Final Destination - Desastre em O'Reoy escrita por FrancaLuke


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Repostando uma fic que, enquanto esteve no ar, agradou bastantes leitores que são fãs dos filmes! Espero que gostem também!



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Um trovão fez-se escutar lá fora.

  Jessica Holden olhou para a janela de seu quarto. Dali era possível ver gotas grossas de chuva se chocando contra o vidro liso. Era possível ver também os borrões das árvores que o vento forte manipulava, de um lado para outro, ao seu bel prazer. Era final de tarde, mas as nuvens pesadas e escuras que encimavam as casas de McKinley, na Pensilvânia, faziam com que pudesse pensar que fossem altas horas da noite.

  Jessica desviou os olhos da janela, e continuou a dobrar suas roupas, colocando-as cuidadosamente em uma pequena mala. A mala de sua mãe. Ela a emprestara, para que a filha pudesse viajar com sua turma do terceiro ano para a pequena ilha paradisíaca chamada O’Reoy. Ficariam hospedados em “chalés maravilhosos” durante todo um fim de semana. E, logo na segunda noite, teriam uma festa de formatura! Prêmio de uma gincana para veteranos, que a princípio, parecia idiota, mas que veio a calhar muito bem!

  Jessica estava empolgada com isso. Terminar o Ensino Médio, fazer farra com os amigos do colegial, ficar com o namorado, e depois cursar Literatura, em alguma universidade do Arizona.

  A garota colocou seu último traje de banho na mala, e lacrou-a com o zíper. Carregou-a até uma cadeira, ao lado de sua cama, e deixou-a ali. Com as mãos nos quadris, Jessica olhou de novo para a tempestade que caía lá fora. Só esperava que ela fosse embora depressa.

  Não queria embarcar em um vôo de duas horas com um tempo daquele. Já não gostava de voar. Com tempestade, ainda...

  Jessica caminhou lentamente até a janela e puxou a cortina azul, ao mesmo tempo em que um trovão estalava. Deslizando a mão pelo cabelo louro, deitou-se em sua cama, e ficou ali, com a unha do dedo mindinho na boca, por alguns segundos. Olhou para a passagem dobrada com cuidado em cima do criado mudo, sob o abajur. Esticou o braço até alcançá-la. E, quando por fim alcançou, foi reler pela quinta vez o que dizia aquele papel de cor amarelada.

Nome: Jessica Parl Holden

Data de Nascimento: 30/08/92

Voo 909, New Flying.                     

Data de Embarque: 13/05/2009

  A moça deslizou os dedos pelo papel algumas vezes. Àquele toque, sentiu algo estranho. Não sabia exatamente o que era. Um presságio, talvez... Não. Não era um presságio. Não era como pressentisse algo que estava por acontecer. Era como se já estivesse acontecendo alguma coisa errada. Estremeceu.

  Duvidando da própria sanidade, Jessica inclinou-se para colocar a passagem de volta de baixo do abajur. Enquanto erguia o artefato, sua lâmpada piscou algumas vezes. Jessica deixou-o sobre o criado mudo, e deu-lhe algumas pancadinhas, para que funcionasse direito.

  A lâmpada se apagou.

  Resmungando, Jessica levantou-se de sua cama, e puxou com força a tomada do abajur, largando-a no chão. Lá embaixo, ouviu a voz abafada de sua mãe chamando-a para jantar.

  - Já estou indo, mãe!

  Jessica era filha única. Era uma menina bonita, de cabelos louros e olhos azuis acinzentados. Mas não ligava obsessivamente para sua aparência. Gostava de saber que não era a garota mais feia da escola, mas não se importava muito com maquiagens, sapatos e roupas de grife. Era calma e muito centrada. Não tinha um temperamento explosivo e parecia compreender mais os homens do que a maioria das meninas de sua escola. Pelo menos era o que seu melhor amigo, Liu Wong, dizia.

