Floresta Negra escrita por Luh Costa


Capítulo 1
1. Emilly - Primeiro Dia




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Por dois anos fiquei longe da minha melhor amiga, Luma. Ela é dois anos mais velha do que eu e se formou tão rápido que nem parece que aconteceu, mas também, só ficamos amigas no fim do ano anterior à sua formatura. 

E pensar que antes eu nem ia com a cara dela... 

Achava que ela era uma garota nerd e quieta, e como eu era - momento de arrependimento... - Maria vai com as outras, patricinha, nojenta, não pensava por mim mesma, uma alienada do caramba - é, assumo mesmo porque na vida a gente tem que ser assim! - eu não dava a mínima pra ela, se ela chegasse perto provavelmente eu iria querer ficar a metros de distância dela, mas felizmente isso não aconteceu. 

Nós duas fazíamos aula de violão juntas e foi nela, pegando no pé do Luan - o garoto era um pé no saco, misericórdia! Parecia que ele nasceu pra chatear a humanidade -, que viramos colegas, começamos a nos aproximar ainda mais quando ela se tornou amiga de uma amiga minha, a menos patricinha, Marina, aliás, a única que era legal, mas que com o tempo ficou muito infantil de uma forma chata. Infelizmente.

Quando ela se formou nós ficamos um bom tempo sem nos falarmos porque ela mora na escola que ela está agora, que coincidentemente é a escola onde a minha mãe trabalha. Ela é, tipo, a diretora, nada demais... E eu agora vim parar aqui também. Se isso é permitido por lei eu não tenho a mínima ideia, mas estou aqui, aliás, foi a própria prefeitura que mandou pra aqui então deve estar valendo.

Minha mãe não fundou essa escola nem nada. O último diretor era muito amigo dela, e ela já trabalhava lá como vice, então ela virou diretora e dona da escola ao mesmo tempo porque a escola Jo Heng' - o nome da escola é extremamente complicado e grande de se falar. O máximo que conseguimos falar enrolando é isso. Até mesmo o diretor anterior a ela não sabia direito e a minha mãe arranha até que bem o nome, mas prefere parar no Jo Heng' mesmo, é mais fácil e causa menos dor de cabeça - vai além da cidade, do estado e em algumas coisas até mesmo do país. Seu sistema é único e quem decide tudo é a dona/diretora, ou seja, minha mãe. Se ela quiser ela pode te colocar no último ano, ou no primeiro, te trocar de sala, mudar os horários e você é que tem que fazer o que ela quiser sem discutir, ou leva uma boa surra. 

Não estou brincando, ela te bate na lata, ela reage como se fosse a sua mãe e se reclamar apanha mais, mas é claro que não é nenhuma surra de verdade, você ainda sai inteiro, andando, respirando, só bem dolorido e, talvez, com algum hematoma leve. 

Mas apesar de tudo isso Jo Heng' é a melhor escola em certos pontos até mesmo do país. Todos querem pôr seus filhos lá, já os filhos quererem é outra história. Há muitas histórias que rodam Jo Heng' desde muito antes da minha mãe se tornar a diretora daquele lugar, e é cada história mais maluca que a outra... Mas quem estuda lá sabe como lá realmente é, e não é atoa que lá é uma das melhores escolas.

— Luh!!! - Gritei assim que a vi e fui correndo até ela. - Ai meu Deus, que saudade que eu tava de você sua doida!!!

— Milles! Você veio mesmo!!! Pensei que a sua mã... quero dizer, a diretora, estivesse me pregando uma peça. - Disse enquanto me soltava do abraço super apertado que estávamos dando.

— Que nada. Ela não ia brinca com os seus sentimentos desse jeito.

— Nossa, que jeito de falar é esse? Cadê a minha amiga analfabeta?

— Ei!!! - Bati no braço dela como se estivesse ofendida.

— Ai! - Ela riu. - É bom te ter de volta. - Nisso ela me abraçou super apertado de novo.

