O meu final feliz escrita por Lácrima


Capítulo 1
Introdução




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O dia 23 de abril daquele ano terminou sem fatalidades. Lembrar aquele momento até hoje faz uma energia estranha percorrer a minha espinha. Eu gostaria de poder me comunicar com meu eu do futuro e perguntar se algo mudou para ele, se todos ficaram felizes daquela maneira ou se, no fim, ficamos divididos em um mundo paralelo e devo descobrir sozinho o meu próprio final feliz, sem Naho.

Nossas vidas estavam girando em torno de Kakeru desde o dia em que recebemos cartas de nós mesmos pedindo ajuda para evitarmos os arrependimentos que eles guardaram quando não conseguiram impedir o suicídio de nosso mais novo amigo. Aquele "eu" casou-se com Naho e constituiu família. O nosso filho, Kakeru, jamais nascerá agora.

É claro que isso foi uma sensação bem pequena perto da alegria de ter conseguido salvar o meu amigo. Mas o tempo passou.

Nas primeiras semanas após a data final das cartas, foi como se tivéssemos ganhado um campeonato. Comemorávamos juntos e tínhamos a certeza de que seríamos eternamente felizes. Fomos mesmo. O colégio parecia ter diminuído a pressão e pequenos problemas já não nos afetavam. Todos, sem exceção, esforçavam-se para sair juntos, dar risada e suporte constante uns aos outros.

Porém, essa euforia foi dando lugar a uma dúvida constante: agora, sem cartas, não temos mais a previsão do que dará errado em nossas vidas. Naho, muito tímida, às vezes ficava sem reação diante de sua nova posição como namorada de Kakeru. Mesmo assim, ela sempre se esforçava e tentava basear-se nos conselhos de sua "eu" mais velha.

Azusa chegou a admitir que sentia falta das cartas, pois gostaria de saber sobre sua vida amorosa. Aparentemente, ela achava que Hagita-san estaria com ela dez anos depois e passou a tratá-lo com mais carinho (se é que posso descrever dessa maneira os xingamentos de brincadeira e jeito incisivo dela).

Hagita foi o único que jogou a verdade na mesa, uma vez que estávamos reunidos em uma lanchonete: "Parece que estamos um pouco sem direção sem as cartas. Não esqueçam que nós vivíamos antes delas..."

A frase gerou brincadeiras, mas eu pude notar a expressão surpresa que cada um fez naquele momento. Sabia que na verdade todo o grupo pensava a mesma coisa: E agora?
Só não consegui ser mais perspicaz do que Chino. Ela me lançou um olhar penetrante e continuou fazendo isso até que eu virasse o rosto tentando disfarçar e pedindo um milkshake qualquer. Mesmo assim, senti seu olhar sobre mim e foi então que eu percebi que parte de mim não estava sentindo um conto de fadas como o restante. Senti um amargo peso no peito aquele dia. Como eu poderia me sentir infeliz justo agora que completei todos os passos da carta e consegui evitar uma tragédia e a infelicidade da garota que eu amo?

No fundo, eu sabia que não era tão maduro quanto o cara de dez anos lá na frente. Depois que salvamos Kakeru, eu disse a ele que estava tudo bem se me pedisse conselhos com Naho. Foi uma idéia extremamente idiota, pois pouco a pouco comecei a me saber de detalhes sobre o relacionamento deles e isso fez com que eu sentisse ciúmes. Sim. Sou um babaca. Mas não consigo me controlar. Eu consigo sorrir de volta, apoiá-los de verdade, torcer para o casal e deixá-los sozinho, mas eu também sei que parte de mim fica magoada com isso e não estou sendo completamente sincero.

Quando tinha as cartas, eu sentia que a minha consciência conversava comigo e me dava todo o apoio que eu precisava. Tinha a certeza de que seria feliz dez anos depois se seguisse tudo que bem... eu mesmo já tinha avaliado que era o melhor para nós. Mas agora isso tinha acabado. Sem cartas, sem conselhos. Apenas com a certeza de que eu deveria apoiar Naho e Kakeru, para evitar um novo dia fatídico do qual me arrependeria para sempre.

Aos poucos, o ciúme foi regredindo. Fui me afastando deles, mas continuava conectado como um irmão mais velho dos dois. Por mais que eu sorrisse e quisesse me convencer de que estava contente de verdade, Chino sempre me lançava um daqueles olhares como se conseguisse me ler completamente. Eram nesses momentos que meu sorriso desaparecia e eu percebia o quanto aquilo estava me agredindo. "Por que a felicidade deles não está me preenchendo?" Eu pensava. E me sentia muito culpado, pois durante nossas missões, eu verdadeiramente estava empenhado e feliz simplesmente por vê-lo vivo e vê-la sorrindo. Quanto mais os dias passavam e Kakeru parecia vencer a depressão, mais eu parecia egoísta, como se a minha mente voltasse a me permitir sentir ciúme de um amigo que não está mais em risco.

Isso é difícil de escrever até hoje, mas existiu um momento particular que tudo se tornou decisivo.


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