Faces de Pedra escrita por Agatha Wright


Capítulo 5
5- A Segunda Onda


Notas iniciais do capítulo

Estou muito feliz com os comentários! Espero que continuem gostando da história, ainda mais agora que a coisa vai começar a ficar mais tensa hehehehe.

Enfim, boa leitura!



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Dois dias haviam se passado desde que a engenharia havia sido atingida por uma anomalia espacial. O reator de dobra estava extremamente instável e por isso Sevel decidiu seguir as orientações de seu engenheiro-chefe e desliga-lo. O que significava que eles estavam se arrastando em espaço profundo apenas com força de impulso. Levaria semanas até chegarem na Base Estelar mais próxima e ainda assim eles iriam partir sem descobrir o que causou a tal anomalia o que poderia pôr outras naves em perigo no futuro. Após ponderar todos os riscos e também após uma sessão de meditação extremamente necessária, o Capitão decidiu que eles não deveriam sair do sistema até obterem respostas mais conclusivas. Com isso a T’Partha estava orbitando o último planeta classe M que eles tinham explorado.

“Ponte para o capitão.” Soou a voz de seu oficial de comunicações.

Sevel tirou os olhos das dezenas de relatórios que ele passara as últimas horas analisando atrás de qualquer pista sobre o que poderia ter acontecido nos últimos dias.

“Sevel aqui.” Respondeu ele monotonamente.

“Capitão, sua presença é requisitada na ponte.”

Ele soltou um longo suspiro e tentou expurgar as cada vez mais insistentes ondas de emoções que estavam tentando quebrar sua barreira mental. Isso estava se mostrando bastante incomodo e ele não conseguia entender o motivo de sua rotina não estar sendo suficiente para manter seu controle. De certa forma ele se sentiu grato por arranjar um motivo para se afastar de seu computador e decidiu pegar o caminho mais longo até o turboelevador o que a princípio não parecia lógico, mas também aumentava em 25% as chances de ele atingir a ponte com sua mente completamente concentrada nos seus deveres.

Assim que ele entrou na ponte, foi recepcionado por T’Aria, sua oficial de Ciências.

“Senhor, nossos sensores detectaram um aumento nos níveis de energia na parte oeste do continente norte do planeta.”

“Fonte?” Perguntou Sevel.

“Imprecisa, senhor. Os sensores parecem incapazes de localizar com precisão a origem, o máximo obtido até agora foi um raio de 12,45 Km.”

“Isso é extremamente ineficaz, tente recalibrar.”

“Senhor, eu já fiz isso duas vezes eu mesma. Sou levada a acreditar que há alguma forma de interferência na superfície que está prejudicado a coleta de dados.”

“Esse planeta fora completamente escaneado, nenhum traço de tecnologia fora detectado.”

“Exatamente, senhor. Com exceção dos níveis anormais de radiação, não obtemos nenhum outro dado fora do esperado para esse planeta.”

Sevel se preparou para responder quando fora interrompido por sua oficial de Comunicações.

“Senhor, temos uma situação aqui. Nosso sinal de socorro enviado para a Frota Estelar não atingiu a boia de comunicação mais próxima, na verdade não estou conseguindo detectar nenhum sinal da Frota nas proximidades.”

O Capitão parou alguns momentos para pensar antes de se dirigir a seu piloto.

“Tenente Elieth, em quanto tempo chegaríamos até essa boia na nossa velocidade máxima?”

O tenente fez seus cálculos rapidamente em seu console.

“Cerca de 3 horas e 54 minutos em impulso máximo, senhor.”

Durante seu tempo na Academia da Frota, Sevel teve a primeira chance de conhecer seres humanos além dos relatos de seu pai que havia trabalhado na Embaixada da Terra em Vulcano. Uma coisa que sempre o enervou a ponto de arriscar seu controle emocional, fora a tendência violentamente ilógica dos humanos de se auto atribuir alguma capacidade de clarividência quando estes eram claramente incapazes de qualquer nível de habilidades telepáticas. Os tais “pressentimentos” sempre soaram bastante estúpidos para ele.

Mas naquele momento, mesmo que seu cérebro racional negasse isso com todas as forças, ele poderia afirmar categoricamente que ele estava tendo um péssimo pressentimento.

“Defina o curso, tenente.” Ordenou ele. “Impulso máximo.”

***

“Você vai ficar nessa cama nem que eu tenha que amarra-lo com os cadarços de suas botas!”

Varen olhou para a tentativa bastante falha de Robin parecer mais autoritária do que realmente era.

“Dra. Wolf, eu tenho apenas uma pequena dor de cabeça. Um exame completo irá reduzir meu tempo para finalizar meus relatórios e comprometer a precisão dos meus resultados em mais de 68%, além de tomar ao menos duas horas de seu tempo que poderia ser gasto com outros pacientes em estado mais grave. Além disso, não creio que cadarços seriam uma forma de contenção adequada para os padrões da frota.”