— Também. Caramba, Luh, você tá bem fortinha, hein. Quem vê essa magrela nem imagina. - Digo rindo só pra ela não levar a mal.

— Tô nada. Continua a mesma magrela frágil de sempre, relaxa. - Sério, ela estava forte, o que será que ela andou fazendo por aqui? Será que tem alguma luta marcial? - Ei, cadê o seu acompanhante?

— Meu o quê?

— A escola é muito grande. Até hoje tem lugares aqui que eu não conheço.

Subitamente ela olhou pra escola e depois pra mim e enquanto me fitava, sorriu e disse:

— Acostume-se. - E saiu correndo.

Eu fiquei tão... surpresa e confusa que nem consegui dizer nada, fiquei só olhando pra direção onde ela foi como se eu estivesse em choque.

Quando enfim consegui voltar a mim percebi que estava sozinha, naquela escola gigante.

— Nãããoooo.... Luh?... Luh!... - Comecei a chamar por ela, não sabia nem se gritava ou não. Saí andando pela escola e acabei esbarrando em alguém pouco tempo depois. - O-pa... - Olhei na direção da pessoa pronta pra pedir desculpas, mas congelei, a única coisa que consegui fazer foi virar o rosto na direção do ombro e chamar baixinho meio gemendo: - Luh...

— Emilly. - Eita porra, ele sabe meu nome!

— O-oi. - O cara era alto, eu também sou - comparada à Luma que é mais velha, mas é pouco mais baixinha -, só que perto dele, eu me senti uma anã.

— Eu tô te procurando pela escola inteira faz um tempão! - Disse ele.

— A culpa não é minha! É daquela garota dessa altura de cabelo cacheado! - Fiz a altura dela erguendo a mão ao meu lado pra representar a altura.

— Essa aí? - Ele aponta pra trás de mim. Mal me viro levo um susto. A garota brotou atrás de mim.

— Oie! - Ela riu. Com ela tinha um garoto exatamente da minha altura.

— Ai que susto, mulher! Tá querendo me matar?

— Sorry. - Ela deu um sorriso fofo de propósito só pra eu não ficar brava com ela. Não deu outra, eu tive que colocar os dedos nas covinhas das bochechas dela.

— Para! - Ela deu um tapa nas minhas mão me fazendo rir.

— Quem é ele?

— Ele? - Ela pôs o dedo na testa dele. Às vezes parecia que ela ficava em "modo bêbada" do nada. - Este é o Woozi. Ele é o meu acompanhante. Bem, tecnicamente não porque eu não sou novata mas quando chegou a hora dele me deixar por conta própria eu não deixei. - Ela abraçou ele por baixo dos braços, o que foi muito fofo e ao mesmo tempo me fez imaginar que ela estava bem amiga dele pra grudar nele desse jeito, ela nunca foi assim. - Ah! Vejo que você achou o Wonwoo.

— Ahn? - Ela apontou pro garoto em que eu esbarrei. - Atá!

— Foi você que tirou ela da portaria não foi? - Ele fulminou ela com o olhar, ela tentou esconder o sorriso, mas não deu.

— Eu não fiz nada. Ela é quem veio atrás de mim!

— Fiquei o maior tempão procurando por ela, por sua culpa!

— Não fica bravo com ela. - Woozi a defendeu e ela apertou os braços ao redor dele.

— Ouviu ele. - O garo... Wonwoo, revirou os olhos pra ele. Pelo visto aquilo acontecia muito normalmente pra ele já estar desistindo.

— Em vez de brigar com ela, por que você não vai mostrar a escola pra Emilly? - Woozi sugeriu.

— Eu já estaria fazendo isso se a sua protegida não tivesse a tirado de lá. - Murmurou e já foi me puxando pela mão.

— Ei, vou também. Faz um tempão que a gente não se fala. Tô morrendo de saudades dessa doida aí. - Falando isso ela já veio passando um braço pelo meu. - Vamos? - Perguntou pra ele inclinando a cabeça.

