Entrelinhas Ron e Hermione - Contradições escrita por Morgana Lisbeth


Capítulo 9
Difícil caminho de volta


Notas iniciais do capítulo


"Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

(José Saramago)



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Quando partiu d’A Toca, Ron estava decidido a fazer as pazes com Hermione. Tentou conversar com a menina ao reencontrá-la na porta da Grifinória, logo assim que chegou à Hogwarts de volta do recesso de Natal. Mas ela o ignorou completamente, falando apenas com Harry. A garota fazia de conta que ele não existia? O rapaz também a trataria com indiferença.

Ron não conseguiu manter-se firme na sua resolução por muito tempo. Lembrava-se de tudo que havia sentido nos dias de recesso n’A Toca. Impossível esquecer uma amizade tão longa e especial assim. Hermione era cabeça-dura, como ele. Mas o bruxo havia decidido mudar, ser menos ciumento e inseguro. Não era fácil, porém, precisava tentar.

As aulas de Defesa contra as Artes das Trevas e de Herbologia não eram frequentadas por Lilá, que preferiu fazer Adivinhação e História Avançada da Magia. Ron não podia sequer virar o rosto para o lado da sala onde Hermione sentava nas aulas em que estava com a namorada. A loura, muito ciumenta, logo reclamava.

Nessas duas disciplinas, no entanto, podia tentar uma reaproximação da amiga. Mione, porém, sequer o olhava, a não ser com aquele ar de desprezo e, quando o ruivo fazia um comentário qualquer, fingia não ouvi-lo.

“Tudo bem, vou fazer mais uma tentativa. Não é possível que ela consiga guardar toda essa mágoa para o resto da vida”, pensou ao decidir conversar com Hermione no final da aula de Herbologia.

— Mione? Posso falar com você? – ele falou com certa hesitação.

— Já está falando, não é? – a garota foi ríspida.

— Eu estou com uma dúvida no trabalho de Herbologia e queria saber se você... – Ron achou melhor não fazer rodeios.

— Não! A resposta é não! Consulta a biblioteca, a professora Sprout, o Neville, que é bom nessa matéria. Não conte comigo – a garota tinha as faces vermelhas e sequer esperou ele concluir a frase.

— Tudo bem. Obrigado de qualquer forma – o rapaz sabia que, quando ela estava irritada, não adiantava insistir.

O bruxo concluiu que seria inútil tentar uma reaproximação. “Eu não devia perder tempo tentando falar com ela. Não faço falta na vida de Hermione”, concluiu, sem querer admitir o quanto sentia falta da amiga.

Mesmo se não deixava transparecer isso, a menina sentiu-se mal por ter tratado Ron daquela forma. Mas ele tinha feito a própria escolha ao preferir a companhia da Lilá a dela. Mal imaginava que o seu comportamento fazia com que o rapaz se agarrasse ainda mais a loura.

Ele pensara várias vezes em terminar com Lilá. Achava a garota muito possessiva e pegajosa. Mas, sem a amizade de Hermione, pelo menos tinha a namorada para preencher sua vida e acabava mantendo o relacionamento.

Duas semanas da tentativa frustrada de uma reaproximação com Hermione, o rapaz deu um novo passo. Abordou a menina na saída do refeitório, depois do almoço. Falou do momento difícil que Harry atravessava e sugeriu que os dois pudessem se encontrar com o amigo para que ele sentir-se mais apoiado.  

— Tenho conversado bastante com Harry e o apoio sempre. Você é que está distante porque parece ter outras prioridades. Melhor continuar do jeito que está – ela respondeu com o seu tom de voz mais mal-humorado.

— Fiz minha parte. A decisão é sua – Ron argumentou, virando as costas.

Hermione se esforçava para manter-se indiferente ao ruivo. Ele ficava distante porque percebia que a garota não o queria por perto e tentava se distrair na companhia de Lilá. No entanto, a presença da namorada não substituía a grande ausência de Mione. Por isso, no final de fevereiro, decidiu tentar novamente selar a paz com a amiga.

Ele se apressou para alcançar Hermione ao final da aula de Defesa contra as Artes das Trevas e a chamou pelo nome. A garota, que há quase três meses se afastara de Ron, manteve a expressão zangada no rosto.

— Pelo bem de Harry, acho que devemos voltar a nos falar. Não precisamos ser amigos, mas, pelo menos, podemos deixar de nos tratar como inimigos – ele parecia aflito.

— Não quero mais falar com você, Ron. Faça de conta que eu não existo! – a voz saiu mais estridente que o normal.

