O Último Pôr do Sol escrita por Cloo Muller


Capítulo 4
Passado Escondido


Notas iniciais do capítulo

– Boa noite meus leitores ♥ Não sei o que falar aqui ...
— "Digitar"
— Enfim, até aqui as coisas andam um tanto quanto enroladas. Mas, prometo que no próximo cap, irei sair desse ritmo monótono.
— "Chega de enrolação, vamos para A Leitura do Dia" :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/702081/chapter/4

A luz do sol vinda da janela transparente como água limpa – mesmo após a tempestade da noite anterior – faziam os olhos de Yohanna arderem, conforme seus sentidos iam despertando calmamente. Primeiro vinha à claridade, depois o aroma familiar que todos os hospitais tinham em comum, em seguida, o fino lençol sobre sua pele alva e a macia cama onde se deitava. Por fim, as lembranças da noite anterior. Ainda com os olhos fechados, uma única lagrima escorrega do olho esquerdo para seu rosto. “David. Minhas pernas... Sarah?

Abrindo os olhos lentamente, girou a cabeça em direção à janela e para a poltrona vazia. Estava só. Seu desejo naquele momento era saber ao menos as horas, mas o único relógio era pequeno com um formato arredondado e estava virado para a poltrona em cima do criado mudo á poucos centímetros e Yohanna deveria sentar-se para talvez alcança-lo, foi o que fez, sentou-se na cama com esforço, e com mais esforço tentou equilibrar-se no braço esquerdo enquanto esticava o direito o máximo possível para alcançar o objeto, infelizmente perdendo o equilíbrio caiu no chão gélido do hospital, uma pontada aguda na cabeça a fez gemer baixinho.

— Com licença. – Uma jovem enfermeira disse ao abrir a porta do quarto carregando uma bandeja com frutas. Parou imediatamente ao perceber o sumiço da paciente – Mas,...

— A-Aqui... – Yohanna ergueu as mãos para que a enfermeira pudesse vê-las. Sem pensar duas vezes, ela largou o que trazia nas mãos, em cima do criado mudo do lado direito da cama e oferece a mão para Yohanna levantar-se. – Minhas pernas... Eu não...

— Ah, desculpe! – A jovem disse – Vou chamar alguém para te por na cama. – Saindo em disparada do quarto, chama o primeiro doutor que aparece. Branco de olhos puxados e de madeixas escuras, ele era o dobro de tamanho que a enfermeira. – Obrigada. – Ela agradece seguindo de volta ao quarto, acompanhada por ele as pressas.

— Aí! – Yohanna estremece quando é posta novamente na cama pelo doutor. – Minha cabeça está latejando. – Reclama enquanto um travesseiro é posto entre ela e a cabeceira da cama.

— É devido a pancada do acidente, e... – Ele a observa curioso, com seu rosto evidentemente envelhecido. – Como foi parar no chão?

Após Yohanna explicar ao medico.

— Entendo... – O doutor pegou um prontuário, correndo os olhos por cada linha rapidamente. Yohanna olhou para o crachá do homem “Dr. Fukushima.  – Você não corre perigo algum, mas, lamento dizer que as chances de recuperar os movimentos das pernas são de apenas dez por centos, o que irá depender muito da sua força de vonta...

— Então eu não vou ficar paralitica? – Yohanna sente a cabeça latejar um pouco mais quando ela sorri, o que a induz á por a mão sobre a cabeça.

— Como estava dizendo. Isso irá depender da sua força de vontade. Daqui dois dias vamos realizar uns exames e fisioterapia, se não mostrar sinal de melhoras em duas semanas, mínimos que seja, o tratamento será interrompido e a Srtª será liberada do hospital. – O doutor faz uma pausa antes de continuar – As despesas ficaram por conta da empresa IMCity, a administração me pediu que lhe entregasse este envelope. – O envelope era grande, tamanho A4, a ruiva pegou o envelope, enquanto o Dr. se retirava do quarto. – Sugiro que a descanse bem e se alimente muito, passarei aqui novamente amanha.

