem no pomar a noroeste de Poneivile. Deve haver lá espaço suficiente para aterrar esta coisa.
—Sim, senhorita. - e então Raio Azul desceu para a cabine de controlo e começou a dar ordens.
Ela já sabia onde o Efémero estava, e com tantos póneis tão ocupados talvez conseguisse chegar ao andar de cima sem que eles notassem que era uma estranha. Mas depois o que faria ela? Por outro lado ela nunca teve muita esperança naquela aventura. Ao menos se fosse apanhada poderiam ficar os dois juntos, o que já não era mau, pensou ela. Pelo menos se aqueles cultistas malucos não os separassem ou decidissem atirarem-na do dirigível abaixo.
Respirando fundo, Violeta encheu-se de coragem, atravessou a porta e dirigiu-se para as escadas. Apesar de estar a tremer como uma vara verde tentou parecer o mais normal e discreta possível. Mas a sua sorte tinha-a abandonado. De repente um dos póneis reparou nela e dirigiu-lhe a palavra:
—Hei, rapariga. O que estás a fazer aqui? - perguntou-lhe.
A coitada da Violeta, já nos limites da sua coragem, não pôde evitar reagir com uma expressão de medo. O outro pónei apercebeu-se imediatamente disso.
—Olá... Parece que temos aqui uma intrusa. - disse ele, alto o suficiente para todos os outros póneis ouvirem.
Os outros póneis olharam todos para ela. Agora Violeta sabia que estava mesmo em perigo. Não lhe adiantava nada fugir e ela sabia disso. Afinal de contas estava em pleno ar e mesmo que lhes escapasse (bastante improvável) não tinha como sair do dirigível. Seria apenas uma questão de tempo até a encontrarem. Sentindo-se encurralada, Violeta fez a única coisa que lhe passou pela cabeça. Deixou cair à sua frente o saco que Cerejinha lhe atirara, ergueu bem alto as patas dianteiras e bateu-as contra o saco com o máximo de força que conseguiu.
E então foi o pandemónio completo. A deflagração simultânea de dúzia e meia de bombas de fumo equivaleu a uma pequena explosão. A pobre da Violeta foi literalmente atirada pelo ar contra a parede e ficou inconsciente com o choque. A cabine encheu-se de um espesso fumo branco que começou imediatamente a vazar para o andar de cima. Todos os póneis entraram em pânico. Uns completamente confusos, sem verem um casco à frente do focinho, andavam de um lado para o outro às cegas. Outros assustados, a pensarem que havia um incêndio a alastrar-se pelo dirigível, ficaram parados, sem saberem o que fazer.
—Parem com os disparates, seus idiotas. - gritou Estelar. - Algum pónei que vá ao andar de baixo abrir o raio da porta. Precisamos de nos livrar desta fumarada toda.
Alguns póneis seguiram a ordem dela e tentaram descer as escadas. Infelizmente os póneis da cabine do primeiro andar estavam a tentar fugir para cima. Entre isso e a falta de visibilidade, originou-se a meio das escadas uma obstrução bastante caótica, com póneis a empurrarem-se uns aos outros e sem conseguirem sair daquela confusão. Furiosa, Estelar decidiu ser ela a resolver o assunto e dirigiu-se para as escadas. Com o fumo a invadir o compartimento quase todo, demorou um bocado, mas quando as encontrou soltou um berro:
—Saiam da frente. Todos para baixo, já.
As escadas ficaram desimpedidas num instante quando todos os póneis que lá se encontravam debandaram dali para baixo, aos tropeções e uns por cima dos outros. Com todo o barulho que dali resultou, Violeta recuperou a consciência. Estava tonta e com dificuldades em raciocinar. Ademais, doía-lhe a nuca e as costas por ter chocado contra a parede. E apesar dos cascos terem-na protegido de uma queimadura séria, sentia um ardor nas patas e o pelo dela cheirava a queimado. Com algum esforço, conseguiu levantar-se e tentou orientar-se no meio do fumo e da confusão.
Violeta dirigiu-se para as escadas ao mesmo tempo que Estelar passava por ela. Ao subi-las descobriu que o andar de cima não estava melhor de onde tinha acabado de sair. Afortunadamente, os poucos póneis que ainda estavam naquele compartimento encontravam-se demasiado confusos para se preocuparem com ela. Mas apesar da fumarada ser um pouco menos intensa do que no andar de baixo, ainda assim Violeta não se conseguia orientar muito bem. E também não conseguia ver o Efémero em lado nenhum. Começou a andar de um lado para o outro, na esperança de encontrar o amigo. Tinha a certeza que ele estava ali, mas simplesmente não havia maneira de dar com ele. Na realidade foi o próprio Efémero que avistou primeiro a Violeta, quando esta ia a passar mesmo ao seu lado.
