Anjo escrita por Gabriel


Capítulo 1
Linhas retas e manipuladas


Notas iniciais do capítulo

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1

São Paulo

O clima era de total alvoroço. A expectativa para a chegada da modelo Zaíra Alcântara era intensa. Fotógrafos e repórteres, sem falar no mar de fãs, aguardavam há dias, ansiosos por aquele momento. Logo, o caos se instaurou, quando ao perceberem a aproximação de uma limusine, os admiradores de Zaíra correram em sua direção, seguido por todos os outros, encurralando o veículo. Enquanto todos sacudiam enlouquecida mente a limusine, do lado oposto, a modelo, disfarçada com uma peruca, óculos escuros e vestindo um capuz, discretamente caminhava até a entrada do Copacabana Palace, na tentativa de despistar os fanáticos. Jadi, cabelos ruivos, olhos castanhos, 1,75 metro de altura, recostada a parede, apagou o cigarro, colocou-se na frente de Zaíra.
— Vou entrar com você, e você vai me conceder uma entrevista especial, caso contrário, eu vou gritar e todos vão correr atrás de ti. Creio que você não deseja que isso aconteça... Estou certa? - Ameaçou Jadi, com um leve sorriso no canto da boca.
— Tudo bem. - Confirmou sinalizando com a cabeça.
Entraram no elevador e subiram rumo ao quarto. Já no local, convidou Jadi para sentar-se, a mesma, não hesitou, uma vez que estava a horas em pé, do lado de fora. Olhou ao redor, com um brilho nos olhos, encantada.
— Gostaria de tomar alguma coisa? - Perguntou Zaíra, ainda de pé.
— Um vinho italiano, talvez.
Ligou para a recepção, e pediu que mandassem uma garrafa do melhor vinho que eles tivessem. Sentou-se, e com elegância, cruzou as pernas.
— Vamos começar essa entrevista, não tenho todo tempo do mundo. - Avisou gesticulando a mão. Um brilho chamou a atenção de Jadi.
— Que lindo seu anel…
— Você gostou? É diamante branco, exportado de Mirny.
— Diamante, no dedo médio da mão direita… Isso só pode significar uma coisa…
— Se seu palpite era noivado, você acertou. Estou noiva, noivadíssima.
— E eu poderia saber o nome do felizardo?
— É uma noticia sigilosa. Ainda não revelarei o nome dele, mas, posso dizer que eu encontrei o homem da minha vida. A pessoa com quem quero passar o resto de minha vida.