A enfermeira com o crachá “Estagiaria posicionou uma mesinha com a bandeja de frutas. Ficando ao lado de Yohanna até ela terminar o lanche, e retirou-se logo após. Sozinha novamente, Yohanna suspirou profundamente aliviada “Posso recuperar minhas pernas, e em menos de dois segundos já estava se vendo correr pela reserva florestal como sempre fazia, sentindo as lembranças do vento no rosto, a brisa refrescante das madrugadas de verão, o frio intenso das madrugadas de inverno – que se aproximava de pressa. Seus pensamentos foram interrompidos ao lembrar-se do envelope ainda no colo. Abriu-o cautelosamente, a primeira folha era assinado pela direção, nela foram pedidos de desculpas adiantadas e que esperavam sua compreensão. O segundo a deixou completamente perplexa.

“Carta de demissão

 

***

Sarah estava no quarto de seu irmão David e seus pais, Angelina e William Madison, discutindo sobre o futuro da empresa Top Model Summer.

— Sarah, você não é mais criança. – Uma mulher branca de cabelos negro amarrados em coque e tinha belos olhos verdes, apontava o dedo indicador para o roto da filha.

— Por que todo mundo diz isso? Eu sei que não sou mais criança. – Sarah esbravejou. – Sou sua filha, mas isso não significa que sou obrigada a assumir aquela empresa.

— Escuta aqui sua... – Angelina interrompeu-se ao sentir uma mão calorosa pousando sobre seu ombro direito.

— Querida! – Um senhor moreno de madeixa branca e olhos castanhos, falou suavemente. – Aqui não é o melhor lugar para discutir assuntos empresariais. Nosso filho está aqui, acredito que ele não suportaria ouvir toda essa agitação desnecessária. – Dito isso se aproximou de David e acariciaram seus cabelos escuros, o semblante do jovem era tranquilo, despreocupado. Angelina também se achegou ao filho, tocando sua mão esquerda. – Somos uma família. Imperfeita e cheia de defeitos, mas temos que manter a calma. – William era o mais sensato dos três, e David herdara isso dele. – Sarah? Vem comigo por um momento?

Ambos seguiram porta a fora, deixando Angelina e David a sós, andaram por mais alguns metros até chegarem ao corredor do elevador, em silencio desceram para o térreo, onde havia uma cantina aberta e o vento gelado sopravam sem piedade, fazendo com que Sarah esfregasse os braços nus que o vestido não cobriam.

— Vai querer alguma coisa? – William perguntou à loira, que somente balançou a cabeça negativamente. – Eu também não. – Sorriu, ajeitou-se na cadeira suspirando fundo. – Sarah, minha filha. Eu sei que você ainda é jovem para assumir tamanha responsabilidade. Mas eu e sua mãe estaremos lá. Você tem que entender...

— Entender o que? Querem que eu assuma a cadeira do meu irmão. Você mais que ninguém sabe o quanto David ama aquela empresa e também sabe o quanto eu não quero fazer parte disso. Eu quero desfilar, quero ser uma modelo e não gerenciar eles. – Sarah estava angustiada, não queria mais ouvir “Você tem que assumir a presidência, você tem que aprender a comandar a Top Model”. — Sinto o peso da culpa. A mamãe sempre foi mais próxima do meu irmão, quando podia, me deixava de lado e ficava com ele. Não odeio nenhum dos dois, nem mesmo desprezo, talvez eu sinta um pouco de ciúmes, mas (eu os amo) amo eles, amo principalmente aquele homem certinho que está em coma. – O olhar castanho de William mantinha uma expressão meiga e confortante, trazia paz para Sarah, mas a loira preferiu contornar uns desenhos espirais da mesa com o dedo indicador – Você percebeu? Ela está agindo como se David não sairá nunca mais daquela cama.

— Filha. – William sorriu de canto. – Minha adorável filha. Eu e sua mãe temos fé que ele irá acordar a qualquer hora, mas até lá. Não acha que ele ficaria feliz em saber que sua irmãzinha não é mais sua pequena Sasha e sim a Sarah Sasha Madison que assumira seu posto na sua ausência? – A pergunta de William não surtira alegria de Sarah, ela apenas ficou confusa e o observou atentamente. – Olha! Se isso te deixa bem, ele sempre quis que você trabalhasse conosco no mesmo escritório, gerenciando e não sendo gerenciada. – William tocou as pequenas e delicadas mãos da filha. – Por favor, pense em como David se sentiria.