—Violeta! - exclamou ele muito espantado, quando a amiga quase o ia calcando.
Ela olhou para baixo e viu o Efémero, amarrado e deitado no chão mesmo ao lado duma mesa.
—Efémero, estou tão contente por te ver.
—O que estás a fazer aqui?
—Não sei. Acho que estou a tentar salvar-te.
Seguidamente, Violeta pôs-se a roer as cordas que mantinham o amigo preso. Efémero ficou bastante surpreso por ver a Violeta ali. Dos três companheiros, ela era a mais acanhada e estar ali no meio daquela loucura fornecia uma visão bastante inimaginável. Mesmo naquele momento, com ela à sua frente, parecia-lhe mais uma alucinação provocada pela má circulação do sangue graças às cordas demasiado apertadas do que outra coisa.
Efémero foi o primeiro a aperceber-se de que algo estava a acontecer de errado com o dirigível. O facto de ter estado amarrado no chão sem mais nada para fazer ajudou. Mal se sentiu liberto, pôs-se em pé e parou por uns momentos, quieto e a escutar. O Alicórnio Voador estava bastante inclinado para a frente, mas mais importante do que isso eram os ocasionais 'Poc', 'Toc' e 'Floc'. Árvores, eram o topo de árvores a bater contra o casco do dirigível. Encontravam-se a perder altitude a uma velocidade alarmante. Cortesia da Violeta, por ter espalhado o caos na cabine de pilotagem com uma sobredosagem de bombas de fumo.
—Estamos a cair. Temos que tentar sair daqui, o mais depressa possível. - disse ele para a Violeta.
Porém, ao invés de seguir o seu próprio conselho, Efémero virou-se para a mesa. Espalhada sobre ela encontrava-se o famoso pergaminho que Estelar tinha roubado no Império de Cristal, vários manuais de magia e algumas folhas com os apontamentos sobre o feitiço que iria levar Estelar ao seu objectivo. Efémero ignorou os livros e emaranhou o melhor que pôde os apontamentos com o pergaminho num embrulho improvisado. Abocanhou aquilo tudo e só então se pôs em fuga. Violeta seguia-o. Descendo as escadas, os companheiros arrependeram-se logo de ter tomado aquele caminho. Estelar tinha finalmente dado com a porta. Quando a abriu, uma corrente de ar fresco e limpo entrou de rompante pela cabine, enquanto o fumo começara a sair. À medida que a visibilidade melhorava no interior do dirigível, os dois amigos arriscavam-se a ser imediatamente descobertos.
Efémero, porém, não estava com meias medidas. Mal conseguiu avistar Estelar, carregou contra ela, aplicando-lhe uma valente cabeçada e atirando-a pela porta fora. Atordoada por aquele ataque repentino ela ainda tentou voar, mas embateu de encontro a uma árvore antes de recuperar o controlo e caiu que nem uma pedra em direcção ao solo da floresta.
Vendo incrédulos a sua destemida líder ser lançada da aeronave fora, o resto do presente bando parecia ter intenção de se lançar sobre os companheiros. Felizmente (Ou infelizmente, dependendo do ponto de vista.) eles tinham assuntos mais graves em que pensar. O dirigível já tinha descido o suficiente não para roçar no topo das árvores mais altas mas para ir de encontro a elas. Algumas das janelas começaram a partir à medida que galhos e folhas entravam pela cabina adentro. Libertos da maior parte da fumaça, os póneis tinham aproveitado o retorno da visibilidade para voltar aos controlos e tentar recuperar a altura do dirigível, mas foi tarde demais. O Alicórnio Voador chocou contra uma árvore particularmente grande e robusta que não tinha intenções de perder uma luta com um qualquer veículo voador, quer ele fosse real ou não. Com a violência do embate, o dirigível inclinou-se para estibordo e todos os póneis a bordo foram projectados pelo ar à medida que o dirigível parava sobre o atrito da copa das árvores.
