Gênese: A Saga da Rosa - Temporada I escrita por FireboltVioleta


Capítulo 36
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Nossa tarefa deveria ser nos libertarmos…. aumentando o nosso círculo de compaixão para envolver todas as criaturas viventes, toda a natureza e sua beleza.”

 

— Albert Einstein

 

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ROSE





Quando acordei, facilmente poderia ter deduzido que tinha despertado de um assustador pesadelo.

Mas a verdade pareceu estapear a minha cara, no momento em que meus olhos se reabriram.

Embora minha visão ainda se encontrasse turva, eu ouvia a doce melodia de uma canção de ninar, vinda de algum lugar ao meu lado.

A nossa canção de ninar.



Você é como um presente dos Céus

Uma nova criança, nascida de uma estrela distante.

Me sinto tão bem, apenas estando junto a você.

Você é um presente dos Céus para mim.

 

Você é tão doce e pura, simplesmente do seu jeito

Preciosa joia da mamãe, estrela ascendente do papai.

Há muito na vida para você ver

E muito para ser

Você é um presente dos Céus para mim.



Porém, a voz que a cantava, embora familiar, tinha um soprano bem mais profundo.

E agora eu sabia o por que.

Virei a cabeça lentamente, focalizando o as feições preocupadas do rosto claro e insólito de minha mãe.

— Rosie… - suspirou, afagando minha testa.

Seus olhos prateados brilhavam em meio à penumbra, como duas luzes claras e flamejantes. Somada à sua ímpar aparência Wicca, ela se destacava como uma fantástica criatura em meio aos maçantes aposentos da Ala Hospitalar.

— Mamãe…? - guinchei, desanimada – então foi tudo… real?

— Sim, meu amor – seu rosto se contorceu de tristeza – mas vamos esquecer isso por hora. Você precisa mesmo descansar.

Ela tomou minha mão na dela, resfolegando devagar.

Surpresa, senti aquela mesma quentura da noite anterior resvalar-se por meu corpo, diminuindo as sensações desagradáveis dentro de mim.

Agora tinha uma nítida ideia do que era.

— Isso.. isso é…?

Mamãe assentiu, sorrindo levemente. Era impressionante ver o como expressões tão humanas conseguiam ser expressadas naquele rosto de mística beleza.

— O Quinto Elemento – proferiu em tom baixo – levei todos estes anos para aprender cada aspecto dele. Dominá-lo. Mensurá-lo. Usá-lo de forma consciente – acrescentou em tom sério – e nunca mais como uma arma.

Enrijeci.

— Acha que o que fiz foi…?

— Shhh – ela voltou a abarcar minha mão – saberemos, Rosie. Um dia… saberemos. Não pense mais nisso, minha menina.

— Saber o necessário – funguei – somente o necessário.

Nós duas nos entreolhamos. Fui a primeira a perder o controle e rir, quando a frase me fez lembrar do antigo desenho animado.

Surpresa, assisti minha mãe gargalhar também. O som era um eco límpido de alegria - ao mesmo tempo que, por alguma razão, causava calafrios na espinha.

Ela virou a cabeça por um momento, varrendo a abóboda do teto da enfermaria com o olhar. Um brilho nostálgico surgiu em suas íris brilhantes.

— Tenho tantas lembranças deste lugar – disse – algumas boas… várias ruins – comentou – lembra dos vampirizados de Hogwarts?

— Claro – assenti. Era uma dos meus acontecimentos históricos mágicos favoritos – alguns sobreviventes da Batalha de Hogwarts se contaminaram com o vírus da vampirização… incluindo a senhora, mamãe – narrei de modo entusiasmado – e foi você que liderou todos eles para derrotar os Comensais da Morte que ainda restavam – sacudi a cabeça – aquilo foi… surreal.

— Foi mesmo – mamãe concordou – foi a primeira vez que seu pai me viu… de forma diferente – seu rosto se vincou de ternura – e, mesmo assim, ele nãos e deixou abalar. Mais do que qualquer outra pessoa… ele lutou para continuarmos juntos… independentemente de qualquer coisa… que tentasse nos separar.

— Como a Maldição da Wicca? - supus.

Observei-a fechar os olhos por um momento.

