Ankward: Mundo Guardado escrita por Senhorita Pato


Capítulo 8
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Antony chamava o nome de Isabela e chacoalhava o corpo dela, quase entrando em pânico. Conseguiu acalmar-se depois de um tempo, no entanto, ainda sentia seu coração martelando no peito. Começou a analisar a situação: “Isabela ainda está viva, só desmaiou. Isso aconteceu... aconteceu...” Antony esforçou-se, repetindo a mesma palavra várias vezes, e alguns minutos depois a ideia surgiu em sua mente: “Porque ela cheirou a flor! E agora? Acho melhor esperar aqui. Não tem motivo pra continuar andando e arrastando-a. Mas... e se for tóxico? E se ela precisar tirar isso do organismo? Então, eu tenho que acordá-la!”

Rapidamente, foi até o rio e pegou um pouco de água com as mãos. Embora pouco havia restado quando ele chegou até Isabela, jogou o líquido no rosto da garota, apenas algumas gotas. Ela não se moveu.

Concluindo que aquilo não ia funcionar, Antony teve outra ideia, mais eficiente. Caminhou até o rio novamente, pegou um pouco de água com as mãos e colocou na boca. Fez uma careta ao sentir o gosto de terra e correu até Isabela. Ajoelhou-se e cuspiu na cara dela.

Um pouco de água entrou no nariz da garota. Ela deu um pulo, desnorteada, um pouco zonza por ter levantado rápido demais. Tentou enxugar o rosto com as mãos, enquanto sentia algumas gotas descendo pela garganta. Tossiu um pouco. Ao retomar o ar, voltou-se para Antony, que a observava, sentado sobre os próprios pés, o olhar cheio de expectativa.

Ele não pretendia contar como a acordou.  

— Eu dormi? — perguntou, apertando os olhos devido à claridade.

— Aham.

— Como foi que... a flor! — exclamou, subitamente. — Eu lembro que o cheiro parecia familiar. Foi isso que os Mids usaram para me apagar! — Estava alegre, feliz por ter descoberto algo importante por conta própria.

— Faz sentido. — Antony afirmou, pois não tinha nada mais o que responder.

Uma ideia transpassou a mente de Isabela, e ela deu um sorrisinho ao sugerir:

— Seria bom que levássemos uma. Não parece muito útil, caso algum animal ataque a gente, mas, sabe...

— Isso! Boa ideia. Agora, seria bom se tivéssemos uma mochila, se achássemos outras coisas úteis pelo caminho. Poderia ser que nem nos jogos de videogame, onde os personagens têm o seu inventário e daí vão guardando as coisas sem precisar carregar.

— Uma pena que não é, fazer o quê... — Isabela murmurou, enquanto ajoelhava-se perto da árvore e puxava uma das flores, que desprendeu-se com incrível facilidade.  

Eles recomeçaram a caminhar em um ritmo constante por algumas poucas horas. Só pararam quando Isabela sentiu o estômago roncar de verdade, como um terremoto dentro dela.  

— Tô com fome — choramingou e olhou para Antony, como se ele pudesse fazer alguma coisa.

— Eu também. — Antony observou ao redor. Entrou em seu campo de visão uma árvore fina a alta, com pontinhos cor de laranja no alto. Seu cérebro deu um estalo, e ele pôs-se a pensar em voz alta: — Aquela árvore parece ter frutinhas comestíveis. Se elas estão no alto, provavelmente é para não serem pegas por outros animais, e se essa estratégia funciona, elas não precisam de veneno para se proteger.

Em circunstâncias normais, Isabela questionaria: “e se ela não funciona?”, ou “que animais?”, porém um novo ronco fez sua barriga vibrar. Sem soltar a flor, procurou algum lugar onde pudesse se apoiar para subir, enquanto Antony já começava a escalar a árvore. Ele era ágil, e já havia conseguido subir uma distância considerável, apenas apoiando-se em galhos e protuberâncias do tronco, quando um ruído se sobrepôs ao da correnteza do rio.