— Preciso de tempo. – Sarah desviou o olhar para ao redor, vira crianças correndo, algumas enfermeiras e pacientes conversando, uns pareciam aflitos, angustiados, cansados e outros aliviados, alegres e agitados. Sem nada em mente, a jovem somente observava a mistura de pessoas e sentimento, então a culpa pouco a pouco invadia seu peito: E se ela não tivesse chamado Yohanna? E se ela ficasse em casa conformada com o primeiro não da mãe? E se... E se? Talvez David estivesse trabalhando e planejando os próximos passos da empresa e Yohanna estaria assinando algumas papeladas ou algo do tipo. Talvez? Mas, e se...

— Querem alguma coisa? – Uma garçonete parou ao lado de ambos com um bloquinho de notas em mãos, rompendo por momento a aflição de Sarah.

— Vamos querer dois hambúrgueres e duas latas de refrigerante. – William pediu sorrindo, Sarah olhou rapidamente para o pai assim que a garçonete se retirou, provocando risos do homem. Ele sabia que a filha fazia dietas rígidas, o que nunca incluía qualquer tipo alimento industrial ou grande quantidade de açúcar. – Você não vai morrer se comer um pouco de carboidrato.

Após terminarem o lanche, Sarah abraçou o pai com vontade de chorar na qual não cedera uma misera lagrima. Precisava ver se Yohanna havia acordado, William assentiu dizendo-lhe que mais tarde visitaria a ruiva.

Quando Sarah entrou no quarto, viu Yohanna falando ao celular histericamente.

— Mas isso é um tremendo preconceito, Gillian. Ele não pode fazer isso. – Uma pausa – Como? –Algo estava errado e Sarah não fazia ideia do que. – Mais isso é um absurdo. Não acredito que trabalhei para esse monstro. – Yohanna suspirou profundamente, e finalizou com uma voz melódica. – Você está certa. Não vale o esforço. Obrigada, Gillian. – a ruiva fitou o celular antes de joga-lo na poltrona. – Oi, Sarah.

— Você esta bem? – Sarah perguntou pouco preocupada, sentando ao lado de Yohanna.

— Bem? – Repetiu. – Fui demitida, digamos que meu chefe... Ex-chefe julga inadequado, uma provável cadeirante subir e descer pela cidade para apresentar os produtos aos clientes. Principalmente por que algumas casas têm escadas e... – Yohanna bufou inclinando a cabeça para cima, deixando a frase incompleta.

— Ao menos ele vai pagar todos meus direitos? – Sarah perguntou incrédula.

— Sim. Eu nem sei por que estou tão nervosa. – Um silencio absoluto rondou o quarto por alguns segundos antes que a ruiva sentir-se desconfortável, agora olhando para Sarah que fitava a parede lisa em sua frente. – Algo te incômoda? – Sarah negou, mas ela insistiu. – Sarah?

—Hanna? – Sarah observou os olhares atentos da ruiva – Quem é Victoria? O que aconteceu com sua mãe? – Yohanna evitou falar, não esperava aquela pergunta e sem perceber sua expressão a denunciava plenamente, nunca sequer comentou sobre sua vida com ninguém e não queria começar agora. Mas resistir não facilitaria. – Por favor, Hanna. Por que sempre esconde seu passado? Não sou sua amiga? Não confia em mim. – Uma pontada no peito da ruiva foi o suficiente para ela ceder.

— É uma longa história.

— Sou toda, ouvidos. – Insistiu.

