Era uma manhã agradável de uma segunda-feira, o que deixava o dia cada vez mais estranho. Ontem, eu havia saído com Ino para irmos ao cinema e a mesma me tratou de uma maneira não típica. Não houve histeria e risadas por coisas bobas e quase não nos beijamos naquela noite. Simplesmente assistimos o filme e fomos pra casa, e quando questionei ao longo da noite o porque de Ino estar assim tudo que eu arrancava dela era um “Só estou com dor de cabeça, Sasuke-kun. Amanhã é um novo dia”. Isso realmente não fazia sentido e nem combinava com a personalidade extravagante e exagerada de Ino.

Lembrei que antes de sair comigo, ela havia ido encontrar com as meninas. Decidi então, visitar Sakura, já que ela era a única normal, aparentemente. Sorri ao imaginar Sakura sendo normal.Provavelmente ela me socaria e mandaria eu parar de ser um chato e deixar Ino em paz e acreditar nela. Meu coração se aqueceu ao imaginar a risada de Sakura e o toque dela em minha pele, mas logo fiz questão de dissipar esses pensamentos da minha cabeça, afinal, eu namorava sua melhor amiga e estava me esforçando para realmente dar a Ino o que ela merecia. Antes de namorarmos, fui sincero com a loira. Eu disse que gostava de outra pessoa mas não poderia ficar com ela mas estava disposto a tentar ser feliz com Ino, de fazê-la feliz.

— É a Sakura, não é? – Lembro de Ino ter me perguntado.

— É mesmo necessário dar nome aos bois, loira?

— Sasuke, só um burro não percebe que você gosta dela. E quando digo burro, digo você e a Saky, que parece que nunca percebeu.

— Ino, ela já te falou algo?

— Não, nunca demonstrou nada, também.

— Então por que eu estragaria nossa amizade por algo que nem é recíproco? Prefiro dar uma chance a quem realmente gosta de mim e tentar ser feliz, já sofri muito nessa vida.

Lembro de Ino ter sorrido e me beijado, prometendo se esforçar ao máximo para conseguir me fazer feliz e eu, de fato, adorava estar com Ino apesar de nossas personalidades conflitantes. Ela tornava tudo mais divertido. Mas não posso negar que às vezes me flagrava imaginando como seria namorar a Sakura...

Novamente afastei os pensamentos românticos sobre minha melhor amiga e decidi ir em sua casa, para que afinal, pudéssemos conversar e ela me explicar o que diabos havia dado na Ino e rirmos e aproveitarmos nossas férias antes de irmos para o ensino médio, onde Saky adorava dizer que seria o começo de nossas vidas e a mudança radical de tudo.

Ou eu estava ficando maluco ou estava pensando em Sakura além do normal pra um dia inteiro e ainda não eram nem 10h da manhã direito. Decidi então sair logo de casa e caminhar em direção a casa da Cereja, que provavelmente ainda estaria dormindo mas eu a acordaria com um travesseiro na cara, como sempre.

A casa dela era há 20 minutos de caminhada da minha, então talvez ela acordasse antes que eu pudesse chegar lá. No meio do caminho, encontro Tenten e Hinata vindo em minha direção, com umas caras parecidas com a da Ino ontem à noite. É sério que a dor de cabeça tá afetando todo mundo nesse bairro?!

— Hey, meninas. Por que essas caras de dor de cabeça pós cinema?

— Mas o que, Uchiha? – Tenten perguntou confusa mas ainda pude notar uma certa tristeza em sua voz.

— Nada, esquece. O que aconteceu com vocês? Ino estava assim ontem, ou mais ou menos assim.

— Onde você ta indo, Sasuke? – Hinata perguntou também com o mesmo tom de voz de enterro.

— Na Sakura.

— Oh. Bom, acho que... Você deveria ir mais rápido, sim? – A azulada me disse enquanto fitava meus olhos de maneira séria.

— Não gostei disso. Não gostei nada disso – falei enquanto mil pensamentos passavam por minha mente.