  Ela e sua mãe moravam sozinhas naquela casa, desde que seu pai morrera em um acidente de carro. Foi um acidente muito estranho. E, para piorar, foi no mesmo dia em que a filha de sua tia-avó caçula, Erin Ulmer, morrera de uma forma horrível – empalada por pregos na cabeça, enquanto trabalhava.

  Jessica ainda se lembrava muito bem daquele dia. Como se pudesse esquecer esse tipo de coisa! Mesmo se tentasse esquecer, os fantasmas de sua prima distante e de seu pai voltavam para atormentá-la. Fosse em uma fotografia, ou em canções, ou em objetos...

  Era uma noite aparentemente comum. Jessica estava em seu quarto – na antiga casa –, deitada em sua cama lendo um livro, quando ligaram para sua mãe, noticiando a morte de Erin. Jessica se lembra de as duas terem ficado apavoradas. Seu pai ainda não havia chegado do trabalho, então pediram ao vizinho para que as levassem até a casa dela.

  E, depois, quando as duas voltavam para casa, infelizes pela notícia horrível, depararam-se com um carro atravessado na parede da casa – a parede do quarto de Jessica. Era o carro de seu pai. Estava muito destruído, e havia escombros sobre ele.

  Disseram que ele estava bêbado, e se chocou com tudo contra a parede da casa. E, agora estava morto.

  Jessica se lembrava de ter chorado por semanas inteiras. Não foi mais à escola naquela época, e não queria receber ninguém. Passava o dia todo deitada em sua cama nova – por que a velha foi completamente destruída pelo carro e pelos destroços da parede –, chorando e se recusando a comer, agarrada a imagem do pai morto: cabeça estourada, do lado de fora da janela do carro, sangue encharcando aquele cabelo louro e liso e formando uma poça vermelha no chão destruído, e os ossos de seu braço direito expostos, como facas que perfuraram sua pele de dentro para fora.

  Sua mãe costumava dizer que agradecia muito a Deus por terem saído de casa antes de o acidente acontecer. Porque, se não tivessem pedido carona ao vizinho, Jessica estaria naquela cama... Morreria com o pai naquele acidente horrível. Seriam três corpos a serem velados, e não dois.

  Mas Jessica não gostava de pensar assim. Dava a entender que sua mãe agradecia por Erin ter morrido. E aquilo a deixava enjoada. Devia a vida à morte de alguém... E isso não parecia certo.

  E agora na casa nova, as coisas estavam melhorando. Jessica passou a freqüentar a escola mais uma vez – e conheceu Phillip King. Ele era tudo o que ela tinha de mais valioso. Ele era o único que a fazia se esquecer completamente de seu pai. Era ele quem oferecia o ombro para que ela chorasse. Foi ele quem ouviu tudo o que ela queria dizer. Ele que a fazia rir, se alegrar. A fez lembrar que a vida dela ainda continuava. Que seu pai podia até ter morrido; mas que ela tinha uma vida inteira pela frente.

  Assim que o vira pela primeira vez, Jessica o achara bonitinho. Mas estavam com quatorze anos, e ele estava passando por algumas mudanças físicas que o deixaram estranho. Engraçadinho. Mas ele foi muito legal com ela. Tornaram-se melhores amigos. E, no ano seguinte, começaram a namorar. Tudo era perfeito...

  Bom, isso durou até que ele entrasse para o time de futebol da escola. Foi logo no início do ano. Ele passou a ser bonito e arrogante, e passou a ter prazer em humilhar as pessoas. Bom, como todo atleta que acaba de entrar no time. Até aí, normal... Mas as coisas pioraram quando ele começou a usar drogas. Primeiro a maconha na mochila. Depois, cocaína no vestiário...

  Aquela fora uma das épocas mais difíceis da vida de Jessica. A menina sofrera muito, tentando tirar Phillip das drogas. Jessica sabia que ele queria muito parar de usar, e não medira esforços para ajudá-lo. Mas os dois estiveram praticamente sozinhos nessa batalha. Quase todos lhes viraram as costas. A mãe de Jessica a proibira de vê-lo. E os pais dele queriam mandá-lo para uma escola militar, em algum lugar do Canadá.

