Maldição dos Deuses escrita por Nephilim Imortal


Capítulo 5
Janeiro * Como se fosse um acampamento comum




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Depois de um dia cheio de coisas novas e malucas, vocês esperam que minha mente fosse descansar um pouco? Pois estavam enganados. Tive sonhos horríveis.

Nele eu estava em uma lugar escuro próxima de um caixão de ouro com muitas figuras de morte e guerra desenhados, letras gregas entalhadas, que não tive tempo de ler, pois ao meu lado uma voz avisou para não me aproximar.

Virei-me exaltada, e lá Percy, o garoto, filho de Poseidon. Carregava uma espada e usava a camiseta laranja do acampamento meio sangue.

“Percy o que você está fazendo aqui?” - perguntei

Ele não respondeu e outra garota apareceu atrás de nós. Ela era mais velha, certamente, uns catorze ou quinze anos. Tinha cabelos mais negros que a noite, com mechas azuis em partes do cabelo. Usava rímel e lápis e roupas pretas, parecia gostar muito de rock. Carregava junto a si uma lança. Assustada exclamou:

“Fique longe disso, por favor, você ainda é muito nova, eu tenho que cuidar disso”, ela olhou então para o moreno que parecia tão confuso quanto eu. Ela continuou: “Cabeça de Alga, e aí, um de nós tem que agir! Quem vai ser, hein?

Percy permaneceu parado, sem dizer nada. Logo em seguida chegaram ao cômodo escuro, mais duas crianças, uma menina e um menino. Eles eram parecidos. Os dois com os cabelos escuros e pele pálida. A garota usava uma toca verde e roupas pretas, um ou dois anos mais velha que eu. O garoto tinha um olhar inocente e parecia ter a minha idade. Ele era muito bonito, mas eu não tive muito tempo para observá-lo.

A garota de toca verde disse: “Você não sabe, por favor, fique longe! Não é você!”

“Você é quem não sabe de nada aqui. Eu ou o Cabeça de Alga temos que fazer isso! E então como é que vai ser?”.

A garota continuou ao ver a expressão perdida de Percy:

“Ah!! Tudo bem!! Deixe comigo e Aegis!!

Com isso deu uma batida no pulso e um escudo assustador se abriu, com rosto horrendo de um monstro esculpido em bronze. Com lança e o escudo em mãos ela, heroicamente caminhando em direção ao caixão dourado. Todos na sala estavam paralisados. No momento que a garota abriu o caixão Percy gritou: Não!!. Mas, já era tarde demais.

Ela arregalou os olhos e ficou olhando fixamente para o que havia dentro da caixa. De repente o caixão começou a brilhar, enquanto a menino tremia e murmurava:

—Não, não pode ser.

Ouviu-se então uma risada vinda das profundezas da terra, que fez todo o cômodo tremer.

—Não!! – gritou a menina, no momento que o sarcófago a engoliu numa explosão de luz dourada.

...

—Ah!!

Sentei-me na cama e estava ofegante devido ao pesadelo. Demorei alguns segundos para raciocinar onde estava. Vi então inúmeros beliches e baús e acabei lembrando que estava no chalé 11, no Acampamento Meio Sangue. Queria muito saber onde estava minha mãe e meu padrasto, será que estariam seguros?

Na verdade, eu não queria estar ali! Não queria ser uma meio sangue. Não queria nada daquilo. Queria ir para casa continuar sendo uma isolada social. Sempre gostei de histórias de aventura, com heróis e perigos, mas a vida real tornava tudo muito menos divertido, preferia quando estava tudo no papel.

Ainda estava ofegante e percebi que todos ainda dormiam. Tentei focalizar a minha visão e percebi que em cima do baú da Mih, tinha um relógio. Eram 6:30. Miranda me disse que todos acordavam as 6:45 para ir até o pavilhão as sete. Faltava pouco tempo, olhei para os lados. Miranda estava dormindo, assim como Travis e Connor e um garoto que eu conheci, chamado Chris Rodriguez. Virei e tentei esquecer as cenas do pesadelo.

...

Todos acordaram e se trocaram. Eu não gostava de estar lá, mas começava a gostar do chalé 11. Todos eram muito animados e amigos, não posso deixar de mencionar que eram travessos. Gostava também de Michael e de Percy, que tinham sido tão acolhedores. Fomos para o pavilhão. Diferente do que eu pensava, o café da manhã não era tão “organizado” quanto a janta. Claro que cada chalé ia junto e a comida já estava nas mesas, mas não tinha nenhum responsável, nenhum brinde, e os chalés tinham que ir com todos os integrantes a hora que quisessem, segundo me explicaram.

A comida do café era tradicional. Na mesa haviam frutas, pães salgados e doces, ovos, sucos, entre outros. Estava uma delícia. Nosso chalé demorou muito a sair porque estávamos falando demais e alguns demoraram para comer por estarem ainda com sono.

—Giovanna, você não dormiu bem, não é? – perguntou Bruno.

—Não exatamente.

—Pesadelos?

—Aham, muitos.