Robin soltou um suspiro e apertou a ponte do seu nariz com os dedos.

“Você não é apenas um caso de dor de cabeça. Você é meu trigésimo quarto caso de dor de cabeça desde que houve o acidente. Os tricoders básicos não estão acusando nada, mas eu já aprendi no tempo que estou aqui, que vocês vulcanos não saem de seus postos por qualquer coisa, o que dirá dezenas de vocês.”

Varen ergueu uma sobrancelha.

“Você não examinou ninguém até agora, por que eu?”

Robin soltou um sorriso malicioso.

“Considere-se o dono do bilhete dourado!” Respondeu ela cutucando seu amigo até ele se deitar corretamente na cama.  “Agora vamos dar uma voltinha na minha fábrica, Charlie.”

Varen fez menção de questionar o que ele acreditava ser uma referência terráquea, mas fora impedido quando Robin ativou o scanner que cobriu seu corpo.

“Interessante.” Murmurou ela ao receber os primeiros dados.

“Algo de errado?” Perguntou Varen assim que foi liberto por Robin.

“Nada alarmante, apenas parece que há alguns desvios nas suas vias sinápticas.” Respondeu ela sem parecer estar direcionando a palavra para alguém especifico.

O jovem vulcano se sentou na cama e encarou a médica.

“Você não considera isso alarmante?”

Robin tirou os olhos do console do scanner.

“Hmm... sim, deve ser estresse ou algo do tipo. Os trabalhos na Ciência devem estar a todo o vapor, certo? Quantos turnos você está fazendo?”

Varen pensou um pouco antes de responder.

“Talvez você esteja certa. Minha rotina fora alterada devido as investigações sobre as causas do acidente.”

Após dizer isso, ele lançou um olhar em direção às camas onde ainda estavam os últimos pacientes mais graves do incidente na Engenharia. T’Lyra estava entre eles, ainda inconsciente.

Robin sorriu para ele.

“Bem, deve ser isso. Vou lhe dar um analgésico e você está livre para voltar aos seus deveres.”

“Eu pensei que ia passar por um exame completo.”

“Você quer passar por um?” Questionou Robin.

Varen não respondeu.

“Foi o que eu imaginei. Dispensado, tenente.”

O jovem não discutiu, mas também não comprou as palavras de sua amiga. Havia algo que Robin não estava querendo dizer.

Assim que ela viu a porta da enfermaria fechar nas costas de seu amigo, Robin tomou uma longa respiração e se dirigiu ao comunicador.

“Dr. Sakht, sua presença é requisitada na enfermaria.”

***

Havia uma tensão estranha na ponte da T’Partha e ela parecia emanar principalmente de seu capitão.

“Tenente Elieth, nosso status?”

O piloto fechou seus olhos e respirou profundamente antes de responder ao seu capitão que estava exigindo atualizações a cada cinco minutos durante todo o percurso.

“Estamos exatamente no percurso programado, senhor. Direção 112 Marco-14.”

“Isso é tudo, tenente.” Respondeu o capitão apertando levemente sua testa com a ponta dos dedos.

Sevel cogitou seriamente dar uma passada na enfermaria por causa dessa incomoda dor de cabeça que ele estava sentindo nas últimas horas e que parecia estar começando a afetar seu raciocínio lógico. Mas ao checar o horário da nave, ele viu que já estava no turno Gamma e que provavelmente ele seria atendido pela doutora humana o que ele estava disposto a evitar. Nas primeiras semanas da missão, ele se viu quase obcecado em caçar alguma falha nos relatórios da médica. Qualquer desculpa que lhe desse o poder de larga-la na Base Estelar mais próxima e terminar com esse experimento tolo do Almirante Johanneson. E mesmo que ele jamais fosse admitir isso em voz alta, a presença dela o desconcertava de uma forma que ele parecia ser incapaz de explicar e isso pareceu piorar quando ele se viu obrigado a recepciona-la adequadamente durante a primeira semana dela em sua nave. Desde aquele dia ele evitou os arredores da enfermaria durante a noite.

Até o acidente misterioso que fez quase um terço de sua equipe de engenharia ir parar na enfermaria. Naquele dia a pequena discussão que ele teve com a médica afetou sua mente de uma forma completamente antinatural a ponto de ele ignorar sua insolência clara, algo que teria rendido no mínimo uma menção nos relatórios oficiais da nave. Robin Wolf significava problemas, ele ainda não sabia exatamente o porquê, mas ele iria descobrir em breve...

Seus pensamentos confusos foram interrompidos pela voz de sua oficial de Ciências.