  Mesmo assim, Jessica não desistiu. Nunca... Ela o amava muito. E, provavelmente foi esse sentimento que os ajudara. Ambos se amavam muito. Por isso, Phillip conseguiu se livrar das drogas, freqüentando uma clínica toda semana. Por amor à Jessica.

  Isso foi há alguns meses. E ainda assim, pessoas olhavam torto para Phillip. Olhavam-no como se ele ainda fosse um viciado. E, embora ele nunca tivesse dito nada, Jessica sabia que ele estava magoado com isso. No entanto, se esforçava ao máximo para ser legal com todo mundo. Até para com aqueles que o abandonaram.

  E Jessica o admirava muito.

x-x-x-x-x

Quando Jessica chegou à cozinha, viu a mãe sentada à mesa, comendo distraidamente enquanto assistia ao noticiário. Jessica serviu-se da comida vegetariana à qual estava habituada, e sentou-se também.

  “... nove anos amanhã”, dizia o repórter da ABC. “E, muitas pessoas acreditam que é um dia amaldiçoado. Sabe-se que 13 de maio também foi o dia em que houve o engavetamento na Rota 23, oito anos atrás, que matou várias pessoas. E, nesse caso, uma garota também teve...”

  - Quanta bobagem – disse a Sra. Holden, mudando de canal. – Não sei como existe esse tipo de pessoa que acredita que qualquer coincidência seja uma maldição.

  Jessica olhou para a mãe, sem entender. A mulher era magra e pequena. Tinha o rosto esperto, mas marcado pelas linhas do tempo. Naquele momento, ela estava expressando sarcasmo.

  - Não se deve acreditar em tudo o que dizem, querida.

  Jessica franziu o cenho.

  - Mãe, eu não sei do que a senhora tá falando.

  A Sra. Holden sorriu, sacudindo a cabeça. Levantou-se depressa, e foi até a pia, deixar ali o prato quase intocável de comida. Não disse nada. Apenas deu uma risadinha gostosa, de quem sabia de algum segredo e não queria contar.

  Jessica continuou observando a mãe por alguns segundos. Então, voltou a comer, desviando os olhos para a TV.

  “... uma oferta de derrubar qualquer preço! Venha e confira”!

  - Vai precisar de carona amanhã? – perguntou sua mãe, enxugando as mãos nas bordas da blusa.

  Jessica sacudiu a cabeça.

  - Não. O pessoal alugou um ônibus. Vamos todos de ônibus para o aeroporto. O Prof. Shawn preferiu que todos ficássemos juntos, a partir do momento em que saíssemos da colégio. E... o Phil vai me levar até lá.

  A Sra. Holden ficou calada por alguns segundos, fitando o vazio, após uma estranha exclamação de surpresa. Jessica sabia que ela reprovava aquilo. Mas ambas sabiam que não adiantaria nada. Mesmo se a Sra. Holden reprovasse, Jessica iria de carro com o namorado para a escola. Tinha uma determinação de ferro.  

  - OK. – murmurou a mulher, por fim. – Tudo bem...

  Jessica assentiu.

  - Quanto a... ele, querida... Hmm, você deve tomar muito cuidado – começou sua mãe, de repente alarmada. – Você sabe... você estará longe de mim, em uma ilha... E esses garotos de hoje...

  Jessica fez uma careta, já sabendo onde sua mãe queria chegar. O que poderia fazer? Sua mãe era obsessiva com o que achava que pertencia á ela.

  - Mãe! Ele não...

  - Nunca se sabe, querida...

  - Mãe! – repreendeu-a Jessica, sentindo o rosto corar.

  A Sra. Holden deu de ombros, tentando parecer impassível. Jessica olhava-a de olhos arregalados, deixando bem claro que o assunto se encerrava ali.

  - Tudo bem – continuou sua mãe, sentando-se derrotada em uma cadeira. – Só quero que se cuide, tá bom?

