Destino escrita por Aine Clair


Capítulo 4
Fuga


Notas iniciais do capítulo

"Não poucas vezes esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele." - Jean de La Fontaine



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Félix respirou fundo e decidiu-se, pois nada tinha mesmo a perder “Tem algo sim, que eu quero beber...” aproximou-se do loirinho e disse colando a boca no ouvido dele “mas você não precisa preparar, já está pronto...”

Niko arrepiou-se todo “pronto?”

Félix falou quase como num sussuro “só precisa agitar um pouco antes de beber” e tentou beijá-lo enquanto, ao mesmo tempo, tentava enfiar a mão dentro da calça dele.

Mas Niko recusou o beijo, afastando-se “espera... Félix... é melhor não... ontem não terminou nada bem”

“Não terminou bem mas o durante foi maravilhoso, confessa.”

“Sim, foi... mas...”

Não aceitando uma recusa, Félix aproximou-se o mais que pode, encurralando Niko na ponta do sofá “hoje vai ser diferente, eu prometo” e conseguiu. O beijou até que quase perdessem o fôlego. Quando parou, lançou-lhe um olhar safado e novamente enfiou a mão dentro da calça de moleton que o loiro vestia. Dessa vez não encontrou resistência e começou a retirar aquela peça de roupa dele.

“Sem cuecas, Niko? Estava esperando por mim?” piscou.

Niko não disse nada, apenas mordeu o lábio inferior e, antecipando o que ia acontecer, segurava com força o braço do sofá. Félix começou a chupá-lo e ele, excitadíssimo, gemia e gemia cada vez mais alto. Tomou coragem e colocou suas mãos naqueles cabelos negros e macios, forçando aquela cabeça contra seu pênis. A certa altura, Niko já quase perdia o controle.

Félix parou “não vai gozar agora” e começou a retirar a camiseta do seu mais recente amigo, enquanto o beijava na barriga, no peito, no pescoço... até chegar ao ouvido e sussurrar “alguém já te chupou assim antes, hein?”

Niko não disse nada, estava ofegante.

“Aposto que não” Félix sorriu orgulhoso, terminou de tirar a roupa toda do loiro, deixando-o completamente nu. Levantou-se do sofá, pegou ele pela mão “você ainda não viu nada!” e foi levando-o até o quarto. Félix já conhecia o caminho.

Assim que entraram no cômodo, ordenou: “Senta na cama, lá perto da cabeceira.”

E começou a retirar a própria roupa devagar, enquanto Niko olhava e ficava ainda mais excitado. Pegou um preservativo na carteira e foi desde o pé da cama engatinhando no colchão, lentamente até onde Niko estava, sustentando o olhar com ele.

Quando chegou perto, ajoelhou-se, abriu o pacote da camisinha com os dentes e, olhando Niko nos olhos, de uma maneira que o fez arrepiar-se todo, ameaçou colocar o preservativo nele mesmo mas riu “não dessa vez”. Niko logo entendeu, era nele que Félix colocava a camisinha. E, em um movimento rápido, o moreno montou nele, com uma perna de cada lado do quadril dele “agora sim... agora sim vou te comer” sussurrou.

Com a mão, Félix guiou o pênis do lorinho pra dentro de si devagar até que entrasse todo e aí sim fechou os olhos. Niko só observava, fascinado, enquanto Félix começou a subir e descer no colo dele, devagar, gemendo de olhos fechados, roçando seu pênis rígido na barriga dele, agarrando-o pelos cachos dourados em um misto de prazer e diversão. Sim, Félix estava divertindo-se.