— Só vai logo, Uchiha. Quem sabe ainda da tempo? – Tenten pareceu agora meio... esperançosa? O que ta acontecendo com essas mulheres, Kami?!

— Cacete, vocês estão me colocando nervoso. Vou até correr. Tchau pra vocês.

Antes que pudesse realmente ouvir um “tchau” das meninas, saí correndo desesperado até a casa de Sakura. Agora sim eu tava com um péssimo pressentimento. Cheguei em pouco menos de dez minutos, o que particularmente foi um recorde. Toquei a campainha enquanto bufava na porta. Em alguns segundos, a senhora Haruno apareceu.

— Oi, tia! A Saky tá aí?

— Você quer entrar pra tomar uma água, Sasuke? – Ela perguntou sem nem me dizer oi. Péssimo sinal também.

Aceitei e fomos direto para a cozinha e logo em seguida ela me trouxe água num copo rosa de elefantinhos de Sakura. Ri ao lembrar da primeira vez que a vi bebendo água nesse copo e ela atirou a água em minha cara.

— Querido, Sakura deixou uma coisa pra você – ela disse enquanto cortava meus pensamentos.

— Sakura não está? O que houve?

— Apenas leia, Sasuke... Vou ao banheiro enquanto isso.

Ela saiu e me deixou sozinho. Ao encarar de fato o papel, percebi que era uma carta. Sakura nunca me escrevia cartas. Abri o envelope e por fim, li o que dizia.

“Sasuke, meu irmão

Bom, você deve estar estranho o fato de eu ter escrito uma carta pra você, pois eu sempre falei tudo que precisava diretamente pra ti, mas hoje é diferente. E vai ser diferente por uns anos... Eu estou indo embora, Sasuke-kun. Vou estudar por uns cinco anos na Suíça. Eu não te contei nada porque eu... fiquei com medo, Sasuke-kun. Medo de sua reação. Não que você fosse me bater ou algo do tipo... É que... Olha, eu sempre quis viajar por aí e você sabe, e meu pai me deu essa proposta de estudar fora e eu aceitei. Aceitei em partes pra poder crescer como pessoa e como profissional, mas em partes porque... Porque... Porque eu não sei lidar com o que eu sinto por você, Sasuke. Eu tentei, mas quando você e Ino começaram a namorar isso tudo me deixou triste e logo depois meu pai me ofereceu isso e... Eu decidi ir. Pra eu poder também voltar a te enxergar como um irmão, que é o que sempre fomos. Eu nunca te contei antes porque eu não queria te perder. Nunca contei pra ninguém, nem pra Ino. Na verdade, disse pra ela ontem à noite e ela me pediu pra que te contasse, não só ela como minha mãe também. Então, é isso. Estou indo embora, não tive coragem de te contar e eu te amo. Eu sinto isso desde que te conheci, desde que eu me sentia perdida nos teus olhos ônix e do jeito que você sorria pra mim. Mas eu entendi que não podia te ter e fui impulsiva na hora de tomar todas essas decisões. Você sabe que não sou boa em pensar sob pressão, não é? Mas já está feito e eu não volto atrás com a minha palavra (aprendi isso com o Naruto, culpe ele). Eu... prefiro que a gente não se fale durante esse tempo, para que você também possa me perdoar por ter sido tola e agido de maneira mais infantil. Ok, temos 14 anos e eu fiz disso uma novela mexicana, mas... Que droga, eu simplesmente te amo! Eu te amo muito! Me perdoa, Sasuke. Eu volto e espero que até lá, você consiga aceitar que você tem uma “irmã” inconsequente, impulsiva e dramática... Quero que você seja feliz com a Ino ou com qualquer outra garota que aparecer. Desculpa por estragar nossa amizade. Preciso ir agora...

Com carinho e amor de sua eterna irmã (mesmo que você não queira)

Sakura.”