— Daqui a dois dias é meu aniversário...  – o ruivo apelou.

— Ótimo! Comemore bastante com a Lilá e me deixe em paz. Você não significa nada para mim – Hermione não conseguiu evitar uma grande dor no coração. Essa era a pior mentira que podia falar.

O rapaz se irritou com a postura arrogante e fechada ao diálogo e respondeu à altura.

— Não sei como você pode guardar tanto ódio e por tanto tempo! Isso vai acabar lhe envenenando! – falou, saindo apressado.

Hermione dormiu mal mais uma noite. Isso já fazia parte de sua rotina. Ao longo do dia se distraía com as aulas, leituras e consultas aos livros na biblioteca, trabalhos e conversas com Harry, Gina e alguns outros colegas. Mas quando deitava em sua cama sentia-se terrivelmente sozinha e quase sempre não conseguia evitar algumas lágrimas.

Por mais que tentasse, não esquecia Ron. Como era difícil ficar sem a amizade dele. Fazia tudo para mostrar a sua indiferença e dizer que não significava nada para ela e podia passar muito bem, obrigada, sem o rapaz. Mas ao longo do dia, em muitos momentos, olhava para ele distraidamente – sempre sem que o ruivo percebesse – e se dava conta de quanto o amava. Esses momentos eram seguidos por grande censura a si mesma. A menina não admitia voltar atrás na própria decisão e tinha escolhido tirar Ronald Billius Weasley de sua vida.

Era muito difícil dividir o mesmo dormitório com Lilá e Pavarti. De vez em quando ouvia a loura falar, de um jeito apaixonado, sobre Ron, sem contar os momentos que as duas amigas ficavam cochichando e dando risadinhas. Sorte que tinha pelo menos a companhia de Gina e sempre podia usar o feitiço da impertubalidade.

Naquela noite sentia-se ainda mais arrasada. Como podia ter sido tão agressiva com ele? Era a quarta vez que o bruxo  tentava se reaproximar dela desde que voltaram do Natal. E havia falado de um jeito tão bonitinho que seria o aniversário dele... Não, não podia pensar assim. Ron era um idiota, estava namorando Lilá e a havia ridicularizado na sala de aula!

 

 

 

Ao abrir os olhos pela manhã, Hermione lembrou que era o dia do aniversário de Ron. Deveria manter a atitude indiferente de sempre ou cumprimentá-lo? Gostaria tanto de poder abraçar o amigo... Não! Ele estava com Lilá, tinha escolhido a menina e a rejeitara.

Ainda assim, ao menos por educação, Hermione achou que deveria dar parabéns a Ron. Seria difícil, já que tinham se distanciando tanto, mas iria tentar...  Decidiu não pensar mais sobre isso e desceu para tomar o café da manhã.

Como era sábado, o refeitório ainda estava um pouco vazio. Harry, Gina e Ron ainda não se encontravam no salão. Ela comeu rapidamente e resolveu voltar ao dormitório para pegar alguns livros. Estava um dia bonito de sol e queria ler na área externa.

Ela se preparava para atravessar o retrato da Mulher Gorda no momento que ouviu Neville chamando o seu nome. O rapaz entregou um bilhete, dizendo que era de Harry, e perguntou se a garota sabia onde estava Gina. Hermione respondeu que a ruiva deveria ter ido para o refeitório. Assim que o rapaz se despediu, abriu o bilhete sem fazer ideia do que se tratava. Com surpresa, leu essas palavras, escritas com letra apressada:

Não se preocupe. Está tudo sob controle, mas Ron ainda precisa ficar na enfermaria.

Harry 

No mesmo instante, o coração de Hermione começou a bater descontroladamente. O que aconteceu com Ron? O que Harry queria dizer com as palavras “está tudo sob controle”? Ele tinha se machucado muito? Havia sido atingido por algum feitiço ou maldição? Será que os Comensais da Morte atacaram Hogwarts?

Esqueceu-se completamente que estava zangada com o ruivo e andou apressada em direção à ala hospitalar. A mágoa acumulara ao longo dos últimos meses agora não tinha razão de ser.

Jamais deixara de gostar do rapaz. Apenas estava chateada com as atitudes dele. Mas sabia que Ron era imaturo e passional, por isso agia sem pensar muitas vezes. Mas ela também fora impulsiva e o atacara com os pássaros. Nada disso importava mais. O importante, agora, era saber como ele estava!

