Enfim havia chegado o último dia da primeira semana de trabalho na DPZ, Nick estava exausto mas radiante, tudo aquilo que ele estava vivendo era muito melhor do que ele jamais havia imaginado, em menos de um ano sua vida havia mudado totalmente e tudo isso graças àquela coelha fofa chamada Judy Hopps. Por um instante ele repensou o que havia dito sobre ela e preferiu manter-se apenas pensando que Judy Hopps havia transformado sua vida. Quem sabe um café no final do dia com um bom pedaço de bolo de cenoura?

Bom, olhando-se no espelho Nick teve certeza que ela não recusaria um convite para comemorar o sucesso daquela semana.

Algumas horas depois no vestiário feminino da DPZ

“Sim, papai, está tudo bem, não se preocupe....”

“Não mamãe, esse final de semana devo ir visitar a Frufru e meu afilhado e descansar...Não se preocupe....”

Mesmo sendo considerada uma das melhores policiais de Zootopia, ela não conseguia convencer seus pais que um final de semana sem ir visitá-los ainda assim poderia ser um bom final de semana. Tudo que a coelha queria era sossego, ter Nick como parceiro tinha lhe deixado inquieta, afinal – e se algo desse errado? Aquela dúvida lhe consumiu a semana inteira e agora finalmente sexta-feira ela podia se dar ao luxo de descansar – Nick havia se mostrado um excelente novato – e ainda havia ganhado a confiança da tropa por ser um dos únicos a fazer piadinhas com o chefe Bogo.

“Frufru, é a Judy – Tudo bem? Meu turno acabou, estava pensando se poderia ir aí hoje te ver? Como está meu afilhado lindo?”

“Combinado! Estamos te esperando.”

Visitar Frufru no final do dia parecia encontrar um oásis bem no meio da Sahara square – tudo que ela precisava era alguém para conversar e comer algo antes de ir para a casa. O final de semana ainda não estava cheio de compromissos como ela havia dito a seus pais, também não conseguia disfarçar o alívio de não te rque encontrar todos seus irmãos e irmãs naquele final de semana.

Fones de ouvido, Gazelle e finalmente ela estava pronta pra sair do vestiário.

“Cenourinha? Ora, ora, ora, só porque ficou importante nem dá tchau para esse carnívoro?”

“Niiick, que susto! Achei que você já tinha ido embora, por que está aí parado do lado de fora da DPZ?”

“Por que eu não estou trabalhando, coelha boba!”

“Raposa esperta...” – Judy se lembrou do primeiro momento em que se viram. Como tudo havia mudado.

“Eu conheço um lugar que tem um excelente café e um bolo de cenoura que nem nas Tocas se faz igual, vamos?”

“Errr” – Judy realmente não esperava aquele convite, especialmente porque ela tinha um compromisso....

“Err?”

“Err...Eu tenho um compromisso.”

Nick não soube disfarçar seu desapontamento, metade do dia ele ficou pensando a melhor maneira de convidá-la para sair depois do expediente para agora descobrir que alguém já tinha feito isso.

“Desculpe, fica para outra vez então Cenourinha...” – Nick não tinha nenhum plano B, ele estava tão confiante que eles iriam àquela cafeteria que ao menos teve reação para perguntar quando ela estaria livre para sairem, meio cabisbaixo ele se virou para ir embora. Como ele poderia perguntar com quem seria aquele compromisso? Seria alguém da DPZ? Ele tinha quase certeza que ele não era o único a achá-la fofinha.

“Nick...eu tenho meia-hora livre, que tal tomarmos um suco aqui do lado?”

“Tudo bem Cenourinha, marcamos outro dia, não quero te atrapalhar”

“Você não atrapalha, é que eu já tinha marcado com...”

Nick acabara de colocar sua pata a frente do rosto de Judy, ele não queria ouvir nenhum  detalhe, talvez fosse melhor apenas encerrarem essa conversa e cada um ir para seu canto. Já no caminho de volta a sua casa, não havia outro pensamento que não fosse quem havia ganhado a companhia daquela coelha numa sexta à noite. Até onde ele sabia, Judy não tinha muitos amigos  - e que amigo chama alguém para um compromisso sexta à noite?

“Judy, você parece distante hoje, achei que você queria conversar e contar como foi a sua semana? Eu também quero conversar algo que não seja relacionado a fraldas e bebês”. “Meu filhotinho é lindo, mas dá um trabalhoooo, nem sei como sua mãe conseguia dar conta de tantos coelhinhos nas Tocas” – Frufru queria soar engraçada, mas a cabeça de Judy estava longe.