2

Agudos / Interior de São Paulo


Havia pouca movimentação, o céu estava nublado. Benedito segurava a mão de Anita, apertando-a como quem quisesse fundir ambas. Sua expressão, séria, aflita, assustou Anita, que começara a chorar.
— Estou perdida, eu já sabia que essa seria sua reação. - Falou tentando ser mais discreta possível, para não chamar atenção de quem por ali passava.
— Calma, eu ainda não falei nada, eu… Eu nem sei o que dizer, tu me pegaste de surpresa. - Benedito engoliu a seco, as palavras.
— Se você me abandonar, eu não sei o vai ser de mim. - Anita desesperou-se. Chegava a soluçar em prantos. - Quando os meus pais descobrirem, principalmente o meu pai, vão me expulsar de casa!
Por alguns segundos, a mente de Benedito tinha paralisado. Era uma criança, fruto do único sentimento puro que tivera em sua vida infeliz e amargurada. Retornou do transe em que se encontrava se aproximou de Anita e pôs as suas mãos sobre as dela.
— Eu não vou te abandonar. Você me proporcionou a maior alegria que um homem pode ter na vida. Nosso filho. - Acariciou a barriga da jovem, que ainda não aparentava volume.
— Isso... É sério? - Sorriu, com um brilho de felicidade e confiança no olhar.
— Sim. Mas eu te peço um tempo.
— Um tempo? - Anita dissolveu o sorriso, desanimada.
— Preciso me restabelecer financeiramente. Agora nós temos uma responsabilidade muito grande. É o meu primeiro filho e não quero deixá-lo passando necessidade.
— O que pretende fazer?
— Voltarei para minha cidade. É o jeito.
— Você não pode me deixar aqui! - Anita se levantou desesperada. - Se você não voltar, eu vou morrer…
— Não se sinta desamparada. Acalme-se! - Benedito passou a mão levemente sobre o rosto de Anita. - Eu vou voltar. Vou voltar e vamos ficar juntos para sempre. - Beijou-lhe docemente a testa, recebendo em troca um forte abraço.
— Mas e… Quanto aos meus pais? - Questionou Anita, mais calma.
— Por enquanto, você não fala nada. Quando eu voltar, a gente resolve não o problema, mas o nosso futuro.
Novamente se abraçaram. Ali, se despediram emocionadamente. Na rodoviária, Benedito acenava em um último adeus. Anita virou-se de costas para aquela imagem que lhe partira o coração, ainda bastante perturbada. Alguns quilômetros distantes da rodoviária, Benedito pediu para o ônibus parar. Desceu e foi a um ponto de táxi, onde um veículo, já o esperava.
— Leve-me até a zona de pouso. - Entrou fechando a porta do veículo.
Um helicóptero o esperava, hélices girando. Logo, estava nas alturas.
— Adeus Anita. - Sussurrou enquanto olhava para os campos esverdeados. - Até nunca mais.
Em terra, Anita parou em frente à casa. Limpou o rosto, manchado pelas lágrimas, respirou fundo e entrou. O clima era sombrio. O tique-taque do relógio contrastava com o silêncio presente no ambiente. Amedrontada, correu em direção à escada, mas a voz de seu pai chamando-a, lhe estremeceu todo o corpo.
— Onde esteve durante todo o dia? - Perguntou João, com a voz grave, sentado em sua poltrona.
— Pai? - Anita se virou, com um sorriso forçado. - Eu não o tinha visto.
— Ainda não respondeu a pergunta que fiz. Onde esteve?! - Pôs-se de pé, colocando a mão na cintura, onde o cinto de couro com fivela de prata se destacava.
— Eu estive, estive... - Anita gaguejou, pensando na desculpa que daria ao pai. – Eu estive com a Julia! Ela ia arrumar a casa e me chamou para ajudá-la. O senhor sabe como a mãe da Julia está doente. Nem da cama sai, a coitada.
— Sei. – Ele olhava para ela, desconfiado. – Agora... Vamos ao que realmente interessa: A partir de hoje, você não sai de casa sozinha! Se me desobedecer, você vai levar uma surra da qual nunca vai esquecer. E que esteja dito! – Encerrou, dando uma pancada na mesa.
Anita ficou em silêncio por alguns segundos. O erro estava feito, não tinha mais como voltar atrás. Se contasse ao pai o que estava se passando, uma tragédia poderia acontecer. Então guardaria o segredo, e esperaria que a sorte, trouxesse Benedito de volta.
— Sim papai. – Respondeu de cabeça baixa, subindo em seguida para o quarto.
Josiete, sua mãe, trazia da cozinha uma bandeja com biscoitos e chás. Olhou para a escada, olhou para o marido.
— O que aconteceu? Da cozinha pude ouvir sua voz, rude.
— Não aconteceu nada. – Serviu a xícara com chá, levando-a até a boca.
— Você não tem jeito mesmo! Quantas vezes eu tenho que dizer para que não trate nossa filha com rispidez?
— Estou com uma pulga atrás da orelha com relação a nossa filha. Ela anda muito solta. Hoje, passou o dia fora, e disse que estava com a Julia, ajudando-a a arrumar a casa. Eu não acreditei nesta história, desta vez passa. Entretanto proibi-a de sair sozinha. Só sai com a minha companhia ou a tua.
— Se você lhe deu ordem, não sou eu quem dirá o contrário. És o pai, és quem manda. – E complementou. – Se um dia Anita aparecer, – bateu na boca. – que o diabo não ouça, grávida, como essas meninas desta geração perdida de hoje em dia, você tem o meu apoio para expulsá-la de casa.
Da porta de seu quarto, Anita escutara a conversa de seus pais. Um frio a tomou por dentro, fazendo-a estremecer.

