Crônicas das terras arrasadas: O sentimento algoz escrita por Abistrato


Capítulo 7
Capítulo 7 - Jennifer Wagen




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Capítulo 7 – Jennifer Wagen 

 

Quando se pilota através das planícies arrasadas tudo parece pacífico, como se nada nunca tivesse acontecido. A natureza podia ignorar toda a morte que ocorreu há duzentos anos e simplesmente engolir tudo que os homens fizeram voltando a todo seu equilíbrio e diversidade. Eu passei muito tempo observando a natureza e cheguei à conclusão de que a palavra de ordem da vida é a morte. Todos os animais que conheço matam para sobreviver. A vida não passa de uma grande guerra e o planeta terra é o campo de batalha. Observando atentamente, no mundo existem apenas assassinos. Simplesmente não existem pessoas que nunca mataram, pois se alimentar nada mais é do que matar para sobreviver. 

A falsa sensação de paz acabou quando passei por uma das cidades destruídas. Prédios enormes se apoiavam uns aos outros, gigantescas pontes de concreto e aço abrigam vilas inteiras. É-me difícil imaginar como um dia todo isso foi erguido do zero ou como era possível sustentar uma cidade dessa magnitude, quem dirá várias delas então.  

De todos os animais que já vi o ser humano pode ser o mais inteligente, a ponto de construir cidades intermináveis com obras magníficas, mas é muito mais dedicado a destruir tudo que já criou. As grandes crateras que se repetem na paisagem provam isso. Uma herança herdada da natureza. De vez em quando eu me pergunto se nossa necessidade por lutas, batalhas, guerra é tão grande, tão presa em nosso instinto quanto a fome, a sede, o sono, o sexo; a ponto de termos a mesma sensação de prazer ao satisfazê-la. Aquela sensação que temos quando descobrimos que o antagonista morreu e nos alegramos sadicamente ou nos lamentamos de não ter curtido mais seu sofrimento. Essa sensação está em todos nós e quanto mais se nega mais se sente. Não negue. Todas as guerras poderiam ser resolvidas com diplomacia, mas estas não têm razão para serem feitas, são feitas por prazer, prazer de satisfazer nossa cruel e sádica mãe natureza. 

Ao olhar pelo retrovisor vejo Valquíria novamente largada do meu lado no banco e me lembro do Will. Com certeza se ele estivesse aqui diria que estou pensando muita besteira e provavelmente me apontaria às coisas belas na vida, mas ele não está… Ele está morto… Minhas mãos tentam suprimir meus gritos de ódio esmagando o volante, porém não conseguem. Os responsáveis vão pagar pelo que fizeram. Todos na mesma moeda. Quem sabe assim a natureza não fica mais satisfeita e para de tirar aqueles que amo de mim! 

Entretida pelos meus pensamentos não vi o tempo passar voando, e logo a noite caiu levando minhas pálpebras junto dela. Minha determinação me sustentou até sair da antiga cidade antes do sono se tornar incontrolável me forçando a procurar um lugar para dormir. Eis que encontrei uma construção a alguns quilômetros da saída da cidade que parece uma antiga fábrica com um grande pátio e vários carros destruídos. Parei a Woman O’War em uma das vagas onde me senti mais segura pela camuflagem dos carros ao redor e dormi ali mesmo abraçada a Herrenvolk.  

..._________... 

Acordei com o barulho de motores e o som de alguém gritando por um megafone quando o sol já raiava. Levantei-me para ver o ocorria: duas caminhonetes de batalha e diversos homens cercavam a fábrica. Não eram Draugs, não tinha os símbolos típicos deles, nem as vestimentas, então eu não tinha porque me meter no meio da história, mas aproveitei que ainda estava incógnita entre os outros carros para observar melhor o que acontecia. Contorci-me para ir para a caçamba pelo buraco onde antes era a janela traseira e, junto do meu fuzil e sua nova mira telescópica, avaliei a situação. 

— Não nos faça de trouxa, Jonhson! Você tinha combinado que era para três dias atrás! Nosso estoque está quase zerado! – disse o homem do megafone que se estendia para fora de uma das caminhonetes. 

— Eu não tenho agora! Eu preciso de mais um mês! — gritava o tal Jonhson por uma das janelas. 

