Faces de Pedra escrita por Agatha Wright


Capítulo 9
9- A Sombra


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo de transição, após os dois últimos capítulos maiores esse já voltou a um tamanho mais mediano.

No final das contas, eu decidi que o melhor universo para essa história é o universo das séries e dos filmes antigos, conhecido como Prime Universe. Isso significa que Nero não fez nenhum viagem no tempo, Vulcano está e continuará inteiro e ninguém sabe como é a cara de um Romulano até meados da Missão de Cinco Anos. Mas por ser tratar de uma história paralela, não faz muita diferença em que universo a história se passa.

Dito isso, boa leitura!



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Robin ficou olhando para os dados em seu PADD enquanto esperava os oficiais seniores se sentarem ao redor da mesa de reunião. Todos eles sabiam que havia algo de muito errado acontecendo, mas era somente agora que eles iriam receber uma confirmação.

O último incidente com os engenheiros deixou bem claro que não havia lógica nenhuma em ocultar o que poderia acontecer com toda a tripulação a qualquer momento. Após os ânimos terem se acalmado, os próprios engenheiros estavam confusos e até envergonhados de certa forma pela perda tão violenta do controle de suas emoções. Por sorte ninguém se machucou gravemente e Robin apenas teve que fazer alguns curativos e deixar o resto nas mãos do capitão.

Se fosse necessário resumir o estado mental e psicológico do Capitão Sevel naquele momento, poderia se dizer que ele estava desgastado. Ele podia sentir seu controle escapando cada vez mais a cada minuto e como a situação parecia cada vez mais sem saída. Sua nave estava extremamente avariada contando apenas com a força de impulso o que significava uma viagem de meses até o posto avançado mais próximo. E eles ainda não tinham as respostas necessárias para ao menos entregar uma explicação para o comando da Frota Estelar e para as famílias dos tripulantes perdidos.

Após decidir que os envolvidos na briga deveriam ficar restritos aos seus aposentos até segunda ordem, ele recrutou um pequeno grupo de oficiais para analisar o único espólio daquela missão desastrosa na superfície do planeta. Dois tricorders, um dele e o outro do tenente Varen, que ele descobriu mais tarde ter se sacrificado ao desativar os sistemas de defesa da sala de computadores. Se não fosse por ele, o seu grupo avançado e ele teriam sido alvejados sem chance de defesa ao terem se refugiado justamente na sala de controles daquela instalação.

Não demorou muito para os resultados chegarem. Centenas de relatórios do que parecia algum tipo de pesquisa sobre algum elemento químico. Os textos eram complicados de decifrar, mas a lógica e a matemática eram universais e eles conseguiram ao menos ter uma noção superficial do tema da pesquisa. O que no final não dizia nada, até eles conseguirem recuperar alguns arquivos de áudio. E então o estranho idioma dos textos fez mais sentido.

Soava como vulcano, lembrava o vulcano, ao menos o vulcano gólico antigo. Um idioma que não era ouvido em milênios. A sua oficial de comunicações parecia fascinada e colocou os arquivos de áudio para tocar repetidas vezes enquanto murmurava coisas para si mesma. O capitão estava sentindo sua paciência começar a fugir quando a mulher se virou para ele.

“Capitão, eu posso estar completamente enganada nas minhas suspeitas, mas o que ouvimos parece o dialeto gólico dos escritos de Surak. Mas com alterações que parecem artificiais, como se alguém quisesse modificar por si o idioma.”

 “E qual a sua conclusão disso?” Questionou Sevel.

A oficial hesitou brevemente antes de responder.

“Eu não estou realmente certa, senhor. Não haveria lógica em concluir algo com tão poucas evidências. Eu preciso passar esses arquivos no banco de dados para ver se existe algum dialeto ou idioma que se encaixe nisso.”

“Faça isso, comandante.” Concordou Sevel.

Era estranho, mas de certa forma ele estava temendo o que quer que esses registros irão mostrar. Talvez no final de tudo, seria melhor eles terem se arrastado com força de impulso até um posto avançado sem respostas, mas com uma tripulação inteira. Era possível que seu sentimento de exploração e senso de dever estivesse afetando sua lógica mais do que ele esperaria.

***

Na enfermaria o sentimento não era muito diferente. Após o incidente com os engenheiros, Robin e Sakht estavam lado a lado em suas estações de pesquisa com um pequeno time de oficiais de Ciências. E cada descoberta era mais aterrorizante que a primeira. Mas nada se comparou quando o banco de dados médico da Frota deu seu último resultado.

Trellium-D

A princípio Robin e nenhum dos outros cientistas entendeu a agitação do Dr. Sakht quando essa possibilidade surgiu, mas aos poucos as memórias desgastadas das aulas da Academia e dos tempos lendo sobre o histórico das primeiras missões da Terra e de algumas missões cientificas de Vulcano vieram à mente.