Em um dado momento ele parou, sentia Niko pulsando dentro dele e o beijou enquanto segurava-o no rosto com ambas as mãos. Disse no ouvido dele ”você é delicioso, sabia?” e saiu dali, jogou-se para trás deitando-se na cama, em um convite para que Niko fosse por entre as pernas dele. E niko foi. Foi com cuidado, aproximou-se para beijá-lo e Félix pediu, antes que as bocas se colassem “você é um carneirinho lindo, mas vira um leão agora, vira? Me pega com força, hein?! Eu quero assim.” E niko o beijou por longos segundos enquanto Félix ansiava por ele, até que o pegou como ele pediu, penetrando-o sem delicadeza. Félix nem estimulava a si mesmo, não precisava, apenas implorava o tempo todo que Niko não parasse, que fosse mais forte, mais rápido. E enquanto Félix entrava em estado de puro delírio, o loirinho  metia-se por dentro dele cada vez com mais garra. Félix foi perdendo o ar, perdendo a noção de onde estava, perdendo a capacidade de se controlar... até que buscou o fôlego e...

“pelas contas... do Rosáa... aaa...” e gozou.

Niko se retirou dele e ficou ali, ajoelhado no colchão observando fascinado um Félix ofegante, que se contorcia de prazer, prazer proporcionado por ele.

Em seguida, já recuperando-se, Félix pediu que ele se aproximasse do seu rosto “goza na minha cara, na minha boca, vem” e enquanto acariciava-lhe as coxas, o loirinho se estimulou e logo atingiu o climax. E fez como lhe foi pedido, derramando tudo na face de Félix, que sorria de satisfação. Niko enfim deixou-se cair para trás, no colchão, deitando-se para o outro lado.

.

Poucos minutos de respiração acelerada depois, cada um deitava em direções opostas na cama quando Félix perguntou sem levantar “foi bom?”

“O que você acha?” riu, falou com voz rouca, também sem sair da posição, seu corpo estava mole, relaxado.

Continuaram ali por longos minutos ainda. Às vezes um deles ria, o outro acompanhava.

Félix tomou a inciativa de mudar de posição e foi apoiar o queixo no peito do loirinho “você gostou?”. Niko sorriu e abanou a cabeça indicando que sim. “Pensei que não gostasse muito desse jeito.”

“Se é bom, é claro que eu gosto.”

Félix sorriu, adorou a resposta, e Niko continuou “Eu gosto de tudo, tudo que dá prazer pros dois. O Eron é que não curtia certas coisas...”

“Eu já sabia” Félix riu “Aposto que ele só fazia o papai e mamãe básico, quer dizer, isso ele deve estar fazendo com a Amarilys, com você era papai e papai

“Sinceramente, Félix... porque lembrar disso agora... daqueles dois...”

“Você que começou!”

“Não está mais aqui quem falou” fechou os olhos.

Não disseram mais nada por um tempo. Félix saiu da posição em que estava, fez Niko deitar-se de lado e o abraçou por trás, de conchinha. O loirinho gostou de ficar assim. Voltou a fechar os olhos para relaxar... mas Félix não dava trégua.

“Não precisa nem falar nada, Carneirinho. Aquele lá tem cara de frasco de shampoo vazio!”

“Félix...”

“hein?”

“Dá pra parar de falar no Eron?”

“Tá bom... mas foi você quem começou.”

Niko respirou fundo. Fechou os olhos.

Alguns minutos se passaram, ele quase pegou no sono. Não conseguiu. Félix começou a beijá-lo no pescoço enquanto acariciava seus braços, logo apertava suas nádegas até penetrá-lo com um dedo, depois dois... Niko já estava entregue e gemendo quando Félix parou.

“Tem preservativos, Niko?”

“Não...”

“Como não?” espantou-se.

“Eu não pensei que... enfim... eu não planejava conhecer ninguém, trazer aqui em casa e...”

Félix levantou da cama como um raio e foi buscar mais um dos que carregava em sua carteira “se não sou eu pra cuidar de tudo... sinceramente...”  voltou pra cama abrindo o pacote e não parava de reclamar enquanto colocava a camisinha “você é bobo demais criatura, ingênuo como um menininho, inocente como um carneirinho, tonta como uma...”

