Gênese: A Saga da Rosa - Temporada I escrita por FireboltVioleta


Capítulo 4
Café da Manhã




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“Os fracos é que são cruéis. Só se pode esperar a brandura dos fortes.” 
― Leo Buscaglia


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SCORPIUS 

 

Os pingos grossos da chuva caíam como cascatas sobre a vidraça do trem. Três, quatro... sete resquícios de água despedaçando-se ao chão. Ao extremo, os relâmpagos cortando o céu contrastavam mais do que os fragmentos restantes solares.

Por um instante, estudei fielmente o rosto a minha frente. Sua expressão serena era levemente semelhante à de mamãe, com os olhos cinzentos perdidos nas matas e árvores acerca. Estava tão tranquilo, mal parecia que seria seu primeiro ano em Hogwarts.
Essa feição era minha, refletida no vidro.

Uma máscara escondendo meu nervosismo e tremor, ansiedade extrema.

Um medo exorbitante.

Por falar em medo, na noite anterior, havia tido um sonho estranho.

Olhei ao meu redor e me encontrava na estão King’'s Cross. Avistei duas silhuetas conhecidas tão bem por mim. Papai contornava a cintura da mamãe, que se apoiava em seu ombro. Os dois permaneceram com o olhar fixo em certa cabine do trem. Aproximei-me dos dois, que compartilhavam uma angústia visível, como se temessem algo terrível.

O rosto de minha mãe, esculpido de uma forma mórbida, brilhava em desespero.

A três passos de distância, senti algo - como tentáculos – puxando-me para um lugar remoto.

Gritei desesperadamente, mas minha voz saía abafada e cortante, devido algo que tampava minha boca.

E então acordei.

Afobado, transpirando exageradamente.

Recordei-me das palavras sábias de minha mãe, aquelas que sempre me tranquilizavam. Sentia-me um bebê nos braços oscilantes de minha mãe... protegido, quando eu não tinha consciência do mundo afora.

No dia seguinte, acordei com os raios de sol transparecendo as persianas, e batendo sobre meu rosto.

Pérola, a minha coruja, piou arduamente, como um bom dia. Vovó havia me dado de presente, e devo constar que foi um dos melhores da minha vida – talvez um dos poucos que não me amarguravam, quando me lembrava do nosso afastamento. Ela era um filhote ainda, com um tom marrom dourado, e seus olhos verdes que brilhavam no escuro.

Já me peguei várias vezes assustado, com ela me encarando à noite.

—B….bom dia, Pérola – bocejei, descendo da cama e já começando a vestir as roupas que usaria – hoje é o dia.

A corujinha piou entediadamente. Ao contrário de mim, Pérola não parecia muito animada com nossa futura viagem.

Depois de terminar de me vestir, desci meu malão pela longa escadaria, com uma ajudinha de Sati, nossa elfa doméstica, que ajeitara toda a bagagem em frente á saída da mansão, dispensando minha oferta de auxiliá-la com um resmunguinho engraçado.

Eu adorava aquela elfa. Como passava quase todo o tempo na mansão, ela e Hobi – seu irmão - eram um dos poucos e melhores amigos que eu tinha, apesar de Sati dar um valor ridículo ao seu trabalho, se punindo sozinha até mesmo por deixar uma manchinha sobrante em uma vidraça. Perdera a conta de quantas vezes papai tentara impedir que se castigasse por qualquer bobagem.

Aos pulos, em ansiedade evidente, finalmente cheguei à sala de estar. O cheiro de panqueca me fazia suspirar, e, quando entrei no salão de refeições, vi minha mãe se virar em minha direção, sorrindo, enquanto Hobi servia as panquecas na enorme mesa.

— Bom dia, querido.

Mamãe depositou um beijo em minha bochecha. Papai estava concentrado em seu jornal, com imagens se mexendo animadamente na manchete.

— Bom dia, Scorpius. Ansioso?

Papai me olhou, com a sobrancelha arqueada. Por alguma razão, havia um quê de pânico em seu olhar.

— Hum… - murmurei, retribuindo com um abraço – sim, mamãe.

Hobi afastou a cadeira para que eu me sentasse, e, estranhamente, aparentava tanta animação quanto eu.

— O menino Malfoy vai começar os estudos em Hogwarts! - ele tagarelou alegremente – Hobi está muito feliz pelo menino Malfoy!

