Try Again escrita por Deh


Capítulo 19
In Love Again


Notas iniciais do capítulo

POV Jenny
P.s: em itálico pq é uma espécie de "sonho".

OBS: capítulo editado em 25/07/2020!



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“Ohh I wanna fall in love again but this time

But this time with no regrets

I wanna give it all again but this time

But this time with no secrets

I don't want just anyone. Not anyone new

I wanna fall in love again with you

With you. With you

I wanna fall in love again with you

With you”

In Love Again - Colbie Caillat

—A cavalaria...—Mike começou a dizer e foi a última coisa que consegui ouvir. Tenho quase certeza que ouvi algumas outras palavras, mas a essa altura era difícil de dizer. Eu senti meu corpo ficar dormente e isso aliado a visão negra me fez acreditar que eu havia morrido.

Não sei quanto tempo passou, mas de repente eu estava em um espaço branco, de repente esse lugar foi ganhando forma, a forma do escritório da minha casa, mas não a decoração que ele é atualmente, mas a decoração de quando ele pertencia ao meu pai.

E assim, em um piscar de olhos eu me encontrava em pé no meio do escritório encarando um homem sentado na cadeira de couro. Logo eu o reconheci, Jasper Shepard, sentado com um copo de scotch meio cheio em cima da mesa. Quantas vezes em seus últimos meses de vida eu o encontrei assim no meio da noite? Eu iria perguntar se ele estava bem e ele sempre iria dizer que estava apenas esperando que minha mãe chegar do plantão.

—Eu morri? –Perguntei o encarando.

Meu pai sorriu carinhosamente antes de responder:

—Ainda não Jenny.

Foi inevitável que eu não sorrisse, afinal ele usou a forma curta do meu nome, como sempre usou desde que eu era criança, acho que esse é um dos grandes motivos por eu preferir Jenny ao invés de Jennifer.

—Então como? Onde estou? –Perguntei, afinal de contas lá no fundo eu ainda sou uma investigadora.

—Cada religião tem um nome para isso, mas levando em conta o ceticismo que você herdou de sua mãe para algumas coisas, isso é um lugar que você vai quando está entre a vida e a morte. Popularmente conhecido como limbo.

Ergui a sobrancelha para ele e ele riu.

—Como eu disse, cética como sua mãe. –Ele acrescentou.

—O que eu estou fazendo aqui então? –Questionei.

—Refletindo sobre suas escolhas enquanto é operada? –Ele sugeriu.

—Venha sente-se no sofá. –Ele disse para mim enquanto se levantava, logo estávamos sentados lado a lado no sofá que ainda hoje se encontra no meu escritório.

Eu sabia que tudo isso era fruto da minha mente, mas a presença dele era tão real ao meu lado, que não resiste e acabei o abraçando.

—Eu sinto tanto sua falta pai. –Confessei e juro que podia sentir lagrimas em meus olhos.

—Eu sei Jenny, mas eu sempre estarei com você. –Ele disse enquanto me encarava com seus olhos verdes amorosos.

Me afastei e funguei por alguns segundos. Quando já estava mais calma, ele começou:

—Foi nesse escritório que você me encontrou.

E de repente o cenário mudou um pouco, ficou mais escuro, como se estivesse à noite e em sua mesa eu poderia ver seu corpo debruçado como havia achado anos atrás, exatamente como eu me lembrava. Não tardou e logo a porta se abriu e o meu eu mais jovem entrou.

—Era sexta à noite, você achou que seria bom para mim assistir a um filme com você. Você foi a primeira a notar que algo estava errado. –Ele disse, ainda observando a cena.

Em seguida eu vi com lagrimas nos olhos o meu eu mais jovem se aproximar com cuidado e verificar os sinais vitais, em seguida ligar para a emergência.

—Essa foi a primeira mudança brusca em sua vida. –Ele disse e logo aquelas imagens sumiram, enquanto ele prosseguia –Naquele dia você descobriu que coisas ruins acontecem a pessoas boas.

Eu assenti enquanto sentia as lágrimas escorrendo em meu rosto.

