– Nota-se claramente que queres perder o favor da Rainha! - Izumi olhou indignada para o marido parado em frente à janela, aéreo, fitando o enorme jardim - Olhe para mim. 

Itachi desviou seus olhos negros para sua esposa que estava de pé ao lado da cama do casal, claramente decepcionada com ele. 

– Izumi, foi mais forte do que eu.

– Por favor, meu amado marido, não faça mais isso. - Suplicou a mulher. Ela se aproximou de Itachi e segurou em suas mãos, olhando fundo nos olhos tão negros quanto os seus próprios - És querido pela Rainha, mas essas alfinetadas não levarão a lugar algum e só servirão para deixá-la insatisfeita com você. Não me leve a mal, Itachi, digo isso porque eu te amo. 

– Eu sei, minha querida. - Itachi beijou a mão de sua esposa - Eu só queria poder ter contato com a criança. 

– Sabe que a Rainha não permitirá que se aproxime dela. - Riu sem humor - A Princesa mal vem à Corte, até porque não tem necessidade já que a Rainha a visita em sua casa.

– Mesmo assim... Eu queria poder vê-la novamente. Já faz tanto tempo desde a última vez. 

– Esqueça isso, por favor. Insistir nesse assunto só irá despertar a fúria da Rainha, você sabe disso. 

– Tudo bem... - Levou uma de suas mãos até o rosto de sua esposa, fazendo um delicado carinho em sua bochecha levemente corada - Acho que farei um agrado para a Rainha, quem sabe assim o clima de paz volte a se instalar entre nós.

– Faça isso. - Assentiu a morena. 

Itachi saiu de seus aposentos após depositar um beijo na testa de sua amada esposa, caminhou calmamente pelos enormes corredores do castelo até enfim chegar ao escritório da Rainha.

Sakura não estava ali e ele se perguntou o que a monarca estaria fazendo. 

Num dos corredores se encontrou com Hinata, que informou onde a Rainha se encontrava, mas advertiu que ela queria ficar sozinha. 

O Uchiha ignorou algumas palavras ditas por Hinata e seguiu apressado para fora do castelo, andando apressado pelos jardins até enfim chegar onde Sakura praticava com arco e flecha como há tempos não fazia. 

– Majestade? - Ele chamou a atenção da Rainha que manteve seus olhos verdes fixos no alvo, mirando sua flecha - Eu gostaria de pedir perdão por ter sido tão petulante. 

– O que você quer, Itachi? - Soltou a flecha que acertou o alvo, logo em seguida largou o arco no chão e encarou o homem ao seu lado - Por que veio me pedir desculpas? 

– Porque admito que passei dos limites. 

– Só isso? - Indagou com desconfiança, levando uma de suas mãos até a cintura. 

– Sim. - Assentiu - Não quero que haja um clima hostil entre nós, Majestade. 

– Está bem. - Deu de ombros. 

Fitou a flecha no alvo e o arco com mais flechas no chão. Há tempos não praticava e estava estranhando um pouco, embora sua mira ainda continuasse impecável.

Não sabia por que sentiu uma vontade repentina de pegar novamente seu arco e suas flechas, mas pareceu uma boa forma de passar o tempo e espantar pensamentos depressivos. 

– Como demonstração da minha afeição para com a Rainha, lhe darei uma caça. - Itachi falou num tom de voz divertido e Sakura o encarou confusa.

– Uma caça? 

– Sim. Uma caça para o banquete do vosso aniversário, Majestade. - Respondeu - Um cervo. 

– Hum... Seria ótimo. - Sakura tentou forçar um sorriso, mas seu desânimo era óbvio. 

– A Rainha... - Itachi olhou confuso para a rosada que colocou uma mecha dos cabelos rosados atrás da orelha, aparentando estar preocupada - Aconteceu alguma coisa?

– Não, nada. - Balançou a cabeça em sinal negativo - Não se preocupe, Itachi.

– Certo, então. - Sorriu - Matarei um cervo.  - Ele fez uma reverência - Com a vossa licença. 

Sakura assentiu e Itachi se retirou, deixando a rosada aflita. 

Não tinha como esquecer que Sasuke faleceu durante uma caçada. Aquilo marcou profundamente a vida de Sakura e ela estava com um pressentimento sobre essa caçada de Itachi, embora não conseguisse decifrar se era bom ou ruim. 

[...]