Niko falou sério e alto “Félix! Cala a boca!” tão sério que o moreno parou espantado olhando pra ele.

“Cala a boca e me come? Obrigado, de nada”

Félix riu “Adoooroooo!” continuava rindo de maneira sacana enquanto se colocava no meio das pernas dele  “você é tudo isso que eu falei, sim. Mas também é safado, ousado e gostoso” e falou em seu  ouvido com a voz mais quente que Niko já havia escutado “vou te dar a melhor foda da sua vida”.

E transaram de novo, com Félix penetrando ele em diversas posições, por cima, por baixo e de lado... até a exaustão. Após o clímax, ficaram lá deitados por um bom tempo, banhados em suor e sêmen. Até Niko levantar anunciando que ia tomar uma chuveirada. Félix também levantou-se e começou a recolher do chão sua roupa. Pensou que era a hora de ir embora.

“Você não vem?”

“Oi?”

“Vem pro chuveiro!”

Niko convidou. Ele aceitou o convite, embora não estivesse acostumado a permanecer por muito tempo na casa de nenhum homem após dado momento. Mas aceitou. Ele sentiu vontade de ficar mais um pouquinho. Nem ele sabia porque.

No banheiro, Niko anunciou que estava com fome, ainda não tinha jantado. Sugeriu que comessem o que ele havia preparado mais cedo.

Félix recusou novamente “outro dia eu provo sua comida, a que se prepara na cozinha. A comida ali no quarto foi maravilhosa.”

Niko insistiu, ofereceu que ele experimentasse pelo menos a sobremesa. Ainda disse que, no café da manhã teria um sabor melhor. Se ele comesse um pedaço agora poderia comparar o sabor quando comesse o outro pela manhã.

“Café da manhã Niko... lá vem você de novo com café...”

“Ué, não vai me dizer que você não vai dormir aqui?”

Félix não soube o que responder. Não, ele não planejava dormir lá. Mas também ainda não queria ir embora. Estava confuso. Estava gostando de ficar ali, mas qualquer coisa que pudesse significar relacionamento ele procuraria evitar. Café da manhã significava uma continuidade, dormir ali era muita intimidade. Ele pensaria naquilo depois. Por agora decidiu aceitar o outro convite. No entanto impôs uma condição.

“Olha, eu aceito fazer um lanche. Mas só se você ficar pelado”

“Sem roupa?”

“É Niko. Pelado é sem roupa. Fica assim... eu gosto de olhar”

Diante da insegurança do loirinho, ele arriscou “se voce ficar pelado eu provo até o fetucinni”.

Niko concordou. E mesmo com a sensação que já estava ali tempo demais, Félix foi se deixando levar. Niko enxugou-se e anunciou que iria esquentar a comida e arrumar a mesa. E foi, sem roupa nenhuma. Félix fez o mesmo e saiu atras dele, olhando o loirinho mas também ao redor.

Niko notou que o amigo estava curioso com o apartamento e sugeriu que ele explorasse os cômodos para conhecer o lugar “vai olhar por aí, fica à vontade, eu vou pra cozinha.”

Aquele era um amplo apartamento de quatro quartos, sendo duas suítes. Tinha um total de três banheiros  contando com o social. Quatro, se contasse com o lavabo. Sala em três ambientes, cozinha americana enorme, varanda, área de serviço e dependências amplas e completas.

Félix abriu as portas de todos os cômodos. Todos estavam vazios, com exceção da suíte maior, onde ficava a cama do loirinho. E na sala, havia pouca mobília, apenas a mesa de jantar, um conjunto de sofá e uma enorme televisão. A cozinha, obviamente, estava completa.

Depois de matar a curiosidade, Félix se aproximou da bancada da cozinha onde já estava tudo pronto para que sentassem e comessem.

“Niko, que apartamento enorme!”

O loiro comentou que praticamente estava pago, com o que recebeu de sua parte na casa. O resto havia financiado.