— É claro que você tem! E aquilo que você vende para os mercantes?! Você não vai querer deixar o chefe irritado, Jonhson! — Aparentemente o cenário iria feder muito rápido, pelo tom do homem.  

 

— Eu não tenho! Falem para ele esperar mais um mês! 

— Ele não vai esperar por mais nada! Ele já está nervoso com você e sua falta de palavra! 

— São negócios, meu caro, eu não posso fazer nada, então se quiserem alguma coisa voltem daqui a dois dias. 

— Se alguém voltar aqui esse alguém vai ser o Algoz, seu velho maluco! — O Algoz… Eu não sei quem é, mas já não quero me deparar com ele. 

Depois de um longo silêncio o homem abaixou seu megafone e fez uma cara de desaprovação dando a ordem para invadirem que começou um tiroteio. Algumas armas disparavam de dentro da fábrica, porém em uma desvantagem numérica enorme. Ah! Tá tão fácil... Eu não vou resistir a uma emboscada à moda antiga, fora que Will diria que é estratégico conseguir aliados ou ganhar recompensas. Bem, tá na hora de ganhar uns pontos com o time local.  

Com um forte suspiro, meus olhos se cerraram como sempre faziam antes de um disparo milimétrico, minha mão ajustou a mira compensando a gravidade e o vento para um dos tiros mais bonitos que pude dar em tempos. A Woman O'War vibrou quando suavemente terminei de puxar o gatilho. Por quase meio segundo pude observar o iluminado ponto amarelo descrever uma parábola pelo ar até a cabeça do líder que foi arremessado ao chão numa bela explosão vermelha. 

Os homens ficaram desorientados com a repentina perde de seu superior, entretanto continuaram a seguir a ordem sem desconfiar de mim. Isso me deu muito tempo e tranquilidade para poder preparar meu novo tiro. Eu poderia dizer que era até mais fácil e emocionante do que caçar. 

 

Claro que meus primeiros alvos foram as caminhonetes uma vez que elas também tinham metralhadoras pesadas como a minha e eu não estava a fim de virar carne moída como os meus alvos. Quando eles perceberam que o real perigo estava longe à direita começaram a disparar em minha direção. 

 Eu podia sentir o cheiro de sangue e pólvora queimada, ouvir as cápsulas quentes caindo na caçamba e ver as faíscas das balas ricocheteando na chapa de aço que me protegia entre um disparo e outro. Rapidamente os homens da fábrica entenderam que eu estava ajudando-os e aproveitaram para finalmente me ajudar a ajudá-los. 

O combate durou pouco, terminando com a fuga de uma única caminhonete sobrevivente aliviando um pouco minha raiva, mas nada do meu mau humor. Levei a Woman O’War até os portões da fábrica, mas os quatro homens armados que me esperavam não havia preparado boas-vindas. 

— Quem é você e o que você quer? — dizia um de quatro rapazes armados que me cercaram ainda dentro do carro. O porta-voz tremia tanto que sua arma não parava de fazer barulho. Era patético. 

— Cuidado, se você continuar assim vai acabar desregulando sua arma. Eu vou descer. — Eu peguei Valquíria e escondi na calça. 

— Não faça nenhuma gracinha! — Vamos ver se você vai achar alguma graça. 

— É assim que vocês tratam quem salvou suas vidas? — Ele veio tirar a Come Quieta do coldre enquanto apontava o fuzil para mim, então eu peguei seu braço e torci por suas costas pondo Valquíria em seu pescoço. — O negócio é o seguinte: ou vocês botam suas armas no chão, ou eu o faço virar comida de verme! — A situação ficou em um empasse até que um grande velho negro apareceu. 

— Vocês! Vão embora, ela está certa, não é assim que se trata quem salvou nossas vidas. — Os três rapazes entraram. — Agora sua vez senhorita. — Eu solto o rapaz dando um tapa na nuca dele. 

— Muito bem. — Virei-me para o senhor Jonhson. — Sério, tira aquela arma da mão dele. 

— Certamente o farei, junto com o aumento do orçamento da segurança. Vamos, entre, senhorita… Qual seu nome? 

Johnson era calvo, apenas com uma auréola de cabelos grisalhos que cercava topo nu do couro cabeludo. Apesar de ser muito grande, não me intimidava de forma alguma, mas passava uma sensação de simpatia talvez por ser mais velho e parecia sorrir por baixo de seu enorme bigode grisalho. Ele vestia um traje social e um colete azul tricotado horrível que apenas evidenciava sua idade além da mania de ficar ajeitando o enorme bigode. Por algum motivo ele me lembrava um animal antigo cujo nome eu não tinha certeza, mas acho que se chamava morça. 

