Espaço, Ponto & Vírgula escrita por Lyn Black


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Eu realmente gostei de escrever essa fic, mesmo, e espero que vocês gostem de lê-la.
Espero que os errinhos gramaticais tenham passado bem longe, assim como os alertei que seria melhor.
Sem mais delongas,
Boa Leitura!



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Espaço. Ponto & Vírgula

 

 

Roxanne batucava na mesa. Ele levantara brevemente com a desculpa de que iria cumprimentar alguns amigos. Já fazia quinze minutos. Vinte minutos. Vinte e quatro minutos. Ela bufou. Olhou ao redor, não distinguindo a cabeleira platinada em lugar algum. Aquilo era decadente. Pegou a caneca com cerveja amanteigada e virou-a de uma vez, sorvendo todo o líquido num só gole. Passou a mão na boca desajeitadamente, retirando a espuma que ficara em cima de seus lábios.

Tirou da bolsa que carregara até ali o celular. Olhou o visor. 17h18min. Resgatando a dignidade que ainda lhe restava, guardou o aparelho trouxa e tentou fechar a bolsa a tiracolo, o que resultou numa tentativa frustrada, já que o fecho teimou de emperrar novamente.  Praguejou e largou-a daquele jeito mesmo. Levantou-se irritada e a cadeira fez um barulho estridente quando foi rudemente empurrada. Algumas pessoas olharam-na, desinteressados e  até maldosos. Levantou o rosto, o nariz empinado e a expressão fechada. Desviaram de sua arrogante face. Sorriu irônica. 

Pagou Madame Rosmerta, e murmurou “Boa-tarde”. Dirigiu-se para fora do bar. Foi interpelada algumas vezes por colegas, que acenavam animados. Devolveu os cumprimentos com desânimo. Já na frente do estabelecimento, decidiu que iria dar umas voltas por Hogsmeade. Andava olhando para o chão. Até que trombou em alguém. Que coisa clichê, não é? Mas o que faríamos sem alguns chavões em nossas vidas. Olhou para cima, se deparando com um desconhecido.

— Desculpa. – murmurou baixo, antes de desviar e apressar o passo. Seu rosto ardia levemente em um vermelho carmim. Aqueles olhos castanhos eram ao mesmo tempo tão normais e tão peculiares que se encontrou com nuances de êxtase em sua mente, mas logo recriminou tal pensamento.

— Ei! – parou e olhou para trás, encarando novamente os mesmos olhos castanhos. Ele caminhava em sua direção, hesitante e ansioso. Sorriu um tanto nervoso, e mexeu na boina que estava sobre os seus cabelos. – Qual o seu nome?

A Weasley o encarou por alguns milésimos de segundo, antes de mudar a expressão, um tanto amistosa.

— Anne. – ele assentiu e embora seus olhos demonstrassem certa descrença e uma ponta de deslumbramento, seu sorriso não vacilou. Ele andou até ela. Você está perto demais, Roxanne pensou.

Estendeu sua mão. Ela não precisou perguntar nada.

— Sou Nicolas. – sua expressão era um tanto fria, ácida, talvez. Um cético, dos melhores, ela identificou na hora. A garota apertou a mão enluvada e sentiu faíscas, e ele notou que os olhos dela tinham um quê de diferente. Ela sorriu, porém ignorou o formigamento, a conexão estranha que sentira. Balançou a cabeça. Ele sorriu de volta, e aquilo era estranho. A neve ao redor deles deixava tudo ainda mais contrastante, vivo. – Posso lhe fazer companhia?

O canto da sua boca subiu discretamente, algo bem imperceptível, mas ele notou. Ela assentiu. O garoto se aproximou e ela virou-se, andando lentamente, ele ao seu lado.

— É daqui? – perguntou como se testasse algo e sua voz pareceu melodiosa para Anne.

— Não, e você?

Ele riu e balançou a cabeça negativamente.

— Tudo muito calmo para mim. Estou só de passagem.

— Não estamos todos? – ela perguntou para si mesma em um murmúrio baixo, e ele escutou, mas fingiu que não havia entreouvido as palavras no ar.