“Pra que você precisa de tanto quarto?”

Niko ficou em silêncio por um tempo e respondeu tentando não se emocionar “Eu sonho em ter uma família, Félix. Uma familia completa. Dois filhos, por isso tem dois quartos, um pra cada criança. A suíte maior, de casal, pra mim e meu companheiro. E a outra suíte para hóspedes, quando meus pais vierem visitar.” Sorriu, sincero.

Era isso que Niko queria. Muita gente passa a vida sem saber o que quer, Niko tinha certeza, desde criança, que queria uma familia. Tentou com Eron. Manteve um relacionamento por quase dez anos com o advogado até que ele concordou que iriam ter filhos. Pois foi justamente o que acabou gerando a separação do casal. Agora Niko estava sozinho mas, não por isso, abriria mão dos seus sonhos.

“Sabe Félix, eu tenho certeza, aqui dentro do meu coração, que eu vou realizar esse sonho. Não sei quando, mas vou. Vai ter uma criança em cada quarto daquele e, na minha suíte, alguém que me ame de verdade.” Ao terminar de dizer isso, não se conteve mais e emocionou-se, sentindo-se à vontade para deixar as lágrimas rolarem.

Sentado ali, em frente à ele, e imóvel, Félix emocionou-se também, contrariando todas as expectativas. Tentou não demostrar “olha, é... Carneirinho...” estendeu-lhe um guardanapo “enxuga essas lágrimas antes que esse fetucinni vire uma sopa”. Niko sorriu, ele continuou “melhor comer... antes que esfrie, né? Antes que vire uma gororoba dessas que servem em hospitais... deviam inventar um serviço de delivery gourmet para pacientes internados, não é? Aposto que iam sarar mais rápido comendo lagostas, filet mignon...” riram.

Pelo menos com piadas ele conseguiu animar aquele que chorava. No entanto, não era isso que ele sentia que devia fazer. Mas não conseguiu sair do seu lugar e abraça-lo embora quisesse. 

Félix tinha por hábito não se envolver nos problemas das pessoas se não fosse algo que iria reverter em alguma vantagem. Principalmente quando envolvia relacionamentos e emoções que ele nem sabia como lidar. Talvez por medo de se envolver demais. Porque ele sentia demais, e isso o assustava.

Niko já tinha voltado a sorrir, então melhor manter a linha de confortá-lo com o que ele sabia: fazer piadas e mudar de assunto. Não necessariamente nessa ordem.

“Vem cá, com a diferença que você vai receber, agora que descobriu o golpe daqueles dois, deve dar pra quitar logo esse apê, quem sabe colocar um ofurô na varanda, uma jacuzzi gigantérrima naquele seu banheiro e espelhos no teto sobre sua cama, hein? Umas luzes piscantes...”

Niko só achava graça “Você faz piada com tudo, já percebi.”

“Ué, Niko, você mesmo disse que quer um bofe pra chamar de seu, um companheiro pra dividir aquela suíte, então tem que investir. Se o boy magia chega aqui e encontra tudo isso, vira logo pai de familia!”

Niko gargalhou “Félix! Você tem cada uma... Eu não quero alguém que fique comigo porque tem uma cama king size vibratória no meu quarto.”

“Olha aí, boa ideia essa da cama.”

Descontraídos, finalmente começaram a comer do fetucinni, que ainda não havia esfriado. A conversa continuou.
“Eu tenho meus segredos, tá? Não preciso de nada disso pra prender alguém”

“Bom, o Eron você não prendeu. A essa hora ele deve estar brincado de hetero debaixo da saia daquela fura-olho”.

Niko, que levava o garfo à boca, parou no meio do caminho. Devolveu a comida ao prato. Coçou o rosto desconfortável.

Félix estava entretido com a comida, não percebeu a reação do outro e continuou fazendo mais comentários indevidos entre uma garfada e um gole de vinho.

