— Ahhhh. — Ravel se espreguiçou enquanto se levantava, sem nenhuma preocupação. Dois dias tinham se passado desde que ele formou a aliança com as Guerreiras Imortais e, nesse momento, ele estava usando um quarto na mansão delas.

O garoto começou a reforma do dormitório da sua facção, por isso ele e os seus dois companheiros iriam ficar na mansão das suas aliadas por um tempo.

O semestre letivo tinha acabado de terminar e as notas tinham saído um dia depois do fim das provas. Ravel ficou com a terceira melhor nota entre as trinta de sua sala, Luca com a quinta e Vivian com a décima terceira, o que surpreendeu os garotos, que pensaram que ela tinha se saído mal.

Agora era o período entre semestres. Eles não tinham férias em Rieseltia, mas esse período servia para que eles relaxassem um pouco. Em cerca de duas semanas os novos alunos entrariam na escola.

Massageando o pescoço, Ravel saiu do seu quarto. Ele caminhou pelos longos corredores até chegar na sala de refeições. Uma grande mesa se estendia por todo o salão. O garoto estimava que nela caberiam quase quarenta pessoas.

Entertanto, ela estava praticamente vazia, com excessão de uma garota que Ravel não conhecia e Rhonda.

— Bom dia. — Rhonda disse quando o viu.

— Dia. — Ravel retribuiu, acenando também pra outra garota, que acenou com a cabeça.

Um mordomo apareceu de algum lugar e trouxe um prato com comida para o garoto. A mordomia das facções de nível alto surpreendia ele.

— Algum plano para hoje? — Rhonda perguntou enquanto tomava um suco em uma taça.

— Não. Acho que vou na sala de treinamento dar uma olhada. Talvez o Lúcifer sinta vontade de dar uma ajuda para alguém.

A face de Rhonda se mostrou surpresa. Ela não esperava que Lúcifer fosse querer ajudar, assim deduziu que Ravel tinha pedido para ele auxiliar nos treinos.

Um demônio lendário poderia dar várias dicas para melhorar os treinos.

Os dois conversaram enquanto Ravel tomava o seu café da manhã e, logo que ele acabou, ambos saíram para a sala de treinamento.

Eles não demoraram a chegar nela. Diferente da última vez que o garoto tinha estado lá, várias pessoas estavam treinando.

Rhonda, que o estava observando, notou a diferença no seu olhar. Um olhar mais experiente tomou conta da face dele.

— Você tem uma boa coleção de armas sagradas aqui, humana. — Disse Lúcifer observando a sala.

— Você acha? — Questionou Rhonda com um sorriso. — São só quatro.

— Sétimo fragmento de Gungnir. Décimo terceiro fragmento de Almace. — Falou Lúcifer observando Melanie treinar com outra garota, que usava uma espada. Seu olhar se virou para outras duas garotas, que tabém estavam treinando. — Décimo primeiro fragmento de Caliburn e décimo fragmento de Tizona.

— Você consegue identificar todas só de olhar? — Surpreendeu-se Rhonda com o comentário dele.

— Quem você acha que eu sou, humana? — Lúcifer riu com um sorriso cínico.

— Já não está na hora de você me explicar sobre os fragmentos das armas, Lúcifer? — Perguntou Ravel na sua mente.

— O que adianta? Você já deve saber quase tudo sobre elas. — Suspirou Lúcifer. — Um humano não conseguiria portar uma arma sagrada, por isso elas foram divididas em fragmentos. Quanto menor o número maior o poder dela.

— Então o sétimo fragmento da Melanie seria mais forte do que o oitavo fragmento de Gungnir? — Perguntou Ravel curioso.

— Em teoria sim. — Lúcifer respondeu, balançando os ombros. — Mas isso depende do treino de cada um.

Acabando de conversar com Ravel, Lúcifer se voltou para Rhonda.

— Tanto potencial sendo perdido aqui... Vocês humanos não tem a mínima noção de como treinar uma arma sagrada.

— Tem a possibilidade de você nos dar uma ajuda? — Perguntou Rhonda com um leve sorriso. Até mesmo ela se estranhou, tentando conseguir a ajuda de um demônio.

— De uma mão para elas. — Falou Ravel na sua mente.

Lúcifer bateu com a palma da mão na sua testa e suspirou.

— Tsc, vocês tem sorte que eu tenho um trato com o Ravel. — Falou Lúcifer desgostoso. — Reúna todos que estão aqui.

Rhonda chamou todos que estavam presente na sala. Tirando as quatro garotas com armas sagradas, Vivian, Luca e Casandra também estavam lá.

Os olhos de Lúcifer passaram pelo rosto de cada uma das pessoas. Seus olhos mostrando total indiferença.

— Vamos começar com você. — Disse ele finalmente, olhando para Melanie. — Me diga, você é idiota?

A face de Melanie se contorceu, mostrando uma expressão chateada.