Ela sorriu-lhe e ambos riram com certo nervosismo.    

Ele parou e olhou para ela.

— Você escreve? – ela levantou uma das sobrancelhas.

— Eu e qualquer criança alfabetizada. – ele riu mesmo achando a resposta estranha, pois todo aquele singular diálogo fugia tanto do seu habitual que se interessava.

— Digo, profissionalmente.

Ela anuiu, com certa vergonha.

— Eu tento.

— Um dia poderei ler alguma coisa? – propôs curioso.

— Talvez.

Caminharam mais um pouco em silêncio. Ela não entendia porque não estava sendo paranoica já que um cara desconhecido andava ao seu lado e trocavam breves, mas conspiratórias palavras. Parecia que se conheciam desde sempre. Continuaram a andar pelas ruas e cantos do povoado, trocando palavras ao vento.

Quando estava escurecendo, ela disse que tinha que ir.

— Para onde? – ele questionou. Ela olhou o visor do seu celular, 19h43min. A última carruagem saia às 20h00min.  Estavam retornando pela viela principal e naquele ponto se encontravam em uma elevação do terreno. Alguns postes iluminavam o rosto de Roxanne, uma luz amarelada que sempre havia incomodado a menina, mas que naquela hora não a fez mais ou menos segura. Ele segurava a mão dela. Em algum momento da andada aquilo havia acontecido. Ela não havia as separado. Foi bem simples, até. Ela olhou ao longe, na direção do castelo.

Um vinco apareceu na testa do jovem, que a olhou sob uma nova perspectiva. Ela não parecia uma estudante. Olharam-se, hipnotizados um pelo outro. Aquilo era tão estranho, tão errado para ela. Roxanne Weasley nunca soube como lidar com os outros. Ela sentia-se sempre tão fora do encaixe. Havia gostado de uma pessoa no segundo ano, mas se convencera com tanto afinco de que aqui era tolice, que nunca mais conseguiu se deixar levar.

Ele se aproximou e selaram os lábios. Anne sentiu-se em um lugar distante. Um barulho de passos cada vez mais próximos perturbou-a, descolaram os rostos, mas não se distanciaram muito, enfeitiçados. A mão dele ainda repousava delicadamente sobre sua face.

— Eu estava te procurando há hor... – a voz se perdeu diante da cena. Separaram-se com certa naturalidade, e olharam para o expectador. Lysander Scamander encarava-a com certo horror, escarnio e ironia, mas completou a frase. – ...horas, Roxanne.

Nicolas se afastou um pouco.

— Achei que seu nome fosse Anne. – ela pensou amarga em como o faz de conta havia chegado ao seu trágico fim.

— Dá no mesmo. – murmurou levemente magoada. Olhou para o garoto loiro com raiva. Ele sorriu-lhe cínico.

Ela olhou para o outro, e puxou-o para longe do colega de Hogwarts.

— Roxanne Weasley?  - ela assentiu. – Por que você não falou?

Ela olhou para baixo, com um grau de tristeza.

— Exatamente por isso.

Em um olhar ele a entendeu, não compreendendo com totalidade o que ela sentia, mas sorriu-lhe. Curvou-se e encostou seus lábios na bochecha da garota.

— Até mais, Anne. Não encontre uma companhia para me substituir, okay?

Roxanne sorriu, e assentiu. Ele virou-se e andou para longe, logo sendo engolido pela escuridão. Antes de desaparecer pelas vielas de Hogsmeade, virou-se e olhou a garota que o observava ir. Notou que uma profusão de sentimentos se misturava no rosto dela, mas ela logo sorriu, fingindo que nada a afligia. Ele não sentiu pena, como costumava sentir ao ver pessoas quebradas pelo mundo, tão quebradas ou talvez ainda mais do que ele. Sorriu com mistério para a menina-mulher que lhe fascinara e desapareceu em uma das encruzilhadas do vilarejo.

Ela voltou-se para o Scamander e passou direto por ele.

— Roxanne, pelo amor de Merlin, você sumiu. Eu estava desesperado atrás de você e te encontro com esse cara. Quem ele é? De Hogwarts, eu tenho certeza que ele não é. Por Morgana, eu achei que você gostasse de mim.

