A Princesa e o Revolucionário escrita por Elaena Targaryen


Capítulo 9
La Vérité




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Café Musain – Paris, junho de 1825

   O Festival de Verão do dia anterior tinha sido um sucesso, muitos camponeses haviam ido ao castelo para conseguirem comida e conseguiram, mesmo apesar dos protestos de Carlos Bourbon e outros nobres. Enjolras ainda não tinha tirado de sua cabeça o dia em que Belle tinha enfrentado o tio e um nobre. A princesa estava o momento todo supervisionando a distribuição dos grãos junto de seu pai e quando viu o amigo de infância foi logo em sua direção.  Passaram praticamente o festival inteiro um do lado do outro e os Amis não deixaram de notar. Já era quase de tardezinha e Enjolras já havia discursado para eles e agora estavam discutindo alguns planos de revolução quando ouvem barulhos na escada. Para a surpresa de todos não era Gavroche, mas Belle e Pierre. Musichetta vinha logo atrás falando que não tinha conseguido os impedir de subir e logo Combeferre simplesmente disse que estava tudo bem e que os dois poderiam ficar ali. A princesa usava uma capa, provavelmente para sair do castelo sem ser identificada, assim como seu guarda e quando a mulher se pôs a descer a escadaria, Belle tirou o capuz que cobria seu rosto e sorriu para todos, os cumprimentando.

  -Princesa - Jean falou fazendo uma reverência.

  -Por favor Jean, somente Belle e sem a reverência. Agora são meus amigos – ela responde e ele assente.

  -Por qual motivo temos a honra de sua presença aqui, Belle? – Enjolras pergunta se aproximando.

   -Eu preciso falar com você – ela disse respondendo a pergunta e o líder dos Amis rapidamente a convidou para ir naquela “varanda” que tinha.

   -Então, o que você precisa falar comigo? – ele diz se apoiando no parapeito e ela o segue.

   -É um assunto meio delicado...

   -Tente – ele a encoraja

   -Seu pai me pediu para falar com você – ela mal tinha começado e Enjolras já havia bufado e revirado os olhos – Não, pare com isso Enj. Ele está preocupado com você, ele não sabe onde você está morando e se você está bem.

   -Isso é porque ele não quer – ele fala. Enjolras se lembrava  muito bem de quando saiu da casa de seu pai, ele já não era mais o mesmo

   -Claro que ele quer, se não ele não me perguntaria se eu poderia vir falar com você.

   -Você não entende...

   -Tente. – ela repete o que ele havia falado

   -Meu pai não é mais o mesmo, não depois da morte da minha mãe. – ele diz olhando para frente e sente o olhar da princesa sobre ele – Depois que ela morreu, ele ficou meio perdido eu acho, não ligava mais para nada e eu estava sozinho. Você tinha ido para a Áustria de novo, não sabia se a veria mais uma vez e para completar tinha perdido a minha mãe. Só era muita coisa para um garoto de 14 anos, eu precisava dela, precisava dele também, mas meu pai preferiu ficar trancado no escritório dia e noite. – ele continuou – Eu precisava de você também Belle – ele diz olhando para seus olhos – Você não sabe como eu me senti vendo você partir mais de uma vez.

    -Eu sinto muito – ela diz – Eu também não queria partir, você sabe muito bem. – ela continua e chega mais perto de Enjolras o envolvendo em um abraço. Nenhum dos dois queria soltar, apenas queriam recuperar o tempo perdido.

   Sentado em uma cadeira, Lamarque observava a cena. Belle havia lhe contado tudo sobre Enjolras e pelo que via, o garoto parecia se importar com ela tanto quanto ela se importa com ele. Logo viu os dois desfazerem o abraço e voltarem a conversar. Courfeyrac tinha se sentado ao lado dele e os dois começaram a conversar e, pouco tempo depois, já tinha vários garotos sentados perto e ouvindo e participando da conversa. Ele estava contando as histórias de suas lutas, é claro sem dar bandeira de quem ele era. Para os meninos, ele era apenas o Pierre. Lamarque viu que eles estavam no caminho certo, todos eram ótimas pessoas e só queriam o melhor para a França. Contudo o mais importante era que nenhum deles iria fazer mal para a Belle. O plano que eles tinham era muito bom, esperar até um momento oportuno e via que eles não queriam derrubar Luís XVIII, mas sim Carlos. Eles já tinham plena consciência de que seria muito difícil Belle ser a Rainha quando seu pai morrer, com certeza eles iriam a apoiar, mas se não desse certo, Carlos já era. A conversa parou quando ele se levantou ao ver Belle e Enjolras entrar. Ela parou a sua frente e ele percebeu que ela falaria algo.

   -Eu vou descer, tomar um café ou alguma outra coisa. Você fique aqui e conte tudo para eles – ela falou e foi em direção à escada. Ela falou para ele contar tudo para os garotos, ou seja, para ele contar quem ele realmente era.

   -Mas Princesa, você tem certeza? – ele pergunta

   -Absoluta. Estarei te esperando.

   -Belle! Musichetta adora quando elogiam o café dela – Joly dirige a palavra à Belle, sorrindo. Ela faz um movimento positivo com a cabeça e desce as escadas.

