Uma Canção para nos Dois. escrita por Kajji Snow


Capítulo 5
Teste.


Notas iniciais do capítulo

A música MEET ME ON THE EQUINOX usada neste capitulo pertence a banda Death Cab for Cutie, portanto todos os créditos a eles.
Hoje estava inspirado postei dois capítulos num só dia.
Lyah e João desenvolvem uma amizade enquanto que Alice tenta uma aproximação de João.



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Já haviam se passado duas semanas desde que conheci Lyah, ela agora já estava mais conformada com a realidade e até estávamos indo juntos pra escola.

—Aquele seu amigo é engraçado.

Começou ela enquanto caminhávamos para o ponto de ônibus.

—Quem, o Martim?

Perguntei.

—Sim ele mesmo, está te rodeando desde que voltamos a escola.

Continuou ela, Lyah sempre usava a boina de tricô o que despertou minha curiosidade.

—Você gosta mesmo dessas boina não é.

Comecei.

—Sim, foi minha mãe quem tricotou ela. – respondeu ela me olhando. – Vamos tocar hoje?

Questionou ela olhando para o volume que levava na mão direita.

—Há isso? Bom na verdade essa é a razão pela qual Martim está me “rodeando”.

Respondi rindo.

—É sobre o teste pelo qual você estava se preparando ontem?

Perguntou ela.

—Sim, já faz um tempo que ele vem me pedindo pra fazer o teste pra banda que está sendo formada por alunos da escola, porem eu não tenho bem certeza se quero mesmo entrar.

Ela se colocou em minha frente andando de costas.

—Passe.

Falou ela me encarando.

—Hein?

—Estou te dizendo para passar no teste, arrebente!

Exclamou ela entusiasmada.

—É complicado sabe...

Ela então parou o que me fez parar também.

—João, a vida é uma só pra você perder seu tempo dessa forma... Você ama a música então você vai fazer este teste e vai passar e mostrar seu talento pra todo mundo!

Intimou ela abrindo meus olhos. “Tai, agora eu quero passar!”

Chegamos na escola e Martim nos esperava no portão.

—Fala João! Olha só você trouxe a “morena”

Falou ele.

—Perdão mas, eu me chamo Lyah.

Falou Lyah e então tive de corrigir o mal-entendido.

—Não, não Lyah, “morena” é como chamo minha guitarra.

Respondi enquanto caiamos na risada.

—Sabe Martim. – Comecei enquanto íamos para a sala. – Pensei sobre o que havíamos falado antes. – Olhei para Lyah que assentiu com a cabeça. – Vou fazer o meu melhor pra entrar na banda.

Os olhos dele faiscaram de felicidade.

—Podes crer! Já até vejo nos dois tocando juntos como nos velhos tempos.

Continuou ele feliz da vida.

—A que horas vai ser o teste?

Perguntei enquanto entravamos no nosso corredor.

—No final das aulas, conseguimos autorização para usar o auditório por uma hora depois das aulas por dois dias na semana.

Explicou ele.

—Bom senhores tenho que ir. – Começou Lyah beijando o rosto de Martim. – Boa sorte. – Falou ela me olhando nos olhos, depois me deu um beijo no rosto e entrou na sua sala.

—Estou começando a gostar dessa menina.

Falou ele rindo.

—A propósito, o pessoal gostou da música que você escolheu pra tocar e cantar. – Começou ele. – Mas não acha que é arriscado cantar em inglês já que faz tempo que você não toca em banda? Ainda mais em um teste.

Falou Martim preocupado.

—Vocês me querem dentro então tenho que arriscar com uma música em inglês. – comecei explicando os motivos. – É mais que obvio que se eu cantar em português vou ser aprovado.

Disse completando meu raciocínio.

Quando entramos na sala Alice estava em um lugar diferente, ao invés de duas cadeiras de distância agora estava bem nas minhas costas.

—Alguém quer se aproximar?

Perguntou Martim preocupado, porém notei que ao ver Alice o meu coração não havia doido tanto como de costume, a ferida estava lá mas, já não pulsava tanto.

—Bom dia João.

Falou ela. – Bom dia. – Respondi.

Quando sentei ela continuou.

— O violão ficou ótimo.

O que há com essa garota.

—Que bom, fico feliz em poder ter ajudado. – Respondi, minhas mãos estavam suando e o traidor que chamo de coração pulsava a cada palavra trocada com ela.

—Você vai tocar em algum lugar? – perguntou ela gesticulando para a guitarra.

Acho que não fara mal contar.

—Tenho um teste hoje no final das aulas, pra banda em que Martim está tocando. – Comecei enquanto ela me olhava nos olhos, os olhos cor de mel de Alice brilhavam por trás das lentes de seu óculos.

—Serio! – exclamou ela vindo em minha direção com um sorriso desconcertante. – Isso é maravilhoso!