— Me explique o que você está fazendo treinando o seu manejo com a lança? Desse jeito você nunca vai conseguir usar o potencial da sua arma.

— O que você sugere que eu faça então? — Questionou Melanie levemente irritada.

— Use o poder sagrado da sua arma, não é óbvio? Isso vale para vocês três também. — Lúcifer encarou as outras três garotas, como se elas fossem idiotas. — Sentem-se de maneira confortável.

Com a ordem dele, as quatro se sentaram, cada uma de maneira diferente.

— Mergulhem na sua mente, na sua consciência e encontrem a sua arma. Traga a energia divina que tem nela para o seu corpo.

Por alguns instantes, o único som que pode-se ouvir na sala era o de respiração. Após não mais do que um minuto, o corpo de Melanie começou a emitir uma forte luz dourada, que foi diminuindo até cercar o seu corpo completamente. Um tempo depois, as outras três também passaram pelo mesmo processo.

— Entenderam? Dentro de vocês existe uma arma sagrada com puríssima energia divina. O que adianta sair balançando ela se você não sabe usar o seu verdadeiro poder? Como eu já tinha falado, o mais importante para um portador de uma arma sagrada é quanto poder você consegue retirar dela.

Lentamente as garotas abriram os olhos e balançaram a cabeça afirmativamente. Elas pareciam ter entendido o que Lúcifer tinha dito.

— Treinem assim todos os dias. É claro, não deixem de lado o seu treinamento com as armas, mas não foquem totalmente nele.

— O quão forte poderemos ficar se conseguirmos usar todo o poder da arma? Seria possível derrotar você? — Perguntou Melanie, ansiosa.

— Quem você acha que eu sou, humana? Você quer me derrotar com um pequeno fragmento como esse? Não me subestime. — Lúcifer sussurrou agressivamente. — No entanto, garanto que vocês conseguiriam me entreter por um certo tempo.

Melanie mostrou uma cara claramente desanimada, o que fez Lúcifer suspirar.

— Você acha isso pouco? Eu sou um imperador demônio. Conseguir lutar comigo por um tempo deveria ser uma grande coisa para meros humanos.

A sua fala não causou o efeito que Lúcifer esperava, mas ele não se deteve nas garotas e olhou para Vivian.

— Manipulação de areia... Um poder forte e flexível. Seu uso com ele não está errado, no entanto, você precisa de um golpe secreto. Algo que quando usado te dê cem por cento de chance de vitória, mas não posso lhe ajudar com isso.

Vivian confirmou com a cabeça, um pouco pensativa.

— De resto, treine a sua capacidade de manipulação e o tempo que você pode manipulá-la. — Lúcifer concluiu indiferente e o seu olhar se moveu para Luca. — Seu controle do poder ainda é fraco. Extremamente fraco. Não chega nem a doze metros.

Em frente a sinceridade e agressividade de Lúcifer, Luca se sentiu envergonhado. Era verdade que ele não estava conseguindo ter muito sucesso no seu treino, mesmo que o fizesse todos os dias.

— Para o seu poder, não adianta você ficar tentando expandí-lo todo o dia, o resultado vai ser mínimo. Você tem que fazer o contrário, para conseguir melhorá-lo. Além disso, se quiser participar de batalhas, ao invés de agir como suporte, treine o seu reflexo o máximo que conseguir.

— Treinar o meu reflexo? O que você... — Luca mostrou uma cara duvidosa, mas quando começou a falar, pareceu ter entendido o que Lúcifer tinha dito. Ele balançou a cabeça afirmativamente, surpreso.

Finalizando os dois, Lúcifer se virou para Casandra. No entanto, ele não falou nada. A garota parecia ter um conhecimento profundo sobre a sua habilidade, então ele não precisava dar nenhuma dica.

— Por fim, você. — Lúcifer, depois de encarar Casandra por um momento, se virou para Rhonda.

— Eu também? — Ela perguntou surpresa.

— Claro. Está achando que não precisa da minha dica? — Riu Lúcifer, sarcástico. Ele esticou a mão para ela. — Me dê a sua espada.

Rhonda estranhou o pedido, mas retirou a espada que estava embainhada na sua cintura e esticou-a para ele, que a observou de perto.

— Você é idiota? Com um poder como o seu, como a espada está com esses arranhões? — Lúcifer questionou lentamente.

A garota contraiu as sombrancelhas, pensando no que ele tinha dito.

— Tem como transferir a minha habilidade para a espada?

— Claro que sim.

Lúcifer devolveu a espada para ela e se virou.

— Vocês já sabem o que fazer. Se vão conseguir ficar mais fortes ou não, isso não me interessa.

Sem pressa, ele saiu da sala, deixando as pessoas restantes pensativas no que ele tinha falado. Se alguém de fora, que desconhecesse o seu poder, visse ele falando assim com alguém de uma facção de nível alto, essa pessoa pensaria que ele estava cavando a própria cova.