Ninguém dedicou muito tempo ao pensamento em plena preparação para a batalha e muito menos enquanto ela se desenrolava, mas era uma certeza absoluta e inconsciente entre os membros de todas as nações que a Aliança Shinobi se desintegraria assim que o mundo voltasse a girar em seu eixo habitual.

Entretanto, não foi o que aconteceu.

— Você acha que eles vão finalmente te liberar?

Sasuke sentiu o peso do olhar de Sakura em seus pulsos – e mesmo que ele usasse manga comprida, o Uchiha tinha a impressão de que ela conseguia ver as marcas do selamento de forma tão clara quanto ele – e deu de ombros.

Ele não fazia ideia.

E nem se importava.

Todas as reuniões envolvendo os Kages ou seus representantes para a discussão diplomática do pós-guerra eram tidas a portas fechadas, perímetro cercado e paredes lacradas com chakra para prevenir qualquer tipo de vazamento de informação confidencial.

Obviamente, Uchiha Sasuke não tinha qualquer acesso ao que era acordado entre as vilas – a não ser nas raras ocasiões de quebra de protocolo por Naruto.

Porque, teoricamente, de acordo com exigências externas, Sasuke não deveria nem poder sair de uma sela de segurança máxima no calabouço mais escuro de Konoha.

Considerando a melhor das hipóteses.

Sasuke sabia que os Kages o queriam morto ou enterrado vivo o mais rápido possível.

Era mais do que compreensível – e justo.

E ele não conseguia sentir nenhum tipo de raiva por essas pessoas quererem fazer o mais lógico: exterminar a fonte de grande parte dos problemas do cenário internacional antes mesmo da guerra ter ameaçado eclodir.

Ele merecia uma retaliação.

Mas Uchiha Sasuke não nutria nenhum tipo de sentimento autodestrutivo que o fazia desejar que uma decisão drástica e dramática fosse finalmente tomada na sala do conselho.

Ele queria viver, para ser sincero, nem que fosse para compensar alguns de seus erros de um passado nem tão distante. Sasuke tinha ciência de que nunca conseguiria apagar completamente sua dívida, mas ele gostaria de uma oportunidade de diminuir os números a seu favor.

Era estranho pensar que o que ele secretamente implorava – na privacidade de sua mente – era por uma chance de viver uma vida altruísta, coisa que ele nunca tentara e muito menos almejara.

Sasuke não percebeu quando um sorriso irônico se formou em seus lábios.

— O que foi?

Ele olhou para Sakura e durante alguns segundos de indecisão, pensou em apenas deixar de lado e interromper a direção do pensamento.

No final, Sasuke acabou respondendo.

— Eu sempre tive objetivos centrados em mim; vingança, reconstrução do meu clã, busca pelo poder... agora tudo isso me parece tão distante.

Sakura podia não entender de onde ele tirara o assunto tão delicado, mas seus olhos certamente demonstravam uma compreensão de suas motivações que ele sempre percebeu nela e somente nela – algo muito mais íntimo do que ele via em Naruto.

Sasuke sentiu alívio por não precisar se explicar e apenas prosseguiu.

— É estranho pensar que eu não ligo para o meu chakra continuar selado.

A Haruno suspirou.

— Realmente é... mas é um tipo bom de estranho. Pelo menos eu acho. — Ela deu um sorriso hesitante então, esperando alguma forma de retratação por parte de Sasuke – que nunca veio.

Ele apenas continuou encarando-a.

Sakura se sentiu desconfortável após alguns segundos sendo o foco de tamanha intensidade e interesse e retomou a conversa de onde tinha parado.

— Alguma coisa te preocupa, e se não é ficar com os selos, então o que é?

O Uchiha não precisou de muitos segundos para chegar à conclusão de que tinha uma resposta na ponta da língua e que provavelmente falar o que estava em sua cabeça era uma péssima ideia.

Ele poderia ser interpretado de todas as formas erradas e ver Sakura se fechando emocionalmente a sua frente antes mesmo que ele pudesse ter uma chance de começar a se explicar não estava na sua lista de prioridades do dia.

Mas de alguma forma, ele sabia que não conseguiria mentir para ela.

Mais especificamente, ele não queria.

Sasuke havia prometido para si mesmo que entre eles apenas reinaria a mais absoluta honestidade.

Então ele respondeu, os olhos incapazes de deixar os dela, pedindo silenciosamente que ela entendesse.

— Continuar por mais tempo em Konoha.