Os póneis bonzinhos vão para o Inferno escrita por Maurus adam


Capítulo 6
Livro 1 Capitulo 6 - Benvindos a Poneivile




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Aquela noite tinha sido bastante insonorífera. Os três companheiros tinham dormido pouco na estação do Império de Cristal, enquanto esperavam pelo comboio. Durante a viagem de regresso a Poneivile o 'tchum tchum' incessante da locomotiva impediu-os de descansarem convenientemente. Ao raiar do dia tinham finalmente chegado a casa. Cansados e esgotados, cada um foi directamente para a sua moradia e passaram a maior parte do dia a dormir.
O primeiro a despertar tinha sido o Efémero. Os acontecimentos do dia anterior tinham-no deixado com muito em que pensar e os problemas assaltavam-lhe a mente com tal violência que acordou a meio da tarde a sentir-se ainda mais cansado do que quando se deitara. Sem paciência para ficar em casa sem fazer nada, lanchou um molhe de feno à pressa e saiu para a rua. Durante uns momentos Efémero perguntou-se se valeria a pena abrir a sua oficina, mas já tinha deixado um aviso de que estaria fechada durante uns dias. De resto, Poneivile não precisava assim tanto de um relojoeiro e ele não se sentia pronto para voltar ao trabalho. Efémero simplesmente limitou-se a deambular pela cidade enquanto meditava nos seus problemas.
A visita ao Império de Cristal tinha sido completamente infrutífera. Não só não tinha investigado tudo o quanto pretendera, como ainda por cima tinha sido raptado. A única coisa que tinha descoberto era que aquele demónio alicórnio ainda existia e parecia estar mesmo relacionado de alguma maneira com ele. Mas no entanto, como todas as perguntas sem resposta, isso só o fazia sentir ainda mais vazio.
E depois havia a Estelar. Aquela doida varrida sabia o seu nome e que tinha sido adoptado. De certeza que sabia que era de Poneivile e provavelmente saberia a sua morada. Mesmo que não soubesse, para um pónei que descobriu tanto dele em tão pouco tempo, deveria ser-lhe fácil obtê-la. Enquanto deambulava, Efémero passou algum tempo a pensar se ainda correria perigo. Afinal ela poderia vir atrás dele. Por outro lado ele lembrava-se que ela tinha dito que iria partir naquele dia. Porém, aquela pégaso era louca e obcecada, sabe-se lá o que ela pensaria fazer.
Caminhando pela cidade, Efémero acabou por ir parar mesmo em frente da casa de Violeta. Por uns momentos ele ficou especado a olhá-la, pensando na sua domiciliária. Das suas duas grandes amigas, tinha sido Violeta que mais reservas teve em relação à sua aventura. E tinha tido toda a razão. No fim, de entre eles os três, tinha sido ela que acabou por sofrer mais. Aproveitando o facto de já ter ido ali parar, Efémero bateu à porta da Violeta. Ao princípio pareceu-lhe estar tudo silencioso e Efémero interrogou-se a amiga ainda estaria a dormir, mas passado um bocado ouviu passos e então a porta abriu-se. À sua frente apareceu Violeta, ensonada e com umas olheiras bastante preocupantes.
—Desculpa, acordei-te? - perguntou-lhe o Efémero.
—Não, não... Estava só a descansar. Entra.
Entraram os dois para a sala de estar. Violeta sentou-se no sofá e Efémero imitou-a, sentando-se numa cadeira mesmo em frente à amiga. Por uns momentos ficou a olhá-la sem ser capaz de dizer qualquer coisa. Teve que ser a própria Violeta a iniciar a conversa.
—Então, o que te trouxe aqui?
—Tenho estado preocupado contigo. Ontem à noite não me parecias estar bem.
—Como é que querias que eu estivesse? Primeiro tu desapareceste do teu quarto. Depois a Cerejinha sumiu sem mais nem menos. Ouve um pónei que foi atacado. Eu não sabia onde estavam, nem se vos voltaria a ver.