— Jennifer e você deve ser o senhor Jonhson, certo?  

— Sim, sou eu. — Ele sorriu mostrando os dentes numa imagem horrível que eu preferia não ter visto.  

 

Quando entramos o lugar era completamente iluminado e limpo como se não tivessem passado por nenhuma guerra. Por dentro era diferente de uma fábrica, havia mesas e mesas com várias pessoas em roupas brancas, como a que Angel e Samuel usavam no hospital, limpando em várias vidrarias com líquidos quebradas pelo tiroteio. Isso despertou minha curiosidade, mas eu ainda tinha que saber o que acontecera. 

 

— O que exatamente aconteceu aqui? — perguntei preocupada. 

— Uma divergência de negócios, minha cara, graças a Deus, ninguém se feriu dessa vez. 

— Me desculpa, mas divergência é eufemismo. 

— Bem, aqueles homens são de Discórdia, conhece? 

— Nunca ouvi falar, me explique.  

 

— Bem... — Ele ficou um pouco sem jeito com a minha grosseria. — É a última cidade ao norte antes do Império. Aqui nesse laboratório nós produzimos maquiagens e drogas, tudo desde delineador. — Não faço ideia o que seja. — Até anestésicos. — Esse eu conheço bem. — Coisas que Discórdia precisa aos montes. 

— Aaaaah! Então é daqui que vêm as maquiagens, eu sempre quis saber. — Aticei minha curiosidade o que fez Johnson muito feliz. 

— Exatamente, minha cara, todavia não somos os únicos que as fazem, a maioria dos outros laboratórios fica no norte, mas tentamos ter um preço competitivo fora dos impostos do império, infelizmente creio que, depois dos ajustes na segurança, não será mais tão competitivo assim, mas mesmo assim melhor. — Ele aparentava ter muito orgulho de seu laboratório — Nós tínhamos feito um negócio com esses homens, mas os comerciantes da região cobriram a oferta. Então avisamos que iríamos demorar mais que o previsto para entregar o pedido, mas eles não gostaram muito da notícia.  

— Hum… Entendo… Mas porque “Discórdia” precisa tanto assim de maquiagem? E quem são o Chefe e o tal Algoz? 

— Discórdia não é uma cidade comum. Ela vive de casas de show, prostíbulos, bares, festas e jogos de azar e afins. 

— Faz sentido… — Refleti. 

— Jack Boss é o dono de tudo dentro de Discórdia, ele praticamente pagou para erguerem aquela cidade no meio do nada. 

— Nossa! Ele é tão rico assim? — Estranhei. 

 

— Sim, ele é e ficou ainda mais rico. Gente de todo o norte vai lá para gastar dinheiro naquela cidade. Quanto ao Algoz: ele é o cachorrinho de colo do Jack Boss, fazendo tudo que o magnata manda, principalmente matando e destruindo qualquer ameaça ao império de seu mestre. — Com certeza não seriam pessoas que eu gostaria de irritar durante minha busca. 

— E você não tem medo dele? 

— Claro que não, eu sou o melhor produtor de maquiagem das terras arrasadas! O único que consegue produzir no tanto que ele precisa logo ele depende de mim.  

— Bem, se você tem tanta certeza…  

— Agora que eu lhe contei o que você queria saber, agora é seu turno. O que te traz aqui, com certeza você não nos ajudou sem querer algo em troca. — Ele sorriu. 

— O senhor é muito realista. — Impressionei-me. — Eu preciso de informações, estou procurando um pessoal que provavelmente passa por aqui. 

— Dado o número de armas que você carrega, com certeza não deve ser um pessoal legal. 

— Eles mataram alguém muito importante para mim. — Ele arqueou as sobrancelhas surpreso e depois piscou lentamente escondendo os lábios e torcendo o nariz reconhecendo a natureza triste da minha situação.  

— Meus pêsames. — Após um momento de silêncio ele voltou a falar. — Se você me permite eu tenho um dos meus químicos trabalhando em uma droga para soldados, já devo te dizer que ainda está em teste e só falta mais um passo, se você puder nos ajudar eu posso responder a qualquer pergunta e quem sabe te dar algumas coisas que podem te ajudar no seu caminho. 