A cena mudou um pouco, era dia e meu eu mais jovem tinha acabado de entrar no escritório e batido a porta, não demorou muito para que uma mulher loira no fim dos quarenta anos entrasse brava comigo.

—Jennifer, você não pode abandonar a faculdade. –Ela esbravejou.

Meu pai que estava ao meu lado assistindo a cena, deu um tapinha em meu joelho.

—Essa foi a primeira vez que você tomou uma decisão de alto risco. Você não estava desafiando sua mãe para dormir além do horário ou brigando com sua irmã, você estava tomando uma grande decisão que lhe guiaria a um novo caminho. –Ele disse e observamos a cena se desenrolar.

—Eu não estou abandonando a faculdade mãe! Eu estou apenas trocando de curso. –Meu eu mais jovem disse com o rosto vermelho de raiva.

—Apenas trocando Jennifer? Medicina é... –Minha mãe dizia frustrada.

Eu a cortei antes que ela prosseguisse com qualquer que fosse a baboseira que ela inventaria:

—Medicina é a sua coisa mãe.

A mulher loira de olhos azuis negava com a cabeça.

—Não me venha colocar seu pai no meio disso Jennifer. –Ela gritou frustrada e não tardou em prosseguir em um tom mais baixo e amargurado –Ele foi covarde Jennifer e você está sendo uma decepção.

Me vi engolindo o choro, aquela conversa tinha contribuído para muitas decisões futuras, inclusive cortar os laços com minha família e a nunca tomar nada como garantido.

—Sua mãe só estava ferida Jenny. –Meu pai disse, me retirando de meus pensamentos.

Inevitavelmente eu o encarei curiosa, afinal como minha consciência estava chegando a essa conclusão nessa altura da minha vida?

—Ela não queria dizer aquilo, ela sempre teve orgulho de você. Mas você sabe para que essa discursão contribuiu?

Eu assenti antes de responde-lo:

—A partir daquele dia, eu percebi que ninguém iria lutar por mim e eu me dediquei a mostrar que ela estava errada. Eu consegui a bolsa em direito, me formei com honras e poderia escolher qualquer escritório para trabalhar, mas escolhi entrar no NCIS.

Ele assentiu e então completou:

—Nesse dia você cortou os laços em definitivo com sua mãe.

Eu assenti, afinal não fazia sentindo mentir agora, lembro-me bem de depois daquele dia eu e minha mãe mal nos falarmos, dois meses depois ela me comunicou que estava indo para Jersey com Charlie e eu apenas disse tchau e dei um grande abraço em Charlie.

—Sabe, uma das coisas que você precisa fazer é perdoa-la Jenny, você precisa fazer as pazes com o passado. –Meu pai disse sabiamente.

Eu ainda o encarava perplexa, prestes a retruca-lo quando a cena mudou.

De repente uma Jenny com vinte e cinco anos entrou sorridente com uma taça de vinho, ela colocou uma música de Phil Collins, uma das favoritas do pai, e se aconchegou na cadeira do mesmo.

—Você estava apaixonada. –Meu pai disse e me deu aquele olhar de quando sabia que eu estava aprontado.

—E ele era casado. –Acrescentei.

Ele assentiu.

—Ele havia acabado de se divorciar de Diane e de repente se casou de novo, eu estava um pouco frustrada. –Eu disse me lembrando muito bem do quanto eu bebi naquele dia, na tentativa de tentar fazer com que aquela paixonite desaparecesse.

—Nesse dia o que você fez? –Meu pai me questionou.

—Jurei a mim mesma, que não deixaria as emoções entrarem no meu caminho. Depois disso entrei em uma série de relacionamentos ruins. –Eu disse e em resposta ele assentiu. 

—Está ficando um pouco triste aqui não está? –Ele disse.

Eu assenti com um meio sorriso, afinal de contas tanto quanto eu possa amar Jethro, nossa história é cheia de altos e baixos, creio eu ter uma quantidade desnecessária de baixos, pois nunca conseguimos manter algo por muito tempo.

