Depois daquele momento fofo e ao mesmo tempo estranho com Abe, fui chamada para retirar sangue para a transfusão.

Depois de meio litro de sangue retirados de mim, um grande sanduíche natural e um hora para eu me recuperar totalmente eu convenci Abe a sair daquele hospital e voltar ao apartamento.

Durante o caminho conversamos sobre como tinha sido o aniversário de Lya e o quanto ela estava animada para a nova escola. Mas nada poderia me preparar pra o que eu vi quando chegamos ao apartamento.

Devia ser umas onze da manhã, madrugada Moroi, e lá estava a Rainha Vasilisa Dragomir, Christian e Dimitri, parados no meio da sala de estar do apartamento de Abe.

Procurei Andrew com o meu olhar, querendo questiona-lo sobe o que aquilo significa, mas ele só balançou a cabeça para mim e foi quando eu vi Lyanna conversando animadamente com Lissa.

Olhei para Abe, que parecia ultrajado pela invasão a seu apartamento.

— O que vocês estão fazendo aqui? – Não conseguindo me conter, soltei a frase rudemente, fazendo os intrusos olharem para mim.

Lyanna que estava sentada ao lado de Lissa, veio correndo até mim.

— Mamãe! Olha só! O príncipe veio até aqui e trouxe os amigos dele! Tá vendo aquela moça ali? O nome dela é Vasi... sei lá o que, mas ela me disse que eu poderia chamar ela de Lissa. – Depois ela pediu pra eu me abaixar, e sussurrou no meu ouvido: - Ela parece um anjo.

Ela continuou falando, mas eu não consegui mais ouvi-la. Meus pensamentos foram todos voltados para os intrusos ali. O que eles queriam?

Eu sentia a raiva pulsando dentro de mim. Eu queria expulsa-los, queria gritar com eles, mas tudo isso só assustaria minha filha.

Me virei para minha filha, que tinha acabado de falar, esperando que eu respondesse.

— Que legal filha. Mas o que eu já falei sobre falar com estranhos? – Ela fez um beicinho de culpa, mas depois começou a abrir a boca pra me responder. – Não estou brigando com você meu amor, mas da próxima vez não quero saber de você falando com estranhos, me ouviu?

Ela assentiu e quando ia se virando pra falar com os intrusos, eu a parei.

— Lyanna. Você está toda suada, vá tomar um banho e depois vá brincar um pouco no quarto que daqui a pouco a mamãe leva seu almoço. – Ela protestou. – Agora Lyanna.

Por fim, ela foi. A contragosto, mas foi. Deu tchau pra todos os intrusos e entrou no quarto.

Voltei minha atenção pra aqueles três.

— O que vocês querem? – Perguntei rude e sem rodeios. Abe segurou meu ombro, me pedindo pra ter calma, mas eu estava consumida pela dor e raiva. – Andrew por quê deixou eles entrarem?

Meu amigo, que estava de braços cruzados do outro lado da sala, suspirou e passou a mãos nos cabelos.

— Bom, eu não podia desobedecer uma ordem da rainha e parece que essa montanha aí derrubaria a porta de qualquer forma. – Ele deu de ombros.

— Eu vou perguntar mais uma vez. O que vocês estão fazendo aqui?  -  Ninguém respondeu de imediato.

— Queremos conversar Rose. – Lissa respondeu calmamente. A essa altura ela já tinha se levantado e estava do lado de Christian.

— Pois bem, a questão é que eu não tenho nada pra conversar com vocês. – Falei sarcástica, e olhei para Dimitri. Ele estava com aquela maldita máscara de guardião.

— Rose, por favor... Colabora. – Christian disse também sarcástico.

Eu ri em escárnio e vi Abe se encostar na parede de braços cruzados.

— Colaborar? Você não pareceu colaborar comigo quando me dedurou pra os dois babacas aí. – Soltei com raiva.

Dimitri deixou a máscara de guardião de lado e eu pude ver que ele estava começando a ficar nervoso.

— Rose... eu... bem quero pedir... – Lissa começou, com aquela carinha de cachorro que caiu da mudança, mas eu a cortei.

— Não quero suas desculpas estupidas Lissa. Não quero saber o quanto sofreu na minha ausência, não quero nada de você. Eu só quero que vocês saiam. – Soltei com mais raiva ainda e ouvi Dimitri grunhir de raiva.

— Rose pare de agir com uma adolescente mimada e nos escute. – Dimitri disse com raiva e quis pular naquele pescoço lindo e quebra-lo.

— Como é que é? – Ainda estava processando aquelas palavras quando comecei a andar em direção a ele. – Como você ousa dizer isso seu idiota?