“Desculpe Frufru, vim aqui conversar com você e agora fico aqui sem falar nada, vamos mudar de assunto?”

“Que assunto? Tudo que eu falei até agora você não se dignou a responder...Vamos falar de outra coisa então? E o Nick? Como foi a primeira semana da primeira raposa policial? Ele aceitou algum suborno?”

“Frufru!!??”

“Agora você prestou atenção no que eu disse, comadre...”

“Ele está bem, foi uma semana ótima, só fiquei um pouco chateada porque não pude acompanhá-lo à cafeteria que ele queria ir...”

“Ele te chamou para um café?”

“Sim...”

“Judy, essa raposa é muito malandra, lembre-se do que meu pai já te contou – ele teve coragem de vender um tapete falso pro meu pai, imagina o que ele poderia fazer em relação a uma coelhinha das Tocas...”

Seria melhor se Judy não tivesse comentado nada, somente quando seu afilhado a salvou através de um chorinho de fome...Enfim ela pôde ir para casa. Talvez nem sua mãe se preocupasse tanto com um convite para um café

Já era tarde o suficiente para ligar para o Nick, ele já deveria estar em alguma balada de Zootopia e nada mais justo, afinal ele havia se comportado fielmente a farda que vestiu, até Flash havia leavado uma multa.

“Eu vou me arrepender!”

O que ela havia pensando, se ela remarcasse com a Frufru não seria problema nenhum...

“Droga, droga!”

“Está aqui, achei”

PataZapZap

Oi?

                (5 minutos depois)

Tudo bem?

Sim.

Ocupado?

Pode falar, Cenouras...

O encontro não foi bom?

Nick?!

Se ele não foi gentil com você, bom eu conheço todo mundo em Zootopia, posso pedir alguma ajuda pra resolver isso...

Sem resposta.

Sem resposta.

Sem resposta.

O telefone começou a tocar. Ele não quis atender, se enrolado em volta de sua calda, qualquer coisa seria melhor do que ficar escutando os lamúrios daquela coelhinha tosca.

Sábado.

Domingo.

Segunda.

Pela segunda semana Nick havia sido escalado como parceiro de Judy, um alívio, afinal que outro parceiro ele poderia querer? Alguma parceira que falasse com ele... Durante a semana toda Judy conversou o extritamente necessário – ela não conseguia entender porque ele não havia atendido o telefone até porque ela queria conversar para saber dele e não choramingar qualquer problema como se ela realmente fose uma coelha tosca das Tocas.

Nenhum caso importante, nada que desse uma brecha àquela raposa fazer um comentário que fosse.

“Cenourinha?”

“Oficial Hopps, estou trabalhando...Sim...Diga”

“Podemos parar em algum posto, preciso de cinco minutos.”

“Estamos no meio da ronda, daqui uma hora estaremos na DPZ e você pode ter seus 5 minutos...”

“Judy, realmente eu preciso parar em algum posto por cinco minutos, sozinho.”

Com o sinal vermelho, Judy freiou bruscamente para desepero de Nick.

“Ofical Wilde, estamos no meio da ronda, o que seria tão secreto que você não poderia fazer aqui mesmo no carro para que não atrasemos a ronda.”

“Eu PRECISO ir ao banheiro, acho que o almoço me fez mal...Por favor...”

Judy arregalou os olhos, realmente ele estava meio esverdeado, bem que ela havia dito que aquele sanduíche não estava com uma cara boa. Ela acelerou a viatura até onde sua pata pode alcançar.

Alguns minutos depois Nick saiu abatido do banheiro do posto de gasolina, tão sem graça.

“Melhor?”

“Sim, vamos terminar a ronda.”

“Desculpe...”

O que ele iria dizer? “Claro, você está perdoada por não acreditar que eu realmente precisava parar a ronda.” Se por um lado cada manhã era uma dádiva acordar e vir para o trabalho que ele sempre quis depois do convite da coelha ou seria melhor perguntar porque ela estava tão arisca. Ele optou pelo silêncio.

Judy se afundou no banco e começou a dirigir, mas não estava se aguentando, precisava se desculpar – ela sabia exatamente o que Nick estava pensando.

“Nick?”

“Oficial Wilde, por favor”

“Desculpe por não querer parar a ronda pra você.”

“Eu entendo quão demorado deve ser confiar em uma raposa... “

“Droga Nick, eu só achei que você ia parar para enrolar um pouco, essa ronda está muito chata.”