—Estávamos óptimos. Bem... na realidade eu estava amarrado e preso com uma maluca. Mas não é que eu estivesse em perigo ou algo parecido. - mentiu Efémero. No íntimo sabia que aqueles cultistas não tinham intenções de lhe fazer fisicamente mal, mas na altura temera que o arrastassem com eles para uma situação de que não poderia escapar. - Fui raptado pela minha marca, eles consideravam-me uma espécie de amuleto. De certeza que não me iam matar ou magoar-me. De resto, sabes que a Cerejinha costuma saber desenrascar-se muito bem. Nem sei porque ainda te preocupas com ela.
—Pela minha querida princesa Celéstia, não acredito nisto. Como é que podes dizer uma coisa dessas com tanta naturalidade? Assaltaram um hotel, um edifício cheio de póneis, e levaram-te como se não fosse nada. Passei horas sem saber se vocês estavam vivos ou mortos. Credo... Pensei que nem sequer chegaria a saber se estariam vivos ou mortos.
—Que queres que te diga, então?
Violeta não lhe respondeu. Em parte porque não possuía resposta mas também porque se encontrava cansada de discutir com o amigo. Evitando os olhos de Efémero, mirou desinteressadamente o chão. Este observava-a e preparava-se para dizer algo quando ouviram algum pónei bater à porta.
—Umm... Deve ser a Cerejinha. - disse a Violeta, ficando contente que algo tenha interrompido aquela conversa, e levantou-se com a intenção de ir abrir a porta.
Mas não teve tempo de o fazer. Com um forte coice a porta entrou literalmente pela casa adentro, com um grupo de póneis a segui-la. Em pânico, Violeta deu um estridente berro. Efémero levantou-se, mas não teve tempo de fazer nada, pois um dos póneis, segurando um cacete na boca, saltou na sua direcção e com uma marretada deixou-o inconsciente.

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Se bem que a noite tinha começado a cair, seria difícil não avistar o Alicórnio Voador. Afinal de contas era o maior dirigível alguma vez construído em Equéstria, e um dos mais vistosos. Era uma espécie de barco dourado, grande o suficiente para ser confundido com um pequeno castelo. Possuía grandes janelas lascivamente decoradas com motivos florais azuis ao longo dos seus três andares e algumas portas no andar inferior. Estava sustento por centenas de cordas a um enorme balão prateado em forma de curgete ostentando mesmo no centro a bandeira de Equéstria.
Apesar de tudo, não foi o enorme dirigível que alertou Cerejinha de que algo estava errado. A dormitar, com as janelas fechadas, dificilmente conseguiria ver o que se passava lá fora. Foi quando Creme de Pêssego, um unicórnio castanho de crina e cauda verdes seu vizinho, foi bater incessantemente à sua porta. Quando Cerejinha foi abrir-lha, (Mais para parar o barulho do que por outra coisa.) deu de caras com um pónei bastante nervoso e agitado.
— Olá. O que se passa? - perguntou-lhe ela.
—Cerejinha, temo que haja algo de errado. Primeiro apareceu aquela espécie de balão-casa. - respondeu-lhe Creme de Pêssego enquanto apontava para o grande dirigível. - Depois surgiram alguns póneis que começaram a criar distúrbios. Ouvi mesmo dizer que alguns póneis foram atacados ou ameaçados. O que fazemos?
—Isto não me cheira nada bem. É melhor ires para casa e trancares-te lá dentro. - disse-lhe Cerejinha. E como se tivesse a intenção de provar que era uma égua que seguia os seus próprios conselhos, fechou-lhe a porta no focinho, sem sequer se despedir.