—Pesadelos sempre tem um significado, cuidado. – disse ele com um sorriso sombrio.

—Como assim?

—Pesadelos para nós, não são como pesadelos para outras pessoas. Para os meios sangues os pesadelos sempre são avisos do que vai acontecer ou algo que está acontecendo no momento do sonho. Durante a noite sua mente pode viajar, de acordo com a vontade dos deuses. – explicou-me Miranda.

Vish! Aquilo não era nem um pouco bom. Ainda mais porque eu não entendi nem sequer uma vírgula do meu sonho. Tentei não pensar nisso e não parecer preocupada o que não era fácil.

—Bem – disse – para onde iremos depois de sair daqui?

—Eu não sei qual é o programa de hoje. – Bruno comentou.

—Ei, Travis!! – exclamou Miranda – Qual é o programa de hoje?

—Não sei, você sabe Connor?

—Não... Chris você sabe?

—Bem, pelo que eu saiba, hoje o chalé 11 ficou primeiro com a arena de treinamento para esgrima, depois temos aulas de arco e flecha com o chalé 7 e depois, todos os chalés tem a tarde livre para terminar suas bigas.

—Bigas? – perguntei

—É – respondeu Chris – Teremos uma corrida de bigas. Você sabe não é? Aquelas carruagens gregas puxadas por cavalos que são abertas atrás?

—Sim. Mas é que elas são muito legais!

—É, eu sei. Pena que você chegou ontem e não vai dar tempo de construir uma. Se eu não tivesse um parceiro, você poderia ir junto.

—Obrigada Chris, mas acho que vou só assistir.

—Isso mesmo!! Conosco! – disse Miranda.

—Vocês não vão participar?

—Não, aí você aproveita e conhece minhas outras amigas.

—Ah não!! Aquelas chatas! – disse Bruno

—Cala a boca – disse Miranda – Você vai conhecê-las e depois vai falar o que acha.

—Ok – respondi

Connor e Travis se levantaram:

—Gente temos que ir agora. – disse Connor

—11, para a arena em fila!! – gritou Travis.

Com isso nós nos reunimos em fila. Vi Percy e aquele outro garoto de um olho só (mais tarde fiquei sabendo que ele era um ciclope). Percy estava com olheiras, imaginei se teria dormido mal como eu. Nossos olhares se encontraram e percebi que ele tinha que conversar comigo e pelo que pareceu ele teve o mesmo pesadelo que eu. Mais tarde, tinha que passar em seu chalé para que pudéssemos conversar.

...

Chegando na arena, todos nós vestimos armaduras extremamente pesadas.

—Como é que se anda com isso aqui?

—Eu sei que é pesado. – disse Bruno, que olhou para mim e fez uma careta – Venha aqui, para que eu possa arrumar sua armadura. Você colocou tudo errado!

Fui até ele, que começou a trabalhar nos diversos fios de couro presentes ali. Olhava para ele enquanto isso, eu não posso mentir, ele era até que bonitinho, só um pouco gordinho e baixinho demais, mas não deixava de ter um rosto bonito, além de ser legal. Quando acabou disse:

—Pronto.

Depois olhou para o meu rosto e arqueou as sobrancelhas dando um sorriso:

—Que?

—Ahn? – não entendi.

—Por que você está me olhando desse jeito?

—Que jeito?

—Sei lá, parece que está me avaliando.

—O que? EU?

—É você mesma

—Cala a boca seu bobo!

Nós dois rimos para descontrair o clima. Nosso instrutor era Chris Rodriguez, que não parecia muito animado, estava na verdade, preocupado e pensativo.

Começamos com estocadas e cutiladas básicas, usando bonecos de palha. Acho que fui bem. Pelo menos não pareci uma retardada. O problema é que eu não conseguia achar uma lâmina que se adaptasse as minhas mãos. Eram pesadas demais, leves demais ou compridas demais . Chris fez o melhor que pôde para me ajudar, mas concordou que teriamos de buscar mais ou que talvez uma lâmina especial tivesse que ser feita para mim.

Passamos adiante, para o duelo em duplas. Chris anunciou que seria meu parceiro já que era minha primeira vez.

—Boa sorte – disse um dos campistas. – Chris teve um exelente professor. O próprio Luke e Ethan que lhe ensinaram todas as técnicas de luta.

—Quem é Luke? – perguntei. Um erro, pois todos ali fecharam a cara e ficaram meio melancólicos.

—Depois te explico. – sussurrou Miranda.

—Bem – mudei de assunto – Talvez ele pegue leve comigo, já que sou iniciante e uma garota.

O campista riu, desdenhoso.

Chris me mostrou as estocadas, paradas e defesas com escudo do jeito difícil. A cada golpe eu estava um pouco mais cansada e meu ferimento no pescoço voltava a latejar.

—Mantenha a guarda alta – dizia ele, então me atingia com força na costela com a parte chata da lâmina. – Não, não tanto assim!  - Plaft! Plaft! – Ataque – Plaft! – Agora recue! 

Ele por fim pediu um tempo e todos fomos beber água gelada

—Ok. Todo mundo em círculo – ordenou Chris –Vamos duelar.

