Anatomia de um amor imortal escrita por Eduardo Marais


Capítulo 5
Mais um dia de luta




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— Vamos à luta, filhos da pátria! – Killian bate no capô do carro e caminha com o grupo de policiais para o quintal sem muro da casa com a placa de venda, fincada no jardim seco.

O corretor de imóveis destranca a casa e afasta-se do grupo de policiais. Conhecia a fama dos “cachorros de Kane”, como eram chamados pelos bandidos.

— Por favor, tentem não destruir a casa...

Kane ignora a fala do homem. Olha por cima da cabeça dele e gesticula para seus comandados.

— Os homens de Killian, antes de entrarem, tirem todas as tábuas que estão protegendo as janelas. Os homens de Vlad façam barricadas nas portas para evitar eventual fuga...

— É apenas uma mulher velha, Kane. – Regina interfere.

— As questões são: quem está por trás dessa doce velhinha? E se ela não for uma velhinha e fizer parte de algum grupo do narcotráfico, que desmantelamos nos últimos anos? – Kane espreme os lábios e levanta as sobrancelhas. – Vamos entrar ali e descobrir o que estão escondendo de nós!

Killian sorri e empurra um dos policiais, usando seu ombro.

— Venham com o tio Jones, meus homens!

Os policiais riem e seguem o líder para começarem a destravar as janelas. Enquanto isso, os comandados da equipe de Vlad, olham para ele como se esperassem alguma ordem jocosa.

— O que há com vocês, Clube das Winx? Estão esperando um convite de um belo príncipe?

Regina se aproxima de Kane e chama sua atenção.

— Você não está exagerando? A mulher que veio ao meu jardim, não demonstra perigo.

— E se há alguém atrás dela? E por que ela não se apresenta para uma conversa decente? – ele se volta para a pupila. – Não se deixe enganar por uma aparência envelhecida, minha querida. Os canalhas também envelhecem.

Algum tempo depois, a casa é invadida pelas equipes e começa uma varredura minuciosa pelos diversos cômodos, busca de paredes e armários falsos, alçapões, sótãos e porões camuflados.

— Eu sabia que a boa velhinha era a Elvira, a Rainha das Trevas! – Vladimir grita e chama a atenção de seus comandados. – Tragam Kane aqui, imediatamente!

Um dos policiais solicita a presença do Comandante, usando seu rádio comunicador. Em alguns minutos, o segundo porão está repleto de homens e equipamentos para iluminarem o ambiente sem janelas.

Ali, duas malas com roupas, valises com perfumes e maquiagem, máquinas fotográficas e um notebook estavam organizados sobre um engradado protegido por um colchão inflável. Em um varal improvisado, várias fotografias da família de Regina estavam expostas, penduradas por prendedores de roupas. Num canto do cômodo, algo chama a atenção dos policiais.

— Misericórdia! São caixões!

— São caixões com terra fresca! – Vlad sorri, arrebenta mais outro caixão e exibe o conteúdo. – Mas que tara é essa? Será que é terra ou droga disfarçada?

— Kane, observe este caixão aqui! – o sargento Wu fala alto. – Está forrado e sujo com terra. Alguém sujo dormiu aqui! Talvez estejamos lidando com vampiros!

Enquanto isso, Regina se desvia de seu grupo quando visualiza algo familiar fugindo de seu campo de visão. Ela segue seus instintos e acaba por encontrar uma entrada como se fosse uma porta pequena junto à vértice de uma parede. A porta havia sido mal fechada e a mulher não hesita em sanar suas dúvidas. Abre-a e entra ali. O cômodo descoberto era apertado como se fosse um corredor escuro: nas paredes, várias fotografias de sua família formava um painel.

“Regina, onde você está?”

— Estou num cômodo superior, Kane.

“Descobrimos coisas bizarras aqui num segundo porão! Encontrou algo?”

Os olhos escuros e assustados de Regina se fixam nos rostos das fotografias e naquele momento, ela sente o sangue ferver em suas veias. Ela arranca as fotografias com fúria e algumas são rasgadas.

— Não encontrei nada vivo! Mas encontrei fotografias e estou descendo! – Regina se volta para a saída do cômodo, mas olha por cima do ombro ao ouvir seu nome ser chamado, por uma suave voz feminina. Para e aguça sua audição, mas não ouve outra vez.

Quando chega ao andar térreo, Regina encontra seus colegas transportando os caixões para fora da casa. Vladimir exibia um sorriso vitorioso, quase histérico e quando ele vê a sua Capitã, pisca um dos olhos como se afirmasse que sua opinião sempre esteve certa.

Naquela mesma tarde, os policiais científicos começam a trabalhar na descoberta, sobretudo, quando alguns fios de cabelos são encontrados dentro do féretro acolchoado. Várias impressões digitais também são colhidas nas superfícies do cômodo. Algum excêntrico gótico ou insano estava usando o caixão para dormir ou para realizar algum ritual.

— Não encontramos a boa velhinha admiradora da nossa Capitã. – Vladimir fala e sorri sem exibir os dentes. – Mas ela será pega e posso sentir o cheiro de um grupo criminoso, por trás dessa vigilância. Um grupo que representa ameaça para a minha família!

