Era o dia de finalmente sair novamente com alguém. Eu não me lembro de ter ficado tão nervosa como eu tava hoje por algum encontro, mas eu sabia que esse era diferente. Era a primeira vez que eu saía com alguém após perder David. Já fazia quase um ano, mas eu ainda estava nervosa com isso. Mas não só por isso, mas também por causa desse alguém com quem eu ia sair.

Borden era um cara incrível. Eu sempre o achei simpático e inteligente, mas eu sempre o respeitei por termos uma relação apenas profissional. Isso mudou porém depois que eu perdi David. Ele foi a primeira pessoa com quem eu não tinha proximidade que realmente se preocupou comigo. Foi tão humano e tão admirável sua atitude para comigo depois que tudo aconteceu que nós passamos a ser bem amigos. Porém, após uma missão, eu havia percebido que eu tinha que deixar David ir e dentro de mim eu escutei que eu devia encontrar alguém incrível. Ao escutar a palavra incrível, Borden foi o primeiro nome que veio a minha mente, mas eu não quis confundir as coisas e ocultei isso. Porém, nossa proximidade era notável e estava cada vez mais difícil ocultar minha curiosidade em conhecê-lo mais e melhor.

Eu ainda estava encarando como uma loucura toda essa história de ter chamado-o para sair, mas era só uma saída como amigos, eu pensei. Eu estava arrumada esperando Borden com um vestido azul e uma jaqueta xadrez vermelha quando meu telefone tocou. Era Tasha.

— Quer sair essa noite, Patt? — Ela perguntou sem mais delongas. — Eu e Reade vamos assistir um jogo perto do metrô daqui a pouco. Que tal eu te ensinar hoje o que Cornerback? — Ela concluiu de deboche e eu ri.

— Obrigada pelo convite, Tasha, mas…. — Eu ia concluir quando vi mensagem do Borden dizendo que estava me esperando na portaria — eu tenho compromisso hoje.

Escutei um pouco ela reclamar sobre como eu fugia de entender NFL, mas logo depois ela desejou boa noite e eu já estava na portaria quando desliguei. Também espero que seja uma boa noite, pensei.

Vi Borden me esperando em seu carro e não pude deixar de sorrir. Ele estava de calça jeans preta e blusa cinza, mas com um belo casaco também preto. Fazia um pouco de frio naquela noite. Ele acenou logo que sai na porta e eu adentrei em seu carro.

— Boa noite. — Ele disse acompanhado de seu belo sorriso enquanto ligava o carro.

— Boa noite. — Eu disse em resposta também com um sorriso e o cumprimentei com um beijo no rosto. — Já decidiu para onde vamos? — Perguntei logo que o carro deu partida.

— Eu tenho ingressos pro show do One Direction.... — Ele disse e depois olhou para mim dando uma bela risada.

— Eu sabia que você era fã! — Eu disse apontando para ele e nós dois rimos.

— É apenas uma brincadeira. — Ele disse porfim. — Você gosta de comida italiana? — Ele perguntou.

— Sim. — Eu respondi e ele sorriu.

— Meus avós são vizinhos do restaurante que Giorgio Locatelli tem na Inglaterra e os pratos dele são muito bons. Ele está passando por Nova York e está em um restaurante em um bairro vizinho. Podemos ir lá.

— Claro que sim. — Eu disse super animada.  — Sempre quis conhecer um pouco sobre os pratos dele.

Ele acenou com a cabeça e fomos.

Ao chegar lá, o dono do restaurante nos recebeu e nos reservou uma mesa em um canto mais privado. Eu estava gostando da sensação de sair apesar de no começo estar apavorada. E eu estava em boa companhia. Estava me sentindo bem. Ao chegarmos na mesa, Borden afastou a cadeira para que eu pudesse me sentar e eu sorri para ele. Ele sempre foi muito gentil e isso era encantador.

Ele logo se sentou e o dono do restaurante também veio nos atender. Pedimos um vinho e Borden pediu para nós o especial do chefe do dia. Conversamos sobre coisas aleatórias enquanto tomávamos o vinho e esperávamos o prato.

O chefe da cozinha veio em nossa direção com um carrinho de servir e logo que viu Borden pareceu bem animado.

— Robert! — Ele disse em alto tom com seu forte sotaque italiano. — Vi que era você de longe e não poderia perder a oportunidade de lhe servir. — Ele disse colocando os pratos sob a mesa.

Borden levantou-se para cumprimentá-lo e logo se sentou.

— É um prazer reencontrá-lo. — Ele respondeu.

— Estou vendo que sua vida está boa por aqui, sim? — Ele disse enquanto colocava uma espécie de óleo vermelho dentro dos nossos pratos, curiosamente em forma de coração. — Você parece bem feliz, e está muito bem acompanhado. — Ele concluiu finalmente olhando para mim.

Eu e Borden rimos.