— Sim. Descobrir que eu era Wicca… me arrasou por completo. E, por algum tempo, foi terrível para todos ao meu redor. Eu sentia o peso desta responsabilidade… e acreditava ser demais para eu carregar – suas mãos se fecharam momentaneamente em punhos – por isso criamos essa política rígida sobre o que deve ser ou não ensinado para as novas gerações. Tudo que aconteceu durante o tempo em que me adaptei… só é revelado aos alunos á partir do quinto ano… quando já possuem idade para compreender tudo que realmente aconteceu. Nenhuma família tem permissão para contar sobre isto á suas crianças… enquanto não for realmente necessário. É bem mais… complexo… do que você jamais conseguiria imaginar.

— Então… eu passaria os próximos quatro anos… sem saber da verdade – não disse isso de forma dura. Apenas como uma confirmação retórica.

— Sim – assentiu mamãe, pesarosa – e, agora, vejo que teria sido um terrível erro.

Ficamos alguns minutos em um silêncio constrangido.

— Como Becky se tornou a sua elfa? - perguntei repentinamente.

Ela saltou o olhar.

— Como…?

— Mãe! - a censurei, vincando a testa.

Seus ombros se abaixaram.

— Está bem – inspirou profundamente – Becky era a elfa doméstica de seu tio-avô Harold Granger – inclinou-se, soturna – ele também era Wicca… e foi ele que me revelou toda a verdade, juntamente da Professora McGonagall… e de um… amigo achegado – ela vacilou por um momento – preocupado comigo.. ele me deixou, em seu testamento, toda a propriedade da Casa de Veraneio Heaven, além de seu agoureiro de estimação – concluiu – e sua única e mais achegada confidente e serviçal.

— Eu vi o diário dela – relembrei-me – ela… realmente gostava de vocês…

— E eu também a amava… - seu olhar divagou - ela era doce. Gentil. Altruísta. Um coração maravilhoso… do tipo que não se vê mais em meros humanos.

Fiquei tentada a perguntar o que havia acontecido com aquela elfa.

Mas vi a tristeza que havia surgido nos olhos de minha mãe, e concluí que isso não era exatamente uma das informações que eu realmente necessitava agora.

Se um dia estivesse segura, com certeza, ela iria me contar.

— Eu…. Senti algo estranho… na noite passada. Naquela redoma…. na casa – murmurei, hesitante – foi… como se ela soubesse que eu estava ali. Que alguém… como nós… finalmente havia voltado para lá.

— E foi, Rosie – ela acarinhou o rosto – Harold Granger criou a Redoma da Wicca como um santuário para nós. Um lugar onde poderíamos aprender a manipular nossos poderes, sem nos expormos ao mundo exterior – sua expressão se tornou sombria – o que torna ainda mais urgente que eu descubra como aqueles bruxos entraram lá… se apenas um Wicca poderia…

Algo pareceu passar por sua mente. Porém, não demonstrou mais do que isso, sacudindo a cabeça de forma exasperada.

— Mãe?

— Não importa… cuidarei disso, meu amor – cortou-me – agora… precisamos tratar de assuntos mais sérios… - disse bondosamente – o que faremos com seu amigo?

Pisquei.

— Alvo e Hugo não podem saber disso – esganicei-me, aflita – nem… nem Scorpius.

— Concordo que seu primo e seu irmão possam ficar sem saber disso por mais algum tempo – ela me encarou – mas Scorpius… viu demais, querida. Ele é seu melhor amigo… e acho que tem o direito de descobrir tudo. Afinal, se não fosse por ele… jamais teria descoberto sobre a mansão.

Estremeci, insegura.

Ela tinha razão. Scorpius havia me apoiado em cada louca procura por respostas. Eu devia isso à ele, no fim das contas.

Mas o medo falava mais alto dentro de minha cabeça. Eu ainda estava descontrolada. Ainda era virtualmente perigosa para todos ao meu redor.

E se Scorpius soubesse da verdade… teria a mesma reação de muitos em seu lugar.

Veria uma criatura amedrontadora. Uma ameaça.

Eu não podia arriscar nossa amizade. E muito menos sua segurança. Insistir em remoer sobre aquele assunto poderia causar efeitos catastróficos para nós dois.

Scorpius era a única pessoa em Hogwarts que realmente me compreendia profundamente. E não podia deixar que nada interferisse em nossa amizade. Muito menos uma maldição hereditária e milenar, que transformava sua única amiga numa bomba-relógio ambulante.

Abrir o jogo não valia o risco de eu perder meu melhor amigo.

— Não – neguei com a cabeça – ainda não, mamãe. Não agora – titubeei, tensa.

— A decisão é sua, Rosie – reclinou-se ao meu lado, afagando meus cabelos – só peço que não cometa o mesmo erro que eu cometi – sorriu-me de maneira penalizada – você deve confiar em seus amigos… e fazer o possível… para não guardar mais segredos. Conte à ele… quando decidir que é a hora certa. Está bem?