Exclamou ela entusiasmada fazendo todos os olhos da sala se voltarem para nos dois.

“Eles voltaram?”  “Não sabia que estavam juntos de novo.” Era isso que escutava em meio aos murmúrios curiosos.

—Alice. – Comecei desconcertado. – As pessoas... estão olhando.

Falei desconcertado, por um minuto queria ser um avestruz pra poder botar a cabeça na terra.

Na realidade o meu ser estava mais sociável depois de ter conhecido Lyah, conversávamos por horas e ela me dizia que eu estava sendo como um anjo da guarda para ela mas, na verdade era a sua agradável companhia que estava me fazendo bem.

Certa vez quando lhe contei minha história e sobre a conversa na loja me surpreendi quando ela disse que talvez eu devesse dar uma chance de Alice me explicar o porquê da nossa separação, que deveria deixar ela se aproximar para que o passado fosse mesmo finalizado.

—Desculpe eu me empolguei, desde já te desejo boa sorte e depois quero que me conte tudo. – ela falava como se fossemos velhos amigos, como se nunca tivéssemos nos distanciado aquela tentativa desesperada de reaproximação que Alice estava fazendo mostrava que realmente ela estava sentindo minha ausência, então decidi seguir o conselho de Lyah.

—Ok, pode deixar.

Os olhares curiosos só faltavam pular sobre nós depois disso.

Na hora do intervalo não sai da sala de aula fiquei escutando exaustivamente a música que iria tocar, com a guitarra em mãos tentava memorizar os movimentos já que não poderia olhar frequentemente para a mão na hora de cantar.

Alguém bateu na porta anunciando a sua chegada.

—Atrapalho? – perguntou Lyah entrando com uma trouxinha nas mãos. – vim te trazer uma coisa.

Falou ela sentando-se ao meu lado.

—Não, você não atrapalha nunca. – respondi enquanto guardava a morena de volta no seu case. – O que é esse embrulho?

Perguntei enquanto ela me entregava a trouxinha.

—Culinária caseira de Lyah Mendes. – falou ela rindo. – Vem acompanhado com um desejo de boa sorte.

Falou ela, quando abri o embrulho vi que haviam alguns biscoitos dentro, com a fome que estava peguei logo um e abocanhei.

—Está maravilhoso! – Falei enquanto comia outro. – Você cozinha bem.

Ela então me passou um copo com suco.

—Não se preocupe é natural. – falou ela enquanto sorvia um gole. – Li em algum lugar que não é muito bom um cantor tomar bebidas gaseificadas então comprei um suco natural na cantina pra acompanhar.

— Obrigado, estou tão concentrado que nem lembrei de comer alguma coisa.

Falei enquanto terminava.

— Vou estar lá. – começou ela. – no seu teste, Martim disse que não tem problema eu ir.

Falou ela me olhando.

—É muito bom ouvir isso. – respondi enquanto dobrava o lenço onde estavam os biscoitos. – Digamos que vai ser um incentivo.

Ela então levantou-se e foi em direção a porta.

—Agora vou te deixar estudar bem essa música. – falou ela piscando um olho. – Vou gritar como uma louca quando você for aprovado.

Depois de dizer isso ela se foi, as aulas hoje passaram rápido o que aumentou meu nervosismo.

—Vamos lá garoto. – falou Martim levantando. – Chegou sua hora!

Exclamou ele enquanto eu levantava.

—Vale dizer que estou com dor de barriga? – perguntei rindo. – Estou brincando, sabe que não fujo.

Rimos da piada, senti uma mão segurar a minha.

—Mais uma vez boa sorte. – Falou Alice, a mão dela estava quente e aquela atitude me deixou corado. – Estou torcendo por você.

—Valeu. – respondi apertando a mão dela em retribuição. – Obrigado pelo apoio.

Peguei a morena e segui Martim até o auditório, encontramos Lyah no meio do percurso e ela nos acompanhou.

Quando entrei no auditório pude ver os instrumentos preparados um teclado solitário estava sendo ajustado por uma garota loira baixinha, a bateria sendo afinada por seu parceiro um cara de boné e alargador na orelha, pude ver outro guitarrista afinando sua Stratocaster.

Ao notarem nossa chegada todos levantaram.

—Fala galera, tudo certo? – Começou Martim cumprimentando todos. – Aqui está o homem.

Concluiu ele.

O guitarrista então levantou-se e veio em minha direção.

—E ai cara tudo bem contigo? – perguntou ele com um sorriso no rosto estendendo a mão. – Me chamo Felipe.

Retribui o aperto de Felipe. – João, tudo certo e com você?

Ele acenou com a cabeça em afirmativa.

—Deixa eu te apresentar o resto do pessoal. – começou ele apontando para a garota. – Nos teclados temos Helen, não se engane com a estatura, a garota sabe o que faz.

Falou ele, Helen então veio e me cumprimentou. – Prazer João.