Duas naves espaciais. A Seleya, uma nave vulcana de investigação científica que quase poderia lembrar a T’Partha se não fosse pela presença daquela médica humana que era um constante lembrete de que Vulcano não estava mais sozinho em suas missões. E a primeira nave de exploração da Terra, a Enterprise NX01 que marcou os primeiros passos da Frota Estelar nos tempos em que ela era apenas uma instituição da Terra e que agora seus emblemas e insígnias marcavam o uniforme dos vulcanos ali presentes e de várias outras espécies.

Tudo aconteceu há mais de um século. Quando uma arma projetada por uma espécie até então desconhecida para os humanos, os Xindi, atacou a Terra e matou milhões de pessoas. E aquele ataque era apenas um teste, o plano verdadeiro era mandar uma arma maior e mais poderosa e aniquilar a humanidade. Sob essa ameaça, a Frota mandou sua única nave de exploração em uma missão para localizar e parar essa arma que estava em algum ponto de um lugar do espaço conhecido como Expansão Délfica, uma área tomada de toda a sorte de anomalias espaciais que poderiam esmagar uma nave até virar uma lata de sardinha, que poderia virar os corpos e cérebros dos tripulantes do avesso e tudo mais que se poderia imaginar.

Os vulcanos que na época eram a civilização mais avançada tecnologicamente do setor haviam sido os primeiros a tentar explorar essa misteriosa região, mas poucas naves voltaram inteiras e muitas desapareceram. Transmissões enviadas mostraram os tripulantes agindo de forma enlouquecida, atacando uns aos outros, se banhando no sangue daqueles que eram seus colegas. Tais acontecimentos nunca foram esclarecido até o dia em que a primeira Enterprise acabou encontrando a Seleya graças a um pedido de socorro. E o que foi encontrado não era nada bom. Os tripulantes estavam completamente insanos e violentos e no final de tudo a nave acabou sendo destruída e todos foram mortos. Acredita-se que as outras naves perdidas tiveram destinos parecidos.

E o motivo disso tudo?

Trellium-D

Um composto mineral que protegia os cascos das naves que atravessavam a Expansão das anomalias espaciais. Algo muito necessário para garantir a sobrevivência nessa região onde as leis da Física eram irrelevantes. Para os pobres vulcanos que acabaram lá, essa era a escolha mais lógica e que no final custou a vida de todos.

“Isso não faz o menor sentido, como nossos tripulantes podem ter sido contaminados por Trellium-D? Deve haver alguma outra explicação.” Disse Robin olhando em desespero para o Dr. Sakht.

O médico chefe apenas negou com a cabeça. E colocou mais alguns dados no computador.

“Assim que a suspeita surgiu, eu refiz os testes das amostras dos tripulantes e confirmei a contaminação por Trellium-D. E ao repetir com os envolvidos na briga na engenharia, eu constatei um aumento significativo nos níveis.”

“Então significa que isso ainda está aqui?” Questionou T’Aria, a Oficial de Ciências.

“Essa é a suposição mais lógica.” Afirmou o médico.

Um suspiro coletivo tomou o pequeno grupo, sem nenhuma exceção. Humana ou vulcanos.

“Nós precisamos falar isso para o capitão agora.” Disse Robin categoricamente.

Não havia muito o que discutir sobre isso. O grupo recolheu seus dados e se dispersou. Robin foi deixada sozinha o médico-chefe.

“Doutor, o que vamos fazer?”

O médico parecia bastante cansado como se de repente todos os seus anos de vida caíssem sobre ele.

“Tudo o que nos resta fazer é nosso trabalho. Curar. Temos como tratar essa intoxicação, mas...”

“Não vai adiantar de nada se não descobrirmos o que causou isso.”

O médico apenas concordou em silêncio.

“Então! Precisamos passar isso para o Capitão, de alguma forma há Trellium-D nessa nave e todos estão correndo riscos.”

O velho médico nem precisou concordar, pois a voz do capitão soou no comunicador:

Aqui é o Capitão. Todo o pessoal sênior se apresente na sala de reuniões em 30 minutos.”

“Bem, acho que é a hora de dar algumas notícias desagradáveis, doutor.” Disse Robin dando de ombros.

Foi bastante estranho e ela achou que estava imaginando coisas, mas o Dr. Sakht esboçou um sorriso antes de entregar o seu PADD para Robin.

“Essa será sua vez de dar notícias desagradáveis, Robin. Eu estou abrindo mão do meu posto de Médico-Chefe até essa situação ser resolvida.”

A jovem só podia abrir e fechar a boca sem emitir nenhum som por alguns momentos antes do vulcano esclarecer.

“Essa é a decisão mais lógica. Sua fisiologia humana é imune aos efeitos desse composto e dependendo do tempo que levaremos para essa situação se resolver, você pode ser a única pessoa sã o suficiente para dar continuidade ao trabalho. É estranho dizer isso quando eu fui veementemente contra a sua admissão nessa nave, mas é muita sorte temos você a bordo.”