Cerejinha pensou que tudo aquilo talvez tivesse ligado com as suas recentes aventuras no Império de Cristal, mas mesmo que não tivesse ela só se sentiria tranquila se se certificasse que os seus companheiros encontravam-se bem. Tão rapidamente quanto pôde vestiu o seu fato preto, colocou a mochila sobre a garupa e saiu por uma janela. A noite estava a começar a cair. Noutra altura, esta seria uma ocasião tão boa como qualquer outra para Cerejinha se esgueirar pela cidade, mas naquele dia havia demasiados póneis na rua, preocupados com os rumores de assaltos e vandalismos. De qualquer das formas, Cerejinha avançava pela cidade mais preocupada em ser discreta do que em não ser vista. Galopando pelas sombras das casas que o pôr-do-Sol marcava ao longo das ruas, só lhe interessava chegar aos amigos rapidamente.
A morada do Efémero era a que se encontrava mais próxima. Ao lá chegar, Cerejinha teve um choque. A porta encontrava-se aberta e o interior num total estado de desarrumação. Tentando manter-se focada, Cerejinha decidiu não perder tempo e dirigiu-se o mais ligeiramente possível à casa da Violeta. Quando lá chegou, viu a porta derrubada e temeu pelo pior. No interior, no meio da sala, encontrava-se Violeta, caída no chão e um tanto ou quanto atordoada. Cerejinha dirigiu-se imediatamente a ela e ajudou-a a levantar-se.
—Violeta, o que aconteceu? - perguntou-lhe.
—Alguma coisa... Alguns póneis entraram aqui. Atacaram-nos.
—Atacaram-vos? Estava mais algum pónei aqui?
—Acho que sim... Sim, o Efémero. - disse Violeta, enquanto lutava para se recordar do que se tinha passado. - O Efémero estava aqui. Onde está ele? Ó não. Por Celéstia, eles levaram-no.
Sem esperar mais, Cerejinha saiu e dirigiu-se na direcção do grande dirigível. Violeta seguiu-a, e mal pôs as patas na rua não resistiu a exclamar qualquer coisa parecido com "Minha querida Celéstia, o que é aquilo?" quando pousou os olhos sobre o Alicórnio Voador. Depois, sem querer perder tempo, tomou a direcção que julgou que a Cerejinha tinha ido. A amiga estava com bastante pressa, mas mesmo assim conseguia ser bastante sorrateira e já tinha desaparecido da vista dela.
Ao galopar pela rua, Violeta ouviu atrás dela algum pónei gritar:
—É ela. Eu reconheço-a. Estava com ele naquele restaurante. Apanhem-na.
Violeta parou e olhou para trás. Correndo na sua direcção estava um grupo de póneis, munidos de facas e mocas e com um ar bastante ameaçador. Tomada pelo pânico, começou a galopar o mais que pôde, enquanto ouvia os cascos dos seus perseguidores cada vez mais perto de si.
— Socorro, socorro. Algum pónei me ajude. - gritava ela, desesperadamente.
Felizmente Cerejinha não estava muito longe. Ao ouvir os gritos da amiga virou-se e viu-a a ser perseguida. Rapidamente saltou para detrás de uma árvore e esperou. Ao princípio pensou se teria de lutar, mas essa não seria uma ideia nada boa. Acabou por pensar em algo muito melhor. Retirou da sua sacola a sua corda e prendeu o gancho à raiz da árvore. Quando Violeta passou por ela, saltou para o outro lado da rua enquanto segurava fortemente a corda com os dentes. A única coisa que os bandidos viram foi um borrão negro a passar-lhes à frente do focinho, seguido de estrelas, montanhas delas, quando a primeira metade do grupo tropeçou na corda e a segunda metade foi de encontro à primeira. Cerejinha voltou-se e saltou sobre eles, tentando amarrá-los ao estilo de rodeio. O resultado foi algo vagamente semelhante a um novelo de patas, asas, cabeças, caudas e corda preta. Não os iria prender, mas mantê-los-ia ocupados por uns bons minutos enquanto se tentavam libertar.
—Violeta, espera.
