Destino escrita por Aine Clair


Capítulo 5
Baby


Notas iniciais do capítulo

"O destino, como os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho."
— Machado de Assis



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Félix saiu daquele apartamento bufando pelo corredor. Nem precisou chamar o elevador, viu que o mesmo já estava bem ali. Abriu a porta com raiva, entrou e, enquanto descia, quase esmurrava o botão que indicava a portaria. Estava nervoso e confuso. Sempre saiu-se bem de situações onde sexo era o prato principal e único, o assunto exclusivo da noite. No entanto, naquela noite onde houve bastante sexo, houve mais que isso, e mais da conta “eu devia ter saído antes... antes de...“ antes que houvesse mais do que sexo, mais do que ele soubesse, quisesse  e pudesse lidar.

Félix sabia, e não sabia, que havia falado demais. Muito do que ele falou foi por pura brincadeira e total falta de noção, noção que estava magoando a outra pessoa. Mas parte do que ele falou foi uma espécie de empurrão, foi uma  tentativa de ser mandado embora. Félix acreditava que ninguém o aturava, ele então contribuia pra isso. Era um hábito.

No fim das contas, ele tinha uma certa vergonha, mas também raiva. Raiva de Niko, porque ele acabava acreditando que, mesmo tendo exagerado de propósito, as pessoas se aborreciam com o que, pra ele, era piada. “Que criatura geniosa, não entende uma brincadeira, se magoa com tudo que falo”.

Mas também tinha raiva dele mesmo, porque no fundo sabia que muitas de suas piadas eram uma maneira de manter as pessoas afastadas. Ele fazia isso sempre, apenas dessa vez ficou mexido mais do que o normal “O que deu em mim, pra me irritar tanto? Com que facilidade essa criatura me tira do sério!“

Caminhando até o hotel, com a cabeça mais fria, Félix admitiu que gostou da companhia do loirinho de cabelos cacheados. Daí que foi melhor assim, ter saído brigado, pois dessa maneira cortaria logo relações com alguém que ele até poderia se envolver, mas não queria, não podia e nem se atreveria. “Relacionamento não é pra mim. A criatura já queria que eu dormisse lá... sinceramente.”  Logo,  fez um pequeno plano para lidar com a situação  “preciso alugar um carro o mais rápido possível, pra não passar mais a pé na porta dele. E também porque meus pezinhos não merecem andar tanto.”

No hotel, Félix demorou a dormir. Entre mexer-se para um lado e outro na cama, lembrava das coisas que disse a Niko e da reação, segundo ele, exagerada do Carneirinho. Se arrependia e logo concluia “melhor assim, melhor que se aborreça comigo mesmo”. Também lhe tirou o sono a pilha de envelopes que repousava no criado mudo frente à cama. Quando acordasse ia tratar de tirar as dúvidas sobre aquilo.

...

Niko despertou cedo. Durante o café conversou ao telefone com Sylvia, a advogada recomendada por Félix. Ela marcou de recebê-lo no dia seguinte, o que Niko achou ótimo, porque assim teria tempo de conversar com o ex companheiro.

Sim, Niko não seguiria o conselho de Félix para tratar apenas com a advogada. Ele não conseguia acreditar que Eron o houvesse enganado na compra da casa, então decidiu que iria até o hospital falar com ele, antes de procurar ajuda legal. “Tenho certeza que Eron vai resolver isso.  Nem vou precisar ir até a advogada amanhã”.

Além disso, Niko queria falar sobre Fabrício. Desde que mudou-se não viu mais o menino. Amarilys nunca podia recebê-lo, não tinha tempo, ou não se sentia bem, ou havia saído com o menino... o fato era que faltavam poucos dias para o Natal e Nko havia comprado presentes para o bebê. “Amarilys é muito enrolada. Vou falar diretamente com o Eron e marcar essa visita ao Fabrício.”

Niko decidiu que iria até o hospital após o almoço, que é quando as coisas ficam mais tranquilas no restaurante.

Félix também estava à caminho do San Magno naquele dia. Só que foi mais cedo. Estava ansioso, precisava falar com a pessoa que o ajudaria com os tais envelopes que ele carregava consigo desde o Rio de Janeiro. Acordou tarde, mas ainda na parte da manhã. Arrumou-se, tomou café e saiu.

Ao chegar, na recepção do hospital, foi recebido pelas antigas funcionárias.

“Seu Félix! Há quanto tempo não vemos o senhor.”

“Sentiram falta de mim, aposto” orgulhou-se e informou que precisava falar com o Doutor Lutero.