Enquanto eu refletia sobre isso, mais uma vez o cenário mudou, mas dessa vez não estávamos sentados no escritório. Claro, ainda estávamos sentados no mesmo sofá, no entanto dentro de uma pequena sala esterilizada, não perguntem como coube nós ali, afinal a sala era muito pequena, mas como eu acho que isso é coisa da minha cabeça, então simplesmente não dá para questionar.

Observei então meu eu mais jovem sentado na maca encarando o nada.

—Mais uma vez sua vida iria sofrer drásticas mudanças. –Meu pai disse.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele voltou a encarar a cena e então vi a médica adentrar, ainda estremeço ao lembrar dela me perguntar se eu tinha certeza que queria realizar o procedimento, não pude conter o meu suspiro de alivio ao me ver dizendo não.

—Você poderia ter tomado a decisão mais fácil, mas não tomou e eu sou tão orgulhoso disso Jenny. –Meu disse me olhando com seus olhos verdes idênticos aos meus.

 Voltamos então a observar o meu eu mais jovem sair dali e entrar em uma loja de bebê, inevitavelmente eu sorri com isso. Como eu sou grata por não ter feito nenhuma burrice, pois eu não imaginaria minha vida sem Jasper e posteriormente sem Jessica. Pois eu posso ter feito muitas coisas erradas nessa vida, mas Jasper e Jéssica são meus maiores acertos, eles são sem dúvida alguma os amores da minha vida. Deus sabe o que eu faria para protege-los.

Pisquei então meu olhos e agora estávamos observando meu outro eu embalar todas os meus pertences, eu sabia bem que momento era e hoje olhando para trás, penso que talvez minha decisão tenha sido tomada demasiada por impulso e talvez se eu não tivesse sido tão precipitada, poderíamos ter tido um desfecho diferente do atual.

—Você decidiu deixa-lo –Papai me disse.

Eu engoli em seco, enquanto eu assentia.

—Foi o dia em que eu aceitei a promoção e me mudei para Londres sem nem mesmo dizer adeus. –Eu praticamente sussurrei, com vergonha de me ouvir dizendo tamanho absurdo.

—Você o deixou porque ele tinha segredos, mas você também tinha a sua cota. Mas esse não foi o único motivo foi? –Papai disse, ah como ele me conhecia bem...

Fiz que não com a cabeça, e comecei:

—Eu estava magoada com ele, talvez se ele tivesse dito sobre Shannon eu não teria ido, ou pelo menos teríamos conversado sobre isso, mas a verdade é que eu já havia sentindo há muito tempo que eu havia me desviado de minha vingança e precisava recuperar o tempo, aquela posição me garantiria que eu voltasse a corrida para ser a próxima diretora.

Ele assentiu e então me questionou:

—E o que você sentiu?

—Na verdade, parece que quando eu sai meu coração ficou em Paris. –Confessei.

E assim a imagem mudou bruscamente, logo assistíamos eu ser resgatada por Ziva no Cairo. Deus, essa foi uma das aventuras em que eu realmente achei que não conseguiria sair viva.

—Embora você não dirá para ela, foi nesse dia que Ziva ganhou sua lealdade. –Meu pai disse.

Eu então observei Ziva lutar para manter nós duas em pé, já que nenhuma de nós duas estava conseguindo para em pé, depois de tantos dias de tortura.

—Ela me salvou, eu era um peso morto teria sido mais fácil se ela tivesse me deixado para trás. –Eu disse e então me pergunto se algum dia eu já agradeci Ziva o suficiente pelo que ela já fez por mim.

—Mas isso não foi a única coisa que mudou naquele dia. –Ele acrescento e logo a cena mudou.

Eu estava chegando em minha casa, após semanas fora, respirando aliviada ao ver Jethro ali e abraçando Jasper com toda a força que eu conseguia, enquanto lágrimas rolavam pelo meu rosto.

—Não, naquele dia eu descobri que não poderia morrer e deixá-los, por isso deixei as missões disfarçada. –Eu disse e instantaneamente a cena mudou.