— Aff, um dia você ainda vai parar de me encher!

— Não. Não vou. E você gosta. Faz parte da nossa amizade. - Dizendo isso ela fez um coração com as mãos. Ele revirou os olhos de novo e bufou, mas da forma que ele fez meio sorrindo sem querer deu pra perceber que ela tinha total razão.

Nós passeamos por boa parte da escola pelos 15 minutos seguintes, mas então o sinal tocou.

— Ah, droga! Esqueci de pegar seu uniforme!

— Relaxa, Won. Eu já peguei. Falando nisso, esqueci de contar, você ficou no meu quarto. - Ela chegou perto do meu ouvido e cochichou: - Pedi pra sua mãe. - Assenti agradecida. - Pode deixar que eu mostro onde é o meu quarto Wonwoo, e Woozi será que você poderia fazer aquilo que eu te pedi?

— Claro.

— Obrigada. - Ela deu um beijo na bochecha dele e sorriu. Olhei pra ela completamente desconfiada. Ela ignorou completamente o meu olhar e me puxou pela mão por um dos muitos corredores da escola. - Ele é só meu amigo.

— Ahn?

— Acha que não vi a cara que você fez?

— Que cara? - Ela parou de andar e me olhou com um olhar de: "Sério isso?" - Ok, eu só estava me perguntando o que vocês combinaram. Só isso.

— Ah... Nada demais. - Ela sorriu e voltou a andar comigo me deixando na curiosidade. - Chegamos! Olha, se eu fosse você me vestiria logo. A sua mãe não suporta atrasos, se passar de 5 minutos... pior ainda. Por isso que ainda temos mais... 4 minutos antes de estarmos realmente atrasadas. Ela sempre pede pra bater antes da reunião pra ninguém se atrasar, ou seja, 5 minutos de atraso na verdade são 10, mas não fique pensando nisso ou vai relaxar e demorar.

Em cima da cama estava um uniforme igualzinho ao que alguns americanos usam e até mesmo os coreanos.

— Ah...

— É. Na verdade eu tomei a liberdade de escolher esse. Se não gostou desculpa, você pode trocar.

— Na verdade... esse tá perfeito, Luh.

— Ai, que bom que ainda conheço o teu gosto! Fiquei com medo de você ter mudado nesse meio tempo em que ficamos sem nos ver... - Disse a última parte mais baixinho parecendo envergonhada. Aquela era mais a Luma que eu tanto conhecia.

— Boba, eu não mudei nada! - Ela deu um leve sorriso de lado.

— Não vai se trocar não?

— Me...? - Ela olhou pra si, e então notou que estava sem uniforme.

— Ai caramba! Eu deveria ter me trocado antes de sair do quarto, ainda bem que você me avisou. É que no fim de semana a roupa é livre. Nossa, obrigada! - Ela me deu um abraço rápido e saiu correndo até a cama dela, de debaixo do travesseiro voltou com uma chave e trancou a porta do quarto atrás de mim. - Se quiser pode se trocar no banheiro, não ligo. - Ainda meio correndo ela fechou as cortinas. - Não estou nem um pouco de levar bronca da sua mãe, vou me trocar aqui mesmo. É seguro, vai por mim. Sua mãe planejou exatamente onde ia ficar cada quarto feminino. - Falou enquanto estava tirando as sandálias, dei de ombros e comecei a me trocar também. Pelo visto a minha mãe continuava a mesma. Não era porque eu era filha dela que ela ia pegar leve comigo. Acho até que seria o contrário...

Quando terminamos de nos trocar rapidamente ela já foi me dando uma segunda chave que também estava debaixo do travesseiro dela.

— Sua chave. Vamos! Temos menos de 1 minuto!

— Meu Deus, respira!

— Emilly, é a sua mãe. Você esqueceu como ela é ou o quê?

— Ahn... é você tem razão. - Saí correndo junto com ela. Sorte que com a saia vinha um short.