— Mas o senhor é esperto, não é! Te ofereço a mão e o senhor já quer o braço? — indago. 

— Bem, infelizmente essa me é uma oportunidade única e aparentemente estou com vantagem nessa negociação. 

— Sabe, eu quase gostei de você. — ele riu simpaticamente com meu desconforto.  

Ele me levou para o andar de cima do laboratório onde havia praticamente uma horta inteira com diferentes tipos de plantas que sistematicamente tinham suas folhas cortadas e fervidas pelos homens de branco. 

— Israel! — Ele disse para um homem alto e barbudo com braços tatuados e alguns cabelos brancos. — Essa é Jennifer. 

— Prazer. — Ele apertou minha mão. — O que o senhor quer? — Ele perguntou com uma cara de quem tinha sido perturbado enquanto punha as mãos na cintura. 

— Ela foi quem salvou esse laboratório e faz o espécime perfeito pra testar o produto que você está pesquisando. — Minha face muda de distraída para “sob ameaça”. 

— UOUOUOUOUOU! Calma ai, senhor! Eu não vou ser cobaia de ninguém! 

— Israel, explique para a moça. 

— A fase de cobaias já passou, nós já fizemos testes em ratos-porcos, então se sua preocupação é essa, pode ficar sossegada porque isso não vai te matar, aleijar ou algo do gênero, nós precisamos de você só pra fazer os ajustes finais, como dose prefeita, efeitos colaterais e etc. 

— Bem, eu ainda não tô convencida. — Espero que essa tática do coronel Dulcan funcione. 

— Se você colaborar conosco — disse Jonhson —, nós vamos te dar algo pra te ajudar a criar alguma massa. 

— Ok. — Funcionou. — Pera! Você tá dizendo que eu sou magrela? — Acariciei a coronha da BFF que estava presa às minhas costas. 

— Não, magina, jamais diria isso. — Johnson teve um calafrio de medo.   

— Bom mesmo. 

— Então podemos começar agora? 

— O mais rápido possível, por favor. 

Israel se levantou enquanto Jonhson me conduzia até a sala de testes. Foi necessário uma longa conversa e muita paciência da parte deles para me convencer a deixar minhas armas por questão de "segurança", mas acabamos negociando em manter minha faca e não trancar a sala ou me restringir de qualquer forma mantendo sempre uma distância de 4 metros entre nós. O primeiro tirou todas as minhas armas voltando com uma seringa e um saquinho de plástico enquanto o segundo observava bloqueando a porta com seu corpo o que me deixava muito inquieta e nervosa apesar de não oferecerem nenhum risco a mim. 

— Bem, eu vou te explicar como funciona: — disse Israel — nós precisávamos de uma droga que deixasse um soldado melhor tanto fisicamente, quanto mentalmente para uma batalha. Eis que descobrimos essa droga que vai alterar a concentração de adrenalina e noradrenalina no seu corpo fazendo aumentar seu ritmo cardíaco, diminuir o calibre das suas veias elevando o fornecimento de oxigênio tanto para seus músculos quanto para seu cérebro e irá excitar o último. Isso te deixará com uma sensação de clareza de pensamento e parada de tempo, vai também tirar seu medo, inibir a dor e dar mais destreza aos seus músculos. — Eles criaram algum tipo de fórmula do supersoldado? — Nós já testamos em humanos antes, mas nenhum deles era um combatente. Bem... Para começarmos existem duas maneiras de se usar, uma pela corrente sanguínea. — Acho que isso significa seringa. — E a outra aspirando o pó, qual você quer? 

— Bem... eu não pretendo enfiar uma agulha em mim no meio de uma luta. 

— Ela tem razão, Israel, nós devíamos ter pensado nisso — disse Jonhson. 

— Mas que bosta! É claro que não vai! Perdão… Falha minha — Ele me entregou o saco — Bem se você usar muito de uma vez digamos… Que você pode ter uma parada cardíaca. — Eu devia ter lido os livros de medicina ao invés dos de história. — Então só o que couber na superfície do seu dedo indicador. — Abri o saquinho e fiz o que ele mandou, mas não senti nada. 

— Nossa a luz tá muito forte aqui! — Realmente dói no fundo dos meus olhos. 