“Será que ele tá dando no couro com ela? Quando eu o entrevistei pro cargo, lá no hospital, ele falou que teve uma noiva... disse que se dava bem com mulheres na cama... sinceramente, não acredito... Mas veja, a Amarilys bem que tem cara de traveca... Niko, pensa! Vai ver que ela tem uma piro...”

Finamente ele olhou pra Niko, e pode ver que ele não apreciava nada do que estava sendo dito. De braços cruzados o dócil loirinho olhava sério “Félix, você percebe as coisas que você fala?”

“Ah... é meu jeito, eu não perco a piada.”

“O que você acabou de falar não teve graça nenhuma!”

“Ficou mal humorado porque falei que o Eron está lá com aquela outra?”

Niko ficou em silêncio, voltou a comer.

Félix insistiu “você ainda gosta dele?” também não obteve resposta.

Niko limpou os lábios com o guardanapo, tomou um gole de vinho.

“Sente falta daquela boca mole? Daquele olhar de lacraia traiçoeira?”

Niko mexia no prato, enrolando a massa com o garfo sem nada dizer.

Félix não se deu por vencido “Se ele aparecesse querendo voltar, você voltava?”

Niko, por fim, cansou “Félix! Dá pra parar de falar no Eron?” quase gritou enquanto bateu com o garfo na mesa.

Félix riu e terminou jurando que não falaria mais no "falecido". Apenas iria dizer uma última coisa, que era séria. Recomendou que ele procurasse a advogada para resolver o problema da casa, não tentasse fazer nada sozinho “Não confia neles pra mais nada. Aquela fura olho te roubou o bofe e aquela lacraia te roubou dinheiro da sua parte na casa. ”

“Eron não faria isso comigo”

“Não faria? Te enganou quanto ao bebê, te traiu dentro da sua casa...”

“Mas quanto à venda da casa, tenho certeza que ele não sabe de nada.”

“Não tenha tanta certeza”

“Eu tenho, Félix”

“Coloca ele na justiça”

“Claro que não...”

“Ele merece por ter te roubado”

“Ele não me roubou, a Amarilys sim, fez trapaça. Mas ele é manipulado por ela...”

“Tadinha da lacraia, manipulada... “ riu em tom de deboche “Niko você é mesmo bobo, é tonto.”

“Chega. Félix... Você acha engraçado mas não é. Não percebe que me ofende dizendo que sou bobo, tonto...”

Félix revirou os olhos, como quem desiste de dar conselhos.

Niko mudou de assunto, chamou a atenção para a comida e eles voltaram a comer. Félix elogiou muito, adorou o fetucinni, comeu até mais do que disse que comeria. E daí que chegou a hora da sobremesa. Niko anunciou que traria o prato para a mesa e Félix poderia se servir do quanto quisesse.

“Eu vou só provar, Depois de toda essa massa não dá pra comer açúcar. Eu controlo meu apetite, mantenho meu shape há anos!”

Durante todo tempo que Niko ia e vinha pela cozinha, entre a bancada e a geladeira, até os armários e voltava, Félix olhava pra ele, pro corpo dele, como ele mesmo disse ele gostava de olhar. O loiro, obviamente, percebeu isso. Às vezes se sentia inseguro, porque ultimamente se questionava se estava acima do peso e pensava em fazer uma dieta, mas naquele momento tentava lidar com essa insegurança da melhor maneira pensando 'se ele disse que gosta de ver, então gosta do que está vendo'.

Niko sentou-se para começarem a sobremesa. Félix tomou a inciativa de servir os dois “Isso aqui deve ter mil calorias por porção” pegou um pedaço relativamente grande e pôs no prato dele.

O loirinho, no entanto, recebeu em seu prato uma fatia bem pequena. E resolveu brincar. “Você disse há pouco que só iria provar. Acho que esse pedaço pequeno aqui é o seu” Niko trocou os pratos, pegando pra si a fatia maior.

