— Você não será mais minha guardiã Rose.  – A imagem de Lissa na minha frente se dissipou e outra tomou lugar. Era Dimitri.

— Eu desisti de você. O amor acaba. O meu acabou. – Mais uma vez a imagem se dissipou, voltando a ser a de Lissa em minha frente.

— Mas você pode ser a guardiã de Christian. Ainda vamos nos ver Rose. O conselho decidiu que, como não temos mais o laço nos ligando você não seria a escolha mais indicada para ser minha guardiã.  

E então eu acordei.

O avião estava silencioso, mas a minha mente estava mais barulhenta do que nunca.

Sabe quando você se sente traída pelas pessoas que mais ama? Esse foi o principal fato de eu ter me mandado da Corte. Desde criancinhas eu e Lissa sonhávamos com a nossa formatura e o dia em que eu seria sua guardiã.

Eu sei que algumas coisas fugiram dos nossos planos, como o fato de eu morrer no acidente que matou os pais e irmão de Lissa e ser trazida de volta a vida pela mesma e me tornar uma Shadow-Kissed. Ou também me apaixonar pelo meu mentor Dimitri e ele ter virado Strigoi. Ou eu ter sido presa acusada de ter matado nossa Rainha. Ou quem sabe descobrir que quem me incriminou disso tudo foi a tia do namorado da minha melhor amiga.

É bem verdade que eu e Lissa não tínhamos ideia do que se tornaria a nossa vida nos anos que seguiriam, mas sempre falávamos de eu ser a guardiã dela e ela ser minha Moroi. Eu arriscando a minha vida pela dela.

Mas parece que ela se esqueceu de tudo isso.

Depois que eu tomei aquele tiro que Natasha direcionou a ela e quase morri (de novo) acordei no hospital e ela me contou tudo aquilo. Eu não seria sua guardiã, mas Dimitri sim. E falando nele, o mencionado nem me visitar no hospital foi.

Mas não doeu mais do que as palavras que ele me disse algumas semanas antes.

Eu desisti de você. O amor acaba. O meu acabou.

Eu sei que ele acabara de ter sua vida de volta, estava tudo confuso pra ele ainda. Mas nem aparecer pra me desejar um “Melhoras Rose!” é muito para a minha cabeça. E pro meu coração.

E sem falar em Adrian. Se já não bastasse estar mal o suficiente por Lissa e Dimitri, veio Adrian e acabou logo comigo. As palavras dele não eram totalmente mentiras. Sim eu o usei pra achar Dimitri, mas eu nunca quis que ele se machucasse. Adrian se tornou um bom amigo, mas eu nuca sentiria por ele nem um terço do que eu sinto por Dimitri.

Quando recebi alta do hospital Lissa veio até mim e disse que eu poderia ser a guardiã de Christian. Eu e o garoto tocha poderíamos ter nos tornado amigos. Mas eu não ficaria todo santo dia vendo Dimitri no meu lugar ao lado de Lissa. Não mesmo.

Tudo naquela Corte estava me deixando louca. Lissa, Dimitri, Adrian, todo mundo olhando pra mim como se eu fosse atacar alguém em algum momento. Foi então que eu decidi ir embora.

Iria o mais longe possível. Foi aí que Abe entrou na jogada. Liguei para ele e perguntei se não poderia morar com ele. É claro que ele não recusara. Segundo ele seria a oportunidade para recuperarmos os anos em que ele esteve ausente.

Ele me mandou um jatinho e cá estou eu.

Não avisei a ninguém que estava indo embora. Minha mãe soube de última hora e não gostou nada do que eu estava prestes a fazer. Mas ela desistiu de brigar comigo quando viu que eu não mudaria de ideia. Embarquei e olhei uma última vez para a Corte. Todas as pessoas que eu amava estavam naquele lugar. Mas aquele não era mais meu lugar.

Quando o piloto avisou que estávamos prestes a levantar voo, disse a mim mesma que já era tarde demais para mudar de ideia e prometi a mim mesma que dali me diante eu seria uma nova pessoa.

Algumas horas depois o piloto avisou que em alguns minutos estávamos pousando e senti meu coração dar um pulo. Quando pousamos Abe já estava me esperando com suas roupas exóticas e todo aquele estilo Abe de ser.

— Kiz. – Ele me disse e me puxou para um abraço. Não recusei o abraço, na verdade o apertei mais e me senti bem com aquilo. – Fez uma boa viagem?

Assenti e ele me encaminhou para o carro. Muitos guardiões nos acompanhavam e ri em pensamento. Abe era mesmo um homem poderoso.

Quando chegamos à casa de Abe – que na verdade era uma enorme mansão – ele me mostrou cada pedacinho da sua “humilde casa” como ele havia chamado. Da cozinha (que eu decidi que era o meu lugar preferido na casa inteira) até o meu quarto.

E falando no meu quarto, o dito cujo era enorme. Uma cama ficava bem no centro do cômodo, uma mesinha de centro ficava ao lado cama. A parede era de uma cor clara e aconchegante, havia uma porta do lado esquerdo do quarto que levava até o banheiro. Outra porta levava até o closet, que estava cheio de roupas.

Quando fui perguntar o que era aquilo para Abe, ele somente me respondeu:

— Você realmente acha que eu deixaria minha filha com aquelas roupas?

Bem, Abe fazia de tudo para que eu me sentisse vontade, mas devo admitir que o que mais me deixa a vontade é quando sentamos a mesa na hora das refeições e conversamos.

Algumas semanas se passaram e minha relação com havia Abe melhorou muito. Já o chamava de baba e tudo. Abe se mostrou um pai carinhoso e atencioso.

Eu não dera notícias minhas para ninguém que não fosse minha mãe. Não falei que estava indo embora para ninguém e não vou dar notícias minhas para ninguém. A minha vida estava começando do zero e assim que desejava que ficasse. Lentamente recomeçando.

Eu não estava sendo guardiã de ninguém, mas mesmo assim continuava a treinar todos os dias. Abe até opinou que eu deveria ser uma das guardiãs dele, mas eu logo recusei. Abe já tinha guardiões demais com ele.

 A minha vida mudou muito em poucos meses. Mas eu tinha certeza que eu recomeçaria todo o dia. Mas eu não fazia ideia que ela mudaria ainda mais.