Da floresta surgiram três carroças grandes, com teto de lona e cada uma sendo puxada por quatro seres presos em cordas. No primeiro veículo, havia três do que Isabela reconheceu ser Mids de aparência idosa e uma moça que parecia quase humana, exceto por suas pernas desproporcionalmente compridas e seus olhos imensos Ela tinha a pele rosa-chiclete e cabelos loiros de aspecto sujo, que caíam em anéis até a metade de seus braços finos e curtos, e vestia um macacão branco, tão longo que a fazia tropeçar. Apesar de ser adulta, tinha um olhar de filhote assustado. Talvez fosse por causa dos olhos, tão grandes que pareciam ocupar metade do rosto.  

A segunda carroça era puxada por quatro seres pequenos, da altura das crianças, e robustos. Tinham a pele vermelha-vivo, assinalada por arranhões e cortes. Suas pernas, tronco e braços eram grossos, os pés, circulares e quase imperceptíveis, já que não eram muito mais largos do que os tornozelos. Os cabelos eram negros, ralos e espetados em todas as direções, e usavam, como roupa, bermudas e camisetas de um tecido bege bastante flexível.

A última carroça, por estar mais distante, foi a última a ser reparada. Amarrados a ela, havia dois seres baixos e gorduchos, de pele pálida e cabelo preto cacheado emoldurando seus rostos em forma de coxinha, com um olho a mais na testa. Um deles, que parecia ser homem, vestia uma calça cinza-escura com um sobretudo longo, da mesma cor, e uma camisa de botões branca. A que parecia mulher se vestia no mesmo estilo, porém, ao invés de calça e sobretudo, usava uma saia até os joelhos e um casaco. Atrás dos “caras-de-coxinha”, como Isabela os batizara mentalmente logo que os viu, havia um velho da mesma espécie que a moça da primeira carroça, os mesmos olhos gigantescos, vestindo um chapéu feito de folhas, calças púrpura e uma velha camiseta amarela surrada.

Nenhum desses seres foram capazes de captar a atenção de Isabela, que mantinha o olhar fixo na caravana, saltando de uma carroça para a outra. Seu foco desviou-se para uma mulher, que ao contrário de todas as criaturas ali, parecia ser humana de verdade. A garota apertou os olhos, desconfiando do que viam. Mas era, sim, uma humana. Observou com mais atenção ainda: o cabelo era preto, encaracolado e longo; a mulher usava um vestido roxo, com um decote em V não muito grande e mangas até os cotovelos. Isabela queria identificar os detalhes do rosto, a cor dos olhos, qualquer coisa, mas não dava. Estava longe demais.

De dentro das três carroças, desceram criaturas quase iguais às que puxavam a segunda, só que bem maiores. Quantos metros de altura teriam? Dois? Alguns centímetros a menos, provavelmente. Davam medo, pareciam ameaçadores. Certamente a imagem mais próxima de monstros que Isabela já vira.

E eles se espalharam em frente à margem do rio. Um deles, mais próximo de onde as crianças estavam, percebeu, pelo canto do olho, que a caravana não estava sozinha. Voltou seu rosto redondo para a garota, que sentiu as  pernas tremerem, enquanto o coração disparava. A criatura se virou para os amigos e disse alguma coisa numa língua desconhecida. Outro bicho se aproximou, olhou para Isabela e para a árvore atrás, onde Antony subia, tranquilamente, e cochichou algo para o primeiro ser, que emitiu um som parecido com um ronronar. Em seguida, esse mesmo bicho disse algo aos outros, que puseram-se a andar em direção à traseira das carroças, enquanto a criatura ficou ali, solitária, encarando Isabela.

Ela estava apavorada. Queria mandar Antony descer, mas simplesmente não conseguia desviar o rosto, como se estivesse de olho em uma barata: a qualquer momento, ela poderia voar e atacar a garota.

Tremeu, quando o ser ergueu as mãos na altura da barriga e começou a concentrar magia em uma bolinha branca. Isabela manteve os olhos fixos no pontinho brilhante, assustando-se quando ele foi lançado em sua direção, abrindo-se em uma tela semitransparente, a alguns centímetros da menina.

— Mande o seu amigo descer — o monstro vermelho ordenou, o som passando pela tela e sendo traduzido para Isabela. A voz dele era muito diferente do que Isabela esperava ouvir. Estranhamente, não era grossa ou gutural. Soava um pouco humana, até.

Mesmo assim, Isa estava com medo da criatura. Foi preciso bastante força de vontade para virar-se para trás, na direção da árvore, e mais esforço ainda para forçar a voz a sair da garganta.

