Inocência Premeditada escrita por Bia


Capítulo 7
Com a palavra, a ré


Notas iniciais do capítulo

Hermione Granger (x)



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Com a palavra, a ré...

Sentada em sua cama, no dormitório da Grifinória, com todas as demais garotas dormindo tranquilamente ao seu lado, Hermione Granger escrevia em seu diário coisas que nem mesmo a imaginação fértil e cruel de Rita Skeeter seria capaz de criar.

É claro que sabia do poder que tinha sobre Rony. É claro que sabia da atração que Malfoy sentia por ela. É claro que sabia que sua amizade com Harry já não era mais a mesma há tempos.

Como tinha dito Lupin, das bruxas da sua idade era a mais inteligente.

E essa era uma questão tão absoluta que conseguiu fazer com que três garotos, reconhecidos por algum talento intelectual, acreditassem no que ela queria que acreditassem. Nem a mais, nem a menos. Fez com que acreditassem que ela era a imagem exata daquilo que – no fundo – todo mundo procura: compreensão, doçura, um toque de passividade, bastante altruísmo...E foi tão fácil conseguir que sentia-se constantemente surpresa.

Apesar do choque que teve ao perceber a terrível ingenuidade dos garotos, Hermione entendeu que a realidade era um pouquinho mais profunda e claramente impiedosa. Com o tempo, foi se dando conta que, na verdade, pouco importava, para eles, quem ela era de fato, contanto que mantivesse intacta as qualidades que eles apreciavam, que os beneficiava. O que eram as suas frustações perto das de Rony, por exemplo? Antes, quando ainda não conhecia as regras do jogo, e se colocava a falar das suas próprias frustações, de coisas que desejava e que não tinham se concretizado, só via o amigo ruivo revirar os olhos aborrecido. Mas, é claro que ele poderia compartilhar suas frustações com ela. A expressão seria bem diferente – completamente apaixonada – desde que ela sentasse ao seu lado e só o ouvisse falar das injustiças das quais era vítima. A pena enorme que Rony sentia de si mesmo fazia com que se sentisse enojada.

E Draco Malfoy, então! Merlin, esse garoto era uma piada. Dos três, era o mais influenciável. Claro que a distância ajudava bastante; quando vemos algo de longe, ele sempre parece mais bonito. Ela não precisava sequer lhe dirigir à palavra para que a desejasse, bastava demonstrar uma coragem que ele não tinha sequer coragem de tentar ter. Nem é preciso dizer que no primeiro momento em que demonstrasse fraqueza, se mostrasse receosa, medrosa ou um pouco atingida pela opinião alheia – o que é pra lá de normal – toda a atração que Malfoy sentia por ela seria levada pelo vento como cinzas.

E por que não falar do grande Harry Potter? O menino que sobreviveu e que continua sobrevindo graças à ela. Harry estava tão interessado em sua real personalidade quanto estava interessado em voltar para a casa dos tios. Não, não, com ele Hermione tinha quase um contrato silencioso; um que só beneficiava uma das partes, claro. Poderia seguir sendo sua amiga, sua companheira e, no momento, a principal mulher de sua vida, sob a condição de nunca, jamais, apontar mais de uma vez quando ele errava – Harry era tão sensível a críticas! -  e, apesar de saber antecipadamente que o amigo estava pegando a direção equivocada, continuar acompanhando-o em suas loucuras. Praticamente, um cão.

Quando notou que eram essas as regras do jogo, a Granger ficou verdadeiramente furiosa e jurou acabar com aquela farsa o mais breve possível. Não o fez, no entanto. Sendo quem era, compreendeu rapidamente que ganhava muito mais mantendo a ideia que os garotos tinham de si do que ser efetivamente quem era; bastava refletir o que cada um desejava para que ganhasse a sua total e completa adoração. Isso sem contar que a sensação de tê-los nas palmas das mãos e movê-los como piões era viciante demais.

Mas, infelizmente, eles tinham proteção.

Ah! As garotas...As mulheres são seres difíceis de enganar.

Se não fosse por Lilá, Pansy e Cho, Hermione já teria feito, desfeito e refeito com aqueles garotos e ainda assim, eles se dedicariam à ela. Entretanto, essas garotas existiam. Garotas que conseguiam ver com olhos de lince sua real fisionomia e as suas verdadeiras intenções.

No fundo, sentia simpatia por elas. E muita dó.

Aquelas três viviam para rodear e cuidar de três garotos que nem, ao menos, tratava-as como prioridade. Além do fato de serem burras, isso causava ainda mais dó a Granger. Em seu lugar, Mione teria percebido sem demasiado esforço que o problema não era a outra mulher – nesse caso, ela – o problema eram eles.

Como elas não conseguiam ver algo tão nítido? A questão não se resumia a sua presença próxima do Weasley, Malfoy ou Potter; a questão era a falta de valor que eles davam ao que elas ofereciam. Eles é que, como eternos insatisfeitos, não valorizavam com o real imperfeito que possuíam e preferiam viver atrás de um reflexo. Uma vez, conversando sobre isso com Luna e Gina, a garota sentiu-se aliviada em perceber que ambas compreendiam essa situação.

Gina, uma estrategista nata, ainda levantou a questão da vantagem. Óbvio que não era vantajoso para nenhum dos três que suas namoradas não vissem a Granger como um perigo. Se elas acreditassem que o objetivo de Mione era acabar com seus preciosos relacionamentos, se dedicariam mais a satisfazer os namorados do que fariam geralmente caso acreditassem que não corriam nenhum perigo. Eles saíam na vantagem de qualquer forma.

Se pudesse, Hermione colocaria isso na cabeça de cada uma daquelas três garotas e seria hilário ver a cara ver a cara de Rony e Harry ao testemunharem ela, Lilá e Cho trocando risadinhas. Por motivos que é de conhecimento de todos, não poderia fazer o mesmo com Pansy, mas acreditava sinceramente que se ela parasse de fazer caretas toda vez que a visse, já despertaria uma certa curiosidade em Malfoy.

Sabia exatamente o porquê não gostavam dela e sabia que era pelo motivo errado. Só queria dizer que eles não mereciam tanto sacrifício, só queria dizer que nenhum deles valia tanto a pena...

E isso servia para Lilá, Pansy e Cho, mas também servia para si mesma.

Cansada, bocejou e escreveu uma última palavra antes de fechar o diário para dormir.

“Tolos.”


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