Gênese: A Saga da Rosa - Temporada I escrita por FireboltVioleta


Capítulo 28
Correnteza




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Quem cedo e bem aprende, tarde ou nunca esquece. Quem negligencia as manifestações de amizade, acaba por perder esse sentimento.”

 

— William Shakespeare

 

—----------o----------



ROSE




Senti-me congelar, absolutamente sobressaltada.

Há quanto tempo meu irmão estava nos espionando?

— Hugo… - balancei a cabeça, aturdida – o que você…?

— Estive observando vocês, Rosie – Hugo me encarou, os olhos estreitados de desconfiança – o tempo todo. E está na cara que não estou sabendo de algo bem importante.

Eu já não podia mais disfarçar. Toda a movimentação causada n'A Toca havia nitidamente chamado a atenção de meu irmão para nossos pequenos lapsos conspiratórios.

Não ia mais deixá-lo de fora daquilo. Mesmo que eu não quisesse envolver Hugo naquilo, ele realmente merecia saber de tudo.

— Está bem, Hugo – ignorei os olhares sobressaltados de Scorpius e Alvo sobre mim – vamos para um lugar mais reservado…

Ainda de cara fechada, Hugo me acompanhou, ladeado por nosso primo e meu amigo, seguindo-me para trás de uma das estátuas, num canto obscurecido do corredor.

— Querem ir escondidos à Hogsmeade – foi a primeira coisa que ele grunhiu, contraindo os dedos – o que diabos vão fazer lá?

— É complicado, cara – Alvo interveio -você nem faz ideia…

Poupando-me de um longo discurso, Alvo começou a lhe explicar tudo que havia ocorrido desde o ano anterior, passando inclusive pelos detalhes bizarros – tal como a inundação da torre, os presentes de Natal, e o encontro de Nina com a figura encapuzada do lago.

Quando terminou, Hugo mal conseguia piscar os olhos.

— Então… - começou a falar lentamente, aparentando confusão – vocês estão querendo descobrir se esse tal casarão pode ter respostas sobre tudo que andou acontecendo. É isso?

— Eu… não sei explicar – admiti – é um… pressentimento. É como… se algo me dissesse… que preciso ir até lá. Que há alho muito importante para descobrir ali.

— Eu sei o que é – meu irmão bufou – vamos descobrir uma detenção logo na primeira semana de aula.

Fechei a cara.

— Eu te contei tudo que não devia, Hugo – resmunguei – ninguém está te obrigando a ir – acrescentei, num tom de sarcasmo desanimado – por que não vai mandar sua carta para nossos pais?

Foi a vez dele contrair o rosto de irritação.

— Não vou contar nada para eles. Iam matar a gente – inclinou a cabeça – e até parece que vou deixar você andando por aí sozinha durante a noite com esse…

Contraí os punhos, enquanto Hugo e Scorpius trocavam olhares retraídos.

— Que seja – esbravejei – mas se você for com a gente, vai ficar de bico calado. E vai deixar Scorpius em paz. Entendeu?

Hugo assentiu, cruzando os braços.

— Está bem – concordou – amanhã à noite, então.

Vi Alvo se entreolhar com Scorpius, parecendo receoso. No entanto, para minha surpresa, meu amigo estava absolutamente sereno, como se a perspectiva de ficar em companhia do meu irmão ranzinza não o perturbasse nem um pouco.

O sinal bateu, anunciando o início das primeiras aulas do dia. Nos despedimos com meneios mútuos da cabeça, tomando nossos caminhos em direção às nossas respectivas classe.

Sentia Hugo me seguir de perto, como uma sombra aborrecida e irritante.

— Não queria te colocar em confusão – me defendi, em resposta aos seus olhares fuzilantes.

— Não é motivo para esconder as coisas de mim – ele bufou, enquanto seu rosto começava lentamente a relaxar – eu sou seu irmão, Rosie.

— Tem razão… tem razão – passei a mão por meus cabelos enquanto caminhava – eu… só fiquei com medo. Não sei onde tudo isso vai chegar.

Ele me encarou por alguns segundos.

Surpresa, senti a mão de Hugo pousar em meu ombro.

— Bem… - vi-o abrir um sorriso torto – pelo menos vamos nos encrencar juntos… como uma família.

Ri comigo mesma, sentindo-me bem mais confiante, enquanto avançávamos pelo corredor afora.

— É… acho que sim.






— Muito bem, classe – a professora Hawkes sorriu em nossa direção – vamos iniciar nossos estudos sobre as comunidades mágicas indígenas norte-americanas do século XVII. Abram seus livros no capítulo cinco. Leiam o primeiro parágrafo, que introduz as características da magia dos bruxos desta época.