   -O que você tem que nos contar? – Feuilly pergunta

   -Bom, eu acho melhor todos vocês se sentarem – ele começa e conta tudo, quem ele é e como foi parar ali.

   De certa maneira, era muito bom que Lamarque contasse tudo para eles, assim eles poderiam tentar evitar que mais barbaridades acontecessem, mesmo que fosse difícil. Contou como Napoleão mandou assassinar uma criança, o que ela tinha passado vendo o verdadeiro Pierre e sua mãe serem mortos em sua frente e como ficou responsável por ela. Lamarque não acreditava na monarquia, mas acreditava que Belle poderia fazer a diferença, afinal, ela é diferente de todos. Pediu para que mantessem segredo e todos concordaram. O general também falou que ele iria mais para o Musain para os ajudar nos planos da revolução e ele pôde ver aquele bando de olhos brilharem para ele. Terminado de falar, Lamarque desceu as escadas e encontrou Belle conversando com um homem que não lhe era estranho. Enjolras, que estava com ele, já ia para perto dela quando Lamarque se lembrou.

   -Bernard! – ele disse chamando a atenção dos dois e foi em direção a ele e o cumprimentou – É bom vê-lo novamente.

   -Digo o mesmo Pierre – ele disse, claramente por causa de Enjolras e Lamarque logo afirmou que ele sabia de tudo e contou para o loiro que ele era o homem que tinha o ajudado na Suíça – Então você deve ser de muita confiança garoto.

   -Claro, se você considera um líder revolucionário alguém de confiança para uma princesa – Belle disse claramente sendo irônica com essa situação – Ele é o Enjolras – ela explica para Bernard.

   -Então você é o famoso amigo dela – ele diz – Prazer em te conhecer

   -O prazer é meu Bernard.

   Não deu muito tempo e Bernard falou que eles deveriam voltar para o castelo. Ele não tinha dito muito como e porque voltou para a França, mas naquele momento isso não importava. Carlos estava reunindo o Conselho para decidir logo o futuro da princesa que deveria cumprir o seu dever de formar uma aliança favorável para o país. Assim, despediram-se de Enjolras, que pediu para Lamarque não deixá-la ir para longe. Lamarque sabia que isso seria difícil, já que a maioria dos nobres a queriam muito longe. Cogitavam casamentos com o herdeiro da Rússia e até com o Imperador do mais novo país, Brasil. Ouviram falar que o viúvo D. Pedro I estava procurando uma nova esposa e é claro, Carlos não iria perder a oportunidade de mandá-la para longe.

   Enjolras não queria que ela casasse. Demorou a admitir, mas com ela de volta, sentia coisas que não estava mais acostumado a sentir. Permaneceu no Musain até todos irem embora, ou quase todos. Grantaire ainda estava lá e viu que seu líder não estava bem e começou a conversar com ele. De início, Enjolras estava relutante em se abrir com ele, mas depois, R ficou sabendo de quase toda a vida dele e seu resumo foi muito simples.

   -Enjolras, você a ama – Grantaire falou – E não como uma prima ou irmã, você a ama como mulher.

   -Não Grantaire, eu amo Belle como uma prima – ele tentou falar mas foi interrompido.

   -Você pode se enganar o quanto quiser, mas está na cara. Ela chama você de “Enj” na frente de todos e você não liga, os seus olhos brilham só quando mencionam o nome dela, sem contar que você fica meio bobão quando está com ela – ele fala se levantando – Encare os fatos, você ama a princesa da França e é melhor você correr. Ou você pede ela em casamento logo, ou ela irá embora mais uma vez – ele diz e vai embora.

   Durante dois dias Enjolras ficou mais pensativo do que o normal. O que Grantaire tinha dito era verdade, ele amava Belle com todas as forças e agora não podia deixá-la escapar. Ele sabia que ela iria para o Musain hoje e não perdeu tempo. Logo depois que saiu da faculdade foi direto para o local e ficou a esperando. Ele iria se declarar e pedir sua mão em casamento. Ele poderia falar com o pai, por mais que não gostasse, com certeza ele iria ajudar e Enjolras poderia comprar uma casa melhor do que a dele para eles morarem. A coragem era o único problema, ficava imaginando se ela rejeitasse o pedido e rejeitasse-o também, se ela iria partir de vez e ele nunca mais a veria. Cada vez que ouvia passos na escada torcia para que fosse ela e quando a viu, terminou de tomar o vinho que tinha no copo – cortesia de Grantaire – e foi em direção da princesa. Ele notou que ela não estava muito bem, sua cara estava um pouco inchada e seus olhos vermelhos. Ela tinha trazido também uma de sua dama de companhia, que estava com um dos braços envolta dela e falando algo baixinho, enquanto Belle olhava para baixo. Quando Enjolras chegou perto, Belle levantou o olhar. Tomou coragem e disse que precisava falar uma coisa importante para ela e Belle disse que também tinha que falar algo muito importante para ele. Vendo que ela estava mais desestabilizada, Enjolras falou para ela falar primeiro, mas não imaginou que levaria um banho de água fria e que seu mundo estava prestes a desmoronar.

   -Eu vou me casar.


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