Lá estava eu sentada no banheiro chorando de novo.

—Os cuidados de Jethro tiveram consequências. –Meu pai disse em um certo tom repreendedor e foi inevitável que eu não sorrisse com isso.

Observei minha figura mais jovem, mais uma vez encarando cinco testes positivos. Ainda me lembro muito bem do desespero que senti ao ver os resultados unanimes, mas não era maior do que a vontade de esfolar Jethro por fazer isso comigo de novo.

—Mais uma vez você estava diante de uma grande decisão. Não era apenas ter outro filho, era ser uma mãe solteira de dois com o pai de seus filhos vivendo do outro lado do oceano. –Meu disse, enquanto observávamos a cena mudar, para eu encarando Jasper dormindo tranquilamente, enquanto chorava em silêncio, ainda não sabendo que rumo tomar.

Respiro fundo, lembro-me bem daquele momento, eu senti tanto medo e tudo que eu queria era que Jethro estivesse ali ao meu lado, mas eu era orgulhosa demais para admitir isso.

—Você decidiu que conseguiria criar duas crianças e ainda administrar uma carreira, mais uma vez você se pôs pronta a superar as expectativas. –Meu pai acrescentou ao orgulhoso, enquanto nós dois assistíamos eu comprar o primeiro sapatinho de Jéssica.

 _Eu não poderia viver sem Jéssica. –Eu disse e ele sorriu satisfeito.

Então voltamos ao meu-dele escritório, vimos eu sentada tomando Bourbon, eu estava em minhas roupas de trabalho, mas era difícil identificar ao certo quando isso aconteceu. Mas se fosse para chutar, eu diria que não muito tempo após eu ter voltado para os Estados Unidos.

—Isso foi quando você o viu com a ruiva misteriosa, você sentiu que ele quebrou seu coração, como ele havia feito quando se casou pela segunda vez. Foi quando você decidiu trancar todos os sentimentos que sentia por ele e as trocas de farpas recomeçaram. –Meu pai narrou a cena.

Continuei a encarar o meu eu não tão jovem assim em silêncio, ainda pensando como a vida tinha formas estranhas e maldosas de nos juntar e nos separar com tanta facilidade.

—Mas isso não durou muito tempo não é Jenny? –Meu pai perguntou, mas não esperou uma resposta para continuar. –Os messes se passaram e a proximidade foi fazendo você inconscientemente cair no amor por ele de novo, mas o que fez você perceber as coisas mudando foi a explosão.

E agora estávamos nós dois encarando eu há alguns meses sentada em uma cadeira desconfortável de hospital observando Jethro deitado ainda desacordado.

—Você sentiu como se seu mundo estivesse prestes a desabar. –Meu pai disse e em seguida se passou a cena em que Jethro tem o ataque de pânico ao não me reconhecer.

Acho que nunca admitirei isso, mas ver Jethro ter um ataque de pânico e não me reconhecendo me machucou mais do que eu achei que deveria.

Então a cena mudou e voltamos ao meu escritório, observei eu sentada na cadeira de couro, enquanto olhava algumas fotos. Isso foi no sábado, logo após eu chegar em casa do jantar na casa de Jethro com as crianças, lembro-me bem do quanto eu encarei aquelas fotografias e desejei que as coisas pudessem ser diferentes entre nós.

Suspirei, essa memória ainda estava fresca em minha cabeça e agora eu percebia que talvez aquela noite de sábado seria a última memória que meus filhos teriam de mim.

De repente eu sentia o nó em minha garganta só de pensar em deixar meu filho tão teimoso quanto o pai e minha garotinha tão obstinada quanto eu.

Eu tentei reprimir um soluço ao pensar em Jethro, tantas coisas que eu deveria ter dito... Um último beijo que eu me neguei a dá-lo. Se eu soubesse que aquela era a última vez que eu os veria eu teria feito diferente?

Eu teria dito a Jasper o quanto eu o amava e me orgulhava dele? Que tudo o que eu queria era que ele fosse felize encontrasse alguém que amasse?