Com a cabeça apoiada na mão, comecei a leitura do parágrafo que Yara havia demarcado.

 

A comunidade bruxa indígena norte-americana era particularmente talentosa com magias envolvendo animais e plantas; suas poções, em especial, eram de uma sofisticação muito além do que se tinha conhecimento na Europa. A diferença mais notável entre a magia praticada pelos indígenas norte-americanos e os bruxos europeus estava na ausência da varinha.

A varinha mágica foi criada na Europa. Varinhas canalizam a magia para tornar seu efeito mais preciso e poderoso, embora seja de conhecimento geral que a marca dos grandes bruxos e bruxas é a capacidade de produzir magia de altíssima qualidade sem usar nenhuma varinha. Os animagos e criadores de poções indígenas foram a melhor demonstração de que fazer magia sem varinha é um feito de alta complexidade, pois feitiços e transfigurações são muito difíceis sem ela.

 

Franzi o cenho.

Então, de fato, sempre haviam existido bruxos que conjuravam magia sem fazer uso de qualquer instrumento canalizador.

Baixei o olhar, dedilhando a palma de minha mão.

Aquele fogo, que eu havia acidentalmente produzido no ano anterior… não parecia em nada com o tipo de magia que um bruxo – por mais habilidoso que fosse – teria qualquer condição de conjurar sem uma varinha.

As coisas estavam ficando cada vez mais intrigantes.

Ergui a mão.

— Sim, Srta. Weasley?

— Professora… - indaguei – é possível um bruxo produzir fogo... sem o auxílio de uma varinha?

O sorriso estagnado da professora vacilou rapidamente, murchando feito uma bexiga furada. Espantada, vi seu olhar se turvar de receio, e seu corpo enrijecer momentaneamente. Mais ninguém aparentou notar sua mudança drástica de comportamento.

— Não, Srta. Weasley – titubeou, embora fosse evidente a falta de convicção em sua voz – apenas bruxos aborígenes conseguem evocar um tipo arcaico e simples de chamas mágicas, cujo efeito não é mais potente do que qualquer um dos feitiços mais fortes conjurados por varinhas. Criar fogo do nada…

Ela interrompeu-se por um momento, retraindo os braços de encontro à cintura. Pigarreou, desviando a atenção de volta à classe.

— Alguém tem mais alguma questão sobre o parágrafo? - Surya também se pronunciou, sacudindo o braço atrás de mim.- Srta. Patil?

— Então os bruxos podem conjurar magias sem varinha… mas normalmente é em escala reduzida ou coisa assim. Certo, professora?

— Exato – assentiu Hawkes – embora alguns de nós consigam conjurar feitiços e magias com tanta maestria quanto portadores de varinhas, a tendência geral é que estas demonstrações não costumem ser extraordinárias. Nada fora de um padrão aceitável de normalidade.

Normalidade…

Decididamente não havia sido o caso daquela experiência surpreendente.

Diante da falta de mais perguntas, Yara continuou a aula, esclarecendo outros pontos sobre o que havíamos lido e considerando os parágrafos seguintes.

E eu fiquei ali, absorta em minhas dúvidas, sentindo que o ponteiro do relógio havia definitivamente parado de girar.





Quando saí da sala de aula, acabei trombando com uma garota de cabelos escuros, que derrubou acidentalmente seus livros de Poções no chão com o impacto.

— Minha nossa. Mil perdões… - me desculpei, agachando-me para ajudá-la a recolher o material.

— Não, tudo bem – ela sorriu. Era uma quintanista bonita, de olhos azuis-claros, pele quase esbranquiçada e feições amáveis – ei, você é Rosie? A amiga do Scorpius, não é? A prima do Potter?

— Sim – surpreendi-me – você os conhece?

— Mais ou menos – ela deu de ombros, voltando a equilibrar os livros nos braços – meu namorado vive falando deles – desocupou uma das mãos, sacudindo a minha – Sophia McAdams. Prazer.

— Sophia? - ofeguei – ah… a namorada do Peter! - sorri – os meninos também me falaram de você.

— Assim me sinto famosa – brincou, puxando os cadernos para junto do peito, e soltando minha mão – bem… vou indo agora. A gente se vê por aí.

— Ok – dei uma risadinha – vou cuidar pra não ser em outra trombada.

Ela riu, meneando a cabeça em despedida e avançando pelo corredor, enquanto eu retomava minha caminhada em direção ao pátio.