Ela parou e respirou profundamente.

— Em duas horas e trinta e um minutos eu me senti mais ligada a alguém do que a qualquer um nesses quase sete anos em Hogwarts.

Ela se distanciou e entrou na penúltima carruagem que saia, em companhia de três garotas mais novas que não paravam de cochichar e olhar par ela pejorativamente. “Você escutou o que ela falou para Lysander Scamander?” entreouviu os cochichos. Parecia até que protagonizara uma peça vista por todos. Realmente algumas pessoas a viram e comentaram, mas ela estava tão envolvida que simplesmente ignorou. 

Eles se encontraram até a formatura dela, toda vez que havia uma ida a Hogsmeade. Ela escutou muitos comentários até finalmente ir embora de Hogwarts porque Nicolas Riddle era perigoso, ele estudara em Dursmtrang e era herdeiro de uma fortuna de peso, isso sem falar do sobrenome dele. Aparecera em um passe de mágica, perdoem-me o trocadilho, no mundo bruxo. 

Após a formatura de Roxanne, eles sumiram por uns tempos. Ela apareceu depois, no mundo trouxa mesmo, lançou um livro e depois outro e logo era considerada uma excelente e peculiar escritora. Envolveu-se com tanta paixão, determinação e fé, que ignorou e suportou a dor que sentiu ao brigar feio com seu pai e com a família ao desaparecer de suas vidas.

Roxanne Weasley sempre se sentira acompanhada, mas a solidão morava nela, essa era a verdade. E todos faziam o errado. Tentavam roubar a sua ausência, mas não era óbvio que a ausência somente pode ser preenchida? Nicolas Riddle ficou conhecido como poeta, ao menos Roxanne dizia que ele tinha a alma de um. Talvez sua percepção especial do mundo e dela o fez perceber o que Roxanne gritava em silêncio.

Ela era uma pessoa muito inesperada quanto a todas as projeções feitas sobre quem ela seria, foi, era. Mais do que os primos que não foram para a Gryffindor ou dos que quebraram diversos preconceitos.

Reservada, autêntica, com paciência, mas sempre com pressa, sem aquele humor, nunca entendendo como deveria agir, sempre sonhando alto demais, apegada demais às coisas, obstinada e cheia de expectativas.

Dizem que ela continuou com Nicolas Riddle através de todas as brigas, crises e problemas porque ele foi uma das poucas pessoas que quebraram suas expectativas. Juntos eles eram a versão mais inesperada da vida. Eles não tinham nada com nada e ao mesmo tempo eram totalmente entrelaçados.

Conheceram-se ao acaso, uniram-se como quem faz uma aposta, mas tem a certeza de que vai perder, e fizeram de si a decisão mais impulsiva que tomaram. Ora, eu nunca levei jeito para contar histórias de amor, e curiosamente conto essa.

Talvez, apenas talvez, porque eles fossem quase uma espécie nova de amor. Um amor que não se diz apaixonado.  Não havia nem doce nem sal constantes. Eles iam de um extremo para o outro, desvendando-se com o passar dos minutos, descobrindo quem não eram, quem queriam ser e o que nunca seriam.

Saíram em jornais, se enfrentaram em debates e se fascinaram cada vez mais. Talvez fosse isso que um sentia pelo outro. Ambos tão racionais, ofendidos se chamados de emotivos, estranhos à arte de sentir e apenas sentir. Era um estranho fascínio mútuo.

E a fascinação os levou para cada vez mais longe daquele mundo, e para cada vez mais perto de um lugar desconhecido. Espaço. Ponto e vírgula. Aparentemente caminhando para um fim, mas sempre, sempre, apenas nas aparências.

Dando continuidade a algo tão diferente até mesmo para eles, que eram quem vivenciavam ao que que com dificuldade poderíamos resumir a:

Ideia entre a continuidade e o fim.

Espaço.

  Ponto e Vírgula.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham apreciado essa one, que muito me fascinou.
Caso desejem dizer o que acharam, saibam que eu sou super aberta a críticas construtivas e adoro conversar.

Bjnhs,
Lyn Black