— Pois bem. Um ano antes de concluir o colegial... – Yohanna contou sobre seu envolvimento com Jonas, disse também que havia engravidado e fizera uma tentativa de aborto. O rosto pálido de sara era demasiadamente quase da cor dos lençóis da cama, a ruiva fizera de tudo para não encerrar o assunto, se esforçando cada vez mais. – Acabei ficando hospitalizada, mas não perdi o bebe e também não contei a ele. Minha mãe ficou muito desapontada, éramos somente nós duas, agora... Na época seriamos três. Minha mãe ficou desempregada e foi quando decidimos vir a capital, onde havia mais ofertas de empregos, inicialmente parecia uma boa ideia. Eu ficava em casa, preparava o almoço e a janta, pois sempre passava mal e por conta disso não parava em emprego algum. Ela trabalhava duro todos os dias como empregada domestica e o dinheiro mal dava para nos sustentar. Então... – Yohanna travou a voz, sua garganta doía com a vontade estupenda de chorar. – Dois meses antes de dar a luz, ela se foi, disseram que ela estava doente e por não ter feito o devido tratamento contra a pneumonia... Faleceu. – Uma lagrima. – Tive que vender uns moveis da casa para pagar o funeral e faltando apenas três dias para o nascimento da minha filha, fui despejada da casa. Dei a luz em baixo de um viaduto desativado, era inicio de primavera, Victoria, minha pequena sobrevivente, sobreviveu ao meu pecado. – Sarah a abraçou, sem ao menos saber o que dizer se arrependeu amargamente de ter insistido, Yohanna sofria com as lembranças, mas ela continuou. – Um mês e eu não havia mais leite, não tinha dinheiro, minha casa era naquele viaduto. Ela iria morrer em meus braços e a única coisa que eu poderia fazer era lamentar...

— Hanna. Por favor, não precisa continuar. – Sarah implorou angustiada e Yohanna aos soluços não dera atenção.

— Eu estava na praça mendigando, comercio algum aceitava meus serviços. Vi duas mulheres sorrindo, uma estava gravida e a outra lamentava por ser estéreo, lembro-me das palavras até hoje: “Faria de tudo para ter um bebe em meus braços para chamar de filha ou filho.”, Ela não podia ter filhos, e eu tinha uma, mas morreria em meus braços de desnutrição, as esmolas nunca eram o suficiente. – As lagrimas haviam cessado e os brilhos de esperança nos olhos substituíram-na. – Amava minha filha, mais do que qualquer coisa. Entreguei a Victoria a ela. Disse para cuidar bem. Ela recusou, e eu implorei. E depois... Corri para bem longe antes que me arrependesse... – se não fosse a paralisia em suas pernas, Yohanna as encolheria e posicionaria os braços em volta delas para chorar, com medo do próprio passado. Com medo dos pesadelos. Sarah a abraçou com tanta força, chorando e pedindo desculpas. – Nunca me arrependi, mas tenho tanto medo do futuro dela. Me culpo por ter sido tão irresponsável de não ter dado um futuro melhor.

— Agora eu entendo. – Sarah sentou-se de frente a amiga, segurando suas mãos. – Entendo. Você sempre escondeu seu passado, cuidava de mim como sua filha, se mantendo ocupada o tempo todo.

— Não queria dar espaço ao arrependimento. Ele é amargo. – Yohanna suspirou. – Lembra-se do dia que te encontrei perdida naquele inverno? Estava escurecendo e você chorava com medo do escuro que estava chegando.

— Você ficou comigo até meus pais me encontrarem. Implorei para eles te contratarem como baba. – Sarah sorriu levemente.

— Isso. Por isso que te cuidem tão bem. Foi você quem me ajudou, mesmo pequenina, uma criança birrenta que conseguia tudo facilmente. – Sarah fechou o semblante o que fez Yohanna rir fraco – Obrigada.

O passado quando escondido causava uma dor imensa, um fardo que não aguentava mais carregar e a cada dia ele deixava a ruiva mais exausta com um sofrimento além de sua compreensão. Nunca imaginara que o fato de compartilhar ou desabafar com alguém a deixaria menos amargurada e mais leve. De súbito uma pontada de culpa e arrependimento invadiu seu peito, havia prometido não guardar segredos para Sarah quando se tornou baba dela, uma promessa que não fora feita pelo cargo e sim pela amizade.

— Eu falei com meu pai – Sarah merecia um troféu por mudar de assunto de uma hora para outra, coisa que Yohanna era mais do que acostumada e neste momento estava agradecida por isso. – Vou entrar na faculdade de administração e estagiar na agencia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Último Pôr do Sol" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.