Ok. Ok. Novamente, ok. Sakura me ama, Sakura foi embora porque é maluca e misturou tudo, Sakura me ama, Sakura só volta daqui a 5 anos, Sakura me deixou abalado, Sakura me ama. Sakura me ama. E eu amo Sakura.

— EU SOU UM GRANDE IMBECIL! – Gritei enquanto socava a mesa da família Haruno.

— Sasuke? – A mãe de Sakura apareceu rapidamente. – Tá tudo bem?

“– Não, tia. Eu sou um boçal. Nunca contei pra Sakura que gostava dela porque achei que ela não gostasse de mim e que eu ia estragar tudo. Ino sabia disso mas a Sakura só contou pra Ino ontem dos sentimentos dela por mim. Eu namoro a Ino pra tentar ser feliz e valorizar quem me ama mas a Sakura me ama. E eu amo a Sakura. E eu to surtado e fazendo drama e eu não to mais me conhecendo porque eu to em choque e to falando tudo isso mentalmente porque eu sou um trouxa que não sabe demonstrar sentimentos direito devido a traumas familiares.”

Foi o que pensei naquela hora, mas tudo que eu consegui dizer foi:

— Eu acho que sim. Não tenho tanta certeza. Preciso ir.

Saí em disparada pra casa de Naruto, sem dar chances de me despedir da Senhora Haruno. Ele provavelmente sabia também e era o único que eu confiava além de Sakura para demonstrar qualquer sentimento mais profundo. Ao chegar lá, toquei a campainha desesperado. Logo um Naruto sonolento atendeu a porta.

— Sasuke? O que tá fazendo aqui? Essa hora da manhã, cara. Ainda é madrugada, se meus pais tivessem em casa iam brigar contigo por ser um louco e...

— Naruto, cale a boca – cortei-o. – Me diga, você sabia da Sakura? De tudo?

— Que?

— Sakura me ama. Sakura foi embora. Sasuke imbecil. Você sabia disso?

Naruto me fitou e me convidou para entrar e fomos direto para o quarto dele. Sentei na cama, respirando fundo.

— Teme, eu soube ontem à noite pela Hina-chan. Ela pediu que mantesse em segredo pois a Sakura não queria que você soubesse e ela me disse que a Ino pediu que ela contasse a você, então esperei. E pelo visto, ela contou...

— Contou numa carta, Naruto. Ela se despediu de você?

— Ela me ligou um pouco depois que a Hina-chan saiu daqui dizendo que ia viajar mas logo voltava, não contei que a Hina tinha me dito tudo, não queria piorar algo ou sei lá.

— Vamos aos fatos, dobe. Eu e Sakura sempre gostamos um do outros mas nunca contamos um para o outro pelos mesmos medos e agora, ela foi embora porque eu comecei a namorar a Ino.

— Bom, Sakura também queria estudar você, sempre falou isso.

— Sim, quando fosse mais velha. Ela foi impulsiva por um medo bobo que os dois compartilhavam e não sabiam...

— Tá querendo culpar alguém?

— Não. To querendo parar de sentir meu peito doer.

Então eu abracei Naruto e me permiti sentir naquele dia, tudo de tristeza que eu poderia. Sakura me ajudou, junto com Naruto, quando meus pais faleceram num acidente de carro, quando Itachi sofreu para finalmente conseguir minha guarda legal, pois ele ainda tinha 18 anos na época e não tinha um emprego fixo, quando tudo estava ruim eu ainda tinha eles. Tinha ela.

— Teme, ela vai voltar.

— Eu sei. Mas eu...

— Eu sei, Sasuke. Eu sei que você é apegado demais a ela, sei que ta doendo mas você sempre foi racional. Tente ser agora. Por ela, por você e pela Ino, está bem?

Naruto foi sábio uma vez na vida. Fiquei surpreso.

— Certo.

Depois de passar o dia com Naruto, fui pra casa. Ao chegar no meu quarto, chorei até dormir e a única coisa que consigo lembrar do final daquela noite, foi do meu último sussuro antes de apagar.

— Eu te amo, Sakura.