“Capitão, estou detectando múltiplos destroços nas coordenadas da boia de comunicação.”

“Na tela.” Ordenou Sevel. “Amplie.”

Na tela principal, apareceu o que parecia uma nuvem de pequenos destroços metálicos.

“Escaneie por qualquer assinatura de armas.”

As mãos de T’Aria voaram pelas teclas de seu console.

“Não há nada senhor. Exceto por...” Ela se interrompeu e suas mãos voltaram a passar freneticamente por inúmeras janelas de dados em seus painéis.

“Comandante?” Questionou Sevel.

A oficial de Ciências se virou para seu capitão.

“Eu não posso afirmar com precisão, senhor. Mas fora detectado os mesmos traços de radiação que encontramos no planeta que estávamos orbitando.”

Sevel ficou em silêncio por um momento refletindo sobre essa estranha informação. Agora não era mais algum pressentimento ilógico, havia alguma ligação entre as estranhas assinaturas de radiação no planeta, a anomalia que atingiu a nave e a destruição de uma boia de comunicações da Frota Estelar. Eles estavam quase na fronteira entre o território da Federação e a Zona Neutra Romulana. Algo de errado estava acontecendo e era dever deles como oficiais da Frota investigar a origem.

“Piloto, defina o curso para o planeta onde estávamos.”  Ordenou o capitão.

“Sim, senhor.” Respondeu Elieth.

“Tenente T’Sai, envie um novo sinal de socorro com as atualizações da nossa situação para a Frota. Também libere uma boia com um sinal de alerta em todas as frequências para as naves que passarem por aqui, essa é uma área de risco agora.”

“Sim, senhor.” Respondeu a oficial de comunicações. “Boia liberada, senhor.”

Sevel se voltou novamente para o seu piloto.

“Tenente, pode partir. Impulso máximo.”

Algumas horas mais tarde, eles estavam orbitando o planeta. A equipe de Ciências estava completamente focada em escanear cada metro quadrado da superfície do planeta atrás de quaisquer sinais suspeitos que poderiam indicar a fonte da radiação ou do surto de energia que apareceu nos sensores mais cedo.

O comandante Kovar também podia ser visto disparando ordens atrás de ordens na Engenharia para melhorar os sensores e também para darem um jeito de reestabelecer o fluxo normal de anti-matéria para que eles possam entrar em órbita sem arriscar um desastre nuclear na órbita de um planeta capaz de abrigar vida. As marcas do acidente ainda estavam visíveis e times de reparo se esforçavam para recuperar tudo o mais rápido possível.

Na ponte, Sevel discutia os melhores cursos de ação com seu Primeiro Oficial, o comandante Salvir. Eles estavam em um impasse. A T’Partha era bem equipada para missões de investigação científica de curto a médio prazo. O que significava que eles eram capazes de se defender contra algumas ameaças, mas não por muito tempo sem a ajuda de outras naves da frota. Isso os deixava em uma situação perigosa caso alguma força hostil esteja por trás dos últimos incidentes, mas ao mesmo tempo, eles não tinham condições de chegar rapidamente até o posto avançado mais próximo e vagar por uma distância tão longa os colocaria em risco também caso tal ameaça decidisse persegui-los.

No final o senso de dever acabou falando mais alto para ambos os vulcanos. A T’Partha permaneceria no sistema até descobrir a causa dos incidentes ou até receber uma segunda ordem da Frota Estelar. Os escudos e armas devem ser prioridade juntamente com os melhoramentos nos sensores de curto e longo alcance.

Cerca de 24 horas depois da decisão, alguns dados promissores começaram a aparecer.

“Senhor, os sensores foram modificados para compensar a interferência da superfície. Foi detectado alguma fonte de energia que combina com a assinatura que encontramos nos destroços da boia... e também com...”

A fala da oficial de Ciências fora interrompida pelo tremor de um forte impacto de atingiu a nave.

“Capitão! Fomos atingidos por pulso de energia, passou direto pelos nossos escudos! Há rupturas no casco da ala B, há feridos em todos os deques!”

“Quebre órbita!” Ordenou o capitão enquanto ajudava T’Aria a se levantar. “Manobras evasivas! Alerta Vermelho, todo o pessoal em postos de batalha.”

Talvez humanos não tenham a capacidade de ter pressentimentos, mas Sevel estava considerando a possibilidade que talvez tal habilidade possa pertencer aos Vulcanos.

E isso não era algo de se comemorar.


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Notas finais do capítulo

Acho que tivemos mais Sevel do que Robin nesse capítulo. Creio que agora os outros personagens vão começar a se manisfestar mais, uma vez que toda a vida de uma nave não se resume a sua enfermaria.

Hohohoho os mistérios só aumentam.

Me deixem saber o que vocês estão achando! Os comentários estão aí pra isso XD