Félix trocou de volta “Não senhor. O maior é meu, porque eu posso”

“Como assim pode?”

Félix começou um discurso sobre manter a boa forma e que como sempre controlava o que comia, era magro. Assim, em algumas ocasiões, podia se dar ao luxo de comer um pedaço grande de sobremesa, já Niko não podia ter o mesmo privilégio “daqui a pouco você não vai mais andar, e sim rolar, rolar como uma bola”

Chateado com o que ouviu, Niko ficou sem graça e arriscou a pergunta “Você acha... acha que estou gordo?”

“Não... goooordo, gordo não. Mas um pneu aqui outro ali, você tem.”

“Você pediu que eu ficasse nu, estava me olhando o tempo todo... e agora me diz isso?”

“Só estou sendo sincero. É uma opinião de amigo. Uma academia ia te cair bem. Você não quer prender um bofe? Olha só, esquece o que falei antes sobre espelho no teto do quarto, luzes... esquece a cama vibratória... investe em aparelhos de ginástica! Enche um desses quartos vazios com esteira, bicicleta... mas tem que usar, viu? Depois que você entrar em forma, aí sim coloca jacuzzi, espelhos, lençol de seda vermelha. Não vai ter boy magia que resista.”

Niko ficou aborrecidíssimo. Retirou ambos os pratos de doce da mesa e disse que ninguém ia comer. Félix ficou chocado e não entendeu porque ele ficou tão bravo “Como assim, não vai me deixar nem provar?!”

Niko disse um sonoro “não”.

“É impressão minha ou você está brigando comigo?”

“Félix, você que que eu finja que não entendi o que você disse, ou quer que eu ache graça?”

Félix só abaixou a cabeça. Sim, ele estava fazendo piada, ele fazia piada com tudo. Mas nem sempre, às vezes era tão sincero que podia chegar a entregar a si próprio sobre algo errado que tinha feito. Brincando ou falando a verdade, percebeu que Niko não gostou. Não gostou de nada que ele vinha falando nos últimos minutos. Raciocionou rápido, era a deixa que ele precisava. Aproveitou a chance para, mais uma vez, fugir.

“Não é impressão não.” Passou o guardanapo nos labios e levantou-se da mesa “Estamos brigando sim, e é a minha hora de ir embora. Pode deixar, sei quando não sou mais bem vindo.”

“Espera aí, eu não te mandei embora. Embora eu nunca tenha sido tão ofendido na minha vida... mas...”

“Pois eu nunca fui tao humilhado na minha vida! Além de me expulsar daqui, você ainda não vai me deixar comer esse doce que parece maravilhoso?”

“Eu não estou te expulsando. Se bem que deveria.”

“Deveria? Posso saber o que eu fiz?”

“Félix, em menos de meia hora, você disse que eu não fui capaz de prender o Eron, que eu preciso transformar meu quarto num motel pra atrair um homem pra cá e ainda que preciso malhar se quiser prender ele.”

“Ai, criatura, muita coisa do que eu disse foi brincadeira! Mas eu menti sobre o Eron? Ele se foi, não se foi? Você me perguntou se estava gordo, eu dei minha opinião. E você quer uma familia, quer casar... eu sugeri como você prende um bofe. Não sei porque ficou tão bravo!”

Niko estava sim, bravo, mas estava ainda mais perdido sem saber como lidar com alguem que misturava brincadeiras e dava opiniões sinceras sem nunca medir se estava ofendendo ou não as pessoas.

Uma coisa era certa, Félix não era a pessoa mais indicada para dar conselhos sentimentais para Niko. E, de alguma maneira, esse foi o choque de realidade que o Carneirinho imaginou seria bom dar-lhe de uma vez.