Concordei, cabisbaixa.

Um dia, quando eu soubesse ser seguro, eu contaria tudo a ele.

Promessas… aquilo me lembrava outra coisa.

— Ah… - ofeguei – a profecia!

Antes que eu pudesse descer da maca, porém, senti meu corpo ser suavemente içado de volta ao colchão, engolfado por uma forte lufada de ar.

— O que..? - pronto. Agora só faltava ela começar a usar aquele poder assustador para colocar os filhos na linha.

Como se eu já não tivesse um medo natural dela.

— Se acalme, querida – ela me sondou com as íris acinzentadas – eu… já tomei a liberdade de ir ao seu dormitório… - aparentou ficar sem graça, acrescentando num tom brincalhão – você sempre foi péssima em esconder as coisas, meu anjo…

Tirando um fragmento de pergaminho dos bolsos do colete, mamãe abriu cuidadosamente o papel no qual eu havia registrado a profecia de Nina.



Da Terceira, Uma Quarta 

Sangue que obliviou as Trevas 

Nascida da intempérie 

Do Cavalo primeira primícia 

Em peleja terá enredamento 

Escravo, Semente e matriarca confrontará 

Chama segunda do Dragão na nova Esfera 

Com sangue selará sua sina 

Salvação ou fim de nossa Era 



Me assustei quando ela soltou um palavrão baixo – que soou ainda mais assustador em sua voz quase fantasmagórica.

— Mamãe! - ralhei.

— Desculpe – arquejou, embora estivesse mais encolerizada do que arrependida – sim… é sobre você, Rosie – sua voz tomou um tom sufocado, como se contivesse uma angústia latente – da Terceira….— proferiu – na antiga profecia, eu era considerada a Terceira Semente da Tríade Wicca… as irmãs que deram início a nossa linhagem – disse resumidamente – você seria a Quarta… a quarta Wicca nascida desta época. Do Cavalo primeira primícia - entoou, com um curioso resquício de orgulho – a minha primogênita.

— Chama segunda do Dragão na nova Esfera — li, franzindo o cenho – o que quer dizer?

Devido já ter uma incomum claridade naquela forma, quase não percebi o rosto de minha mãe empalidecer.

— Se for o que estou pensando… - reprimiu uma exclamação – você será mais poderosa do que eu jamais serei um dia, Rosie.

Em peleja terá enredamento… escravo, Semente e matriarca confrontará… com sangue selará sua sina. Salvação ou fim de nossa Era – ergui o olhar, pasmao que isso quer dizer?

Uma batalhafalou, entristecida – tudo que eu não queria ver você enfrentar. Mais mortes… - ela estremeceu – o escravo… o bruxo que você encontrou na Redoma… foi o primeiro.

Semente e matriarca…. - conclui, horrorizada – se a profecia estiver certa….

Nunca vi tamanha frieza surgir no olhar de minha mãe.

— Existe um outro Wicca.

As portas da enfermaria se abriram repentinamente, interrompendo a nós duas. Assustada, virei-me na direção de mamãe.

Contudo, para meu alívio, ela já havia retornado à sua forma humana normal, novamente com seus cabelos castanhos e íris achocolatas.

McGonagall surgiu na porta, cumprimentando-me com um aceno da cabeça, enquanto dois rostos preocupados surgiam na fresta, logo ao lado dela.

— ROSIE!

Hugo, Alvo e Scorpius adentraram correndo na Ala Hospitalar.

Ri baixinho quando os três se jogaram em cima de mim, me engolfando num abraço.

O humor só aumentou quando Hugo meteu um tapa no ombro de Scorpius, tentando afastá-lo de mim, como um pelúcio que protegia sua moeda mais preciosa.

A diretora forçou um sorriso, embora seus olhos trêmulos parecessem implorar para que mamãe saísse o mais rápido possível dali.

Ela já devia saber o que havia acontecido. E não devia estar nada tranquila com este fato perturbador.

Podia culpá-la? Eu mesma estava absolutamente aterrorizada agora.

— Tem um minuto, Weasley?

Minha mãe se ergueu, beijando meus cabelos.

— Conversamos de novo mais tarde, filha – disse, lançando-me um olhar significativo – eu volto logo.

Ela retirou-se, lançando um sorriso tranquilizador para nós.

No entanto, assim que ela seguiu McGonagall para fora da Ala Hospitalar, jurei ver, em seu rosto, um reflexo perfeito de meu absoluto desespero.





















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