“Seu pai não está hoje aqui”

“Tudo bem, criatura, eu quero mesmo é ver o Lutero.”

“Doutor César só volta amanhã.”

“Ótimo! Meu dia de sorte. Agora, por favor, liberem a minha entrada, mocorongas?”

Lá dentro, Félix levou um bom tempo procurando por Lutero sem encontrá-lo. E em todo local que ia as pessoas o reconheciam e olhavam pra ele, algumas até o cumprimentavam mesmo que ele andasse apressado e com a costumeira cara austera com a qual desfilava por aqueles corredores no passado “Mas eu devo ter sido alguma celebridade em Roma antiga pra ter essa gente toda me olhando...”

Finalmente ele encontrou  quem procurava na emergência.  Aproximou-se de modo efusivo.

“Doutor Lutero! Há quanto tempo!” abriu um enorme sorriso e os braços, tentando abraçá-lo.

“O que você quer, Félix?” o médico estranhou.

“Nossa, não vai me dar uma abraço, não vai perguntar como estou? E o senhor, como o senhor está?”

“Você deve querer alguma coisa, pra aparecer aqui sorridente, depois de tanto tempo. E falando comigo assim, todo simpático, depois de ter sido demitido porque eu descobri que você superfaturou contratos...”

O sorriso de Félix murchou, enquanto  o interrompeu, “Lutero, vamos deixar esse assunto no passado? Eu... eu preciso muito, muito mesmo falar com o senhor.” ele soava preocupado e tenso. Lutero percebeu e deixou que ele continuasse. “Sei que conheceu meu avô e participou da fundação desse hospital. É em nome disso que peço que converse comigo. Não conheço pessoa melhor pra me ajudar a esclarecer uma coisa. Preciso lhe mostrar algo... que está aqui nesses envelopes,  é muito, muito importante.”

O experiente Lutero então desarmou-se e disse que conversaria com ele. Mas não naquele momento. Informou que estava com falta de médicos na emergência e aquele era um dia de grande movimento.

“É urgente, Lutero. Precisamos conversar ainda hoje.” Félix implorou.

O médico então sugeriu que ele fosse até sua sala, deixasse lá os envelopes e o número do celular dele com a secretária. “Assim que eu puder eu vou até lá, ela chama você e então conversamos.”

“Ainda hoje?”

“Ainda hoje.”

“Eu vou esperar por aqui então.”

“Sim, fique por aí pelo hospital, entretenha-se. Deve ter bastante gente sofrendo, você vai se divertir.”

“Cruzes! Da maneira que o senhor fala parece que sou um sádico, que gosto de ver tristeza e sofrimento.”

“Eu estava brincando, Félix.”

Nesse momento a secretária Simone se aproximou trazendo papéis urgente que o médico precisava assinar. Logo notou a presena do antigo chefe.

“Félix! Que surpresa!”

“Surpresa, Simone? Gostou de me ver?” sorriu orgulhoso.

“Eu quis dizer surpresa desagradável.”

“Nossa... que mau humor! Não sentiu nem uma pontinha de saudades de mim?”

“Mas é claro que estou de mau humor, a sua presença  faz isso com as pessoas.”

Félix protestou sobre a maneira que estava sendo tratado pela ex secretária. Nesse momento juntava gente em volta, algumas enfermeiras e médicos da emergência que prestavam atenção em tudo.

“Ela está brincando também, Félix.” Lutero tentou acalmar os ânimos “Tenho certeza que sentiu saudades dele. Não é Simone?”

“Saudades eu sinto só do dia quando finalmente pude chamar doutor Félix de cachorro vira-latas.”

Todos riram. Médicos, enfermeiros, Simone...

Lutero repreendeu a todos “Silêncio! Esqueceram que estão em um hospital?” e sugeriu: “Félix, vai pra cantina, vai passar o tempo lá.”

Simone não resistiu e aproveitou a oportunidade para alfinetá-lo de novo “Aquele café com raspinhas de chocolate, que me pedia sempre, o senhor mesmo compra agora. Mas se quiser um ossinho para roer e passar o tempo mais rápido eu posso providenciar um.”

Todos voltaram a rir, dessa vez mais alto ainda. Alguns enfermeiros imitavam o latido de cachorros, mesmo que Lutero pedisse silêncio.

Félix abraçou junto ao peito os envelopes que trazia consigo, ficou envergonhado, sem ação, não sabia o que dizer. Lutero percebeu.