Chegamos no enorme pátio exatamente no momento em que a minha mãe chegou, nunca vi a Luma tão afobada. No que a minha mãe tinha se tornado?

— Olá pessoal. Esse, é o início de mais um ano escolar aqui na Jo Heng', espero que todos se saiam muito bem, e que não haja nenhum problema, assim como no ano passado. - Falando isso ela olhou pra uma parte específica do pátio, mas foi tão rápido que não consegui ver qual. - Esse ano por enquanto nenhuma mudança está prevista. Aos novatos, desejo boas-vindas e espero que os tutores respondam as suas dúvidas, mas caso não consigam, sintam-se livres para virem me perguntar o que quiserem na minha sala.

— Ah, é! Todos chamam o pessoal que acompanha você nos primeiros dias de tutor, mas eu prefiro acompanhante. - Luma sussurrou o mais discreta que pôde pra mim. - Não sei, gosto mais. Acho que é porque me parece meio possessivo demais tutor. - Assenti pra ela concordando.

— A divisão das salas já foram feitas por mim e pela vice diretora Carla. Por favor façam uma fila de meninos e de meninas, quero que após feita os meninos fiquem de frente pras meninas e vice-versa.

A fila foi feita, e não sei como, fui parar como a primeira da fila, mas logo ao meu lado estava a Luma e à minha frente estava o Wonwoo e na frente da Luma estava o Woozy. Até aí tudo bem, mas quando terminei de seguir a fila dos meninos com os olhos até um certo ponto meu coração acelerou, eu quis fugir. Uma onda de medo muito forte se apoderou de mim. Um deles olhava diretamente pra mim, era alto e tinha cabelos longos, seu rosto parecia doce, olhado rápido eu diria ser meigo, mas seu olhar cortava completamente isso, era feroz, e me fez estremecer.

— E vocês são a sala 1001. - Minha mãe disse pondo a mão no meu braço, ela praticamente surgiu ao meu lado, estava tão distraída que pulei de susto, fazendo com que Luma risse, olhei pra ela pra falar pra ela parar e foi aí que notei que todo aquele pessoal já tinha sido separado e ido pra sua respectiva sala.

— Que susto mã... diretora.

— Desculpe. Vão, vão pra sua sala. Você não Emilly, fique. 

— Ok. - Olhei pra Luma e ela me olhava triste. Será que a minha mãe me colocaria em outra sala?

Quando todos se foram me virei pra minha mãe.

— Mãe, deixa eu ficar na mesma sala que a Luh, por favor!

— Mas você tá, ôh retardada!

— Ah, tô é?

— Claro que tá! E para de me chamar de mãe!

— Tá, mãe. - Ela me fuzilou com o olhar, me fazendo rir. - Tá, diretora

— Melhor.

— O que você quer?

— Nada. Não posso mais falar com a minha filha não é?

— Não. - Mas nisso eu já estava indo abraçar ela. Pelo visto ela continuava a mesma. - Ei, o que você fez pra botar o terror até na Luma? - Ela riu.

— Tenho meus segredos.

— Ixi! - Afastei do abraço e olhei-a com as sobrancelhas erguidas.

— Agora anda, vai pra sala. - A minha sorte é que eu tinha passado pela sala antes de ir parar ali, então lembrava onde era.

— Tchau, mãe! - Eu disse do outro lado do pátio e ganhei mais um olhar de raiva que eu sabia que era só de fachada.

— Emilly! - Ela me chamou, parei e olhei pra trás. - Tome cuidado. - Essa parte ela não gritou. Não entendi o que ela queria dizer com aquilo especificamente, mas toda mãe que é mãe é preocupada, por isso não levei muita fé, apenas assenti e saí correndo pra minha sala.

No caminho, até a sala, a voz dela ficou ecoando na minha cabeça. Quando ela disse aquilo pra mim ela estava completamente séria. O que aquilo queria dizer?


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