Expeditious escrita por Stormborn


Capítulo 4
Decent


Notas iniciais do capítulo

de·cen·te
adjetivo de dois gêneros
1. Conforme com a decência.
2. Limpo, asseado.
3. Conveniente, próprio.
4. Honesto, decoroso.



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As habilidades culinárias de Sasuke estavam longe de serem consideradas decentes.

Quando mais novo, ele nunca se interessara em ficar na cozinha ajudando sua mãe e, assim, aprender metade do que Mikoto sabia fazer. Ingenuamente, Sasuke se agarrava a noção de que ele não precisaria se virar tão cedo porque sua mãe estaria ali, fazendo sua comida preferida toda vez que ele passasse por um dia particularmente cansativo.

Ele não poderia ter errado mais.

Fora um baque aceitar que não seria bem daquele jeito após o massacre.

Sasuke só se dava conta da extensão dos atos de seu irmão ao entrar em sua nova casa – o Sandaime achara desumano deixa-lo vivendo no Distrito – e perceber que ninguém estaria o esperando com um sorriso no rosto e lábios prontos para lhe perguntarem sobre o seu treinamento com o maior interesse do mundo.

Todo simples e antes ordinário ato doméstico se tornou uma fonte de lembranças dolorosas para Sasuke.

Ele dormia e se levantava no mesmo estado de espírito, agudamente ciente de que nunca mais veria seu pai tomando um chá na cozinha ou que não teria outra oportunidade, jamais, de experimentar o ótimo onigiri de sua mãe.

Sasuke ainda se lembrava de suas lágrimas agridoces ao colocar uma comida feita por ele mesmo em sua boca pela primeira vez após a morte de sua família e se chocar com o fato de que não era nada parecida com a de sua okaa-san.  

Ele então caiu no hábito de comer ou pedir de fora e negligenciou por completo qualquer tentativa de se aperfeiçoar nessa arte – ainda mais ao se juntar a Orichimaru, quando sua alimentação passou a se basear em cereais e conservados.

Levando em conta todos esses acontecimentos do passado, Uchiha Sasuke se via em uma situação delicada em seu reestabelecimento doméstico em Konoha, onde ele era orgulhoso demais para pedir ajuda, mas nem tanto assim para conseguir esconder seu descontentamento com a falta de um braço.

— Você tem certeza que não quer que eu faça a janta dessa vez?

Sasuke mordeu a língua antes que pudesse retorquir de forma indelicada, preferindo responder com um leve dar de ombros.

Sakura não se impressionou e balançou a cabeça negativamente enquanto terminava de guardar todos os apetrechos médicos que utilizada no exame de rotina em sua bolsa.

— Você não pode ficar comendo só arroz, Sasuke-kun.

Sasuke sabia disso, mas com a reserva monetária dos Uchiha justificavelmente esvaziada desde sua deserção, ele não podia se dar ao luxo de viver encomendando do restaurante mais próximo.

Ainda mais quando ele pretendia usar o que lhe restava na realização de seus próximos planos.

— Eu sei. — Sasuke respondeu simplesmente, recostando-se na parede da sala.

Sakura mordeu o lábio inferior e aos olhos de Sasuke, ela nunca pareceu tão mais adorável do que naquele momento – e ele tinha a vaga sensação de que pensava a exata mesma coisa toda vez.

Ela parecia insegura e até mesmo incerta quando finalmente retomou a conversa.

— Você sabe... — E colocou uma mecha atrás da orelha, demonstrando nervosismo. — Então me deixa cozinhar dessa vez. — Ela pausou. — E eu faço o suficiente para o resto da semana.

O Uchiha teve certa dificuldade de processar a nova proposta por causa do tom de voz adotado por sua ex companheira de time.

Fazia algum tempo que ele não ouvia tanta timidez vinda de Haruno Sakura – o que contrastava completamente com o jeito como ela o encarava cheia de determinação.

E isso o fez se questionar se a garota que ele conhecera aos doze anos, a mesma que ele abandonara naquele banco de concreto – seu coração se apertou com o pensamento daquele dia – ainda residia no interior da mulher que agora podia controlar a vida e a morte nas palmas das calejadas mãos de batalha.

Sasuke suspirou e tratou de se dirigir para a cozinha, deixando propositalmente uma confusa Sakura para trás. Quando ele sentiu que ela finalmente se dispôs a segui-lo, Sasuke falou em falso aborrecimento.

— As panelas estão no armário de cima.

Ele fingiu não notar, mas certamente a animação da rosada ao começar a inquerir sobre a localização disso ou aquilo, o balançou onde ele menos esperava.

De repente, ele se viu transportado para tempos passados, onde tudo o que Sakura queria era um pouco de sua atenção e aprovação, temendo, mas sempre esperando, a rejeição que ele se forçava a dar.

Sasuke não sabia quando isso mudara dentro dele, mas ele sabia com uma certeza quase cega de que nunca mais seria capaz de se fechar as tentativas de aproximação da Haruno como antes fizera de forma tão convicta.

Não que ele sequer cogitasse a possibilidade.

Não.

Nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Eu pretendia manter todos os drabbles entre as 600 e 700 palavras mas... não foi dessa vez, hahaha.

Obrigada a quem está acompanhando e deixando comentários. ♥