“Félix, você sempre brinca com todo mundo, mas quando bricamos com você, ou somos sinceros, você não aceita.”

“Mas a brincadeira da Simone não teve graça!”

“Pois é... e não é que existem brincadeiras sem graça, que machucam? Que coisa, não? Verdades que doem...”

Ainda abraçado aos envelopes, Félix retirou-se, disse que ia subir até a administração. Lá fez o que foi combinado, deixou os envelopes na sala de Lutero e o número de celular com a secretária. Foi informado por ela que César não estava, só retornaria no dia seguinte “porque todo mundo me diz isso? Porque todos acham que quero saber de meu pai?”

Ele então desceu e foi fazer hora na cantina do hospital.  Lá encontrou Patrícia, do RH, com enfermeira Perséfone. As duas, quando perceberam que ele chegava, levantaram-se.

“Vamos Pê, chegou aquele que não gosta de ver gente feliz.”

Félix olhou de cara feia mas não teve chance de dizer nada, Perséfone emendou “É brincadeirinha, seu Félix.”

Félix ficou ressentido. Seu tio, que é quem administra o bar, aproximou-se e cumprimentou o sobrinho, notando que ele estava aborrecido “Você parece chateado, Félix.”

“Claro, tio Amadeu. Todo mundo que encontro nesse hospital ou faz piada comigo ou é desagradável.”

Amadeu achou melhor não dizer nada. Valentim, o amigo de Ninho que trabalha ali como garçom, aproximou-se para tirar o pedido. Cumprimentou Félix e, educadamente, perguntou o que ele gostaria de comer e beber.

“Não vai fazer nenhuma piada comigo, Valentim, como estão fazendo todos?”

“Eu até que poderia, você não é mais o diretor aqui. Mas não vou fazer não, só porque você é um freguês. E, sabe como é, o freguês tem sempre razão.”

Félix estava sendo bombardeado por antigos funcionários que devolviam, na mesma moeda, o tipo de tratamento que sempre receberam dele. Mesmo contrariado, não se atreveu a ir embora, pois precisava esperar ser atendido por Lutero.

Distraído, enquanto sorvia um café, escutou a voz da irmã. Paloma se aproximava empurrando um carrinho de bebê “não esperava te encontrar por aqui, meu irmão.”

Félix mentiu sobre a razão que o levava até ao San Magno “pois é, deixei aqui um documento, do qual preciso muito, mas o RH já está providenciando pra mim. Estou esperando.”

Enquanto os irmãos trocavam palavras, o bebê, que estava no carrinho, se agitou. Paloma comentou que aquele era Fabrício, filho de Eron com Amarilys. A mãe da criança havia ido ao toalete mas ia encontrá-la ali, ela havia trazido o menino ao hospital para exames de rotina “eu sou a pediatra dele, é um bebê muito doce e quietinho”. Paloma ainda recomendou a Félix que não comentasse nada sobre a história da venda da casa de Niko “se você falar que sabe, vai me colocar em uma situação chata, meu irmão.”

“Fique tranquila, irmãzinha.”  Félix nem queria saber dessa história, ele estava era curioso com o bebê “Deixa eu ver de perto o fruto da recaída do Eron” aproximou-se do carrinho para ver a criança “Olha... é difícil acreditar que aquela lacraia seja pai desse bebê tão fofo!”

“Fofo? Eu lembro muito bem quando você dizia que bebês eram todos iguais, tinham cara de joelho.”

“Pois é meu doce... engraçado...” Félix parou observando a criança para concluir  “esse não tem cara de joelho.” O bebê então sorriu pra ele.

“Olha, Félix, ele gostou de você!”

“Nota-se que tem bom gosto, pois gostou de mim. Mais uma razão para duvidar que esse seja mesmo filho do Eron.”

Enquanto Félix ria solto, Amarilys se aproximou “Mas ele é! Ele é filho do Eron. E meu filho”

Ao notar a presença da colega, Félix disfarçou “Queridíssima! A maternidade só lhe fez bem.” Os três riram e conversaram amenidades por um tempo enquanto tomavam café. Então foi a vez de Paloma se afastar pois recebeu um chamado do consultório “Vou ter que ir, estou cheia de consultas hoje.” Paloma despediu-se. A conversa na mesa logo mudou quando ela saiu.

“Félix, você sabe melhor do que ninguém que esse filho é meu. Teria sido meu mesmo que a fertilização artificial tivesse dado certo.”

“Você é danada, criatura. É pior do que eu! Convenceu mesmo o tal amigo médico a usar seus óvulos?”