Depois de alguns campistas muito bons duelarem, eu já estava impressionada. Nunca lutaria como eles, eram muito bons.

—Giovanna Halles e Larissa Bathis.

Eu me levantei com cara de cachorro assustado que dava confiança a qualquer oponente. A espada estava pesando em minha mão. Mal equilibrada. A luta começou e eu não esperava que a tal de Larissa fosse tão ágil, ela tinha a minha altura, porém era muito mais rápida do que eu. Mesmo assim consegui desferir alguns golpes dos quais ela desviou apenas no último momento. Meu ataque estava melhor que o da menina conforme a luta foi avançando meus pés se firmaram melhor no chão e eu planejava meus movimentos melhor que ela. Escolhia o momento certo. Mas a luta acabou rápido, pois quando consegui avançar, ela me surpreendeu fazendo a espada pular da minha mão, retinindo contra o mármore.

Fiquei chateada com aquela espada tão desequilibrada e minha inexperiência que fizeram todos aplaudirem a vencedora. Era a primeira vez que ela desarmava alguém.

Depois fiquei sabendo que Larissa é bem experiente com a espada e todos estavam levantando hipóteses do tempo que eu levaria pra vencer os mestres por minha performance na luta.

—Os instintos de um semideus não falham  - acrescentou Chris.

...

Depois da aula de esgrima saímos da arena bebemos mais alguns litros de água e fomos novamente em fila para o campo de areia. Estávamos todos suados e eu particularmente, estava morrendo de dor, calor e cansaço.

Já não estávamos mais de armadura, então colocamos munhequeiras, caneleiras e luvas sem dedos de couro. Pegamos arcos e alijavas com flechas no arsenal. Logo em seguida o chalé de Apolo chegou. Avistei Michael que seria nosso instrutor para aquela aula. Ele me viu também e disse sorrindo:

—Oi Giovana!! Tudo bem?

—Tudo ótimo e você Michael?

—Também.

A aula por fim começou e vou te dizer que nunca tinha visto alguém tão baixinho ser tão mandão, quer dizer, esta não é a palavra certa, ele era um ótimo professor, dava dicas e gritava quando Travis e Connor faziam bagunça. Andava entre nós com o nariz empinado e nos corrigia.

Eu adorei a aula e acho que me dei bem no arco e flecha, pelo menos foi o que pareceu. Micahel passou:

—Isso Giovana, muito bem. Todos vocês deviam ser como ela. Dedicados desde a primeira aula.

Eu corei. Depois quando ele passou de novo:

—Isso, isso, levantei um pouco o queixo – aconselhou ele  - estique totalmente o braço. – Depois de mais alguns tiros ele disse – Bem, agora recolham as flechas que estejam a vista e se reúnam em um círculo aqui!

Depois que Michael conseguiu organizar a bagunça e fazer com que todos parassem de falar começou a demonstrar como atirar realmente para as pessoas que não haviam aprendido. Estavmos em muitos, todo o chalé de Apolo mais todo o chalé de Hermes. Éramos quase 80 ao todo.

Michael mostrou apenas o tiro simples como ele chamou. Disse-nos que no dia seguinte iria nos mostrar o tiro “rasteiro”. Reclamou também que o chalé de Hermes não estava progredindo e que tínhamos de treinar mais, avisou que aquele momento com o chalé de Apolo era apenas por problemas técnicos. Nós não tínhamos nível para ter a aula de arco com eles. Eu apenas ri. Com isso a aula acabou e eu fiquei esperando por ele, enquanto retirava todos os meus equipamentos de couro.

—Adorei a aula, professor.

Nós dois rimos.

—Pare com isso Giovana – e continuamos rindo. – Está tudo bem com você? Encontrou alguém legal no chalé 11?

—Ah sim. Acho que já estou até começando a gostar de vocês, malucos. Mas, ainda não consigo acreditar que sou uma meio sangue.

—Isso porque você não foi determinada ainda. Isso vai mudar daqui a pouco, quando seu pai te assumir. Bem que você podia ser filha de Apolo.

—Porque?

—Assim, você seria minha irmã.

Nós dois rimos.

—Se isso foi um elogio do tipo gosto muito de você ou você já é minha grande amiga, obrigada, você também é.

Ele deu uma risadinha.

—Já fez novos amigos?

—Só Miranda, a filha de Hermes e Bruno que também é filho de Hermes.

—Está se esquecendo de mim?

—Não, é que você falou novos e você eu já conheço desde ontem.

—Então eu sou um amigo velho?

—Não foi isso que eu quis dizer. É que parece que a gente se entende conversando. Parece que a gente já conversa a muito tempo.

—Gostei disso – ele riu.

—Hoje a gente não pode conversar muito, tenho que acabar minha biga e ver se os cavalos estão bem, mas podemos almoçar juntos e se você estiver livre pode ir até a oficina comigo, assim conhecerá Will.

—Fechado. Michael, tem algum telefone aqui para eu falar com meus pais, estou muito preocupada com eles e certamente eles comigo.

—Como se esse fosse um acampamento comum

...


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