Violeta conseguiu agarrar-se a uma consola que controlava a temperatura do ar do balão. Era uma grande caixa de metal com alavancas e mostradores que se encontrava fortemente atarraxada ao chão. Tinha conseguido agarrar-se a ela quando o dirigível começara a tombar, por isso escapara ao despenhamento relativamente bem. Menos sorte tinha tido o Efémero que escorregou para o lado direito com todos os outros póneis. Ficaram todos em monte, com o pobre do Efémero mesmo no meio deles. Todos os póneis começaram então a espernear na esperança de saírem daquela embrulhada enorme. Com algum custo, Efémero lá conseguiu soltar-se e olhou em volta à procura da Violeta. Esta continuava agarrada à consola com as suas patas dianteiras, enquanto tentava apoiar-se no chão inclinado com as traseiras.
— Vem, temos que sair daqui. - gritou Efémero para a amiga.
Violeta largou-se e escorregou em direcção à parede do lado direito. Efémero apanhou desajeitadamente a maior parte dos papéis que tinha deixado ao tentar soltar-se. Depois os dois companheiros dirigiram-se a uma das janelas quebradas e saíram para uma árvore que estava mesmo encostada ao dirigível e começaram a descer. Ao princípio Violeta ia descendo sem problemas, seguida por Efémero, mas quando lhe faltava uns bons sete metros até ao chão da floresta acabaram-se os ramos por onde se apoiar. Sem saber o que fazer, Violeta ficou ali parada, sentada em cima do último ramo e abraçada com as patas dianteiras ao tronco.
—Que 'he' 'paha'? - perguntou-lhe Efémero quando quase foi de encontro à amiga ao tentar descer mais um pouco.
—Er... O que disseste?
Efémero agarrou os seus papéis com uma pata livre e repetiu a pergunta.
—Que se passa? Porque é que paraste?
—Não há mais ramos. Não consigo descer.
—Tens que descer. Não podemos ficar aqui mais tempo.
É claro que era mais fácil de dizer do que fazer. Entre a adrenalina do despenhamento e a ânsia de fugir do dirigível não tinha tido tempo para se afligir com outras preocupações. Mas agora, com a enorme distância que a separava do chão mesmo à sua frente, as suas vertigens tinham começado a manifestar-se. Ficou simplesmente ali a olhar para baixo. Inquieto, Efémero olhou para cima para o dirigível, ralado que algum pónei pudesse ter ido atrás deles, mas estavam todos focados em tentar repor o Alicórnio Voador outra vez no ar. De repente uma voz familiar fez-se ouvir.
—Que estão a vocês a fazer aí em cima? Temos que ir embora agora. Chegou um contingente de guardas de Canterlot e estão a vir nesta direcção. De certeza que não querem ser apanhados nesta embrulhada toda, senão vamos ter que responder a muitas perguntas incómodas.
—Cerejinha? Onde estás tu? - perguntou Efémero.
—Estou aqui em baixo.
—Em baixo onde? Não te vejo em lado nenhum.
—Aqui ao pé da árvore. Sou a mancha preta saltitante.
—Está quase noite serrada e a vegetação oculta o luar. Toda a floresta é uma mancha preta.
Fartando-se de toda aquela conversa, Cerejinha retirou a sua máscara e a sua face rosa e crina colorida contrastaram com a escuridão que a cercava. Ela estava mesmo encostada à árvore onde os seus dois amigos se encontravam pendurados, olhando para eles e esperando que se decidissem a descer.
—Vá lá, Violeta. - disse ela. - Desce que eu apanho-te.
—É demasiado alto. Eu não sei descer árvores.
—É fácil. Pões as patas à volta da árvore, fechas os olhos e deixas-te escorregar.
—Mas... mas eu vou cair.
—Não cais nada. Eu apanho-te.
A muito custo, Violeta acabou por descer. Com os olhos fechados e agarrando-se ao tronco deslizou pela árvore abaixo enquanto gemia de tão assustada que estava. Cerejinha aparou-lhe a queda. Bastante inutilmente, visto que não tinha adquirido velocidade suficiente para se ferir. A seguir desceu o Efémero, mas porque a Cerejinha não estava muito preocupada com ele, não o segurou. Simplesmente bateu com o traseiro mesmo em cheio no chão.
—Que bom encontrar-vos. Estava com medo que vos tivesse acontecido alguma coisa. - disse Cerejinha aos seus companheiros.