Eu teria dito a Jéssica que ela era meu raio de sol, que eu a amava com todas as forças? Teria dito para que ela não fosse igual eu e não temesse o amor?

Eu teria dito a Gibbs que nunca, por um segundo sequer eu deixei de amá-lo? Eu teria deixado que aquele beijo no porão acontecesse? Teriamos tido pela primeira vez uma despedida digna? 

—Não deixe que essa sua experiência seja em vão Jenny. Não fique remoendo o passado ou o que deveria ter sido, concentre-se no que pode ser. Acredite nos seus instintos. –Meu pai disse me tirando de meus pensamentos angustiantes.

Então eu o olhei com os olhos chorosos.

—Você tem uma segunda chance joaninha, siga seu coração. –Ele disse usando o meu apelido de infância.

E tudo o que eu podia fazer era abraça-lo, eu sentia meu coração bater e seu cheiro amadeirado característico, enquanto questionava infantilmente:

 _Mas e se ele não me amar mais?

Ouvi o som de sua risada, como eu senti falta desse som nos últimos quinze anos.

—Oh girl... –Ele começou a dizer, mas eu nunca consegui escutar o resto, já que foi quando eu inalei mais profundamente e meus olhos começaram a se abrir preguiçosamente.

Levou alguns segundos para que meus olhos se acostumassem com a luminosidade, eu estava com a boca seca e amarga. Comecei então a me mexer, e uma mulher morena que eu não havia notado disse:

—Diretora, está tudo bem. Vou pegar um copo de água.

Eu não a conhecia, mas sabia que era uma agente e assim eu assenti, entretanto, me sentei, mesmo que com dificuldade, pois eu ainda sou Jenny Shepard e não deixaria que minhas fraquezas transparecessem.

—Obrigada. –Eu disse com a voz rouca logo após terminar de tomar toda a água.

Ela então fez a apresentação:

—Sou Kensi Blye, do escritório de LA eu e meu parceiro estamos encarregados da segurança.

O sim o famigerado escritório de Los Angeles, aquele em que Hetty deixa fazer tudo sem dar importância as regras e vive me causando dor de cabeça, quase tanto quanto a equipe de um certo agente especial.

Pensando então em Gibbs, é inevitável que eu não pense em Tony e Ziva, precisando então ter a certeza que eles estão bem, eu perguntou a agente Blye:

—DiNozzo e David?

—Eles estão bem, Vance mandou eles de volta para Washington. –A morena me garantiu e eu assenti.

Logicamente eu respirei mais aliviada ao saber que aqueles dois estavam bem, pois não é apenas porque Jethro jamais me perdoaria se algo acontecesse as suas “crianças”, mas eu também tenho uma estima muito grande pelos dois, em especial por Ziva.

—Eu tenho que chamar o seu médico e dizer a ele que você acordou. –A agente Blye disse e saiu me deixando a sós com meus pensamentos.

Após o médico me examinar e dizer que eu estava bem e claro eu perguntar quando eu voltaria para casa, pergunta que veio como uma resposta não muito satisfatória:

—Ainda é cedo senhorita Shepard.

Eu suspirei frustrada, pois tudo o que eu queria nesse momento era estar em casa com meus filhos e até mesmo um certo agente irritante.

Meu momento de frustração não durou muito, já que em menos de meia hora após o médico sair Vance resolveu deu o ar da graça.

Aquele maldito deve estar adorando o cargo de Diretor Interino. Só espero que ele não fique muito confortável, se é que eu terei meu emprego novamente...

—Como está Shepard? –Ele perguntou por educação.

—Bem. –Respondi monossilábica, Jethro definitivamente ficaria orgulhoso.

—Você sabe que eu preciso saber o que aconteceu. –Ele disse, como se de repente eu fosse abrir meu coração e confessar todos os meus pecados. Alguém poderia contar a ele que eu quase morri e não que eu enlouqueci?

—Homens me atacaram enquanto eu visitava o restaurante de um amigo. –Eu disse brevemente, não sabia muito bem como as coisas estavam então decidi não me arriscar, sem antes conhecer o terreno que estava pisando.