— Posso concordar que sim. — Borden disse olhando para mim e eu abaixei a cabeça, envergonhada, mas sorri.

Ele finalmente colocou macarrão e um molho especial, finalizando com uns pedaços de algo estranho que não reconheci.

— Servidos, senhores. — Ele disse fazendo reverência a nossa mesa e colocou a mão em seu carrinho a caminho da cozinha. — Vocês formam um belo casal.

Nós nos olhamos envergonhados e rimos silenciosamente enquanto o chefe saiu sem nos deixar dizer qualquer coisa. Ficamos em silêncio por um tempo. Eu estava comendo e processando toda aquela conversa até que quebrei o silêncio.

— Essa comida é realmente maravilhosa. — Eu disse por fim enquanto comia.

— Esse era um dos meus pratos favoritos quando eu ainda vivia na Inglaterra. — Ele disse.

Terminamos de comer enquanto conversamos sobre a comida e continuamos conversando sobre o vinho e sobre o clima, que estava ficando cada vez mais frio. Borden olhou pro seu relógio e chamou o dono do restaurante. Aquela era a hora de irmos embora.

Fiquei um pouco cabisbaixa por ter que acabar a noite, pois não me lembrava mais de quando havia me sentido tão bem e feliz por sair com alguém. O dono do restaurante veio até nós e disse que o chefe havia deixado tudo na conta dele. Ele disse que nós éramos bem-vindos e fomos até a cozinha agradecer.

— Aproveitem a noite. — Ele disse e nós sorrimos.

Estávamos saindo do restaurante quando Borden me olhou.

— Então… — Ele disse parecendo meio temeroso. — Você tem pressa em chegar em casa?  Ele perguntou.

— Não. — Eu respondi. — Não temos nada de novo no banco de dados então não devo trabalhar amanhã.

Ele sorriu.

— Você aceitar dar uma volta comigo? — Ele perguntou. — Tem um parque aqui perto com uma lagoa. Podemos circular lá por um tempo caso você queira.

Eu acenei que sim e fomos. No caminho eu perguntei sobre sua infância na Inglaterra e ele me falou sobre seus avós. Estávamos confortável um em companhia do outro e isso era bom, mas eu queria mais. Eu queria que pudéssemos andar de mãos dadas, embora fóssemos amigos. Eu queria sentir suas mãos e o seu toque. Parecia bobagem, mas eu sorri com a imagem de nós dois de mãos dadas ali. Talvez eu estivesse viajando.

Caminhamos conversando sobre brincadeiras de infância e rimos. Estávamos cada vez mais próximos e já havíamos andado metade da lagoa. Eu o olhei e ele parecia feliz. Eu adorava ver ele sorrindo.

— Borden, — Eu disse finalmente cortando o assunto e fazendo o que eu queria fazer. — Posso te pedir uma coisa? — Eu disse o olhando e ele se virou um passo a frente de mim.

— Claro.

— É… Eu posso segurar sua mão? — Disse com um pouco de vergonha olhando-o e ele sorriu para mim.

— Claro. — Ele respondeu e sorriu para mim, me estendeu a mão. Demos a volta na lagoa de mãos dadas, ainda conversando sobre a infância e eu estava ainda mais feliz pelo contato. Aquele parecia um momento tão simples, mas eu estava tão feliz por estar ali.

Demos a volta na lagoa e estávamos voltando para o estacionamento quando uma chuva forte começou a cair. Corremos ainda de mãos dadas em direção ao carro e logo que entramos, rimos para o quão molhados estávamos.

Eu tirei meu casaco para me enxugar e ele ficou rindo de mim.

— Como você vai se enxugar com algo que está molhado? — Ele disse e eu ri, sem consegui responder.

— Obrigada pela noite. — Ele completou. — Por me divertir e me deixar ouvir sua risada.

Eu ainda estava enxugando meu rosto quando ri em seu sentido, jogando minha cabeça em seu ombro e nos olhamos. Estávamos mais perto do que eu havia imaginado e eu não pude não olhar para seus lábios finos tão perto do meu rosto. Foi apenas um piscar de olho e eu o senti.

Aquele era nosso momento mais próximo. Ele estava com sua mão em minhas costas e eu estava com minhas mãos em seu pescoço. Nossos lábios finalmente haviam se tocado. Seu gosto era doce, mas forte. Primeiro nossos lábios apenas se tocaram e nós ainda com lábios um no outro sorrimos. Ao sentir um o sorriso no outro nós nos encostamos de novo os lábios, mas dessa vez nossa língua também se tocou. Seus lábios também faziam movimentos lentos, como quem quisesse que aquele momento durasse mais. Sua língua clamava pela minha assim como eu clamava a sua cada vez mais na minha boca. Um pouco mais e nossas mãos voltaram a estar entrelaçada uma na outra, mas dessa vez não só a mão. Era uma noite chuvosa de dezembro quando ele finalmente me beijou.