— Então... podem existir efeitos colaterais meio bostas. — Israel coçou atrás da cabeça. — Sua pupila acabou de dilatar.  

— O quê?! Quais efeitos?! — Não sei o que a expressão significa, mas perguntei mesmo assim. — O que você tá fazendo escondendo essa caneta?! — Eu limpava minha boca insistentemente, não conseguia para de salivar. 

Muito lentamente ele jogou a caneta em minha direção. Ela vinha muito devagar para estar no ar. Meu coração estava a mil. Parecia que meu peito não ia aguentar. Pego a caneta no meio do voo quando noto que posso ver ambos os químicos se movendo em câmera lenta. Tudo me pareci tão engraçado e magnífico que eu não pude segurar o riso. 

— HáHáHáHáHá!!!!! — Rio histericamente enquanto pego a outra caneta no ar e vejo os dois conversando em câmera lenta com vozes lentas e graves me fazendo rir ainda mais alto. 

Eu queria correr sem motivo algum e aquela sala me parecia tão claustrofóbica que eu não aquentei e comecei a esmurrar a porta até ela ceder com um chute quando Israel tentou me segurar. Por algum motivo eu tinha medo dele. Não só medo, mas um pavor enorme. Eu corri pelo laboratório enquanto todos me olhavam estranho e deles eu tinha medo também. Os saltos e o suor que expelia profusamente me faziam lembrar os exploradores e eu me sentia uma exploradora novamente.  

Quando todos se puseram a perseguir a magrela louca que corria pelo laboratório eu comecei a jogar a vidraria das bancadas neles. Eu me impressionei com a precisão com que os vidros se estilhaçavam nas testas dos químicos. Foi quando eu vi uma silhueta conhecida que se movia na mesma velocidade que eu entrar num corredor. 

— Will, o que você tá fazendo aqui? Não foge de mim! — Ele corre pelo laboratório e eu empurro todos em meu caminho em perseguição — Vem comigo! Eu to com saudades de você! — Lágrimas saem dos meus olhos enquanto corro com um sorriso amável e a mão esticada para ele. 

Assim que ele para num canto escuro e sem ninguém, eu corro para um abraço sem conseguir conter a felicidade de revê-lo enquanto ele olha para mim e sorri de volta ao passo que abre os braços para me abraçar.  

— Eu também estou com saudades. — Ele me abraçou forte. 

— Você está bem! Mas como isso é possível? Eu te vi morrer! 

— Eu estou morto, Jenny. — ele acaricia meu cabelo. 

— Mas… Como então? Efeitos colaterais…? 

— Eu sempre estou com você, morto ou não. 

— Will eu juro que eu vou matar quem fez isso com você. — O ódio surgiu em meus olhos. — Eu juro! 

— Jenny. — Ele me soltou. — Não faça isso por mim. Agora eu sou eterno. Faça por Rachel, por Emily, pelo acampamento e todas as pessoas maravilhosas que vivem nele. — Ele se afastou aos poucos de mim. 

— Não vá, eu ainda preciso dos seus conselhos.  

— Não precisa, mas eu estarei lá quando você precisar de mim. Jenny, você é determinada, voraz, inabalável, corajosa. Você só precisa ser mais cuidadosa. — Ele começou a se esvair, mas antes de sumir completamente tomou a forma de uma menina de cabelos longos de rosto completamente machucado e um sorriso cínico. — Afinal de contas quando crescer eu quero ser uma mulher forte como você, Jenny. — Ele some. 

— Dakota! — grito quando ouço alguém vir por trás de mim, mas não tento o impedir só olho para onde ela estava. Eu farei eles pagarem, Will, eu farei. Então acertaram minha cabeça. 

...___________... 

Quando eu acordei estava de novo na sala de testes presa com as calças abaixadas em um uma cadeira com assento de privada e um balde fedido repleto de xixi logo embaixo. Minha cabeça doía muito… E minhas mãos também… Uns 30 minutos depois o senhor Jonhson apareceu. 

— Digamos que foi melhor que a encomenda. — Eu brinquei meio sem jeito. 

— Bem... Eu não esperava nada do que aconteceu, os outros casos foram mais... Controláveis.... Eu deveria ter dado mais atenção para a segurança, mas não precisa ficar encabulada, você não estava em si. 