Ao ouvir a amiga a chamá-la, Violeta olhou sobre o seu ombro. Mal reparou que os seus perseguidores tinham sido parados, abrandou e esperou que Cerejinha a alcançasse. Encontrava-se extremamente cansada e apavorada, mas assim que a Cerejinha chegou ao pé dela sentiu-se bastante mais segura.
—Ó, obrigada. Muito obrigada. Sem ti estava perdida. - agradeceu Violeta à amiga. - O que é que eles me queriam?
—Provavelmente queriam o Efémero. Com a confusão que reina nesta vila ainda não devem saber que já o apanharam.
—Mas onde é que ele estará?
—Aposto que está ali. - disse Cerejinha enquanto apontava para o Alicórnio Voador. - Temos que nos despachar se o queremos salvar. Vamos.
O Alicórnio Voador encontrava-se a pairar a baixa altitude mesmo à beira do edifico da prefeitura de Poneivile. Era simplesmente demasiado grande para aterrar em qualquer parte da cidade e a varanda do segundo andar do edifício era suficientemente alta para permitir encostar-lhe as portas do dirigível sem ter que o baixar demasiado. Melhor que a prefeitura teria sido o castelo da princesa Twilight Sparkle, mas já era problemático o suficiente atrair as atenções duma princesa alicórnio quando a confusão começasse que Estelar achou péssima ideia fazê-lo antes de algo realmente começar.
As duas companheiras galoparam lado a lado em direcção à prefeitura. À sua volta os residentes de Poneivile acordavam e saiam para as ruas com os tumultos que aconteciam pela cidade. Um clamor de vozes fez-se ouvir quando passaram perto de uma pequena praça. Violeta simplesmente ignorou-o, estava demasiado focada em encontrar o Efémero. Mas a Cerejinha não conseguiu evitar a desviar a sua atenção para o acontecimento. Ela encostou-se a uma esquina e espreitou para a praça. Um grupo de bandidos tinha-se reunido à volta de alguns póneis que se encontravam bastante intimidados. Um dos membros do gangue, bastante frustrado, ameaçava um pégaso e gritava com ele, a exigir que entregassem o Efémero, apesar do pobre coitado provavelmente nunca ter ouvido falar do Efémero. Cerejinha sentia-se terrivelmente dividida. Ela não conseguia tolerar o que se passava diante dos seus olhos, mas também não podia deixar o Efémero abandonado à sua sorte. Enquanto ela lidava com os seus dilemas, reparou que Violeta não tinha notado que ela tinha parado e quase que já tinha chegado à prefeitura. Por mais que lhe custasse, Cerejinha não podia deixar os seus amigos enfrentar o perigo sozinhos. Com um esforço, tentou afastar da sua mente os gritos de aflição que ouvia atrás de si e correu no encalço da sua companheira.
Ao chegar à prefeitura, Violeta entrou por ela adentro. O sítio estava simplesmente deserto. Subiu as escadas até ao último andar e dirigiu-se para a varanda. Mesmo à sua frente estava o Alicórnio Voador, com uma das suas portas abertas sobre o parapeito. Só naquele momento é que Violeta se apercebeu que poderia ser surpreendida por algum pónei, mas felizmente não havia viva-alma à vista. Literalmente. Violeta só então apercebeu-se de que a Cerejinha não estava com ela. Confusa, olhou em volta e viu a sua companheira na rua, a dirigir-se na sua direcção. Voltou-se então de novo para o dirigível. A grande porta aberta dava para um corredor, com o chão alcatifado e as paredes e tecto duma bonita madeira castanho claro. A medo, Violeta aproximou-se dela. O interior estava estranhamente sossegado e não parecia haver nenhum pónei lá dentro. De repente o dirigível começou a mover-se. Indecisa entre não fazer nada e perder o Efémero, ou fazer algo estúpido e meter-se na boca do lobo, Violeta optou pela segunda opção. Simplesmente saltou para dentro do Alicórnio Voador, antes que se afastasse, possivelmente com o seu amigo lá dentro.