“O que você entende de prender alguém, Félix? Que eu saiba, você foi casado por anos com uma mulher mesmo sendo gay. Eron me falou que você andava atrás de um médico no hospital, um interesseiro, hetero, provavelmente só queria subir às suas custas. E agora? Estava naquele bar, naquele dia, procurando a companhia de estranhos. Você está feliz assim? Vai passar a vida toda assim? Um dia pode ser tarde demais e você não vai ter ninguém.”

Félix não quis dizer mais nada. Tudo que ele havia dito não tinha sido com intuito de ofender. Mas ofendeu. Ele apenas falava sem pensar. E fazia piadas sem imaginar que magoava. Mas magoou. No fundo, inconscientemente, aquele seu jeito era pra manter as pessoas afastadas. Era pra manter um bom humor que mascarava suas mágoas. Até às vezes forçar que o mandassem embora para que ele não tivesse que fugir. Naquele momento, mais do que fugir, ele também queria evitar de sair machucado, o que acabara de acontecer. Já que Niko tocou em uma das questões mais importantes da sua vida.

Estavam os dois nus enquanto tinham essa discussão. “Eu vou me vestir” Félix disse apenas isso e caminhou até a suíte onde estava sua roupa.

Niko permaneceu ali de pé, entre a sala e a bancada da cozinha.

Félix retornou vestido com um travesseiro na mão, entregou à ele “toma aqui, se cobre.”

“Pra que... pra que isso Félix?!”

“Escuta! Você que disse que quer ter uma familia, eu nunca pensei em ter uma. Você que quer um companheiro, eu sei que nunca vou ter um. Enfim... te dei conselhos. Apenas isso. Quis ajudar.”

“Félix...”  Niko tentou argumentar.

Mas Félix não o deixava falar. Parecia magoado, mas mesmo assim continuou seu discurso, inflamando-se cada vez mais “eu não devia ter vindo aqui. Devia ter ido lá naquele bar. Buscar companhia de caras que fazem meu tipo. Companhia de estranhos, conforme você falou.”

“Porque veio então?”

“Porque quis pisar naquela lacraia, já disse!”

“Tá bom, então porque ficou? Porque não foi embora depois de me contar tudo?”  

Félix não sabia, ou sabia. E se ele tivesse certeza do que desconfiava, estava mais do que na hora de dar o fora dali.

“Porque eu quis transar! Só isso. Só quis sexo. Mais nada!” Félix gritava a plenos pulmões “Não precisava me chamar pra tomar banho, me mandar conhecer o apartamento, me falar dos seus sonhos, me dar jantar, muito menos me oferecer um doce que nem deixou eu comer!”

Niko estava ali mantendo a calma, segurando o travesseiro na altura da cintura, cobrindo-se, como na noite anterior. Não apenas se segurando mas tentando entender o comportamento do outro. Mas aí ele riu com a lembrança de algo que Félix disse mais cedo “E você prometeu que hoje seria diferente.”

“E não foi? Você ficou por cima na primeira transa.”

“Você tá sendo irônico ou tá falando sério? Devo rir disso?”

Félix virou-se, caminhou até a porta e de lá olhou uma última vez pra dentro e falou alto “quer saber? Você é uma bicha burra. Uma bicha gorda e burra! Burra porque se deixou enganar por aquelas cobras, que transaram bem debaixo do seu narizinho, ficaram com sua casa e com o bebê que você achava que era seu.” Niko continuava ainda lá parado no meio da sala, Félix abriu a porta  e gritou antes de ir embora “Bicha burra e gorda! Gorda porque... porque você é gorda mesmo! Fui.”

Félix viu que o elevador já estava ali. Ele entrou e desceu.

Niko aproximou-se da porta para tranca-la. Passou a chave, retornou para o quarto e deitou-se. Ficou acordado no escuro um bom tempo tentando entender o que havia acontecido ali. Tudo ia bem, até que... até que tudo terminou mal. De novo. Chorou um pouco, como de hábito. Finalmente dormiu, não sem antes jurar que jamais abriria a porta de novo para Félix.

 


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Notas finais do capítulo

Continua em breve.



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