  - Eu vou me cuidar, mãe, não se preocupe – disse Jessica, em tom firme.

  A Sra. Holden assentiu, mas continuou fitando a filha comer, com um olhar de intenso cuidado. Jessica a entendia muito bem. Perdera o marido, e tudo que lhe restara fora ela. Então, fazia o possível para manter seu tesouro a salvo.

  Jessica tentou mostrar-lhe um sorriso tranquilizador. Mas sua mãe levantou-se e saiu da cozinha.

x-x-x-x-x

Patrick Jackson não sabia o que ainda estava fazendo naquele lugar. Tudo a sua volta era tão desprezível que se sentia sujo só por estar ali. O cheiro de bebida forte, cigarro e sexo impregnavam o ar de tal forma que suas roupas provavelmente federiam por dias... Ele realmente não queria estar ali. Mas não podia simplesmente ir embora. Primeiro, porque estava chovendo muito, e ele não tinha carro. E, também, porque ele estava ali com Tyler Cassey – e este último parecia estar disposto a permanecer naquele bar durante toda a noite, flertando qualquer mulher que passasse perto de sua mesa. Sendo assim, ele teria que aturar aquilo tudo até que Tyler decidisse ir embora.

  Tyler Cassey estava falando no telefone naquele momento, um pouco alterado, por causa das copadas de cerveja que virara goela abaixo durante a noite. Patrick sorriu. Aquela noite tomaria a direção do carro do pai de Tyler. Pelo menos ainda estava sóbrio... Quem se embriagaria com refrigerante, afinal?

  Patrick Jackson não bebia. Era o oposto do que Tyler era. Mas, Tyler tornara-se seu melhor amigo de uma forma tão rápida e de repente, sendo dependente dele pra tudo, que agora o rapaz via-se responsável pelo outro. Era estranho aquilo porque as pessoas interpretavam de uma forma equivocada. Ninguém nunca se atrevera a falar na frente deles o que realmente pensavam, mas Patrick não era nenhum burro. Sabia quais eram os boatos na escola. Patrick não era mulherengo, ao contrário de seu irmão gêmeo, Paul, então as pessoas comentavam. Isso o irritava. Já Tyler parecia não se importar tanto. Mas ele nunca se importava com nada. Levava a vida numa brincadeira...

  Mas, com o tempo, Patrick foi deixando isso de lado. Aquilo o atrapalhava muito com as garotas, mas algumas achavam legal ele cuidar tão bem do melhor amigo. Principalmente Jessica Holden. O problema era que ela tinha namorado. Phillip King. Tyler estava conversando com ele nesse exato momento. Ah, mas se não fosse ele, Patrick já teria se declarado para Jessica há muito tempo...

  Bufando, o rapaz olhou ao seu redor mais uma vez. O movimento estava diminuindo. As pessoas estavam bêbadas demais para fazer alguma coisa além de chatear umas as outras. Mas uma música tocava agora... Patrick não demorou muito para descobrir qual era. Dust in the Wind. Perfeita para a ocasião, porque lá fora, o vento uivava perigosamente, com a chuva forte. Olhou pela janela, ao lado da mesa onde estavam, e fitou as gotas de chuva que chicoteavam insistentes o vidro, e depois escorriam com rapidez.

  Tyler ainda falava com Phillip.

  Do lado de fora, um clarão azulado do relâmpago fez-se perceber dentro do bar. E, pelo vidro da janela, Patrick viu o próprio reflexo olhando-o sombriamente, por uma fração de segundos. A pele clara, os olhos azuis e o cabelo castanho escuro... E, por mais estranho e infantil que aquilo parecesse, de alguma forma causou-lhe arrepios. Como se alguém, que não fosse seu próprio reflexo, o observasse de verdade através daquela janela.

  - Ei, Patrick – chamou-o Tyler, esfregando uma das têmporas, enquanto desligava o celular. – Vamos embora.

