Histórias de Horror e Suspense escrita por V M Gonsalez


Capítulo 1
Obra-Prima




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Um homem estava sentado fumando um cigarro. Ele olhava calmamente para sua obra prima, o maior de seus feitos.

— Você está fria hoje, querida, como sempre – ele disse não sem um tom de ironia – E também não está muito de falar... O que foi? Está brava comigo...de novo?

Ele removeu a mão da bochecha de sua esposa e a secou. Ele ainda podia sentir o cheiro, úmido e cruel, vermelho, o sangue era vermelho. O frescor da carnificina ainda o entorpecia, aquela sensação quente e desesperado, o aroma do suor misturado a respingos de sangue vivos. Ele o ainda sentia em cada única célula de sua epiderme, delirando-a, massacrando-a como uma besta ensandecida de adrenalina e prazer.

Olhou para sua esposa, que bela arte havia feito. Ela estava de joelhos sobre o piso de madeira. Seus tornozelos estavam esfolados da corda usada para prende-la, suas pernas exibiam manchas roxas e inchaços esparsos, ela estava completamente nua. Seu peito estava completamente aberto, o esterno quebrado e as costelas quebradas e abertas como as asas de um anjo necrófago. Dentro, suas entranhas estavam bagunçadas e os intestinos soltos sobre o piso.

Ele então olhou para o rosto dela. Sua pele havia sido finamente cortada a partir do pescoço e se elevava em 4 grandes tiras até o alto de sua cabeça, onde eram presas com um grampo junto ao cabelo ensanguentado. Debaixo dessa coroa de pele, a carne esfolada pingava a sangue e medo. Seus olhos haviam sido arrancados e jaziam esmagados em um canto da casa. Seus dentes estavam quebrados e estilhaçados por todos os cantos. O medo e a morte gritavam sobre a visão de sua estátua.

— Sem mais máscaras, querida – disse o homem, fitando o rosto ensanguentado da mulher que ela se tornara – sem mais mentiras, sem mais enganações. Agora você mostra sua verdadeira face e eu a odeio.

Para que tanta crueldade? Não havia crueldade, havia amor. O homem amava a mulher que conhecera a muito tempo atrás e buscava encontrar nas carcaças desse ser desprezível que dela se apoderara as verdadeiras formas de sua amada. E ele conseguira, oh sim, conseguira.

Ele então fixou seus olhos no interior da sala e em sua direção caminhou, apoiando-se no pedaço de ferro que atravessava os braços cruzados as costas de sua esposa e seu corpo, mantendo-a de joelhos. Lá, no fundo da sala, pendurado com uma fina fita de intestino, estava o coração da esposa. Ele contemplou sua obra prima com olhos úmidos, o coração já há muito parado, a seus olhos, ainda pulsava, sorria. Sua amada o agradecia por tê-la salvado daquela prisão horrenda, ele a ouvia em sua cabeça, como um som milagroso que ele tanto sonhara.

As recordações o inundavam. O dia em que se conheceram em um café, as caminhadas na praia, os passeios na cidade, os beijos sob as árvores, as noites de sexo na casa dos pais dela. Ele sorriu com está lembrança, da adrenalina que invadia seu sangue, o medo e o prazer sempre andavam juntos na cabeça de um jovem, pensava ele, mas agora a coisa mais perigosa que faziam era sair de casa sem um agasalho. Ele queria sentir de novo a adrenalina o embebedar em seus bafos de energia, queria que o prazer o mordesse e o tentasse com suas presas de luxúria e perversão. Queria sua amada de volta. E ele conseguiu.

Então ele a beijou. No início de leve e demoradamente, mas logo partiu para um beijo selvagem de puro desejo. Sentiu em sua língua o gosto do sangue, o sabor daqueles músculos frios e rijos do órgão vital. E delirou. Sentiu-se vivo como nunca antes, sentiu-se jovem, sentiu-se viril. Sentiu-se enrijecer como na primeira vez que a beijara e sentira-se amolecer como na primeira vez que amaram. Sentiu novamente em sua boca o gosto de um beijo apaixonado e desejoso, sentiu-se amado e amando. Sentiu-se ele.

E então chorou, chorou e sorriu.


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Notas finais do capítulo

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