—Essa é a história que vamos contar? –Ele perguntou.

Então não tinham outra? Não posso dizer que não gostei...

—Foi a que aconteceu. –Eu disse firmemente, não me deixando abater pelo seu olhar desconfiado.

—Então isso não tem nada a ver com o corpo encontrado na casa de Gibbs? –Ele me questionou.

Instantaneamente eu o encarei, o que havia acontecido? Todos estariam bem, tinham que estar.

Creio que minha expressão deve ter despertado algum sentimento de empatia nele, que já sem rodeios se pôs a explicar:

—Um corpo foi encontrado carbonizado na casa do agente Gibbs, suponho que seja a mandante do seu atentado. Seus filhos e sua irmã caçula estão seguros. –Ele então me dirigiu um olhar desconfiado e acrescentou –Embora eu esteja mesmo é curioso em saber o paradeiro do agente Gibbs, afinal ele não está onde eu o deixei.

—E onde seria? –Eu perguntei com um olhar curioso.

—Na casa de barcos. –Ele respondeu.

Não demorou mais que cinco segundos para que eu me lembrasse que a casa de barcos era onde os interrogatórios eram feitos, afinal de contas eu posso ter tido um pequeno surto quando descobri que Hetty havia usado nossa verba para isso.

—Nisto eu não posso ajudar Vance, a última vez que o vi ele estava em DC. –Eu respondi sinceramente e então perguntei com certa cautela –O que a mídia está dizendo?

—Nada, SECNAV pediu para que não vazasse, a única coisa que apareceu foi o incêndio na casa do agente Gibbs, mas nada envolvendo você. Você está limpa. –Ele me explicou e me deu aquele olhar irritadiço, eu logicamente não me deixei abalar, fiquei até satisfeita, pois imagino o quanto ele deve ter ficado frustrado ao perceber que minha reputação se mantia intacta.

Ele então olhou o relógio, seria minha presença tão desprezível assim? E então disse:

—Tenho que ir Shepard, estou assumindo como diretor interino, enquanto você está de licença médica.

Essa era a confirmação que eu precisava no momento, eu ainda tinha meu emprego. Sendo assim limitei a apenas assentir, não que eu pudesse discutir nesse momento. No entanto, quando ele estava a meio caminho da porta eu disse:

—Não fique muito confortável em minha cadeira Leon.

Ele não se deu o trabalho de se virar e muito menos de perder tempo retrucando.

Após Vance sair, eu comecei a pensar em Jethro e inevitavelmente me preocupar com o mesmo, graças a Deus tal preocupação durou cerca de uma hora, não que tenha sido momentos fáceis, mas quando a porta do quarto se abriu sem nenhum aviso prévio eu sabia que era ele, antes mesmo de vê-lo.

—Vejo que ainda não aprendeu a bater agente Gibbs. –Eu disse em meu tom repreendedor usual.

—Ainda não diretora. –Ele me respondeu e eu captei o brilho em seu olhar.

Kensi que não me deixou sozinha desde que Leon saiu, usou a desculpa que sairia para um café, quando ela saiu eu finalmente pude sorrir verdadeiramente para ele.

—Obrigada. –Eu disse agradecida, afinal era impossível não deduzir que fora ele que havia limpado a minha bagunça.

Ele então me olhou curioso e eu sabia que ele queria que eu continuasse, embora geralmente eu evite massagear o ego dele, dessa vez eu abri uma exceção e então completei minha fala anterior:

—Por limpar a minha bagunça, garantir a segurança das crianças e estar aqui. –Ele sorriu vitorioso, sendo assim eu tratei logo de acrescentar –E não espere que eu vá dizer isso de novo.

—Eu não iria, tenho certeza que uma vez já foi doloroso o suficiente. –Ele disse enquanto se aproximava de mim.

Era inevitável que eu não sorrisse, afinal de contas parece que voltamos ao normal novamente.

—Você almoçou? –Ele me perguntou com certa preocupação ao sentar-se na cadeira que havia ao lado da minha cama.

