Eram 23h de segunda e eu estava com uma roupa simples e uma mala pequena e vazia do meu lado, mexia em meu celular esperando que o próximo voo pousasse o mais rápido possível. Se olhasse em volta a maioria das pessoas ali eram da Realize, eu não precisava estar aqui, mas depois do que aconteceu depois da festa eu estou evitando ao máximo estar em casa.

Minha vagina ainda doía pela força que ele usou, meu olho tinha um roxo enorme, mas graças a humanidade existe maquiagem para cobrir e óculos escuros de dia me ajudaram muito. Meus pulsos estavam com galáxias roxas com vermelho e doíam quando eu mexia no meu relógio. Claro que Harry perguntou o que estava acontecendo, eu não estava no meu espírito normal, mas eu não queria contar a ele e nem a ninguém.

As horas se passavam com lerdeza e meus pés já não aguentavam mais bater no chão impaciente. Harry chegou perto como quem não quer nada e se sentou ao meu lado com um pacote de amendoim aberto nas mãos.

— Quer? – ofereceu de boca cheia.

— Achei que só tinha esses pacotes no avião. – constatei.

— Consegui com uma aeromoça. – paramos um tempo olhando para frente em direção ao enorme vidro que separava nós do mundo exterior, vários aviões estavam estacionados a nossa frente e só faltava um, o que a gente mais queria. – Não acha engraçado isso? Parecem carro estacionados, mas são aviões – riu.

— Que papo é esse, Harry? – olhei para ele com canto de olho e sobrancelhas unidas.

— Fala a verdade, Kat, o que está acontecendo?

— Como assim? – aquela velha pergunta estava me irritando desde cedo.

— Eu estou vendo seus pulsos, seu semblante e conheço você, não falou uma palavra desde quando sentou aqui.

— Preciso manter o disfarce.

— Robert não chegou, não precisa fingir agora.

Temi contar a ele e me mantive quieta e sua resposta não foi respondida. Fiquei ali sentada apenas olhando os aviões saírem e chegando e nada de Robert, o que me deixava puta da vida.

O importante a se pensar agora era na Realize e em todo o nosso dinheiro, não queria me lembrar do que aconteceu, mas cada vez que penso sobre um arrepio e o que eu faço é me cobrir com os braços como um abraço em mim mesma.

Eu não sei como deixei aquilo acontecer, eu sou a mulher mais forte que conheço, sendo como personalidade ou força física. Treinei durante anos karatê, judô, boxe e todo tipo de luta, minha mãe sempre disse que uma mulher deve saber se defender. Mas porque com ele eu não consegui? Porque Leonardo me deixou tão fraca?

Não deu tempo de responder minhas próprias perguntas quando fomos alertados de que o avião de Robert estava pousando. Aquele filho da puta é meu.

Parei a frente do vidro com os braços cruzados e as pernas um pouco afastadas numa posa desafiadora. Olhei para o caminho que ele ia fazer, ia ser 50 metros e nesse caminho toda a minha equipe estava preparada.

Todas as pessoas do voo foram saindo, menos ele. Cadê aquele filho da puta?

Olhei para dentro do corredor estreito pelo qual todos os passageiros iam sair, Robert não estava lá. Chamei dois da minha equipe com um aceno e peguei minha arma a colocando a frente das pernas pronta para qualquer situação. Entramos no avião e senti aquele cheiro de suor com amendoim entrar pelas minhas narinas e fiz uma cara de nojo.

Uma aeromoça parou em nossa frente e olhou assustada para as armas.

— Se você ficar quietinha, nada vai te acontecer. – sussurrei em seu ouvido, ela saiu em silencio e com o olhar esbugalhado, apenas segui meu caminho olhando todas as poltronas.

Robert não estava no avião, eu não conseguia acreditar que ele tivesse fugido dos meus dedos. Quatro horas intermináveis esperando ele descer de uma merda de avião e não conseguir nada.

Não percebi quando meu parceiro tocou meu ombro e apontou para a saída do avião. Era ele! Robert estava dentro do avião, não sei onde e estava saindo. Pelo que percebi ele não viu a gente e saia com uma pequena maleta com tranquilidade.

Corri em direção a ele passando desajeitada pelas poltronas, estava quase lá, eu podia sentir o caminho que seu perfume caro tinha deixado, era insuportável aquele cheiro.

Mirei a arma mesmo correndo e pronta para atirar.

— Katerine!