Não sabia quanto tempo havia passado desde que encontrou a tal cachoeira de que se lembrava tão bem desde o momento em que recobrou sua memória. No entanto não sabia para onde ir depois dali... Seguiu o rio como Tsunade havia recomendado e encontrou a cachoeira, mas não sabia para onde ir dali em diante. Pensou que suas lembranças voltariam quando reencontrasse aquele lugar, ma não. 

Estava perdido... 

Sentia frio, sentia fome - o alimento que levara consigo já havia acabado -, seu corpo estava fraco, sentia-se febril. 

Já não sabia se havia sido uma boa idéia deixar a casa de Tsunade para procurar por Sakura, a moça que ele sequer sabia se ainda estava viva. 

– E agora... O que eu faço? - Desesperado e com lágrimas nos olhos, o homem se escorou num tronco de árvore e aos poucos foi se sentando no chão. Por sorte as árvores estavam dando frutos e ele poderia matar sua fome, mas não sabia quanto tempo levaria para encontrar o castelo de que se lembrava como era, mas não conseguia lembrar do caminho para lá - O que eu fiz? 

[...]

Itachi já estava devidamente vestido para a caçada, os preparativos para o banquete de aniversário da Rainha já estavam a todo vapor e ele iria matar o cervo que prometeu. 

Montou em seu cavalo negro e cavalgou em direção à floresta, onde habitavam alguns animais silvestres perfeitos para um banquete. 

Não demorou muito para que Itachi encontrasse seu alvo perfeito, então pegou seu conjunto de arco e flechas, preparando-se para matar o pobre animal. Mirou em seu alvo e soltou a flecha, mas, para sua infelicidade, o cervo foi mais esperto e percebeu o perigo que o cercava, correndo dali rapidamente. 

– Droga! - Praguejou o moreno, segurando nas rédeas de seu cavalo para então cavalgar atrás do cervo que mais tarde estaria assado no banquete da Rainha. 

Decidiu descer de seu cavalo e ir atrás do animal andando. Deu alguns passos silenciosos em direção ao local para onde o cervo tinha ido se esconder. 

Percebeu um certo movimento e ouviu o barulho de folhas se mexendo, então esboçou um sorriso vitorioso com a idéia de matar o animal para a Rainha. 

Escondido atrás de um grande tronco de árvore, Itachi colocou a flecha no arco e puxou, preparando-se para atirar. Mas, quando virou-se para mirar a flecha no cervo, levou um susto ao perceber que quem estava ali era uma pessoa. 

Ficou frustrado, uma vez que um dos pratos do banquete de Sakura havia fugido e ele precisaria encontrar o animal, mas se perguntou o que alguém fazia ali. 

Seja lá quem fosse, usava uma capa preta e mexia em alguns arbustos, provavelmente procurando frutas para comer.

Itachi se aproximou da pessoa e tocou em seu ombro; então foi surpreendido quando, assustado, o homem que se virou bruscamente era claramente seu irmão. 

O coração do mais velho quase foi parar na garganta por um momento, suas mãos suaram frio e um turbilhão de sentimentos veio à tona. 

Sasuke estava mais maduro; seus cabelos estavam um pouco mais compridos do que Itachi estava acostumado a ver e sua franja cobria um pouco dos seus olhos; estava claramente assustado e confuso; suas bochechas estavam bastante vermelhas assim como seus lábios e ele suava bastante. 

Sasuke ficou inicialmente confuso, mas logo reconheceu aquele homem. Não tinha memórias dele como estava, mas suas lembranças de infância eram bem claras e aquele homem era extremamente parecido com a imagem que tinha de seu irmão. 

– Itachi? - Sasuke perguntou num fio de voz. 

Itachi o largou e deu três passos para trás, incrédulo. 

Aquela pessoa era Sasuke; ele estava ali na sua frente, vivo e, o que tudo indicava, lúcido. 

– Meu irmão... - Sentiu seus olhos lacrimejarem - Você está vivo... - Sorriu - Como isso é possível? Como, depois de tanto tempo?

– Eu... Eu... Eu estava... - Sasuke respirou fundo, sentindo sua cabeça rodar e sua visão ficar turva.

– Você estava...?

– Eu estava... 

Sasuke sentiu seu corpo ficar mole, e Itachi, percebendo que seu irmão estava prestes a desmaiar, se aproximou dele rapidamente e o segurou. 

Tocou em sua testa e percebeu que Sasuke tinha febre, o que o preocupou. Não sabia o que havia acontecido com ele nesses seis anos, tampouco como andava sua saúde. 

Tinha muitas perguntas para fazer, mas primeiro precisava tratar de Sasuke. 

– Não se preocupe, Sasuke. Levarei você para o castelo. Você ficará bem.