— Na verdade, eu tô assim por que eu estou seminua mesmo. — Eu fiz cara de “então, né… me ajuda”. 

— Wow! Claro! Mil perdões! — Ele me desamarrou então levantei minhas calças e saímos da sala. 

O meu rastro de destruição era interminável. Deus… eu acho que o prejuízo que eu dei foi maior do que todo o dinheiro que já passou nas minhas mãos nessa vida e em todas as outras juntas. Vidrarias quebradas, máquinas no chão, mesas viradas, vasos de plantas em pedaços e terra com sangue espalhados por todo canto. No chão haviam algumas pessoas em um estado horrível, cheias de vergões e feridas, recebendo os primeiros socorros. Conforme eu andava ao lado de Jonhson alguns me olhavam com ódio, mas outros com medo. 

— Bem eu posso dizer que foi um sucesso! 

— Um sucesso que custou muito caro… — Johnson se conteve. 

— Mas que vai gerar muito lucro também. — Tentei o animar. — Convenhamos você não criou uma droga, você criou uma arma! E todo mundo sabe que não há nada que de mais lucro do que armas.  

— Você, tem razão… como sempre… 

— Ah! Se todo mundo pensasse assim — eu disse enquanto olhava meus punhos cheios de feridas, cortes e sangue seco. Como eu não senti isso? 

— Mas eu acho que eu tenho que te pagar, certo? 

— Certíssimo! — Então ele me aparece com um pote enorme de plástico escrito “proteína” com um pó branco e uma conchinha dentro. De repente uma pergunta urgente foge da minha boca. — Quais são os efeitos colaterais? 

— Se você não fizer exercícios físicos vai engordar. 

— Só? 

— Só. 

— Ufa…! Eu não vou ter que cheirar tudo isso, né? 

— Não! É só botar duas conchinhas na água que você bebe e como eu já avisei fazer exercícios físicos. Principalmente tome logo antes de se exercitar. 

— Só isso? — Eu esperava por mais. 

— Só se você quiser umas maquiagens e anestésicos. 

— Falando nisso o Israel, tá bem? 

— Sim, mas ele está na enfermaria do laboratório consertando o nariz que você quebrou. 

— Ah! Peça desculpas por mim. Creio que é melhor eu ir antes que me façam pagar por tudo que destruí. 

— Claro… E digamos que sua reputação por aqui também não está muito boa. 

— Imagino… Bem… Onde estão minhas armas? 

— Logo aqui. Enquanto você estava sobre efeito você gritou muito o nome “Will” que suponho que seja aquele que você amava e foi tirado de você. Eu só quero que saiba que qualquer coisa que precisar para cumprir sua missão, eu ficarei feliz em poder ajudar. 

— Sim, sobre isso… Eu tenho direito às minhas perguntas. 

— Claro! Como combinado. 

— Os homens que eu estou atrás estão usando carros e um caminhão com símbolos Draug, por acaso você os viu passando por aqui? 

— Eu pessoalmente não, mas ouvi o pessoal daqui falando sobre tais veículos. Parece que eles vão em direção a uma antiga cidade destruída a nordeste daqui. É só isso que sei. 

— Obrigada, senhor Johnson, foi um prazer trabalhar com o senhor. 

— O prazer foi meu. 

Depois que recoloquei todos os coldres e ajeitei todas as armas me despedi do senhor Jonhson e sai do laboratório tentando não chamar muita atenção, mas não dá pra ser muito discreta com um pote branco enorme escrito “proteína” de baixo do braço. Curiosamente as caras ameaçadoras no caminho se desfaziam se eu sorrisse com os olhos estalados para alguém, infelizmente, mesmo por sobrevivência, eu não estava com nenhuma disposição e muito menos vontade para sorrir. 

Do lado de fora do laboratório eu comecei a pegar tudo que podia do campo de batalha o mais rápido possível antes que algum esquentadinho me enchesse de chumbo. Desde carregadores, munição até diesel tudo coube no baú, que Gabriel havia feito realmente muito espaçoso apesar de não parecer tão grande. Entrei na Woman O’War e dei uma última olhada para trás logo antes de voltar para a estrada, então tirei do meu sutiã algo que incomodava meu seio e enquanto chacoalhava pelas pontas dos dedos um pequeno saquinho de plástico disse: 

— Não… O prazer foi todo meu… Re Re Re. — Sorri. 

 


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