Era madrugada quando chegamos ao Acampamento. Tivemos de mandar uma Mensagem de Íris antes comunicando Quíron, mas isso não foi difícil considerando que tínhamos o filho do deus do mar e a filha da deusa do dia conosco, então não era difícil fazer um arco-íris com luz e água. Quíron suspendeu a atividade das harpias e foi nos receber animadamente às três da madrugada, nos parabenizando pela missão, nos dando os pêsames por Annabeth e dizendo que conversaria melhor conosco no dia seguinte. Cada um de nós foi para seus chalés, e Summer e eu ganhamos um quarto provisório na Casa Grande. Eu não ficava muito feliz de dormir lá junto com Dioniso, mas o fato de que havia mais gente por perto me dava mais confiança de que ele não fosse me assassinar sorrateiramente durante a noite.

  No dia seguinte, queimamos uma mortalha cinza com uma coruja para Annabeth, e Percy e Thalia fizeram um belo discurso sobre ela. Eu mostrei o Acampamento a Summer e ela pra variar se encantou com tudo, e os filhos de Apolo se encantaram com ela (grande novidade). Heidi conheceu seu chalé e alguns de seus irmãos, e logo já estava enturmada com eles. Digo 'alguns' porque havia outros que ela já conhecia das vezes em que estivera no Mundo Inferior com sua mãe.

  Conversei com Quíron sobre tudo aquilo que... Bom, sobre tudo o que tinha que conversar. Não tirei nenhuma conclusão proveitosa disso. Acho que Quíron nunca revela nada do que pensa para não nos assustar, mas isso é o pior que ele faz, pois acaba nos deixando mais curiosos e criando expectativas erradas. Então, apesar de eu ter certeza de que ele concluiu algo daquela conversa, ele não revelou nada (“vamos ver como as coisas vão se desenrolar a partir de agora”, ele disse), porque deve pensar que sou uma criancinha assustada de quatorze anos que pode começar a chorar e a entrar em desespero com qualquer notícia negativa, mas ele está errado. Essa é a Summer.

  Também conversei com ele sobre a coisa dos novos chalés. Com algumas suspeitas, ele assentiu e disse que poderiam ser construídos os novos chalés. Os dois primeiros seriam dos dois primeiros deuses a surgir a partir de Caos: Nyx e Érebo. Consegui me comunicar com alguns daemones confiáveis, e no dia seguinte o acampamento estava lotado de espíritos construindo os dois chalés. Percy conseguiu fazer alguns espíritos marinhos arranjarem o material para os chalés de Pontos e Tálassa, os filhos de Apolo iam ajudar nos chalés de Hemera e Éter e os filhos de Deméter iam dar uma ajuda com o chalé de Gaia. Pensamos em ignorar um chalé para Urano, considerando que ele havia sido castrado por Cronos, mas então nos lembramos dos chalés de Hera, Ártemis e Héstia (que havia sido construído mais tarde, junto com os chalés dos deuses menores) que estão lá apenas para homenagear as deusas, e resolvemos fazer um para Urano também. No total, o Acampamento iniciaria o próximo verão com mais ou menos 50 chalés. É, você pode pensar que isso é muito, mas lembre-se de que a maioria desses chalés estão vazios.

  Quase um mês depois, no final da temporada, ganhei a primeira conta no meu colar do Acampamento. A conta continha uma gravura do Monte Santa Helena, e podia-se perceber por vários pontinhos e uma pequenina lua no céu que era noite na figura.

  Sonhei com minha mãe naquela noite. Comuniquei a ela que já havia falado com meu pai por uma mensagem de íris, e ele já estava procurando por um emprego em San Francisco. Combinamos que eu passaria seis meses com ela, de janeiro a junho. Eu achava que isso era demais, mas Nyx disse que “pode ser até pouco”. Quando perguntei como chegar à Casa dela, ela disse que “na hora eu saberia”.

  Nico era o mais animado por eu me mudar para a Costa Oeste, porque aí eu estaria mais perto de Los Angeles e ele não gastaria tanta energia viajando pelas sombras para me visitar. Eu ri com isso, e ri também com a cara de triste que ele fez quando eu disse que ele não poderia me visitar enquanto eu estivesse na “casa” da minha mãe.

***

  — Parece que é hora de ir. — Eu disse no dia de ir embora, enquanto avistava o carro do meu pai se aproximando pela estrada próxima à colina.

  — Vou sentir saudade de você. — Nico me disse, me dando um abraço.

  — Ah, mas a gente ainda vai poder se ver até janeiro. — Eu disse, tranqüilizando-o. — Qualquer coisa, Mensagens de Íris existem.

  — É, mas dracmas não caem do céu, sabia?

  — Seu pai é deus de todos os metais subterrâneos. Ele é rico. Sem contar Caronte. Aposto que você consegue uns dracmas facilmente com aqueles dois.

  Nico riu e beijou minha testa. Nós demos as mãos e descemos a colina, correndo em direção ao carro do meu pai. Eu apresentei Nico ao meu pai (Nico estava completamente sem-graça, mas meu pai pegou leve com ele, apesar de eu ver que ele queria mesmo era ferrar com o garoto. Sim, meu pai é ciumento), e entrei no carro para voltar para o que não seria minha casa por muito mais tempo.