Mamãe deu uma risadinha satisfeita, não resistindo e dando um tapinha carinhoso na careca de Hobi.

— Tem razão, Hobi. Ele vai sim – ela se sentou conosco, enquanto o elfo deixava o salão, cantarolante.

Para nossa surpresa, papai bufou alto, jogando o jornal na mesa, virado na contracapa, sem se importar com o olhar de censura que minha mãe lhe lançou.

— Acredita nisso? - ele guinchou, revirando os olhos – Vice-Ministra da Magia. Eles enlouqueceram.

Olhei de relance para a foto que encabeçava a matéria da contracapa. A imagem de uma mulher de cabelos castanhos e olhar suave encabeçava a manchete de trás.

Era estranhamente familiar… jurava que já a tinha visto antes em algum lugar do escritório de papai.

Apesar de ter um rosto bondoso, algo no olhar daquela mulher me incomodou. Era como se uma barreira de água tentasse conter um mar de fogo… nunca vira uma expressão tão imperiosa e intimidante. E o mais assustador era ver isso num rosto que, ao longe, parecia tão gentil.

Tentei ler a frase abaixo da fotografia, mas mamãe tomou o jornal antes que pudesse pegá-lo, olhando séria na direção de papai.

— Draco – ela falou em tom de alerta, me dando uma olhadela temerosa.

Papai nos encarou, suspirando.

— Está bem. Só… sabe como é… complicado para mim.

— Eu sei – ela tomou a mão do meu pai nas dela – mas por favor, querido… não será melhor para todos?

— Eu não duvido da capacidade dela, Astoria. Mas ainda é apavorante… você sabe o que aconteceu no passado… - ele me fitou e pareceu perder a capacidade de falar, engasgando.

— Do que estão falando? - indaguei, confuso.

Voltei a encarar o jornal que mamãe ainda mantinha ao lado do prato de panquecas. Por que, repentinamente, todos haviam ficado perturbados com aquela estranha bruxa da contracapa?

Ambos voltaram a suspirar, se entreolhando.

— Nada, filho – embora papai me bagunçasse os cabelos, dando um largo sorriso, percebi que não fora muito sincero – nem importa agora. O que importa é que você está indo para Hogwarts – ele deu uma risada leve – meu filho finalmente vai se tornar um verdadeiro bruxo.

O orgulho no olhar de meu pai me deixou sem graça.

Sabia que eles estavam depositando todas as suas expectativas em mim. Queriam que eu fizesse o possível para voltar a limpar o nome dos Malfoy. Seria uma grande responsabilidade fazer de tudo para que nossa família voltasse a ser prestigiada como antes.

E eu estava decidido a cumprir o que esperavam de mim.

Por fim, também sorrindo, assenti.

— È. Acho que sim, papai.

Terminamos o café da manhã em silêncio, embora meus pais continuassem a trocar olhadelas entre si.

Decidi que o assunto sobre o jornal poderia ficar para outra hora, afinal. Por que me preocupar com algo que nada tinha a ver com a minha vida e a de minha família? O que isso mudaria, no fim das contas?

Descobriria, em breve, que ignorar aquele sinal fora um erro bem pior do que eu poderia ter imaginado.

— Ei, Scorpy… - papai falou de repente, ainda com panqueca na boca, o que fez mamãe jogar o guardanapo nele e me fazer rir – desculpa… - ele engoliu, ainda sorrindo, embora seu semblante tivesse se tornado mais sério – quer fazer com que seus anos em Hogwarts valham a pena?

Fitei-o, surpreso.

Se meu pai estava se sentindo seguro o bastante para me dar um conselho, era melhor eu ouvir e acatar desesperadamente.

— Claro, pai. Quero sim!

Ele me encarou. E, pela primeira vez em muito tempo, percebi o quanto seus olhos assemelhavam-se aos meus.

E, naquele momento, ele disse algo que, sem que u soubesse, mudaria o rumo de minha vida para sempre.

Algo que, com toda a certeza, nunca foi ouvido da boca de Draco Malfoy.

E que jamais sairia outra vez de minha cabeça.

— Então, assim que entrar naquele trem…. vá direto para o vagão onde os Potters e os Weasleys estarão. E garanto que não irá se arrepender.

 

 

 

 


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