Suspirei. Eu tinha que me focar na pequena incursão que faríamos na noite seguinte. Havia tanta coisa que podia dar errado..

Primeiramente, conseguir sair do castelo sem levantar suspeitas ou sermos apanhados. Depois, caso tivéssemos sorte de chegarmos inteiros, praticamente invadir uma propriedade particular. E então, se sobrevivêssemos a tudo aquilo, teríamos que retornar para nossas casas como se nada tivesse acontecido. Tudo isso somado ao trabalho de ocultar quatro alunos sobre uma única Capa da Invisibilidade.

Eu estava começando a achar que aquilo seria uma péssima ideia.

Mas não havia alternativa. Eles não me deixariam ir até lá sozinha em hipótese alguma. E eu precisava descobrir o que estava acontecendo.

Minha distração foi tanta, que acabei tropeçando em uma das gárgulas que ladeavam o pátio, me desequilibrando por alguns segundos.

Segurei a cabeça da estátula, rapidamente recuperando o equilíbrio, impedindo-me de esborrachar meu rosto contra o chão.

O movimento, porém, foi o bastante pra baixar meu olhar, que focalizou algo brilhante na base da gárgula, encrostado entre as pequenas vigas de pedra.

Baixei a mão, esgueirando os dedos no buraco, recolhendo o pequeno objeto cintilante. Recolhi a mão, virando-a em minha direção, e me admirei ao reconhecer um pequeno frasco de poção, quase menor que um polegar.

Olhei ao redor. Não havia ninguém por perto. Só podia imaginar que algum aluno apressado havia derrubado a poção durante a corrida, sem se dar conta do extravio.

Intrigada, guardei-a no bolso da capa, dando de ombros e continuando minha caminhada.

Do outro lado do pátio, vários de meus colegas se encontravam aproveitando o curto tempo livre do intervalo. Acenei para Michael, que estava sentado em uma das pedras da colina, assistindo um excelente número de dança e improviso dos alunos terceiranistas.

Me juntei a eles, risonha, assistindo Peter Wayne se juntar ao grupo, dançando ao som da batida contagiante que ecoava do pequeno rádio.

Os passos me entusiasmavam. Não aguentei e ladeei Peter. Todos aplaudiram, observando-me rodopiar no mesmo lugar, embalada pela letra da canção - uma letra sobre desfrutar do lado mais ousado da vida.

 

Long live havin' some fun

We take what we want

There's so many ways to be wicked

 

Acompanhando os demais, comecei a dançar animadamente, rindo, ouvindo as palmas e o coral dos espectadores.

Senti meu coração palpitar no peito no ritmo das batidas. A sensação era incrível.

With us evil lives on

The right side of wrong

There's so many ways to be wicked

 

Ao longe, vi Alvo e Scorpius se aproximarem, sorrindo em minha direção. Scorpius sacudiu a cabeça, absolutamente espantado com meu entusiasmo.

Ou seria contagiado? Não sabia dizer.

 

We got all the ways to be

Hey, hey, hey, hey

W-I-C-K-E-D

Let's go

 

Do nada, o rádio chiou alto, ensurdecendo todos os presentes, que levaram as mãos aos ouvidos. Alguns gritaram quando o aparelho explodiu, emitindo um estouro agoniante.

— O que foi isso? - reclamou Peter, encarando atônito o aparelho que esbaforia fumaça.

A grande maioria, dividida entre o desapontamento e a irritação da surdez momentânea, começou a deixar a colina aos resmungos. O grupo que havia dançado conosco ainda massageava os ouvidos, numa cena tão cômica quanto triste.

— Ah, não acredito – zangou-se Surya, cutucando o rádio – mamãe vai me matar. Já é o meu segundo rádio que queima esse ano…

Logo quando estávamos nos divertindo. Era mesmo deprimente.

— Cara, o que você faz com eles? - brincou Alvo – toca Swreet Dreams no último volume?

Não prestei atenção aos xingamentos em hindi que Surya jogou na cara de Alvo. Baixei a cabeça, vincando a testa, fechando minhas mãos levemente em punhos.

Logo quando estávamos nos divertindo…

Justamente no momento em que eu estava mais alegre e eufórica.

Scorpius me fitou. Devolvi-lhe o olhar de modo significativo, afastando-me do grupo de alunos que ainda se queixava.

Agora era definitivo.

Algo me dizia que aquele rádio não havia simplesmente explodido do nada.

— Amanhã à noite – determinei, mais convicta do que nunca.

Scorpius assentiu. Evidentemente, eu não era a única que queria tirar aquela história a limpo de uma vez por todas.

— Estaremos lá.

























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