—Como é que nos conseguiste encontrar no meio desta floresta? - perguntou-lhe o Efémero, enquanto esfregava as nádegas.
—Foi fácil, só tive que seguir em direcção ao gigantesco balão fumegante. - respondeu-lhe ela com um sorriso. - O que é que lhe fizeste? Mandaste-o abaixo com explosivos?
—Não me perguntes a mim. Foi tudo culpa da Violeta. Eu estive amarrado o tempo todo.
—Podiam esperar até estarmos todos em segurança antes de porem a conversa em dia? Estamos no meio da Floresta da Liberdade. - retorquiu Violeta muito aflita. - A Floresta da Liberdade, se isso vos diz alguma coisa. Vamos sair daqui antes que alguma coisa maldita e inominável decida comer-nos.
Com o aviso da Violeta, nem o Efémero nem a Cerejinha adiaram mais o retorno à familiaridade de Poneivile. Apesar de tudo tiveram a sorte de não encontrar qualquer tipo de monstro. Fosse por se encontrarem a dormir como qualquer bicharoco decente, fosse por se terem afastado daquela área com medo de apanhar com um dirigível extraviado nas cabeças, todas as criaturas que se rumoravam existir na Floresta da Liberdade deixaram os três companheiros em paz enquanto se dirigiam de volta a Poneivile.

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Dor... Dor foi a primeira coisa que Estelar sentiu quando recuperou os sentidos. À medida que a escuridão a abandonava e tomava consciência do seu corpo não resistiu a gritar de dor. Fincando os cascos na terra, tentou levantar-se, mas não só foi completamente inútil como sentiu todo o seu corpo ser percorrido por uma dor aguda e lancinante. Possuía a asa esquerda partida, assim como a pata dianteira esquerda, mas não tinha sido isso que a impediu de se levantar. Estelar encontrava-se emaranhada num arbusto de espinhos, e à medida que se ia mexendo estes enterravam-se cada vez mais na sua pele.
Ela olhou à sua volta. Estava no fundo de um pequeno vale. Não havia viva-alma, nem som, nem movimento que denunciassem a presença de algum pónei. Nem sequer havia sinal algum do dirigível no céu iluminado pela Lua. Com dores, frio e sem se poder mexer, só restava a Estelar ruminar sobre a sua desgraça. Estava tão próxima de alcançar o seu sonho quando lhe apareceu literalmente uma relíquia viva deixada pelo pónei da sua obsessão. E essa relíquia escapou-lhe não uma mas duas vezes, mesmo debaixo do seu focinho. E agora estava perdida no meio de nenhures, encalhada e sem saber o que fazer. Não demorou muito para a fúria e a frustração sobreporem-se ao seu auto-controlo.
—Arrgh... Maldito, maldito sejas. - gritou ela a plenos pulmões. - Isto não vai ficar assim. Vou encontrar-te e dar-te o troco, com juros. Eu sei onde tu moras.
À causa de tamanha berraria teria sido bastante provável que algum monstro fosse atraído até à Estelar, mas esta encontrava-se relativamente com sorte. Não foram lobos do bosque ou cocatrizes que surgiram no alto do vale, mas sim a silhueta de três póneis. Durante uns momentos ficaram ali a olhar para baixo, para o sítio onde a Estelar estava, na esperança de ver quem é que tinha acabado de gritar.
—Raio Azul, és tu? O que estás a fazer aí especado, seu idiota? Vem mas é tirar-me daqui. - gritou Estelar quando se apercebeu da presença daqueles póneis. - Vamos voltar quanto antes para o dirigível e voltar a Poneivile. Quero reunir todos o mais depressa possível e descobrir quem é que anda a ajudar aquele estafermo do Efémero. Vão levar todos uma sova mestra e depois vamos ver se ele volta a escapar-me outra vez.
Ao ouvir aquilo, os póneis desceram o vale até ao pé de Estelar. Porém, só quando estavam mesmo próximos é que ela pôde ver que não eram os seus companheiros mas sim três póneis morcego equipados com a vestimenta dos guardas reais.
—Vamos tirar-te daí, sim senhora, mas não é para te levar para o Alicórnio Voador. - disse um dos guardas. - Estelar, está presa por assalto a um edifício público, desvio de propriedade real, banditismo organizado e desordem publica. E pelo que acabei de ouvir, - continuou ele com um sorriso no rosto. - de certeza que conseguirei acrescentar ameaça à integridade de civis à lista de acusações.


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