— Antony! — chamou, um pouco baixo demais. — Antony! — tentou novamente, mais alto do que precisava.

O garoto estava quase alcançando as frutinhas do topo da árvore. A altura não o incomodara até agora, enquanto só olhava para cima, mas ao mirar o chão e os metros que o separavam da terra, um frio no estômago fez os pelos dos braços e das pernas se arrepiarem. Isabela estava um pouco para a direita no seu campo de visão, fitando o garoto com um olhar que, mesmo de longe, parecia preocupado.

— Desce logo! — Ela gritou novamente, gesticulando com a mão livre.

Cuidadosamente, e um pouco frustrado, Antony pôs-se a escalar para baixo. Enquanto procurava se apoiar nas mesmas partes do tronco que usou para subir, perguntava-se por que Isabela estaria tão assustada. De onde estava, o menino não conseguia ver a criatura vermelha, oculta pela copa de uma árvore mais baixa.

— Rápido! — Isabela berrou, irritada com a lerdeza de Antony. Seu olhar voltou-se para o ser, parado a alguns metros dela, impassível. Quis murmurar um pedido de desculpas pelo amigo, mas a parte rebelde de sua mente disse que ela não devia nada a ele, ao bicho. Então, manteve-se orgulhosamente quieta, observando o garoto.

“Se ele subiu tão rápido, por que não pode descer também?” Questionou-se, impaciente.

Do lado da caravana, os seres vermelhos ressurgiram. Isabela virou a cabeça contou: um, dois, três, quatro, cinco. Mais o que estava vigiando-a, seis.

Seis monstros.

Quatro com armas: uma besta, dois facões e uma lança.

“Não, eles não vou nos matar. Não, não é possível. Não tem motivo!” Pensou, tentando acalmar-se, os olhos com o dobro de tamanho.

De fato, as criaturas não pretendiam ser violentas. Gostavam de parecer assustadoras, de impor respeito e medo a quem quer que pudessem dominar, fazia parte da natureza de sua espécie. Uma pena que não conseguiram se defender, quando outros mostraram-se mais poderosos, lá na terra natal deles.

Os pés de Antony finalmente tocaram a grama. Ele virou a cabeça para a direita, esperando ver somente Isabela parada lá, segurando a flor apoiada contra a barriga. Seus olhos, porém, não chegaram até ela: ao ver aqueles seres, o vermelho da pele constratando tanto contra o verde da floresta, congelou. Sentiu um misto de fascinação e medo, e só então viu as armas que alguns traziam. Agora estava apenas com medo.

Enquanto os bichos armados cercavam as crianças, os outros dois se aproximaram delas, um entregando tiras de couro para o outro.

O sentimento de impotência das crianças foi crescendo, crescendo tanto, que parecia ter saído dos seus corações, invadido o corpo, transbordado do corpo e contaminando o ar ao redor. Não haviam escapado de um sacrifício, da morte por afogamento, para depois serem capturados por uns bichos desgraçados que, só por um meríssimo acaso, cruzaram com o caminho deles. Não, não sobreviveram para isso!

— NÃO! — Isabela berrou, esquecendo-se por um momento que poderiam matá-la, se quisessem. “Que se dane! Duvido que façam isso!”

Seu rosto estava contorcido numa expressão de raiva. Correndo em direção à criatura mais próxima, pulou, erguendo a flor na mão direita. Esperava conseguir alcançar as narinas pequenas daquele ser gigante.

— ISA! — Antony berrou, num reflexo. O movimento brusco da garota o assustou, fazendo com que seus pés parecessem criar raízes no chão.

Tarde demais para que ele pudesse fazer algo: tão rapidamente quanto Isabela pulou, o ser vermelho acertou um soco bem dado nas costelas dela, fazendo-a cair para o lado, na direção da floresta.

Ainda completamente chocado, Antony deixou-se prender pelos monstros.


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Notas finais do capítulo

Não posso dizer que esse foi o meu melhor capítulo, apenas que eu dei o melhor que eu pude.
Tem algum conselho, sugestão para me dizer? Ou viu que deixei algum erro passar despercebido? Por favor, informe nos comentários! Críticas sinceras são a melhor coisa que um autor pode receber :3
Até o próximo capítulo!



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