— O prazer é meu.

—Continuando. – falou Felipe apontando para o baterista- Eduardo na batera, esse é o cara que quebra tudo! – Exclamou ele, Eduardo acenou de trás da bateria.

—Ai cara não me leve a mal, estou terminando de ajustar o bebê, tudo em cima parceiro?

Perguntou ele.

—Tranquilo.

—E no baixo, bom esse você já conhece não é Martim?

Perguntou ele.

—Sim esse eu conheço muito bem.

Respondi.

—Bem, nós nunca tocamos com alguém cantando, até porque a banda não estava completa o que significa dizer que você vai ser o primeiro a botar voz na nossa banda.

Falou Felipe.

—Mas é o Martim, ele canta também.

Falei.

—Ele só quis tocar. – Respondeu Felipe. – na verdade estamos depositando nossa confiança em você agora, já vimos você cantando e sabemos que você é experiente mas, a julgar pela escolha da música você quer realmente ser testado tanto por nós como por si mesmo.

Falou ele.

—Exatamente. – respondi. – Vamos ao que interessa?

Perguntei nervoso.

—Pode plugar o seu bebê e ajustar o tripé do microfone quando estiver pronto é só falar.

Então retirei minha Les Paul preta (Agora deu pra entender o porquê de morena né?) do case e a pluguei, afinei novamente as cordas e ajustei o tripé do microfone para minha altura.

—A proposito Felipe. – Falei apontando para a minha guitarra. - O nome dela é morena.

Eles riram.

—Gostei, tem certeza que quer essa música mesmo?

Perguntou ele.

—Sim, vai ser Meet Me on The Equinox

Respondi, Lyah sentou-se e acenou a cabeça em afirmativa.

—Então tá, ao seu comando.

Falou Felipe.

Fechei meus olhos e respirei fundo, deixei o ar correr por meu corpo, aquele frio na barriga.

—Um, dois, três e.

Começamos.

—Meet me on the Equinox
Meet me half way
When the sun is perched at it's highest peek
In the middle of the day

Os acordes fluíam naturalmente enquanto eu cantava.

Chegamos ao refrão.

—That everything, everything ends
That everything, everything ends

Sim, tudo termina…

Assim como o meu namoro com Alice.

Assim como a vida da mãe de Lyah

Então porque essa maldita dor não poderia acabar também?

Tocávamos furiosamente aquela música, estava inebriado com aquele som

Lyah me olhava esperando mas, esperando o que?

—A window
An opened tomb
The sun crawls
Across your bedroom
A halo
A waiting room
Your last breaths
Moving through you

Quando chegamos no refrão percebi que a dor estava sendo arrancada pela raiz.

“Sim, se tudo termina você também vai ter um fim agora!”

— That everything, everything ends
That everything, everything ends

“Que essa maldita solidão pegue essa dor e vão ambas para o inferno!”

— Meet me on the Equinox
Meet me half way
When the sun is perched at it's highest peek
In the middle of the day

Let me give my love to you
Let me take your hand
As we walk in the dimming light
Or darling understand

That everything, everything ends

Quando terminamos a música nos olhamos surpresos, aquilo havia sido incrível sem um ensaio, sem nem mesmo nos conhecermos.

—Isso foi incrível...- falou Felipe sem folego. – Helen, como foi o Inglês?

Helen olhava-me perplexa.

—Você faz aulas não é? – perguntou. – só pode fazer aulas.

Perguntou ela.

—Bom faz uns dois meses que comecei a estudar inglês mas...

—E pouco tempo pra cantar sem erros. - Falou ela arfando. – quantas vezes você escutou essas música?

—Até perdi as contas. – respondi. – Mas como você sabe se cantei certo?

Perguntei.

—Minha mãe é Americana. - respondeu ela. – Mas já faz uns três anos que ela separou-se do meu pai, nas férias sempre viajo pra Nova York.

Respondeu ela.

—E então o que isso quer dizer? – Perguntei nervoso. – Passei ou não?

Eles me olharam e foi Felipe quem tomou a palavra.

—O que você acha? – perguntou ele como se eu soubesse a resposta. – Valeu a pena esperar você mas, para ser mais claro: Você está dentro!

Demorei uns segundos pra assimilar.

—Tou dentro... – comecei rindo. – Tou dentro... – olhei para Martim. – Eu consegui!

Gritei explodindo de felicidade.

Lyah soltou um grito e correu para me abraçar.

—Eu sabia, sabia que você ia conseguir!

Todos começamos a festejar no auditório.

E foi assim que entre na Banda Our Time


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Notas finais do capítulo

Bom aqui vai ma imagem da guitarra modelo Stratocaster usada por Felipe, pra você que não conhece instrumentos poder dar uma olhada. http://michael.com.br/site/images/instrumento/galeria/big/ins_146_100.jpg
e não percam os próximos capítulos que serão impressionantes!



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