  Patrick assentiu, apanhando a chave do carro. Tyler não protestou.      

x-x-x-x-x

A chuva continuou por toda a noite.

  Jessica estava deitada em sua cama, com o panfleto de turista da Ilha O’Reoy em uma das mãos. Na outra, segurava o telefone celular perto da orelha.

  - Oi, Jess – disse a voz de Claire, do outro lado da linha.

  - Oi – Jessica olhou para a foto do salão de festas bem-decorado da ilha. – A que horas você quer que eu e o Phil passemos aí?

  Claire fez um som de quem estava pensando.

  - Sei lá. Umas dez e meia da manhã?

  - Tá, mas é tão cedo... O nosso voo é às seis horas da tarde.

  - Infelizmente eu tenho que estar na escola cedo, para ensaiar a torcida para a Temporada de Jogos de Verão. Sabe como é, né? Aquelas gazelas saltitantes não conseguem nada sem minha ajuda, e a treinadora Missy está de quarentena.

  Jessica franziu o cenho. Era assim que Claire Temple, sua melhor amiga, se referia às suas colegas animadoras de torcida. Claire não gostava de nenhuma delas. Segundo ela, todas eram exibidas e frescas demais, que só sabem falar sobre homens e seus órgãos sexuais e viris. Mas Claire era a capitã, e adorava isso. Gostava de explorar aquelas meninas.

  Claire tinha um gênio terrível.

  - Tudo bem – disse Jess. – Vai ser bom ir para a escola mais cedo. Eu tenho que pegar algumas coisas no meu armário, e acho que Phil tem que conversar com o treinador Bucks, ou qualquer coisa assim.

  - Tá, mas se você quiser, eu peço para meu pai me levar lá – disse Claire. – Vai demorar um bocado.

  Jess revirou o panfleto na mão, visualizando a foto da magnífica praia azul e tropical, e de uma exposição de canoa feitas manualmente perto da entrada dos chalés.

  - Não tem problema. Eu poderia assisti-las treinando.

  - Tudo bem, você é quem sabe.

  - Então, amanhã às dez e meia?

  - Certo. Estarei pronta. Ah, e eu estou levando duas malas. Será que o carro do Phil...?

  Jessica sorriu.

  - Cabe sim. Acho que estamos levando apenas uma mala pequena, cada um.

  Claire ficou momentaneamente em silêncio.

  - É que estou levando meu videogame e meus jogos.

  Jessica deu uma risada. Não mais que o esperado.

  - Não se preocupe... – ela recuperou o fôlego. – O carro vai caber.

  - Ah, muito obrigada!

  - Não há de quê – Jessica jogou o panfleto em cima do criado mudo. – Até logo. Tenho que ligar para o Phil agora.

  - Até logo! Beijo!

  Jessica sorriu, sacudindo a cabeça.

  Claire Temple era sua melhor amiga desde o primeiro ano do ensino médio. Era uma garota linda, de cabelos louros e olhos verdes. Era muito rica, mas nunca ligou para isso. Tinha um jeito simples, mas genioso de ser. Uma das garotas mais inteligentes do colégio, ela quase nunca usou sua inteligência para o próprio bem. Adorava encrencas, brigas e discussões. E, não escondia seu iminente vício por videogames e jogos de luta.

  Jessica a admirava muito. Era muito corajosa, e foi uma das poucas pessoas que a ajudou com Phil. Jessica devia muito a ela.

  A moça discou o número de Phil, e aguardou alguns segundos. Foram apenas duas chamadas, antes do namorado atendê-la.

  - Oi, amor – disse a voz rouca, do outro lado da linha.

  - Oi.

  - Algum problema?

  - Ah, não – disse Jessica, rapidamente. – Tá tudo bem.

  Phil riu um pouco.

  - Saudades da minha voz?

  - Até parece – disse ela, fingindo indignação. – Nunca. Só liguei pra dizer a que horas iremos buscar a Claire na casa dela.

  - Hmm.