3

São Paulo


Algumas horas após a decolagem, o helicóptero chegou ao heliporto. Benedito, ainda trajado com os trapos remendados e sem nenhum luxo, atirou uma pequena sacola nas mãos de seu assistente, que vinha na sua direção.
— Senhor, onde esteve por tanto tempo? – Hugo perguntou, insistindo para que o homem lhe respondesse. – Só me ligou ontem, e mesmo assim para avisar que voltaria hoje.
— Calma Julian, uma coisa de cada vez. – Falou esnobe, como ele realmente era. – Em primeiro lugar, joga essas porcarias bem longe de mim. – Referiu-se a sacola da qual havia jogado pra ele. - Em segundo, liga para um hotel, hotel de luxo, não estas porcarias de pensões que esses pobres abrem na cidade, e aluga um quarto bem confortável. Estou precisando descansar minha beleza para mais tarde. Hoje ainda tenho que ir a Lisboa fazer uma visita para minha futura esposa. – Ironizou.
— Sobre isso, o senhor pode se despreocupar. A senhorita Zaíra está aqui no Brasil, só não sei informar o hotel.
— Então procure saber, anta! – Parou de frente ao carro. – Cavalheiro que é cavalheiro sempre visita e presenteia sua futura dama.
Ao cair da noite, chegou à mansão. Estava no Copacabana Palace, mesmo hotel que Zaíra. Caminhando pelo corredor, a procura de seu quarto, esbarrou em uma moça, que deixou sua bolsa cair ao chão, espalhando seus objetos ali mesmo.
— Por que não olha por onde anda? – Zaíra perguntou irritada, recolhendo imediatamente seus pertences.
— Desculpe-me, eu sou muito desastrado. – Benedito se agachou ajudando-a. Sobrepuseram as mãos uma sobre a do outro. Olharam um para o outro, lentamente.
— Benedito?! – Zaíra indagou desconcertada.
— Senhorita Zaíra... – Ele respondeu.
O silêncio tomou conta do ambiente. Ficaram encarando um ao outro, seus olhos chegavam a brilhar.
— Eu, eu... – Levantaram-se ao mesmo tempo. Zaíra, sem saber o que fazer, tratou de retratar-se com o noivo. – Eu peço desculpas, não sabia que era você, eu... – Voltou o olhar cabisbaixo, envergonhado, para Benedito, cujo sorriso, interrompeu-lhe a fala.


4


Após resolverem o mal entendido, Benedito convidou a noiva para jantar no restaurante hotel cipriani. Levantou a taça, para que fosse servida pelo garçom. Enquanto degustava, ele a observava com um olhar devorador. Zaíra, por sua vez, timidamente balançava sua taça de vinho, sentindo o adocicado aroma.
— Não vai beber? – Benedito perguntou.
— Claro que vou. – Zaíra sorriu, achando estranho tal pergunta. – Acontece que tem todo um processo para a degustação de um vinho, ainda mais se tratando de um vinho tão caro como este. Como você, um homem tão poderoso, não sabe a maneira correta de se degustar um vinho?
— Bom, eu... – Benedito sentiu-se encurralado.
— Não precisa responder. Eu já sei a resposta. Um homem como você, com os negócios que gerência, deve ter passado a vida estudando, recebendo instrução para ser quem é hoje. Entretanto estes são detalhes que podem ser corrigidos com o tempo. Você é jovem, tem muito que aprender.
— Pois. – Benedito, ousado, acariciou-lhe as mãos. – Entretanto neste momento, o que eu quero é aproveitar que estou contigo, e dizer o quanto me agrada nosso compromisso. Eu nunca pensei que fosse gostar tanto de uma pessoa como eu gosto de você. Quero te fazer uma promessa... Eu prometo que te farei a mulher mais feliz do mundo. - Levantou a taça da qual bebia seguido por Zaíra. - Ao futuro!
— Ao futuro! - Complementou ela, encostando de leve sua taça na de Benedito.


Logo, logo, os dois seriam um só e viveriam um para o outro. E o destino de ambos estaria escrito, não por linhas tortas, como diz o ditado, mas por linhas retas e manipuladas.


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Notas finais do capítulo

Repetindo, se gostou, favoritem e deixem comentários. Será muito importante. Obrigado.