Sem noção.

Era uma das características mais marcantes que Lawrence poderia possuir.

Ele era o tipo de pessoa que mudava de opinião e abandonava qualquer lógica de uma hora pra outra. Assim como seu humor, variável, ele podia ficar triste e depressivo do nada, como também podia ficar incrivelmente ansioso sem nenhum motivo. Ele começava a pintar uma parede pela madrugada só porque sentiu vontade de fazer aquilo. Se alguma idéia de construir algo lhe viesse a cabeça ele ficava cerca de três dias acordado direto por causa disso, e do nada ele desistia só porque havia perdido o interesse. Quando ele comprava um jogo novo só saía de seu quarto quando o finalizava, ou apenas deixava de lado se não fosse tão interessante quanto ele achava que fosse e comprava outro jogo.

Pessimismo.

Essa era outra de suas marcantes características. Algumas vezes ele simplesmente começava a pensar de forma negativa sobre qualquer assunto que a gente conversasse. Quando o perguntei por que era daquele jeito, ele me respondeu:

— Quando se é alguém pessimista, você sempre estará preparado para decepções, e também, não irá esperar nada de ninguém, desse modo o dano direto sobre você é reduzido consideravelmente.

Ele também possui grandes habilidades com instrumentos musicais, sendo violino o seu favorito; conseguia reproduzir de forma perfeita qualquer música que quisesse, mas por algum motivo ele gostava de tocar trilhas sonoras de filmes.

Ele vivia mal humorado quando acordava cedo demais nos finais de semana, e mais mal humorado ainda quando o acordavam em seus "dias de folga".

Sua aparência não era chamativa, pelo contrário, era completamente desleixado. Seus cabelos castanhos cobriam a parte superior dos olhos e sua expressão era sempre de alguém preguiçoso e despreocupado. Uma vez ele havia me dito que não serviria para ser o personagem principal, o máximo que conseguira ser era um dos amigos do melhor amigo do protagonista, aquele figurante que nem mesmo é descrito pelo autor. Quando perguntei por que ele achava isso, sua resposta veio automaticamente, como se estivesse programada para aquela pergunta.

— Feio. Falta de autoconfiança. Falta de auto-estima. Pessimista e depressivo.

Era realmente triste ver uma pessoa apontar suas piores características de forma exata e precisa. Tenho certeza de que muitos iriam simpatizar com ele por isso. Mesmo sendo uma pessoa pouco sociável - extremamente anti-social - as pessoas acabam se reunindo a sua volta e se apegando a ele, mesmo que minimamente. Ele havia criado um termo para essa situação, ele se denominava "um anti-social sociável".

Mas não posso deixar de afirmar que sendo alguém negativo como ele é, seu ponto de vista era bem mais realista do que de muitas pessoas, e apesar de parecer irresponsável, ele conseguia lidar muito bem com situações caóticas e sem soluções, dotado de uma imensa paciência que chegava a ser assustadora, ele se adaptava perfeitamente em situações inesperadas. Tendo uma aparência desleixada ninguém sequer cogitava que ele pudesse ser alguém inteligente ou perigoso, mas afirmo com total certeza e confiança que ele poderia ser o garoto mais inteligente de todo o campus, se não fosse sua preguiça exuberante.

Eu diria que comparado a antigamente, ele ficou bem mais emotivo. Durante o fundamental ele era completamente inexpressivo e dizia qualquer coisa que pensasse sem hesitar, por causa disso quase sempre se envolvia em algum tipo de briga; ele ganhava facilmente de qualquer garoto ali graças as suas incríveis habilidades de caratê e judô. Entretanto, ele não parava simplesmente porque seu adversário havia caído ou não podia mais brigar, ele continuava a atacar sem nem mesmo piscar, e o pior de tudo, ele fazia isso com uma calma assustadora e frieza profunda em seu olhos.

Ele não tinha amigos.

Ninguém queria ser amigo dele.

Tinham medo dele.

Mas como eu havia dito, ele era inexpressivo e sem emoção alguma, uma criança completamente vazia. Sendo assim, ser isolado pelos outros não o incomodava de nenhuma maneira.

Muitas vezes ele era provocado por valentões e delinquentes mais velhos só pelo fato de ter notas máximas e impecáveis em todas as matérias, zombavam dele, e até mesmo pregavam peças de mau gosto nele, ainda assim ele continuava imperturbável. Obviamente ele descobria quem fazia aquelas coisas a ele e simplesmente se vingava.

Mas esse é um passado negro que deveria ser esquecido, por isso não mencionarei mais que isso.

Nós nos tornamos amigos um pouco mais tarde, e admito que por causa da minha influência ele acabou descobrindo muitas coisas e isso acabou o levando a outro caminho, assim como também ganhou as características mencionadas antes, mas não me arrependo nenhum dia por isso, já que por causa disso ele começou a ser mais emotivo e mais expressivo. Quando me dei por conta, éramos como irmãos, até que uma certa infelicidade ocorreu no nosso último ano do fundamental...

Ele se declarou a uma de nossas amigas e foi cruelmente rejeitado e humilhado.

Então ele desapareceu complemente.

Não importava o quanto procurasse, nós nunca o achávamos, era como se ele mesmo não quisesse ser achado, a unica opção que nos restou foi desistir de acha-lo, até que depois de um ano e meio ele voltou.