Maneando negativamente a cabeça, Regina não consegue sentir o mesmo entusiasmo de seu comandado. Sua curiosidade estava estimulada por conta daquela voz que havia ouvido naquele corredor. Sua doce e sorridente velhinha seria um membro de algum grupo ameaçador? Por que tantas fotos? O que estava acontecendo?

Naquele dia, Regina sai antes do fim do expediente. Vai à escola para apanhar seu pequeno amor, que a recebe com o mais amplo e divertido sorriso. Seu pequeno fruto de seu amor pelo avassalador Vladimir.

Flashback

“Era uma tarde daquele mês de dezembro, quando ela chega à sala de conferências, sendo trazida por Kane. Havia sido transferida para aquela unidade policial e assumiria um cargo mais elevado do que aquele posto que ocupava em outra delegacia.

Todos os olhares se voltaram em sua direção e naquele instante ela consegue identificar cada uma das expressões naqueles rostos desconhecidos. Sente-se desprotegida, abandonada, como se estivesse totalmente nua e depilada, em uma das mais movimentadas avenidas daquele Estado, e em pleno horário do rush.

— Seja bem vinda, moça! – o policial de lindos olhos azuis e poderosas sobrancelhas escuras, com expressão ordinária, estava sendo sincero naquele momento.

— O que houve com Ruby? – pergunta uma policial.

— A policial Ruby estará trabalhando na Corregedoria e teve de deixar o posto aqui. Regina Mills será nossa nova Capitã e coordenará os trabalhos de negociação, além de ajudar-nos nos demais casos.

Os policiais a cumprimentam, mas aquele par de olhos cor de mel era o que mais atraía a sua atenção. O homem mantinha sua carranca e estava lindamente usando o uniforme de alguma operação especial, perfeitamente preenchido com um corpo atlético.

Quando todos saem da sala, Regina ainda permanece ali e não consegue mais respirar quando o belo homem se aproxima dela. Ele ergue o queixo desafiadoramente e aponta para as próprias costelas.

— Você saiu daqui. E ainda vai ser minha esposa!

Que audácia! Que cara sem noção! Atrevido! Arrogante! Petulante! E todos os “ante” que finalizam palavras de xingamento!

Na metade do ano seguinte, a cerimônia militar é realizada pelo capelão da polícia. Lindos, os noivos passam por dentro do corredor formado por espadas, e todos os convidados uniformizados tornam a ocasião o primeiro lindo sonho realizado da vida de Regina.

Depois de curtir a louca vida de recém-casado, o casal decide ter o primeiro filho e quando o pequeno Johnathon vem ao mundo, coroa e fortalece aquela união.”

— Mamãe! – ele corre e atira-se nos braços dela. Beija-lhe o rosto por repetida vezes e ao sorrir, cria covinhas em suas bochechas. – Podemos tomar sorvete antes do jantar?

— Penso que sim. Como foi a sua aula?

— Fizemos desenhos em caixa de pizza, brincamos no playground, corremos pelos gramados e fingimos que todos eram bolinhas, quando rolamos por ele! Depois, aprendemos sobre a água. Você sabia que o gelo é água dura?

— Verdade?

— Sim! O gelo ficou fora da geladeira e molhou a mesa. Não tinha gosto, como a água do nosso filtro! – ele olha para os lados. – Por que o papai não veio me buscar?

— Porque ele está ocupado e eu vim no lugar dele. Não gostou?

O menino abraça ainda mais o pescoço da mãe e mantém seu sorriso.

Enquanto isso, na sala de Kane, uma pequena reunião extraordinária estava acontecendo.

— As pessoa que se escondiam na casa e guardavam os caixões, deveriam realizar algum ritual satânico e precisamos impedir que se torne conhecida, senão angariará simpatizantes.

— Deve ser de alguma seita fanática. Pedi para que o sargento Drew Wu fizesse uma investigação sobre saques a cemitérios ou relatos de encontros pagãos na região. – Killian se mostra cansado. – Talvez consigamos alguma ligação.

— Caso você tenha razão, precisamos cortar o mal pela raiz. – Vladimir termina de organizar seus relatórios. – Mas o que me incomoda são as fotos tiradas de minha família. Há quanto tempo estamos sendo vigiados?

— Temos de descobrir a conexão com Regina e você, filho.

— Mas podem ser apenas jovens que gostem de vampirismo ou toda essa babaquice. – comenta Killian sem erguer os olhos.

— E por que teriam tantas fotografias da família de Vlad? Arrisco dizer que foram contratados para a vigilância, mas com que objetivo e por quem? – pergunta Kane. – Vou conversar com meus informantes e saber se há alguma ordem específica rodando por aí.

— Precisamos ficar atentos, mas temos de continuar nossas vidas. E se essa velhinha vampira ou lunática aparecer novamente em meu jardim, vai levar chumbo!

— Os “científicos” estão analisando a casa, as digitais, os fios de cabelos encontrados no caixão e irão comparar com DNA da lista de fichados. - Killian se espreguiça na cadeira e esconde as mãos atrás da cabeça. Arreganha seu sorriso. – Quando for atirar na velhinha, atire com bala de prata, Vlad!

— Balas de prata são para lobisomem. Vampiros são combatidos com um chute na bunda. – ele entrega a pasta com os relatórios para o comandante. – Fichada ou não, pisando em meu jardim pela madrugada, ela vai virar peneira!


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