“Está vendo, você não confiou em mim e ainda quer que a culpa seja minha – passamos metade do dia dentro dessa viatura e a outra metade num escritório na DPZ – Você continua com o repelente de raposa ao seu alcance?  Lamentável, Oficial Hopps.”

Quando voltaram a delegacia, Nick foi até a enfermaria, ele ainda estava meio estranho, definitivamente ele precisava morar em outro lugar, talvez fosse até melhor aceitar o convite de Fênix para dividirem o apartamento dele até ele receber seu primeiro salário.

A médica responsável pelo posto de primeiros socorros da DPZ, Joan, uma coiote esguia e bem quista por todos da DPZ parecia ter achado bem interessante aquela rapasa,  faltavam apenas duas horas para que seu turno acabasse, melhor seria que ele descansasse por alguns minutos na enfermaria e comesse algo leve após chegar em casa.

“Você tem onde jantar?”

“Sim, obrigado”

“Bom, se precisar de alguém que lhe prepare uma sopa leve, posso lhe ajudar...”

Nick não gostava de canídeos em geral, lobos, coiotes e às vezes até outras raposas. Aliviado, agradeceu a si mesmo por ter uma parceira coelha e não uma coiote atrevida.

“Nick?”

“Nick?”

“Sim, oficial Hopps.”

“Melhor?”

“Não se preocupe, nossa, que horas são? Acabei dormindo aqui na sala de descanso.”

“Dezenove horas...”

“Nossa, o turno acabava as dezoito, porque você ainda está aqui?”

Entre sua pelagem cinza era possível ver que ela havia ficado envergonhada.

“Err...Eu fiquei preocupada. Eu cheguei aqui e você estava dormindo, preferi aguardar um pouco pra te chamar.”

“Não quero te atrapalhar...Você tem sua vida fora da DPZ também.” – Ele se levantou para se arrumar, também precisava ir descansar e não queria estender a conversa.

“Você não me atrapalha...” – Seus olhos se entroelharam, Judy meio que sem jeito começou a ajeitar a camisa de Nick, estava toda amassada por causa da soneca torta na cadeira da sala de descanso.

“Atrapalho algo?”

Joana, havia entrado sem ser percebida.

“Não doutora, estava ajudando o Ni..Oficial Wilde a se recompor.”

“Sim, atrapalhou...”

Judy ficou sem palavras e lutou para segurar o riso, que raposa mais atrevida!

“Só vim aqui verificar se meu paciente estava ok para ser liberado. Meu convite ainda está de pé.”

“Eu estou bem, obrigado.”

Mesmo sem se dar por vencida, Joana saiu da sala, ela já conhecia outras raposas e sabia que levaria algum tempo para ganhar confiança daquele raposo.

“Hummmm, Nickolas Wilde recebeu um convite da médica chefe da enfermaria da DPZ...”

“Sim, e eu disse não.”  Com os olhos semi-cerrados ele encarou Judy como se quisesse ouvir qual seria o problema em dizer não, nem uma semana direito fazia e aquela mesma coelha havia lhe dado um fora.

Caminhando na frente da DPZ em direção ao metrô, Nick tentava se despedir.

“Vou para casa.”

“Você tem o que comer?”

“Eu tenho as sobras do sanduíche que comi pela manhã...”

“Nick!”

Ele caiu na risada, quanta insanidade, é claro que se pela manhã o sanduíche não lhe fez bem, imagine agora as sobras no final do dia.

“Coelha esperta. Deveria ter aceitado o convite daquela coiote.”

“Raposa boba. Eu fiquei preocupada com você.” – Meio sem graça, ela preferiu continuar  - “Mas eu também passei a semana brava pois você não atendeu meu telefonema no final de semana.”

“Cenourinha tosca, eu havia lhe convidado pra sair e você quer conversar do encontro que não deu certo comigo?”

“Encontro, que encontro?”

“Você disse que não poderia ir comigo ao café pois tinha um compromisso...Lembra??”

“Meu compromisso era encontrar a Frufru, eu estava tão cansada...Você tem onde jantar?”

“Sim, a Joana havia me convidado, lembra?”

“Nick!”“Nick! Para com isso!”

Ele a fitou com um sorriso de vitória .

“Tá bom, tá bom, já entendi – você quer ir jantar comigo? Mereço um perdão agora, não é? Raposa enciumada!” – De olhos fechados ela concluiu a frase, não tinha coragem de ver sua reação.

Um nariz frio encostou na sua testa, sim, ela teria companhia para jantar.