Quando Cerejinha chegou à varanda já o dirigível estava demasiado alto para ela o alcançar. Ainda tentou trepar para o telhado, mas isso não lhe adiantou de nada. Violeta olhava para ela assustada. Começava a ter vertigens e não via forma de descer ou de ajudar a amiga a subir. Cerejinha, por sua vez, sentia-se terrivelmente impotente. O dirigível afastava-se cada vez mais e não havia ali perto nenhuma casa suficientemente alta para o alcançar. Ainda não estava tão longe que ela não pudesse engachá-lo com a sua corda, mas tinha-a usado para salvar a Violeta. Agora ambos os seus amigos precisavam da sua ajuda, mas estavam além do seu alcance. O sentimento de impotência era esmagador. Simplesmente não havia nada que ela pudesse fazer. E depois ainda havia póneis a espalhar confusão pela cidade toda.
—Cerejinha, o que é que eu faço? - gritou-lhe Violeta.
—Tens que ser tu a ajudar o Efémero. - respondeu-lhe ela.
—O quê? Mas o que posso fazer? Não consigo fazer isto sozinha.
—Agora só tu o podes ajudar.
Cerejinha abriu a sua mochila e abocanhou de lá de dentro um saco com as suas famosas bombas de fumo. Balançou a cabeça o melhor que pôde e atirou-o na direcção de Violeta.
—Apanha. - gritou ela.
Violeta apanhou-o por pouco, usando um feitiço de levitação. Um pouco mais baixo e teria passado fora do alcance de uma simples unicórnio sem treino como a Violeta.
—O que é isto?
—Bombas de fumo. Provocam uma fumaça dos diabos. Simplesmente atira-as contra algo com força suficiente e elas detonam logo.
—O que faço com isto? - mas nessa altura Violeta já se encontrava demasiado alta para se fazer ouvir.
Durante uns instantes, Cerejinha ficou a observar o dirigível a afastar-se, depois virou-se para contemplar o caos que ocorria pela cidade. Ela avistou alguns guardas a correrem de um lado para o outro, o que era óptimo, visto que por norma a presença de guardas reais em Poneivile contava-se a zero. Mas para uma situação daquelas eram simplesmente insuficientes. De momento ela não podia fazer nada para ajudar a Violeta e o Efémero, mas isso não queria dizer que não pudesse fazer nada de todo.
Sem tempo a perder, Cerejinha não se incomodou a descer para a rua. Dirigiu-se para o centro de Poneivile saltando de telhado em telhado, em direcção ao Canto do Cubo de Açúcar. Ela conseguia ouvir o barulho de tumultos e instintivamente sabia que havia póneis em perigo. A angústia atormentava-a. Era preciso lutar, ela sabia-o, mas ela não sabia lutar. Nunca na sua vida pensou que teria de lutar pela vida, pela sua ou de outro pónei. É claro que ela tinha treinado artes marciais, mas como forma de meditação, não como método de defesa. Os mesmos golpes, os mesmos movimentos, mas em vez de aprender a reagir num impulso e atacar de forma rápida e precisa, Cerejinha focava-se no seu corpo. Ela mantinha a sua mente a raciocinar nos seus músculos e ossos, no seu centro de gravidade e equilíbrio. As artes marciais tinha-lhe ajudado a ser uma ninja melhor mas agora ela precisava de ser uma guerreira. Amigos e familiares seus estavam em perigo. Póneis que ela conhecia desde a sua infância estavam a ser ameaçados por bandidos. Que poderia ela fazer? Cerejinha precisava de os defender e um mau treino era melhor do que nenhum, e tinha o elemento da surpresa. Mas seria o suficiente para vencer uma manada de cultistas fanáticos?
Parando sobre umas águas furtadas, Cerejinha tinha à sua frente o Canto do Cubo de Açúcar. Em baixo, na rua, o senhor e a senhora Cake, a sua empregada Pinky Pie e uma data de outros póneis estavam encurralados contra um muro por um grupo de fanfarrões.