Robin ainda estava sem saber o que dizer e preferiu dar uma leve alfinetada no seu chefe, ou agora subordinado.

“O senhor não me queria aqui?” Perguntou ela com um leve sorrisinho.

O médico apenas ergueu uma sobrancelha.

“Estou grato que meus protestos foram ignorados. Agora vá para a reunião... chefe.”

***

Quando Sevel entrou na sala de reuniões, todo o resto do pessoal estava lá, exceto pelo Dr. Sakht, a médica humana estava no seu lugar. Assim que ele a avistou, pediu uma explicação para sua presença e teve que esconder a surpresa em saber que ela havia sido escolhida para assumir as funções de Oficial Médico Chefe novamente nesse momento de crise. Ele gostaria de ter uma palavrinha com o Dr. Sakht sobre sair promovendo oficiais sem comunicar o Capitão, mas ele tinha que admitir a contragosto que a decisão era a mais lógica.

Ele deixou que cada especialista desse seu relatório sobre o assunto, mas as primeiras surpresas reais, vieram de T’Sai, a Oficial de Comunicações. Ela cruzou todos os textos com o que havia no banco de dados linguístico e encontrou uma combinação, o idioma dos textos e áudio era Romulano. Ninguém da Federação sabia muito sobre esse estranho povo que declarou guerra à Terra e tentou desestabilizar o setor jogando uma espécie contra a outra por anos. Mas no final de tudo o efeito foi o oposto, a Terra conseguiu formar uma coalização de planetas que no futuro se tornou a Federação Unida dos Planetas.

A instalação no planeta deve ter sido construída por Romulanos durante a guerra, mas no que eles estavam trabalhando era algo ainda mais assustador. E foi aí que os resultados da equipe médica entraram no conjunto. Os Romulanos estavam investindo em pesquisas sobre a toxicidade e o uso de Trellium-D como uma arma para derrubar os maiores aliados da Terra na guerra, os vulcanos.

Com o final da guerra e o estabelecimento da Zona Neutra Romulana, essa instalação fora abandonada e a pesquisa descontinuada, mas tudo ainda estava bem ativo e protegido. O que restava saber era o que ou quem havia ativado essa instalação.

Mas isso não era o mais grave no presente momento.

“O que eu quero dizer é que se essa situação continuar, todos os tripulantes dessa nave vão ser afetados. Inicialmente os efeitos serão a desinibição de suas emoções, após isso é esperado surtos de raiva, paranoia e agressividade, então...”

Ela não conseguia continuar, o prognóstico era algo inimaginável para essa tripulação que ela acabou se afeiçoando tanto. Ela tinha acabado de perder seu melhor amigo dentro dessa nave, perder qualquer outro seria mais uma facada em seu coração.

“Continua, por favor, Dra. Wolf.” Pediu o Capitão.

Ela respirou fundo e se recompôs rapidamente.

“Bem, após uma exposição prolongada os danos neurológicos se tornam irreversíveis e no último caso a degeneração neurológica irá afetar as funções básicas e causará a morte do indivíduo afetado.”

Nenhum dos vulcanos emitiu um som, mas a mudança na atmosfera era tangível. Uma grande e mortal sombra estava pairando cada um deles. Essa não era uma ameaça qualquer, era algo que atingia a alma de cada um, sua identidade, tudo que eles conheciam sobre si mesmos.

“Os sensores externos já estão sendo modificados para localizar a fonte de Trellium-D que pode estar nessa nave.” Afirmou o Chefe de Segurança. “É esperado que a ameaça seja removida o mais rápido possível.”

Sevel acenou em compreensão e se levantou.

“Dada a natureza da ameaça e as baixas sofridas em nossa tripulação, a alternativa mais segura será levar as nossas descobertas ao conhecimento da Frota Estelar, então iremos nos dirigir ao Posto Avançado mais próximo em impulso máximo para buscarmos a assistência necessária.”

Não houve nenhum desacordo nesse aspecto, já estava mais do que provado que uma simples nave de investigação científica não teria o aparato necessário para investigar essa ameaça, eles fizeram tudo que poderiam ter feito e a um altíssimo custo.

“Bem, estão todos dispensa...”

A fala do Capitão foi interrompida quando todas as luzes e computadores da sala se apagaram e a nave foi atingida pelos já conhecidos tremores que indicavam algum ataque. Sevel imediatamente tentou se comunicar com a ponte, mas nenhum som veio em resposta, os comunicadores estavam apagados.

“Todos vocês, assumam seus postos de batalha, estamos sob ataque!”

Bem, parece que a sombra que estava apenas pairando sobre eles, decidiu dar seu bote.


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Notas finais do capítulo

Algumas descobertas feitas e dentre elas uma das piores ameaças para um vulcano. O que será que isso significará para a tripulação da T'Partha? Deixe seus palpites e opiniões nos comentários.



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