Alguém me jogou ao chão e disparei para alguma direção, mas tenho certeza que não foi em Robert.

Eu havia batido a cabeça em um braço de poltrona e Gabriel estava em cima de mim, o soquei no rosto o que o fez ir para o lado e sair de cima, seu nariz começou a sangrar.

— FILHO DA PUTA, O QUE VOCÊ FEZ? – gritei raivosa me levantando, queria ir atrás de Robert, mas Gabriel segurou meu pés. – Me solta!

— Se você der mais um passo todo esse avião explode, ta entendendo – ele ainda limpava o sangue do nariz quando se levantou e foi ao meu lado

Gabriel pegou uma faca de seu cinto e cortou o carpete do avião, abaixo dele havia pequenas bolinhas vermelhas parecidas com balas, eu já vi aquilo antes, a Realize já vendeu milhares dessas bombas, pequenas, mas destrutivas.

— Filho da puta. – murmurei

— Por isso ele foi o último a sair do avião, estava querendo que entrássemos e acionássemos as bombas.

— Ainda tenho gente no aeroporto esperando por ele. – peguei meu celular e liguei para Harry, um toque foi necessário para que ele atendesse. – Robert está saindo, peguem ele!

— Ele escapou, conseguiu sair sem que o alcançássemos.— respondeu.

— Droga. – desliguei o telefone e passei as mãos no cabelo. – Droga, droga, droga.

—  Não está tendo um dia fácil, não é? – Gabriel estava colocando luvas pesadas de lã e uma pinça grande junto a um pequeno saquinho de veludo azul.

Com delicadeza ele pegou todas as bombas e foi colocando-as dentro do saquinho com cuidado para não causar nenhum desastre. Meus ajudantes da vez saíram primeiro com cara de desapontamento assim como a minha, Gabriel colocou a mão para frente indicando para eu sair do avião e ele foi logo atrás de mim.

— O que faz aqui? Robert é um alvo para vocês? – indaguei

— É um alvo á anos, o melhor golpista que já tivemos que enfrentar.

— Robert está sendo um grande desafio.

Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e isso fez meu pulso aparecer por debaixo da blusa.

— Posso perguntar o que aconteceu ai? – Gabriel apontou para meu pulso roxo e eu logo o tampei.

— Sou desastrada.

Paramos a frente da enorme janela de vidro e Gabriel ficou a poucos centímetros do meu rosto podendo sentir seu hálito saber de framboesa.

Eu amo framboesa.

— Teoricamente sou seu cunhado, já que sou melhor amigo barra irmão de Leonardo, pode me contar qualquer coisa. – ele passou os dedos no meu rosto e foi descendo pelo meu ombro até chegar ao meu pulso e segura-lo com delicadeza.

Seu toque era suave e tinha quase uma carga elétrica, eu podia sentir a macies de seus dedos mesmo por cima da blusa. Gabriel tinha uma pequena pinta na bochecha e agora eu podia ver com clareza, a noite fazia seu corpo ficar como um Deus, estava maravilhoso e o cabelo estava preso em um belo rabo de cavalo.

— Kat...

Não percebi que estava de olhos fechados enquanto ele me tocava e os abri como um susto.

— Que?

— O que aconteceu?

Se ele era tão amigo assim de Leonardo, se eu contasse o que realmente aconteceu, tudo poderia ir para os ares e o casamento teria sido em vão. Era um segredo quase assinado por mim junto à minha certidão de casamento.

— Juro, foi um acidente... – murmurei tentando engolir aquelas palavras para mim mesma afim de acreditar na própria mentira.

— Se for assim... – Gabriel se afastava enquanto eu queria ele mais perto de mim, não percebi meu corpo indo pra frente até que eu estava quase encostando no dele, dei um passo para trás e respirei fundo. – Hoje a noite vou dar uma passada na sua casa, Leonardo vai querer saber o que aconteceu aqui.

— Sobre o que?!

— Robert, claro. Ele também estava no caso, mas não veio, não sei porque.

— Espero você em casa, então

Eu não estava preparada para aquilo, Gabriel estava mexendo comigo de uma forma que nenhum homem mexeu, só seu toque já me faz ficar ansiosa, excitada, nervosa e feliz, tudo ao mesmo tempo. Mas ele ia estar na minha casa e eu teria que ser a esposa perfeita como Leonardo me obrigou a ser.

Eu queria mais era me esconder desse mundo.