—Onde está o Efémero? Onde está ele? - perguntou um dos bandidos ao senhor Carrot Cake, ameaçando-o com uma moca.
—Não faço a mínima ideia onde ele está. Já não o vejo à algum tempo. Juro. - recebeu ele como resposta do Sr. Cake. - Ele saiu da cidade há alguns dias. Disse... er... que ia passar algum tempo em... Canterlot. Sim, foi isso. - continuou ele, mentindo.
Cerejinha não sabia se havia de ficar preocupada por outros póneis estarem a ser ameaçados, ou aliviada por aqueles idiotas ainda não se terem apercebido de que o Efémero já tinha sido encontrado. Rapidamente se desfez da sua mochila (Era somente peso morto, na realidade.) e saltou do telhado.
Aterrou no meio do grupo de rufias, mesmo em cima de dois deles. Antes que se apercebessem do que se passava, mandou um coice a um unicórnio que estava mesmo atrás dela e arrancou um pau da boca do que estava à sua direita, imediatamente devolvendo-o ao seu dono com força suficiente para o deixar inconsciente. Um terceiro pónei saltou para cima dela, mas aplicou-lhe uma tal cabeçada que caiu redondo no chão. Deu uma patada lateral num pégaso que mergulhava na sua direcção e virou-se para a esquerda, a tempo de aparar um golpe de outro pónei. Aproveitando o seu desequilíbrio, atirou-o contra um unicórnio que ia a fugir e virou-se para trás. E depois virou-se para a esquerda e novamente para a direita, na expectativa de se defender do próximo a atirar-se a ela.
Cerejinha teve que olhar em volta durante mais um bocado antes de se aperceber do óbvio. A luta tinha acabado. Para além dela e dos habitantes de Poneivile, não havia mais nenhum pónei de pé. Os poucos adversários que não estavam inconscientes encontravam-se a tentar rastejar dali para fora. Ainda admirada pelo seu inesperado sucesso, Cerejinha virou-se para as prévias vitimas e disse-lhes:
—É perigoso ficarem na rua. Vão para casa e tranquem-se até de manhã. Ou até os guardas chegarem, ou algo assim...
Depois ia-se a pôr a caminho da Floresta da Liberdade quando a senhora Cup Cake perguntou-lhe:
—Cerejinha, o que se está a passar? Quem são estes póneis?
—Agora não posso falar. Tenho que... - respondeu-lhes Cerejinha. Então ela apercebeu-se de que... - Como? Mas... Mas você sabe quem eu sou?
—Estás a brincar? Os teus amigos estão constantemente a falar com as paredes. E de vez em quando as paredes respondem-lhes, com a tua voz. - continuou a senhora Cake.
—E todos os dias de manhãzinha desaparecem misteriosamente duas fatias de bolo surpresa de ananás, o teu favorito, apesar de eu própria preferir torta de chocolate, sem que nenhum pónei se lembre de as ter vendido, apesar de o pagamento ter sido feito e de costumarem aparecer misteriosamente marcas de chantili espalhadas pelo tecto, como o rasto de uma lesma de chantili invisível. - divagou Pinky Pie. - A lesma é que é invisível, não o chantili. Isso seria ridículo. Na realidade gostaria de saber ao que chantili invisível sabe. Ummm, chantili...
—E ainda por cima deixas o recibo na gaveta dos recibos de biscoitos. - disse por fim o senhor Cake. - Sabes o que custa procurar um recibo no meio daquela papelada toda? Todos os dias?
Cerejinha ficou tão surpresa que levou o casco à cara com força suficiente para se magoar. Desde sempre soube que só seria apanhada se o seu excesso de confiança a levasse a ser leviana com os detalhes. E no final de tudo foi isso que acabou por acontecer. Apesar de nada de mal daí ter resultado, (Afinal de contas estava entre amigos.) o orgulho dela fazia-a sentir como se tivesse sofrido uma derrota humilhante.


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