“Claro que sim. E a idéia foi sua. Mas veja como é o destino, não foi preciso. Eu e o Eron tivemos esse filho de maneira natural”

“Sei... realmente não há como se lutar contra o destino, podemos até dar um empurrãozinho aqui, outro ali... mas no fim das contas, páh! Ele nos alcança sem dó!” ficou pensativo alguns segundos até concluir  “O destino é implacável, queridíssima Amarilys.”

“Félix, você hoje está tão...”

“Lindo?  Elegante e charmoso? Magnifico?”

“Humilde, como sempre.”

Os dois riram. Fabrício também riu. Amarilys sugeriu que Félix a acompanhasse até seu carro “me ajuda? Tenho que dobrar o carrinho, guardar tudo na mala, acomodar o Fabrício...”

“Claro que sim. Essa criaturinha tão linda merece meu sacrifício.”

“Félix, você é uma caixinha de surpresas. Sentados aqui nessa mesma mesa, um ano atrás, você disse que se eu engravidasse iria colocar um ratinho no mundo. Agora está aí todo derretido, rindo que nem bobo pro meu filho.”

“Pois é... acho que porque não sou eu que vou trocar a fralda dele” os dois riram mais ainda “Você não muda, Félix!” e saíram caminhando até a saída.

Enquanto Félix os acompanhava até um lado do estacionamento, pelo outro lado chegava Niko ao hospital. Ele se identificou na recepção, entrou e foi direto falar com Eron. O advogado disse estar surpreso com a história da avaliação da casa.

“Como assim, a casa vale mais do que  aquele valor?”

Eron teve dificuldades para acreditar que Amarilys tivesse mesmo dado um jeito dele pagar menos pelo imóvel. Ele sugeriu que podia ser um erro da corretora.

Niko explicou que não, que Paloma sabia de tudo porque Amarilys confessou ter agido de má fé. Pediu que Eron não comentasse nada, apenas desse uma prensa na Amarilys e ela confessaria.

“Ela promete pra Paloma que vai te contar, mas só enrola. Olha, Eron, eu também quase não acreditei quando descobri.”

"Não entendo porque a Paloma não contou pra mim se contou pra você."

"Ela é amiga da Amarilys... ia ficar chato pra ela. E nem foi ela que me contou..."

“Quem te contou, então?”

“Quem me contou? Bom... isso... isso não vem ao caso. Eron! Apenas coloca ela na parede.”

Niko disse que ele mesmo solicitaria uma nova avaliação. Pediria ao Bruno, marido da Paloma. Discutiram um pouco porque Eron insistiu que ele mesmo faria isso, contrataria outro corretor. Niko não aceitou porque temia que Amarilys fizesse outra trapaça.

“Não confio mais nela. Ela já me enganou muito.”

“Mas dessa vez eu vou ficar atento, eu...”

“Eron, se você não aceitar fazer do meu jeito, eu vou procurar uma advogada e...”

“Advogada? Pra que advogada? De onde você tirou que precisa de uma advogada?”

Eron se sentiu ofendido. Os ânimos se exaltaram mais.

“Começo a acreditar que eu preciso sim, de uma advogada. Desde que cheguei aqui você não concorda com nada que eu falo”

“Niko...”

“Já decidi! Eu peço ao Bruno uma avaliação e acertamos o valor. Vai ser assim, Eron. Agora tem outra coisa mais importante que precisamos falar“

Niko então mudou o tom quando começou a falar de Fabrício. Disse que tinha saudades do menino, queria vê-lo. Desde que se mudou nunca mais conseguiu ver a criança.

“Eu comprei uns presentinhos de Natal pra ele. Queria tanto entregar. Dar um beijinho, apertar aquelas bochechas...”

Eron não dizia nada, andava na sala de um lado para o outro e Niko continuava:

“Eu sinto tanta saudade dele, sabe? Do cheirinho, da voz. Sinto uma ligação tão forte com ele, eu...”

Eron o interrompeu “Niko,  preciso ser realista com você, é pro seu bem.”

Niko não podia acreditar no que começou a ouvir. Eron iniciou um discurso no qual afirmava que, para o bem de todos, Niko precisava se afastar da criança.

“Se você continuar a vê-lo, vai continuar apegado.”

Niko insistiu, disse que aceitava que o menino não era filho dele, mas que gostaria de continuar por perto. De vê-lo crescer, de ter noticias.

“É melhor não. Olha, nesse momento, eu estou pensando em você, Niko. É preciso haver esse desligamento, pro seu bem.”