—Bem eu comi a comida do hospital se é isso que você quer saber, quanto se aquilo é um almoço já não sou eu para te dizer. –Eu disse, inevitavelmente me lembrando de suas queixas no hospital há alguns meses.

—Precisa de um contrabando de bife diretora? –Ele sugeriu algo que me implorou bastante quando ficou internado.

—Temo que sim. –Eu admiti com pesar.

—Pena que eu sou um oficial da lei e não faço isso. –Ele disse convicto.

Em resposta eu rolei os olhos, filho da mãe.

—Então o que aconteceu? -Perguntei após alguns segundos em silêncio, afinal de contas eu precisava saber a história de fato e assim e ele começou a narrar a história a partir do momento em que Mike saiu para pegar água e pedir socorro, ele também disse que já estava no meio do caminho, pois tinha descoberto sobre a pesquisa de Abby e DiNozzo tinha ligado para ele.

Ele ainda me disse que Hetty o ajudou e que possivelmente a equipe dela sabe sobre as crianças, mas que não sabe como a equipe dele não descobriu sobre eles, mesmo ambos estando na sala de conferencias com Marvin. Depois disso tudo, ele ainda disse que havia retornado para DC e marcou um encontro com Svetlana na casa dele e que Mike acabou atirando nela. Para finalizar ele ainda me confessou que acabou colocando fogo na casa para encobrir tudo e depois disso ele retornou a LA na esperança de Vance não ter dado falta dele.

—Qual a situação da sua casa? –Perguntei preocupada, afinal de contas eu sabia muito bem o que aquela casa significava para ele, pois além daquele barco que ele garantiu que não se chamará Diane, ainda há todas as lembranças de Shannon e Kelly.

—Os bombeiros me ligaram há meia hora, a única coisa que salvou foi o porão, ele permaneceu intacto. –Ele me disse.

—É sua parte preferida da casa mesmo. –Eu disse, de certo eu estava feliz que ao menos o porão estivesse salvado, quanto ao barco veremos no futuro.

Ele riu das minhas palavras e era inevitável não fazer o mesmo, já que as raras risadas de Jethro são tão contagiantes quanto as de Jasper e Jéssica.

—Sinto muito pela casa. –Eu disse após me recuperar da sessão de risos, sem perder tempo eu ainda acrescentei. –Eu sei quantos lembranças você tem delas lá.

Ele assentiu e após o silêncio que se reinou por ali com nós dois imersos em nossos pensamentos ele comentou:

—Pelo menos sobrou o barco.

—Espero que o nome daquele barco não seja Diane. –Foi inevitável que eu não brincasse e ao mesmo tempo o advertisse.

Ele deu de ombros antes de responder entrando na brincadeira:

—Estava pensando em Jennifer.

—Você não ousaria. –Eu disse já séria, deixando bem evidente que não era uma brincadeira.

Em resposta ele sorriu de lábios fechados, como um garoto que está aprontando algo. Isso fez com que eu lhe dirigisse um daqueles olhares repreendedores que dou para as crianças.

Após alguns minutos em um silêncio tranquilo ele finalmente diz:

—Em uma hora podemos ligar para as crianças, tenho certeza que ambos estão loucos para se certificarem que você está bem. Especialmente Jasper, ele estava tão desconfiado.

—Ele é como o pai. –Eu me limitei a dizer.

E mais uma vez o silêncio reinou entre nós dois, no entanto não é constrangedor, é normal, Jethro nunca foi um homem de muitas palavras e apenas o fato dele estar aqui comigo já me faz sentir tranquila e segura, quase ouso pensar em amada.

Nós dois aqui, tendo uma conversa civil e mantendo um silêncio confortável é algo bom, talvez o conselho do meu valha a pena ser seguido.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da participação especial e da viagem ao passado de Jenny? Espero que a "viagem" tenha ajudado amarrar algumas pontas soltas que possam ter ficado quanto ao passado dos dois...
Seria esse o (re)começo de JIBBS!?? ♥