Enquanto caminhava em direção à enfermaria, o desespero começou a tomar conta de Hermione. Por que Harry havia escrito um bilhete ao invés de ir falar pessoalmente com ela e Gina? Será que a situação era tão séria que não podia sair de perto de Ron? Oamigo não disse que ele estava bem, nem que não corria mais risco de vida. Limitou-se a informar que estava tudo sob controle. A menina já entrara em pânico. Não suportaria perder Ron. Não conseguia imaginar a sua vida sem ele! Precisava saber como o rapaz estava, tinha que vê-lo com os seus próprios olhos.

Finalmente chegou ao corredor da ala hospitalar e avistou Harry, que estava de cabeça baixa, parado em frente à porta da enfermaria. Ela correu até o amigo com o coração mais acelerado do que nunca.

— Calma, Hermione! Ron está fora de perigo! – ele Harry ao ver a expressão desesperada da amiga

No momento que soube que o rapaz não corria risco de vida, Hermione rendeu-se finalmente à emoção. Cobriu o rosto com as mãos e caiu aos prantos.

Harry, assustado com a reação da amiga, a segurou pelos ombros e perguntou baixinho:

— Tudo bem, Mione? Você entendeu? Ron está fora de perigo.

— Tudo bem, Harry. Agora está tudo bem. Eu estava muito angustiada. Tive medo que... ah, nem gosto de pensar nisso ... – a garota levou a mão ao rosto para enxugar as lágrimas.

Pouco depois chegou Gina, com os passos apressados, o rosto vermelho e foi logo perguntando o que tinha acontecido. Harry contou tudo para as duas. Hermione fazia perguntas pontuais, ficando a maior parte do tempo em silêncio.

Apesar de estar mais aliviada, Hermione ainda sentia uma dor no peito. Não bastava Madame Pomfrey dizer que Ron reagia bem, tinha todos os sinais vitais. Ela queria ver o ruivo com os seus próprios olhos.

Às oito horas da noite, depois de passar quase o dia todo na porta da enfermaria junto com Gina e Harry – saíram apenas nos horários das refeições -, Hermione pôde finalmente visitar Ron. O rapaz ainda estava desacordado e pálido como ela nunca vira, com a boca um pouco arroxeada.

Hermione pegou uma cadeira e sentou-se em um canto da enfermaria, de onde tinha uma visão completa do amigo. A menina, sempre tão corajosa, sentia ainda muito medo e não conseguia se aproximar mais do rapaz. Dali ela contemplava o ruivo, angustiada, esperando alguma reação que mostrasse que estava bem.

Pouco depois, Jorge e Fred chegaram. Hermione ouvia Harry, Gina e os gêmeos conversando, mas não conseguia prestar atenção no que diziam.

Sentia uma grande dor não apenas por vê-lo naquele estado, mas também ao lembrar como o vinha tratando nos últimos meses. “Ele tentou se reaproximar, eu não aceitei, fui muito agressiva”, pensou com enorme arrependimento. Será que teria ainda uma chance de pedir desculpas? Não, não podia pensar nisso! Ron ficaria bem, precisava ficar bem.

O ruivo tinha, sim, os seus defeitos e Hermione os conhecia muito bem. Mas as suas qualidades eram muito maiores. Toda a insegurança do rapaz prejudicava antes de tudo a ele mesmo, levando-o a se sentir desmotivado para os estudos e se sair mal nas partidas de quadribol, esporte do qual tanto gostava. Mas isso não impedia que fosse muito corajoso quando se tratava de defender os amigos.

Lembrava-se de Ron salvando-a de um trasgo, e isso quando ainda estava no primeiro ano, e defendo-a com a varinha quebrada das ofensas de Malfoy, o que levou o ruivo a vomitar lesmas. Sem falar nas detenções que sofreu... Mas também havia arriscado a vida por Harry, mostrando sua coragem e lealdade.

“Como pude pensar em tirar Ron da minha vida? Como se isso fosse possível... É verdade que ele muitas vezes tem um comportamento infantil, é ciumento, fala o que passa pela cabeça sem pensar. Mas nos momentos em que mais precisei, ele estava sempre perto”, refletia enquanto contemplava a face tão branca do rapaz.

A garota ainda não entendia o porquê de Ron ter sido tão frio e agressivo com ela dias antes do jogo. E logo quando parecia que algo especial estava tão perto de acontecer... "Não, não posso pensar nisso", se repreendia ao lembrar do amigo com Lilá. 

“Espera aí, Hermione? Desde quando você desiste fácil de algo que quer? Eles são apenas namorados e podem terminar esse relacionamento!”, falou para si mesma e assim tranquilizou o coração.