“Pro meu bem? Escuta aqui Eron, pro meu bem ou pro bem de vocês? A Amarilys nunca me quis perto do menino mesmo. Isso é ideia dela, não é? É ela que tá fazendo sua cabeça.”

“Eu concordei com ela, é claro que a opinião dela vale mais, já que ela como mãe...”

 “Ela como mãe... e eu que esperei essa criança por nove meses achando que era meu filho? Faço o que com esse sentimento que tenho por ele?”

“Nós não estamos contra você, Niko. Mas não me obrigue a tomar medidas legais...”

“Eron é Natal! Em poucos dias é Natal, eu só quero ver ele por alguns minutinhos!”

“Eu acho que talvez você devesse ver um psicólogo...”

“O que?” Niko perdeu a linha e a paciência “Eu devia era enfiar a mão nessa sua cara de pau!”

“Aqui é meu local de trabalho, Niko. Segura a franga, segura a onda ou terei que tomar medidas extremas.”

“Como assim?”

...

Félix retornou do estacionamento onde deixou Amarilys e o bebê instalados no carro. Ele gostou muito do menino, que não tirava os olhos dele “Ficava me olhando, a criaturinha... sorrindo pra mim por nada... ele é mesmo uma graça, a quem será que puxou? Um bebê tão simpático filho daqueles dois? É o apocalipse!”

Félix retornou à mesa da cantina, onde estava antes. Olhou o menu para ver se algo diferente o apetecia. Já havia tomado dois cafés e um suco, comido um croissant, pensou em pedir pães de queijo... “quer saber? Se eu ficar aqui nesse bar esperando o Lutero vou sair direto pra um spa!” Daí desistiu e decidiu subir até a administração. Quem sabe a secretária havia anotado errado o seu número de celular. Seu pai não estava lá mesmo, quem sabe conversava com Atilio...  “ou quem sabe eu cruzo com Doutor Michel ou Jaques pelos corredores... humm ” então foi até lá. Chamou o elevador, entrou e subiu.

Quando a porta abriu estava no andar da administração, onde ficava sua antiga sala, onde fica a sala do Eron, de onde saiu um carneirinho choroso correndo na direção do elevador, de onde Félix estava se preparando para sair.

Niko chegou a antrar no elevador mas quando viu que Félix estava lá, retirou-se, Félix chamou por ele.

“Ei, ei, pode entrar aqui. Vai descer? Eu vou ficar nesse andar.”

Niko deu meia volta passou por ele como uma flecha e entrou no elevador. Só ai Félix percebeu que ele chorava, e muito.

Foram apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para Félix pensar “isso não é problema meu” mas ao invés de afastar-se tomou a decisão contrária, pois algo foi mais forte do que ele.

Ele entrou no elevador atrás de Niko.

“Ei, o que foi? Por que esse choro todo?”

“Me deixa, vai embora.” Niko soluçava com força estava vermelho, parecia que não tinha ar, o rosto estava todo molhado.

Félix pedia para ele se acalmar, perguntava o que tinha acontecido “porque essa cascata de lágrimas? Pelas contas do Rosário, você está péssimo!”

“Porque te interessa? Vai cuidar da sua vida.”

Félix estava mesmo se perguntando - porque não vou cuidar da minha vida?— No entanto, Niko continuava chorando, com uma das mãos cobrindo o rosto. Olhando aquele Carneirinho se debulhar em lágrimas, Félix apertou o botão do elevador para descer, mas não até a portaria, apenas até um outro andar. Quando a porta abriu, ele pegou Niko pelo braço.

“Vem, vem comigo.”

“Me larga, me deixa. Eu quero ir embora.”

Félix puxou com mais força “Vem comigo, anda, você não está bem. Eu conheço um atalho pra sair daqui mais rápido. Quer  que te vejam assim com essa cara inchada?”

Niko então foi “Me mostra onde é, eu vou. Não precisa me levar” dizia entre soluçõs de puro choro.

“Preciso sim, ninguém conhece esse hosital mehor do que eu, vamos.”

Félix caminhou com ele por um corredor, parou em frente a uma porta, certificou-se que ninguém olhava, abriu, empurrou Niko lá pra dentro e logo entrou atrás. Era um quartinho pequeno, na verdade um depósito de material hospitalar. Havia uma pequena lâmpada, a iluminação era bem fraca.

“O que é isso? Que lugar é esse?” Niko olhava ao redor atônito, o choro cessou. “Isso aqui não é nenhum atalho!”

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Notas finais do capítulo

Continua em breve



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