  - Vamos buscá-la às dez e meia... Ah, e é bom que tenha espaço! Ela vai levar o videogame e os jogos.

  Phil deu mais uma risadinha.

  - Ok. Vou ver se meu tio empresta o micro-ônibus dele.

  Jessica revirou os olhos, olhando para as cortinas azuis que se moviam com um vento gelado, causando-lhe arrepios. A moça levantou-se, franzindo a testa. Sua mãe devia ter aberto a janela...

  Enquanto Phil falava quantas malas levaria, e o que teria de fazer na escola, Jessica afastou as cortinas da janela, e ficou surpresa. Esta estava fechada, sem nenhuma fresta pela qual o vento pudesse passar.

  -... no carro da Brenda. Ela o convidou, mas ele disse que não confia tanto... – dizia Phil. – Então, será que se importa se ele for com a gente?

  Jessica não ouvia. Estava olhando para a janela de testa franzida. Lá fora, a chuva insistia a cair, com ventos fortes e inquietos. Mas como as cortinas foram sopradas daquela forma? Ela não estava com sono, então... E ela mesma sentira o vento gelado nas pernas nuas.

  - Jessica? Amor?

  Jessica afastou-se da janela, sendo despertada de sua alienação pela voz do namorado.

  - Oi, Phil.

  - Você tá bem?

  - Claro... Você tava dizendo... – ela sentou-se na cama de novo, sem tirar os olhos da janela. Estava começando a ficar assustada.

  - Nada. É só que Tyler também quer ir conosco. Você se importa?

  Jessica hesitou um pouco. Aquele assunto a interessava. Afinal, Tyler Cassey era uma má influência – fora ele quem induzira Phil às drogas. Ele e o namorado já foram melhores amigos, numa época sombria e desagradável de sua vida. Tyler também era do time de futebol. Era o capitão deles. Alto, louro, corpo atlético. Pura arrogância e muito desprezível. Depois que Phil se recuperara, ele tentara algumas vezes se reaproximar. Mas Jessica nunca deixava que voltassem a ser como antes. Já havia deixado bem claro para Tyler que o queria longe de Phil.

  De qualquer forma, Jessica gostava da atitude do namorado, em perguntar-lhe aquilo. E Jessica havia percebido uma mudança acentuada em Tyler, depois que ele passou a andar com Patrick Jackson, um dos gêmeos Jackson – o melhor deles, na sua opinião. Talvez uma carona não fosse fazer Phil voltar às drogas, não é? E Jessica sentia-se um pouco culpada por algumas vezes em que humilhara e criticara Tyler na frente de toda a escola. Talvez, dar carona a ele não seria problema algum.

  - Tudo bem – disse ela. – Mas será que vai caber?

  - Lógico, amor. Nem eu, nem você e nem Tyler está levando muita coisa. Só Claire. E meu carro não é tão pequeno assim.

  Jessica suspirou.

  - Você é quem sabe. Mas não quero ver você e Tyler grudadinhos outra vez, viu?

  - Não esquenta, Jess – disse Phil, sério. – Eu não vou cair no mesmo buraco duas vezes.

  Jessica sorriu.

  - Assim espero.

  - Então fica assim... Eu passo na sua casa às dez horas, depois vamos pegar a Claire. Acho que eu vou buscar o Tyler mais cedo. Ele mora aqui perto.

  - Ok.

  - Eu te amo muito – disse Phil, ternamente.

  Jessica sentiu um calorzinho dentro do peito, ao ouvir aquelas palavras.

  - Eu te amo mais.

  Phil de uma risadinha.

  - Eu duvido... Mas, de qualquer forma, essas vão ser as melhores férias de nossas vidas. Você vai ver.

  Jessica sorriu. Mas, mesmo com toda a convicção que Phil dissera aquilo, ela não conseguiu acreditar. Ela não achava a mesma coisa que ele. Algo dizia que aquelas férias não seriam tão boas assim.   

...

Naquela noite, Jessica teve um pesadelo.


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