Foi quando Jorge, Fred, Harry e Gina começaram a levantar as hipóteses para o envenenamento de Ron que a menina passou a prestar atenção na conversa deles. Harry informou que Slugorn queria presentear a garrafa de hidromel a Dumbledore e a menina finalmente falou, depois de horas, com voz de quem pegara um forte resfriado.

— Então o envenenador não conhecia Slughorn muito bem. Qualquer um que conhecesse Slughorn saberia que havia grande probabilidade de o professor guardar uma coisa gostosa daquela para si mesmo – ela ponderou.

Ron começou a se mexer, parecendo reconhecer a voz da amiga, e a chamou pelo nome, ainda desacordado. Todos se calaram, observando-o ansiosos, mas, depois de resmungar palavras incompreensíveis por um momento, ele simplesmente começou a roncar.

O coração de Hermione disparou em grande velocidade. “Oh, Merlin! Ele chamou por mim?! Não foi o nome da Lilá e sim o meu nome que falou! Fica bem, Ron. Não posso perder você”, pensava a menina que, finalmente, sentia algum alívio e felicidade.

Com a chegada de Hagrid, a inteligente bruxa permaneceu atenta à discussão sobre a relação dos ataques de Katie e Ron.  Pouco depois entrou na enfermaria o casal Weasley e, como apenas seis pessoas podiam permanecer no local, Harry, Hermione e Hagrid se retiraram.

No dormitório, deitada em sua cama, Hermione continuou com a cabeça tumultuada por muitos pensamentos. A imagem de Ron pálido e desacordado não saía da mente da menina. Lamentava nunca ter dito que o achava um bom goleiro. Pelo contrário, ao repreender Harry por ter, supostamente, trapaceado, havia levado o ruivo pensar que ela não acreditava no potencial dele.

Essa lembrança abatia ainda mais a garota, que havia passado o dia inteiro aterrorizada pela possibilidade de acontecer o pior ao amigo. Por que precisou esperar uma situação tão séria para finalmente se decidir a perdoar Ron? Ficava chateada com sua própria teimosia e orgulho.

Como havia sido difícil não ficar sentada em frente à lareira todas as noites, como sempre fazia antes, conversando com Ron e Harry, no período que ela e o ruivo deixaram de se falar. Mas, especialmente, o mais difícil tinha sido vê-lo para cima e para baixo de mãos dadas, abraçado ou beijando Lilá. “Por acaso seria diferente se soubesse do sentimento tão forte que tenho por ele?”, questionava-se.

A jovem bruxa estava consciente que ela e Ron tinham muito a esclarecer desde o Baile de Inverno. Não conseguia mais permanecer nessa incerteza e com tanto medo do seu amor não ser correspondido. Seria tão mais fácil se ele não fosse tão inseguro e dúbio, se tivesse coragem de falar o que se passava em seu coração.

Algo dizia a Hermione que Ron também gostava dela, mas, por temer ser rejeitado, não conseguia se declarar. Lembrou-se do dia que ele reconheceu que tinha ciúme até de Bichento e um leve sorriso tomou conto do seu rosto.

“Eu preciso e vou me aproximar de Ron, mas agora não posso mais pensar nisso. Tenho que estar inteira para visitá-lo amanhã. Quem saiba possamos conversar e eu consiga finalmente pedir desculpas a ele”. Com essa resolução e com muita esperança, a menina conseguiu pegar no sono.

 

* * * * * * * * * * * *

 

Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:

Titanium
http://bit.ly/2ebH1DS

(David Guetta / Sia)

You shout it out
But I can't hear a word you say
I'm talking loud not saying much
I'm criticized but all your bullets ricochet
You shoot me down, but I get up

I'm bulletproof nothing to lose
Far away, far away
Ricochet, you take your aim
Far away, far away
You shoot me down but I won't fall
I am titanium
You shoot me down but I won't fall
I am titanium
(…)

 

 


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Notas finais do capítulo


Olá!

Chegamos a um ponto crucial da leitura das entrelinhas de Ron e Hermione. O envenenamento do ruivo causa uma reviravolta no relacionamento dos dois. Para Ron, é a oportunidade de mostrar que Lilá nada significa em sua vida. Já Mione é obrigada a quebrar o bloco de gelo por trás do qual se escondeu. Antes disso, no entanto, a menina mostra o seu lado mais amargo (diria até que está "malvadinha"). Mas, na verdade, o sofrimento dela é grande. Aliás, os dois estão sofrendo. Ah, as dores do amor...

Boa leitura!

P.S: Preciso ainda dizer que os comentários de vocês são a minha maior motivação para manter a fic atualizada?



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