Quando eu estava quase pulando em Dimitri. Abe me fez parar.

— Rose. – A voz grave dele, me parou. Me fazendo fita-lo. – Ouça o que eles tem a dizer. – Pisquei, tentando acreditar que era Abe mesmo me dizendo aquelas palavras. – Assuntos profissionais.

Dimitri pareceu voltar a sua paciência de sempre e mais uma vez aquela máscara de guardião se fez presente. Lissa ajeitou a compostura e Christian se sentou no sofá.

Esperei até que um dos idiotas começassem a falar. Dimitri foi o primeiro.

— O ataque a sua mãe, não foi o primeiro que tivemos. Um grupo de Morois da realeza foram atacados semanas atrás e alguns foram mortos e outros foram deixados na mesma situação da sua mãe. Desde então ataques ao redor da Corte são frequentes.

Dimitri falou com aquele tom profissional, deixando que seu sotaque russo só se fizesse mais presente e eu só conseguia pensar o quanto ele estava sexy naquela roupa preta.

Foco, Rose. Foco.

— E achamos que você poderia nos ajudar com isso. – Christian falou. E eu o encarei.

Espera. O que?

— Vocês querem que eu ajude você a sair caçando Strigois? – Dimitri assentiu e fiquei séria. – Não.

— Como é? – Dimitri me olhou incrédulo.

— Vocês pediram minha ajuda e eu disse não. – Lissa me olhou suplicante e Dimitri bufou de raiva. -  Não vou me arriscar dessa forma.

Rápido com um raio recebi um olhar indignado de Dimitri, Christian do outro lado da sala riu e foi repreendido por Lissa.

— Então você só está preocupada com a sua segurança? – Eu sentia a indignação de Dimitri e posso dizer que aquilo me divertiu um pouco.

— Eu tenho uma filha Belikov, uma criança que precisa de mim. Não vou correr esse perigo. – Dimitri ainda estava com raiva mas eu o ignorei, aquela conversa me trouxera muitas dúvidas – Agora por favor, saiam.

Não esperei para ver a reação do demais e caminhei em direção ao quarto. Encontrei Lyanna já vestida e com seu cabelo molhado, mostrando que ela acabara de sair do banho.

Ela veio até mim, com a escova na mão em um pedido silencioso para que eu penteasse o cabelo dela. Peguei a escova e comecei a passar pelos cabelos escuros da minha filha.

Eu não me arrependia da minha decisão de criar Lyanna. Não me arrependia de ser a mãe dela. Lyanna tinha aparecido na minha vida como uma salvação. Eu estava procurando uma vida nova e encontrei quando peguei aquele embrulhinho rosa em meus braços.

Claro que lamentava a morta da verdadeira mãe dela, mas era uma coisa que já tinha acontecido e que eu não poderia mudar.

Mas também não posso mentir em dizer que não sentia falta da minha ida como guardiã. Sentia falta da adrenalina de estar em combate com alguém, em empalar um maldito Strigoi.

Mas eu também sabia dos riscos da minha profissão. E foi por isso que a anos eu tinha decidido que era melhor deixar de lado essa vida. Por que como eu tinha dito pra Dimitri eu tinha uma filha pra criar e eu nunca me perdoaria em deixar Lyanna sozinha no mundo sem uma mãe. De novo.

Por isso que eu não podia me deixar me envolver naquela espécie de investigação que Dimitri havia proposto. Era a minha chance de voltar à ativa, mas também era uma chance de estar mais próximo de Dimitri e Lissa e isso não estava em cogitação. Isso sem falar nos riscos envolvidos. Lyanna estaria em risco, eu estaria em risco e é claro que Andrew também estaria. Eu sabia que ele não me deixaria fazer isso sozinha.

A possibilidade de sentir novamente a adrenalina de um combate me envolveu que eu nem percebi quando parei de pentear o cabelo de Lyanna. A pequena se virou para mim com os olhinhos esbanjando confusão.

— Mamãe? – Ouvi a vozinha de Lyanna abafada e de repente senti uma enorme dor de cabeça. Tentei não demonstrar o que estava sentindo para que Lyanna não se assustasse, mas acho que falhei. – Mãe!

Caí de joelhos no chão e gritei tentando fazer com que a aquela dor de cabeça parasse. Minha cabeça era inundada por dor e eu sentia que a qualquer momento minha cabeça explodiria.

Ouvi Lyanna gritar por mim e a última coisa que eu pude ver antes de bater minha cabeça no chão foi minha filha gritando por ajuda.